TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 14 DE DEZEMBRO DE 2012:
«A primeira batalha política em Washington após as eleições de 6 de novembro foi perdida por Barack Obama e ganha pelos republicanos no Congresso.
Susan Rice, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, era a escolha de Barack Obama para suceder a Hillary Clinton no Departamento de Estado.
Só que Rice, que há muito é uma das principais conselheiras de Obama em política externa, desistiu de se sujeitar ao processo de nomeação como secretária de Estado (que tem que passar pelo crivo do Congresso) e já anunciou publicamente que «se sentiria muito honrada de servir o país num posto tão relevante como o de Secretária de Estado», mas que não irá avançar para esse processo.
Esta decisão constitui uma clara derrota para o Presidente. Logo depois da reeleição, e com o anúncio de Hillary de que não teria intenção de fazer um segundo mandato à frente da diplomacia americana, Obama deixou a entender que tinha Susan Rice como primeira opção.
Nem a feroz oposição republicana a essa ideia fez demover o Presidente, que sempre defendeu publicamente essa escolha, apesar de Rice estar, desde os acontecimentos em Bengasi, na Líbia, na linha do fogo republicano, por ter aparecido a defender a primeira versão da Administração Obama de que os ataques teriam sido uma «reação a um vídeo anti-Islão de péssimo gosto».
Barack Obama sai mal de toda esta história. Dan Rather não foi simpático na análise que fez sobre o comportamento do Presidente: «Obama fez muita conversa dura sobre este tema, mas no final do dia ficou a imagem de que não oferece grande luta aos republicanos».
Susan Rice é uma académica e uma especialista em política externa - e não se terá disposto a passar por uma processo político inquinado desde o início e que iria ser, certamente, muito desgastante para a sua imagem pública.
As mulheres democratas, tão importantes na reeleição de Obama, não esconderam, nas últimas horas, a desilusão com o facto de uma pessoa com o perfil de Susan Rice não venha a ser a sucessora de Hillary.
Os ataques de influentes senadores republicanos como John McCain ou Lindsay Graham fizeram antecipar o pior em relação ao que poderia acontecer no processo de nomeação de Susan Rice. Basta recordar que, há quatro anos, a nomeação de Hillary foi confirmada sem um único voto contra.
Mesmo assim, Harry Reid, líder da maioria democrata no Capitólio, mostrou-se convicto de que «os democratas acabariam por conseguir que o nome de Susan Rice fosse aprovado».
Reid lamentou «profundamente» o recuo de Rice e admitiu que não se tratou de um bom augúrio em relação ao ambiente que, nos próximos tempos, se viverá entre democratas e republicanos.
Chuck Todd foi mais longe e sentenciou: «Susan Rice foi vítima dos media conservadores».
Pode parecer uma frase excessiva, mas não é. O tom incendiário com que a FOX News alardeou a questão Bengasi nos dias que antecederam as eleições de 6 de novembro deveria merecer a reflexão do sistema político e mediático norte-americano.
Certo, certo é que Susan Rice não será a sucessora de Hillary Clinton no Departamento de Estado.
É possível que Obama acabe por nomear a ainda embaixadora dos EUA na ONU como Conselheira de Segurança Nacional (Tom Donillon está de saída do cargo). E John Kerry passa a ser a alternativa mais válida para chefe da diplomacia.
É um nome forte, até esteve perto de ser Presidente em 2004 - mas já não se livra de ser a segunda escolha para um cargo tão importante como o de Secretário de Estado.»
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