domingo, 18 de novembro de 2012

Histórias da Casa Branca: surpresa de outubro chama-se Sandy

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 30 DE OUTUBRO DE 2012:

As corridas presidenciais norte-americanas têm, por tradição, algum momento dramático nos dias ou semanas que antecedem a eleição. Essa tem sido uma tendência tão consistente que até tem uma designação própria: é a «October surprise».

Em 2008, por exemplo, a surpresa de outubro aconteceu um pouco antes, em meados de setembro: foi a falência do Lehman Brothers e o início do colapso financeiro de Wall Street - fator que prejudicou as ambições de John McCain e ajudou eleitoralmente o então challenger, Barack Obama.

Desta vez, o momento que parecia aproximar-se minimamente de uma «October surprise» tinha sido a forma como Mitt Romney conseguira esmagar, contra todas as previsões, Barack Obama no primeiro debate.

Esse foi, de facto, um «turning point» na dinâmica da corrida: antes do debate de Denver, Obama parecia ter uma vantagem confortável; depois desse momento, Romney não só voltou a acreditar na vitória como acabou mesmo por passar para a frente do voto popular.

Já depois do terceiro debate, e com o empate técnico a persistir, os dias foram passando e parecia que não iria aparecer a tal «October surprise».

Mas eis que ela chegou. Não por um golpe mágico de qualquer dos candidatos, não por um argumento político especialmente brilhante, ou sequer por alguma gaffe brutalmente comprometedora.

A surpresa de outubro chama-se Sandy, só que em vez de ser uma americana simpática, é um furacão especialmente violento, que começou a fazer estragos na Costa Leste dos EUA desde domingo a noite. As análises dos especialistas meteorológicos são assustadoras e prevêem uma «super tempestade», com «dimensões monstruosas» (expressão usada na CNN), atendendo ao tamanho do furacão e a eventual junção com uma massa de ar frio vinda do Ártico.

Estados como Nova Iorque, Nova Jérsia, Connecticut, Maryland, Carolina do Norte, Maine, Massachussets, Virginia ou D.C. declararam o estado de emergência.

A perspetiva de chuvas fortes, neve, inundações, serviços fechados, viagens canceladas e possíveis vitimas pessoais terá um enorme impacto na reta final da campanha.

As duas candidaturas já cancelaram varias ações de campanha, que por esta fase se centram nos estados decisivos (quase todos eles situados em áreas potencialmente afetadas).

Do ponto de vista dos efeitos eleitorais, a questão que se põe agora e: quem poderá sair beneficiado ou prejudicado com este tão forte e inesperado fator?

Depende do que vier a acontecer nos próximos dias. A campanha de Obama apostou forte no «early voting» e poderá perder grande mobilização antes de 6 de novembro, perante os dias atribulados que ai vêm para milhões de americanos.

Em contrapartida, Obama pode ter aqui a oportunidade de se mostrar como um Presidente eficaz a responder à adversidade e a conferir segurança aos americanos.

Falta saber que dimensão esta «super tempestade» virá a conhecer nas próximas horas e dias e que sentimento terão os americanos em relação à resposta das autoridades.

Quando, a 6 de novembro, os americanos forem às urnas, poderão ter um estado de espírito bem diferente do que o que neste momento conhecem.

Uma corrida presidencial americana é um gigantesco somatório de fatores. Obama e Romney andam no terreno há meses a tentar convencer os americanos - e eis que nos dias finais, um acontecimento externo, e potencialmente devastador, pode baralhar tudo.

Talvez seja por isso que se costuma dizer que tudo nos Estados Unidos é excessivo. «Only in America».

Faltam 8 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA.

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