TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 20 DE NOVEMBRO DE 2012:
O triunfo de Barack Obama, há duas semanas, foi mais folgado do que muitos anteviram. Uma das explicações para a vitória clara do candidato democrata tem a ver com a demografia.
A reeleição provou à evidência que os republicanos têm um problema com as minorias. E um sério dilema a resolver nos próximos anos.
Os indicadores económicos na América fariam apontar para um período de particulares dificuldades para o Presidente. Com um desemprego nos 7.9%, e uma taxa de aprovação quase sempre abaixo dos 50%, Obama parecia ter as probabilidades de reeleição contra si.
Só que a demografia jogou fortemente a favor do campo democrata. Há 16 anos, quando Bill Clinton obteve a reeleição perante o republicano Bob Dole, em cada 100 americanos que votaram, 88 eram brancos. Na eleição realizada há duas semanas, essa percentagem baixou para 72.
Se Romney venceu na fatia dos 72% de «eleitorado branco tradicional», a verdade é que Obama conseguiu, ainda assim, obter perto de quatro em cada dez votos nesse segmento ainda maioritário. E a questão é que o Presidente arrasou nos 28% de «não brancos»: teve 71% do voto hispânico, 93% do voto negro, 76% do voto asiático.
A distribuição por segmentos na América está a conhecer mudanças profundas. E a forma como o Partido Republicano continua a endereçar questões como a imigração, os direitos dos homossexuais ou o aborto limita-lhes a disputa de eleitorados cada vez mais importantes: hispânicos, negros, mulheres, minorias sexuais.
Durante a campanha presidencial que opôs Obama a Romney, os especialistas em sondagens identificaram rapidamente uma clara vantagem do democrata no eleitorado feminino, mas com uma especial incidência nas «mulheres solteiras com formação».
A diferença nesse segmento era tão acentuada - contrastando com uma pequena vantagem de Romney nas mulheres casadas e mais velhas - que um influente estratega republicano comentou: «A solução passa por casar, rapidamente, um grande número de mulheres americanas».
À parte a tirada bem construída, a verdade é que há fundamento na ideia do estratega republicano: é que a atual realidade demográfica, que beneficiou tão claramente Obama em 2012, pode mudar.
Um olhar mais demorado pelos segmentos que favoreceram Obama ajuda-nos a perceber essa tendência: os jovens, com o passar dos anos, tendem a ter comportamentos eleitorais mais conservadores; as mulheres solteiras, como notou o estratega republicano, podem casar, constituir família e passar a olhar para valores onde os republicanos são mais fortes.
É isso que torna a análise do comportamento eleitoral na América tão difícil e, ao mesmo tempo, tão fascinante. Nunca há uma «maioria permanente» num país tão flexível do ponto de vista da sua mobilidade social.
A «vasta coligação» que reelegeu Obama decorre da incrível eficácia que a máquina eleitoral que suporta o Presidente junto das «minorias em mutação» na América.
Mas isso não quer dizer que os republicanos estejam condenados pela demografia em próximas eleições. A reflexão interna no Partido Republicano terá que passar por este tipo de questões: como recuperar o voto latino (que nos anos Bush era dos republicanos, sobretudo na Florida)?; como integrar a discussão política sobre o aborto sem assustar as mulheres?; como voltar a ter um discurso centrista?
Nomes como Marco Rubio (senador hispânico da Florida, de apenas 41 anos), Nikky Randhawa Haley (governadora da Carolina do Sul, 40 anos, de ascendência indiana), Bobby Jindal (governador da Luisiana, 41 anos, filho de indianos) ou Susana Martinez (governadora do Novo México, hispânica) vão ser muito falados nos próximos tempos.
«Se queremos que as pessoas gostem de nós, temos que, primeiro, que ser nós a gostar delas», assumiu Jindal em entrevista à FOX News.
Os próximos tempos na Direita americana vão ser animados.
A reeleição provou à evidência que os republicanos têm um problema com as minorias. E um sério dilema a resolver nos próximos anos.
Os indicadores económicos na América fariam apontar para um período de particulares dificuldades para o Presidente. Com um desemprego nos 7.9%, e uma taxa de aprovação quase sempre abaixo dos 50%, Obama parecia ter as probabilidades de reeleição contra si.
Só que a demografia jogou fortemente a favor do campo democrata. Há 16 anos, quando Bill Clinton obteve a reeleição perante o republicano Bob Dole, em cada 100 americanos que votaram, 88 eram brancos. Na eleição realizada há duas semanas, essa percentagem baixou para 72.
Se Romney venceu na fatia dos 72% de «eleitorado branco tradicional», a verdade é que Obama conseguiu, ainda assim, obter perto de quatro em cada dez votos nesse segmento ainda maioritário. E a questão é que o Presidente arrasou nos 28% de «não brancos»: teve 71% do voto hispânico, 93% do voto negro, 76% do voto asiático.
A distribuição por segmentos na América está a conhecer mudanças profundas. E a forma como o Partido Republicano continua a endereçar questões como a imigração, os direitos dos homossexuais ou o aborto limita-lhes a disputa de eleitorados cada vez mais importantes: hispânicos, negros, mulheres, minorias sexuais.
Durante a campanha presidencial que opôs Obama a Romney, os especialistas em sondagens identificaram rapidamente uma clara vantagem do democrata no eleitorado feminino, mas com uma especial incidência nas «mulheres solteiras com formação».
A diferença nesse segmento era tão acentuada - contrastando com uma pequena vantagem de Romney nas mulheres casadas e mais velhas - que um influente estratega republicano comentou: «A solução passa por casar, rapidamente, um grande número de mulheres americanas».
À parte a tirada bem construída, a verdade é que há fundamento na ideia do estratega republicano: é que a atual realidade demográfica, que beneficiou tão claramente Obama em 2012, pode mudar.
Um olhar mais demorado pelos segmentos que favoreceram Obama ajuda-nos a perceber essa tendência: os jovens, com o passar dos anos, tendem a ter comportamentos eleitorais mais conservadores; as mulheres solteiras, como notou o estratega republicano, podem casar, constituir família e passar a olhar para valores onde os republicanos são mais fortes.
É isso que torna a análise do comportamento eleitoral na América tão difícil e, ao mesmo tempo, tão fascinante. Nunca há uma «maioria permanente» num país tão flexível do ponto de vista da sua mobilidade social.
A «vasta coligação» que reelegeu Obama decorre da incrível eficácia que a máquina eleitoral que suporta o Presidente junto das «minorias em mutação» na América.
Mas isso não quer dizer que os republicanos estejam condenados pela demografia em próximas eleições. A reflexão interna no Partido Republicano terá que passar por este tipo de questões: como recuperar o voto latino (que nos anos Bush era dos republicanos, sobretudo na Florida)?; como integrar a discussão política sobre o aborto sem assustar as mulheres?; como voltar a ter um discurso centrista?
Nomes como Marco Rubio (senador hispânico da Florida, de apenas 41 anos), Nikky Randhawa Haley (governadora da Carolina do Sul, 40 anos, de ascendência indiana), Bobby Jindal (governador da Luisiana, 41 anos, filho de indianos) ou Susana Martinez (governadora do Novo México, hispânica) vão ser muito falados nos próximos tempos.
«Se queremos que as pessoas gostem de nós, temos que, primeiro, que ser nós a gostar delas», assumiu Jindal em entrevista à FOX News.
Os próximos tempos na Direita americana vão ser animados.
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