TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 26 DE NOVEMBRO DE 2012:
Barack Obama venceu o desafio da reeleição, mas não teve muito tempo para festejar. Os Estados Unidos caminham para um «precipício orçamental» que ameaça, no primeiro dia de 2013, atirar a maior potência mundial numa espiral recessiva ainda pior do que a que se vive na Europa.
Evitar a «fiscal cliff» é a primeira grande missão do Presidente reeleito. Se, até 31 de dezembro, Casa Branca e Congresso não chegarem a um acordo que permita prorrogar os cortes fiscais que terminam no final do ano e minimizar os efeitos dos cortes na despesa (já aprovados no Orçamento de 2011 e que estão previstos entrar em vigor em 2013), a economia dos EUA perde, de um dia para o outro, cerca 700 mil milhões de dólares.
Este é um valor tão gigantesco que quase dava para pagar o megaplano de investimento federal que a Administração Obama fez aprovar no Congresso, em 2009, para iniciar a recuperação económica.
O final do prazo de prorrogação das «Bush Tax Cuts» (que Obama acedeu renovar há dois anos, a troco da cedência republicana de prolongar os subsídios de desemprego) e os investimentos congelados desde o acordo feito à última da hora no verão de 2011 para aumentar o teto da dívida (no qual o Presidente teve que ceder às exigências do Tea Party) explicam o risco iminente que urge evitar a todo o custo.
Os especialistas calculam que o pior cenário geraria efeitos terríveis nos indicadores económicos da América: o desemprego (que tem tido quebra ligeira, mas consistente, nos últimos três anos) dispararia para perto dos dez por cento até 2014; o PIB (que na América está a crescer a dois por cento), passaria a ter variação negativa.
No ambiente de crise que se vive neste momento nas principais economias mundiais, se os Estados Unidos caíssem nesse «penhasco orçamental», seria o pesadelo - e a recuperação passaria a ser uma miragem.
Obama, que fundamentou o argumento da reeleição no crescimento e no investimento, tem insistido da ideia de que os cortes fiscais devem passar a incidir na classe média - e que os rendimentos mais altos devem passar a assumir maior fatia no bolo da contenção orçamental.
Mas os republicanos não desarmam na tese de que os sacrifícios se devem distribuir «por todos» e não apenas pelos mais ricos.
Nos dias que se seguiram à eleição, parecia existir uma vontade recíproca entre o Presidente democrata e a Câmara dos Representantes republicana, no sentido de se chegar a um entendimento. «É tempo de se avançar para soluções e para se chegar a entendimentos bipartidários», assumiu Mitt Romney, na própria noite eleitoral.
Intenções idênticas, com termos quase iguais, foram expostas pelo speaker do Congresso, John Boehner.
O lado do Presidente também começou por ser de reconciliação. Obama, no seu discurso de vitória a 6 de novembro, lembrou que «estamos todos juntos nisto, independentemente de sermos democratas ou republicanos: vencemos ou afundamo-nos, juntos, como país».
Só que o avançar das negociações tem reforçado as posições divergentes. O trabalho feito pelo «gangue dos seis» (três senadores da ala liberal dos democratas, três senadores republicanos conservadores) prévio às eleições, esteve longe de ser suficiente para que se chegasse a um acordo - e disso tiveram também culpa os dois candidatos presidenciais, que optaram por relegar a fiscal cliff para o último plano da agenda da discussão eleitoral.
Divergências à parte, Obama e Bohner estão de acordo numa coisa: urge chegar à tal «grand bargain» que permita reduzir em cerca de 4 biliões de dólares a dívida americana na próxima década.
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