TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 7 DE NOVEMBRO DE 2012:
O triunfo claro de Barack Obama no Colégio Eleitoral pode comportar um risco: o de se achar que a América passou a estar unida em torno do seu Presidente.
Quem olhe para as imagens de festa em Chicago e em Washington, na noite eleitoral, pode ser induzido a pensar assim. Sucede que essa ideia é completamente errada.
Os Estados Unidos continuam divididos 50/50 - e os resultados de 6 de novembro até o confirmaram. No mesmo dia em que reelegeram Barack Obama para a Casa Branca, os americanos renovaram a confiança nos republicanos na Câmara dos Representantes e nos democratas para o Senado.
Quer isto dizer que teremos, pelo menos até às intercalares de 2014, uma governação dividida, a exemplo do que aconteceu desde 2010.
O próprio escrutínio presidencial não foi assim tão claro a favor de Obama. Enquanto o Presidente arrasava Mitt Romney na soma dos estados, o voto popular teve resultado apertado: uma diferença de apenas 2,6 milhões de votos num universo de 117 milhões.
Mesmo assim, a reeleição de Obama sem a contestação dos republicanos quanto a eventuais irregularidades nos estados decisivos deu ao Presidente uma legitimidade reforçada.
A questão que se coloca é se esse novo fôlego de Obama irá proporcionar um novo ambiente, de maior distensão, em Washington.
Há fortes razoes para duvidarmos desta tese. Mesmo que possa estar a iniciar um processo interno de reflexão sobre a necessidade de recentrar o seu discurso, o Partido Republicano continuara a fazer um jogo de bloqueio à agenda legislativa do Presidente.
E atenção a «Fiscal Cliff» que ameaça a sustentabilidade das contas americanas. Até dezembro, o Congresso tem que chegar a um acordo que evite a queda dos EUA num «penhasco fiscal».
O tema foi estrategicamente ignorado pelos dois campos na discussão da campanha presidencial que ontem terminou. Mas o relógio já esta a contar e o «gangue dos seis» (três congressistas democratas, outros três republicanos) ainda não conseguiu apresentar um acordo bipartidário que aponte uma solução durável.
Barack Obama, que na reta final da campanha recordou nos comícios que as tremendas dificuldades que apanhou no primeiro mandato ate lhe fizeram ganhar cabelos brancos, fez um discurso de vitoria a reforçar a questão da «reconciliação» e da «união dos americanos» («we are all in this together»).
Curiosamente, Mitt Romney apontou para ideia idêntica no discurso de concessão, lembrando que «é tempo dos políticos em Washington se entenderem para que as coisas se possam fazer»..
O tom de paralisação que marcou uma boa parte dos últimos quatro anos obriga-nos a olhar para estas intenções com muitas reservas.
Seja como for, a discussão em Washington já esta lançada, no rescaldo da noite eleitoral que reelegeu Obama: haverá condições para um novo ambiente politico que alivie o sistema de perigos ainda maiores, ou os resultados acabaram por ser «mais do mesmo», após uma campanha que custou seis mil milhões de dólares?
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