quinta-feira, 23 de junho de 2011

Histórias da Casa Branca: Sair do Afeganistão e colocar o foco nos EUA


Em Dezembro de 2009, Obama anunciou, em West Point, o reforço de 30 mil efectivos para o Afeganistão e prometera o início da retirada para Julho de 2011. Vai cumprir


Sair do Afeganistão e colocar o foco nos EUA

Por Germano Almeida


Em Dezembro de 2009, Barack Obama fez na Academia de West Point um dos discursos mais difíceis da primeira metade do seu mandato presidencial: perante uma plateia repleta de militares, anunciou o reforço de 30 mil tropas norte-americanas no Afeganistão, integrando essa opção impopular na sua visão de que, depois do que aconteceu na América a 11 de Setembro de 2001, a frente afegã era uma «guerra de necessidade», em contraponto com a «guerra estúpida» que o seu antecessor, W. Bush, inventara no Iraque.

Também em West Point, há ano e meio, num golpe arriscado mas muito ao estilo challenger de Barack, o Presidente dos EUA comprometera-se com um calendário de retirada, no mesmo discurso em que anunciava a ‘surge’: a partir de Julho de 2011, os Estados Unidos começariam a retirar de Cabul.

Desde esse discurso definidor para se compreender a estratégia de Obama, neste difícil equilíbrio entre aguentar a situação no terreno e assegurar uma retirada digna, a visão da «contra-insurreição» (que o general David Petraeus começara a implementar na fase final da Administração Bush e que o general Stanley McChrystal aplicou com mais condições a partir de 2010) passou a ser ainda mais dominante.

O tempo foi passando e o calendário está a poucos dias de chegar a essa meta: Julho de 2011. Apesar de algumas contrariedades -- como a demissão de McChrystal, que obrigou Obama a oferecer a Petraeus um regresso ao terreno, mais tarde premiado com a direcção da CIA, que o general irá chefiar em breve – a verdade é que Obama conseguiu cumprir mais uma promessa-chave da sua presidência.

Numa declaração de dez minutos na Casa Branca, o Presidente anunciou um ambicioso plano de retirada, que se iniciará com o regresso aos EUA de dez mil efectivos a partir do próximo mês.

Até ao Verão de 2012, garante Obama, 33 mil soldados norte-americanos que, neste momento, colocam as suas vidas em risco em solo afegão, estarão de regresso a casa, repondo, assim, a ‘surge’ que se vira obrigado a fazer em Dezembro de 2009. «A isto se chama mostrar resultados e cumprir objectivos», observa Gloria Borger, analista política da CNN.

«Até 2014», lançou o Presidente no discurso desta noite, «todos os soldados norte-americanos que agora se encontram no Afeganistão vão estar de regresso ao seu país. E isso só será possível graças ao seu esforço, ao seu empenho e à ajuda dos nossos aliados».

‘Nation building at home’
Este anúncio surge numa altura em que as dificuldades internas de Obama vão aumentando. Depois do ‘boost’ de popularidade permitido pelo sucesso da operação de eliminação de Bin Laden – que levou Obama aos 60 por cento de aprovação, um dos melhores valores desde que é Presidente – o barómetro presidencial está outra vez abaixo dos 50 por cento.

Nos últimos dias, aliás, até baixou à casa dos 43/45 por cento, números que começam a ser preocupantes para a estratégia de reeleição – sobretudo quando se começa a desenhar a tendência para que os republicanos venham a escolher Mitt Romney como nomeado presidencial para 2012. Mais uma vez, a explicação para esta queda de popularidade tem dois nomes: crise económica.

Não foi, por isso, de admirar que Obama tenha lançado as suas atenções para os problemas internos: «É tempo de pensarmos no conceito de ‘nation building’ em casa. É tempo de nos focarmos na América».

O caminho da retirada de Cabul, apontado esta noite por Obama, está sintonizado com a opinião pública: as sondagens dizem que entre 60 e 80 por cento dos americanos concordam com o regresso das tropas norte-americanas do cenário afegão, valores muito superiores aos que existiam há um ano.

De ‘combate’ para ‘apoio’
Mas não se pense que este foi apenas um golpe a pensar na popularidade. Vários líderes republicanos, entre os quais o recém-candidato presidencial Jon Huntsman, concordam com uma «retirada progressiva» do Afeganistão.

Os custos astronómicos de uma guerra na qual os EUA já estão metidos há quase uma década pesam no contribuinte americano e nas contas de um Congresso que pretende, cada vez mais, dar prioridade aos cortes orçamentais.

Obama recordou que, depois da morte de Bin Laden, «a Al Qaeda perdeu força e ficou sem o seu único líder real». E lançou o repto: «Sempre dissemos que a América não vai ficar para sempre no Afeganistão. Iremos retirar as nossas tropas à medida que os afegãos consigam defender-se dos perigos que ainda os ameaçam. A nossa missão mudará de combate para apoio».

