domingo, 25 de novembro de 2012

Histórias da Casa Branca: o dilema dos republicanos

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 23 DE NOVEMBRO DE 2012:

Mitt Romney perdeu porque não fez uma boa campanha ou porque foi a escolha errada do campo republicano?

Duas semanas depois das eleições que confirmaram a reeleição de Obama, a discussão está lançada no interior do Partido Republicano.

Mesmo antes do desaire eleitoral (recuperação falhada da Casa Branca, aumento de desvantagem para os democratas no Senado e quebra no avanço na Câmara dos Representantes), havia sinais de desconforto no Partido Republicano.

A derrota de Romney não se explica nos últimos dias de campanha - embora seja claro que Obama venceu o sprint final (com o aproveitamento eleitoral do Sandy e com a eficácia da ideia para fecho de campanha de que os americanos já sabiam que poderiam confiar no Presidente e ainda não sabiam se poderiam confiar no adversário republicano).

O «teste da confiança», tão importante numa corrida presidencial, foi perdido por Mitt Romney. Depois de meses a guinar para a direita, durante a época de primárias, Romney tentou corrigir o discurso e apelou, na reta final, ao eleitorado do centro - mas já era tarde.

Os resultados negativos de Romney puseram a nu os problemas de contacto com a realidade que o Partido Republicano enfrenta. 

Excessivamente contagiado pelo radicalismo do Tea Party (que usou os 86 lugares obtidos no Congresso em novembro de 2010 para estender a sua influência nos temas que dominaram as primárias), o «Grand Old Party» perdeu algumas das características que faziam dele um referencial do sistema político americano. 

A escolha de Romney como nomeado presidencial em 2012 parecia ser um sinal de ajustamento num partido com tendência da radicalização à direita nos últimos anos. 

Mas não foi totalmente assim. O que se verificou foi que Romney - um político pragmático que até governara um dos estados mais liberais dos Estados Unidos - teve que infletir à direita em temas como a imigração ou políticas fiscais para conseguir amainar a raiva da ala radical. 

É certo que quem venceu a nomeação republicana foi o candidato menos radical - mas foram tantos meses perdidos em disparates como o local de nascimento de Obama que já não havia credibilidade para roubar votos a segmentos que estavam desiludidos com o primeiro mandato presidencial de Obama.

Isso foi particularmente penalizador para os interesses eleitorais dos republicanos em segmentos como os hispânicos. Romney conseguiu ter menos votos do que McCain nos latinos - muito por culpa do que disse nas primárias sobre imigração (mostrou-se favorável ao conceito de «auto-deportação» defendido no Arizona, que torna tão miseráveis as condições de vida dos imigrantes que os faz querer sair voluntariamente dos EUA).

Como notou Carlos Gutierrez, hispânico e secretário do Comércio na Administração Bush, em declarações à CNN, «nós, republicanos, perdemos esta eleição por causa da direita radical, que assumiu um protagonismo que nunca deveria ter tido. Somos o partido da prosperidade, do crescimento e da tolerância. Os emigrantes que vêm para a América correm riscos, querem trabalhar e acreditam no Sonho Americano. Querem fazer parte dele». 

Posições como as que foram defendidas por Donald Trump, Sarah Palin, Michele Bachmann, Herman Cain ou Rick Santorum condicionaram a campanha de Mitt Romney e assustaram a tal «vasta coligação» que reelegeu Obama.

Há, também, culpas a assacar a figuras republicanas moderadas, que preferiram ficar na sombra ou deixaram colocar-se para segundo plano na discussão: Mitch Daniels, Rudy Giuliani, Jeb Bush ou mesmo Tim Pawlenty e Jon Huntsman (embora estes dois ainda tenham tentado candidaturas presidenciais). 

Jeb Bush, que governou a Florida - casado com uma hispânica e irmão de um ex-Presidente que soube chegar ao eleitorado latino (George W. Bush) - pode ser uma solução republicana a ter em conta nos próximos anos. 

Sem comentários: