TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 26 DE DEZEMBRO DE 2012:
Barack Obama tem motivos para festejar ou para se preocupar, neste período de festas?
A resposta não é imediata. Se nos lembrarmos que há cerca de um ano era relativamente arriscado apostar na reeleição do Presidente em novembro de 2012, então será razoável considerar que os resultados das presidenciais de há mês e meio foram francamente positivos para Obama.
Outra notícia que terá deixado Barack muito animado foi a recente escolha da TIME que elegeu, tal como há quatro anos, Obama como a Personalidade do Ano, em 2012.
Depois de um ano tão conturbado em Washington, esta escolha mostra que a capacidade de regeneração política de Barack Obama tem sido menosprezada pelos republicanos e mesmo por alguma imprensa nos EUA e a nível internacional.
A questão é que o sucesso eleitoral do 44.º Presidente dos EUA não é suficiente para lhe garantir boas perspetivas para 2013.
Um olhar pelos dados essenciais sobre o que se irá passar é tudo menos tranquilizador.
A «Fiscal Cliff» tem atormentado os espíritos em Washington e fora de D.C. Infelizmente, desta vez não estamos a falar de alertas apocalípticos, mas pouco sustentados.
O precipício orçamental é um risco real que a economia americana corre a partir de janeiro. O calendário mostra muito poucos dias para rasgar em 2012. E a verdade é que não se vislumbra a tal «grand bargain» que possa dar resposta aos piores receios.
O triunfo de Obama nas presidenciais foi convincente naquilo que teve a ver com a eficácia da mensagem política.
Foi uma vitória a toda a linha sobre Mitt Romney nos «battleground states», com méritos especiais que têm que ser atribuídos a Nate Silver (o génio que acertou em todos os estados), a Harper Reed (especialistas em redes sociais, novos media e comportamentos de segmentos específicos, que ofereceu a Obama uma chave diferente para cada caso concreto) e ao trio mágico David Axelrod/David Plouffe/Jim Messina (que voltou a mostrar-se a mais eficaz máquina eleitoral do Mundo, como Obama reconheceu, com gratidão, no discurso de vitória).
Tudo isto é notável e merece o aplauso de quem, há anos, acompanha o maior fenómeno político do início do século XXI: Barack Obama.
O problema é que mesmo o teste final da reeleição não está a resolver o essencial. Barack Obama não consegue ultrapassar o clima de paralisação política em Washington.
Mesmo com um ligeiro reforço da maioria democrata no Senado, a manutenção da maioria republicana da Câmara dos Representantes pode ser dramática para o segundo mandato de Obama e, em consequência, para a pujança americana nos próximos anos.
Anne-Marie Slaughter, professora de Política e Assuntos Internacionais em Princeton, identifica o perigo, em artigo de hoje no Público: «Quanto mais tempo os EUA estiverem obcecados com a sua própria disfunção política e estagnação económica correspondente, menos capazes serão de envergar o manto da responsabilidade e da liderança globais».
2013 parece ser o ano de todos os perigos: sem acordo em Washington, janeiro começará a mostrar cortes profundos na despesas e aumentos brutais de impostos que ameaçam fazer arrefecer a maior economia do Mundo - e terão como consequência certa a inversão da tendência lenta, mas consistente, de recuperação de criação de emprego nos EUA, que já dura há três anos (e terá levado, em boa parte, à reeleição de Obama).
Barack Obama já venceu, nos últimos seis anos, várias batalhas improváveis. Evitar a Fiscal Cliff e ultrapassar o clima de «political gridlock» em DC pode ser a mais importante de todas.
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