TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 4 DE DEZEMBRO:
O «armistício» entre Barack Obama e os Clinton é uma das histórias mais bem guardadas da política americana.
Nas
primárias de 2008, o duelo entre o primeiro negro e a primeira mulher a
disputar, com hipóteses reais, a Casa Branca tinha tudo para dar para o
torto.
Obama acabou por bater Hillary na reta da meta, mas ambos
somaram mais de 18 milhões de votos cada um ¿ e algo de novo tinha
acabado de acontecer.
Fosse Barack ou Hillary o nomeado, havia a
clara perceção (e era correta) de que quem vencesse aquelas primárias
democratas seria o 44.º Presidente dos Estados Unidos ¿ tão
desacreditados estavam os republicanos no declínio da era Bush.
Apesar
da disputa ter chegado a azedar (sobretudo antes das primárias na
Pensilvânia e no Ohio, que Hillary venceu à custa de anúncios a apelar
ao medo e de uma desvalorização das credenciais de Barack em política
externa), a verdade é que o comportamento de Hillary, no apoio a Obama
na eleição geral contra John McCain, foi exemplar.
De tal modo
assim foi que, após a eleição de 2008, Obama não hesitou em escolher a
rival das primárias para chefiar a diplomacia americana no seu primeiro
mandato.
O gesto foi entendido, na altura, como uma primeira
grande demonstração da tendência do Presidente americano para o
compromisso com os adversários ¿ sejam eles do seu próprio partido ou do
outro lado da barricada.
Bill Clinton (que nas primárias de 2008
chegou a ser deselegante para com Obama, ao desdenhar o triunfo de
Barack sobre Hillary na Carolina do Sul por mais de 30 pontos,
atirando-o para um nicho racial, num estado com grande percentagem de
negros) foi outro caso de inesperada conversão aos talentos
presidenciais de Obama.
O 42.º Presidente dos Estados Unidos foi o
maior trunfo eleitoral de Barack Obama para a reeleição ¿ com aquele
brilhante discurso na Convenção de Charlotte (claro na forma,
esclarecedor no conteúdo) como momento mais alto.
Clinton
confessou, até, durante esta recente campanha, que estava «bem mais
entusiasmado com a possibilidade de Obama ganhar as eleições agora, em
2012, do que estava em 2008».
Além de uma sincera leitura dos
méritos de Obama nos últimos quatro anos, perante a paralisação
republicana no Congresso, a explicação pode estar, também, num mero
cálculo político com interesses familiares: é que a reeleição de Obama
pode ter sido o primeiro empurrão para um triunfo presidencial de
Hillary Clinton em 2016.
Se fosse Romney a vencer em 2012, o
ciclo lógico apontaria para uma reeleição do republicano em 2016. Com o
segundo mandato de Obama, a próxima eleição para a Casa Branca será
aberta nos dois campos partidários.
E, do lado democrata, todas as sondagens são claras: não há rival à altura de Hillary Clinton.
A
questão está mesmo em saber se a ainda Secretária de Estado pretende
avançar para uma segunda tentativa presidencial. Apoios não lhe faltam ¿
mas Hillary já mostrou ser uma política calculista e sabe que há algum
risco de o nomeado democrata não vencer a próxima eleição (pela lógica
da alternância após oito anos de presidente democrata e pelas grandes
dificuldades que os próximos anos deverão proporcionar ao Presidente
Obama).
Como chefe da diplomacia, Hillary soube ser, ao mesmo
tempo, fiel à agenda do Presidente e, quase sempre, mais popular que o
próprio Obama.
A sua vontade de não cumprir segundo mandato no
Departamento de Estado é natural: Hillary seguirá a tradição de Warren
Christopher (primeiro mandato de Bill Clinton) ou de Colin Powell
(primeiro mandato de George W. Bush).
Mas, com as primárias
democratas a arrancar no terreno daqui a ano e meio, esta saída
significará para Hillary Clinton um adeus ou apenas um... até já?
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