Barack Obama continua a ser muito popular fora dos EUA, mas como Presidente tem alinhado na esteira de uma forte tradição em Washington de colocar os interesses da América acima de qualquer outra coisa
“Bin Laden está morto e
a General Motors está viva”
JOE BIDEN, vice-presidente dos
Estados Unidos, destacando as principais conquistas da Administração Obama no
último ano
“Em resposta ao
turbilhão americano, a atitude do mundo, como seria de esperar, é muitas vezes
pesada e resistente, já que os países tentam aproveitar-se ou fugir das
consequências. O Presidente Obama percebeu esta resistência e aproveitou-se
dela. Internamente, deu resposta à necessidade americana de admiração e
aceitação, enquanto externamente deu resposta à necessidade de os Estados Unidos
serem mais conciliatórios e menos autoritários (…) Os gestos de Obama tiveram
êxito. Os europeus ficaram bastante entusiasmados e muitos americanos ficaram
satisfeitos por haver quem gostasse deles novamente. Como é evidente, o
entusiasmo dissipou-se rapidamente, à medida que os europeus foram descobrindo
que Obama era, afinal de contas, um presidente americano que lutava por
objectivos americanos”
GEORGE FRIEDMAN, fundador da
STRATFOR, excertos do livro “A Próxima Década”
Olhar multilateral, mas sempre
americano
Por Germano Almeida
Barack Obama
foi eleito sob uma plataforma de “mudança” e “reconciliação”. Sobre este
segundo conceito, ele estendia-se, no clima de 2008, a uma noção de melhoria do
ambiente da política americana (muito marcado pela crispação desde a era
Clinton) e também da imagem externa dos Estados Unidos – muito desgastada com o
desastre dos últimos anos Bush.
A retórica
entusiasmante, e profundamente mobilizadora, de Obama na sua campanha para a
Casa Branca extravasou as fronteiras americanas – de tal modo, que se gerou uma
expectativa quase transcendente, a nível mundial, em torno do que o 44º
Presidente dos Estados Unidos poderia vir a fazer.
Depois do «unilateralismo»
dos anos Bush, o novo Presidente prometia uma América mais aberta à diferença,
disposta a dialogar e capaz de interpretar o «multilateralismo» como um
conceito que não chocava com o papel dominante que os EUA continuam a ter.
Essa
percepção tem-se mostrado correcta: no discurso do Cairo, em 2009, Obama deixou
clara a diferença entre a «guerra ao terrorismo», proclamada erradamente pelo
seu antecessor, e explicitou que «uma minoria de fundamentalistas islâmicos que
queriam fazer mal à América não pode ser confundida com o mundo muçulmano».
Três anos e
meio depois de ter sido eleito, parece claro que a imagem externa da América,
na forma como os EUA se relacionam com o resto do Mundo, melhorou com Barack
Obama na Casa Branca e Hillary Clinton no Departamento de Estado.
Mas, se nos
lembrarmos do grau de entusiasmo gerado pelo candidato Obama nos meses que
antecederam a sua eleição presidencial, com multidões de 200 mil em Berlim,
será forçoso concluir que algo que não correu exactamente como muitos
imaginaram.
A chave para
a resposta a esta inquietação está na observação exposta acima, por George
Friedman: um presidente americano tem sempre como prioridade os objectivos
americanos.
E Barack Obama,
apesar da sua enorme popularidade internacional (maior que a que tem na
América, aliás…), não escapa a esse axioma.
Os interesses da América, sempre em
primeiro lugar. Quem
acompanha mais ao detalhe os discursos do actual Presidente americano,
identifica uma certa dualidade na abordagem.
Nas questões
económicas, e mais relacionadas com o emprego, Obama tem uma perspectiva
assumidamente americana, que nalguns aspectos até pode ser considerada
demasiado protecionista para um líder de um país tão capitalista e aberto ao
exterior.
Por várias vezes, Barack insiste na tecla de «se apostar na indústria americana», em detrimento da produção chinesa, japonesa ou sul-coreana.
Por várias vezes, Barack insiste na tecla de «se apostar na indústria americana», em detrimento da produção chinesa, japonesa ou sul-coreana.
Por outro
lado, no que se refere à política internacional, Obama tem mostrado especial
preocupação em dar à sua administração uma imagem de abertura e capacidade de
diálogo.
Não por
acaso, obteve, em tempo recorde, o Prémio Nobel da Paz, apenas nove meses
depois de ter sido eleito. Não, certamente, pelo que já tinha feito na altura –
mas pela mudança clara de discurso em relação ao seu antecessor.
Sucede que, mesmo nas questões de política externa (matéria em que o Presidente americano tem, por definição, uma zona de intervenção mais imperativa, quando comparada com o apertado sistema de “checks and balances” que limita fortemente a sua acção na frente interna), a verdade é que Barack Obama se tem comportado como um Presidente com uma linha de actuação muito próxima de vários dos seus antecessores.
A retirada
do Iraque, surgida como promessa central da sua campanha, teve o contraponto
com os erros de Bush como pano de fundo.
Mas já na questão do Afeganistão,
Obama jogou pela cartilha tradicional: acabou por repetir a ‘surge’ feita no
Iraque na parte final do mandato do seu antecessor, mostrando agir sob o mesmo
paradigma - os Estados Unidos combatem um inimigo externo e tendencialmente
invisível, que há que exterminar a todo o custo.
A “guerra de
necessidade” que Obama definiu, ao referir-se ao Afeganistão, ajudou a desenhar
as diferenças em relação ao atoleiro do Iraque – mas a comparação acaba por
colocar estes dois posicionamentos na mesma grelha de análise.
As novas prioridades militares. Barack escolheu, por isso, ser um
Presidente dos EUA com as vestes tradicionais de “commander-in-chief”,
acabando, com incrível rapidez, com as ilusões da ala pacifista do Partido
Democrata, que chegou a apoiá-lo, até à eleição.
Mas soube
adaptar-se às circunstâncias destes anos de contenção e aperto: deu cobertura
política ao Pentágono para iniciar um ambicioso plano de cortes orçamentais na
Defesa, que passa pela redução de efectivos humanos nos diferentes palcos em
que os americanos estão envolvidos e onde têm presença militar. O paradigma é,
cada vez mais, apostar na tecnologia e menos nos custos humanos das operações
militares.
O exemplo
máximo dessa transformação é a aposta nos ataques aéreos com ‘drones’ (aviões hi-tech,
sem piloto, comandados à distância), cuja utilização no Afeganistão aumentou
exponencialmente, durante a Administração Obama.
Além do
sucesso retumbante da Operação Geronimo, que redundou na morte de Osama Bin
Laden, Barack Obama tem destacado, até como trunfo de campanha, que desde que
tomou posse como Presidente, 22 dos 30 elementos da Al Qaeda mais procurados
foram eliminados.
Enquanto isso, e como Joe Biden gosta de
repetir, «a General Motors está viva», graças ao planos de recuperação para a
indústria de Detroit, aprovados no início da Administração Obama – e contra a
opinião de republicanos como Mitt Romney.
Entre os
objectivos internos, dominados pela questões económicas, e os desafios externos,
ainda condicionados pelas guerras que herdou, Barack Obama dá sempre prioridade
aos «interesses americanos». Mesmo que, por vezes, não seja essa a imagem que
passa dentro e fora dos EUA.
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