A ano e meio de tentar a reeleição, o conceito chave para a Presidência Obama será, cada vez mais, «recuperação económica».

Barack, o pragmático, está de regresso.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Observatório 2012 (XV): Jon Huntsman é candidato



Jon Huntsman, 51 anos, ex-governador do Utah e embaixador dos Estados Unidos na China até Abril passado (nomeado por Barack Obama), anunciou esta terça-feira, em New Jersey, que é candidato à presidência dos EUA.

Huntsman junta-se, assim, a Mitt Romney, Michelle Bachmann, Tim Pawlenty, Herman Cain, Ron Paul, Newt Gingrich e Rick Santorum.

Com Mitt Romney como claro líder da corrida nesta altura, Huntsman tentará aproveitar a falta de capacidade mobilizadora de Pawlenty para se assumir como principal adversário do ex-governador do Massachussets na disputa do eleitorado mais moderado do Partido Republicano.

A fraca notoriedade nacional de Huntsman vai ser, nos primeiros tempos, um problema para o mais recente candidato às primárias republicanas. Mas as características de Jon podem torná-lo uma das maiores ameaças ao favoritismo de Romney.

É mórmon, como Romney; é um conservador moderado, como Romney. Mas tem um currículo internacional muito superior ao de Mitt: foi embaixador dos EUA em Singapura durante os anos Bush pai e embaixador na China na primeira fase da Administração Obama.

À Direita, Michelle Bachmann e Newt Gingrich poderão contar, em breve, com a concorrência de Sarah Palin ou, eventualmente, do governador do Texas, Rick Perry -- um conservador fiscal que tem recebido cada vez mais pressões para avançar com uma candidatura.

Rudy Giuliani mantém-se bem cotado nas sondagens, mas não deverá avançar. Donald Trump, Mike Huckabee, Mitch Daniels, Chris Christie, Marco Rubio e Paul Ryan já garantiram que não vão mesmo concorrer.

Tudo ainda muito confuso, mas com Romney a manter-se como favorito.

SONDAGEM RASMUSSEN REPORT:

-- Mitt Romney 33
-- Michelle Bachmann 19

-- Sarah Palin 10
-- Rudy Giuliani 10
-- Herman Cain 10
-- Newt Gingrich 9
-- Ron Paul 7
-- Rick Perry 6
-- Tim Pawlenty 6
-- Rick Santorum 6
-- Jon Huntsman 2

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Histórias da Casa Branca: As palavras mágicas para a nomeação


Michelle Bachmann marca pontos à Direita (enquanto Sarah Palin não se decide), mas Mitt Romney é, cada vez mais, o favorito à nomeação republicana

As palavras mágicas para a nomeação

Por Germano Almeida


Não é por acaso que se costuma dizer que a disputa presidencial na América é a mais louca (e mais longa…) corrida do Mundo.

Mesmo em ciclo de recandidatura de um Presidente em funções, a eleição de 2012 volta a prometer ser uma daquelas maratonas bem ao estilo americano.

Agora que a corrida pela nomeação republicana está a aquecer, depois de meses de inesperado impasse (agravado pela falta de qualidade dos candidatos que se apresentaram a concurso), os focos dos dois principais campos políticos do sistema americano estão, finalmente, virados para o que poderá acontecer até Novembro de 2012.

Mais do que analisar as potencialidades dos candidatos com hipóteses reais de obter a nomeação republicana, importa perceber quais serão as palavras mágicas para se definir a escolha.

E isso dependerá muito das condições do momento – ou não fosse a política um jogo entre «o homem e as suas circunstâncias».

Em 2008, por exemplo, as palavras mágicas para a nomeação democrata foram todas agarradas por Obama: ‘change’, ‘reconciliation’ e, claro, aquelas três palavrinhas que, juntas, se transformaram num slogan imbatível: ‘yes we can’.

Para a corrida de 2012, só agora estão a lançar-se os primeiros ensaios – e, por enquanto, há mais dúvidas do que certezas.

Como escrevi em textos anteriores nesta rubrica, se os dados que prevalecerem forem os mais previsíveis, Mitt Romney é o claro favorito a obter a nomeação republicana. As sondagens pós-debate no New Hampshire comprovam essa tendência, com Mitt a atingir já a casa dos 30 por cento, sendo que nenhum dos seus rivais se aproxima, sequer, dos 20 por cento.

Mitt tem a experiência de uma campanha anterior (e isso, na política americana, tem o seu peso). Tem uma máquina bem montada e «oleada» por muito dinheiro angariado da jornada de 2008 e dos anos que se seguiram -- é, de longe, o candidato republicano com mais dinheiro averbado, facto que, não sendo decisivo (basta recordar o exemplo de John McCain, que chegou a estar perto da desistência em 2008, por falta de financiamento, e acabou por obter a nomeação), poderá ter mais relevância desta vez, se nos lembrarmos que, do lado democrata, Barack Obama espera atingir a soma astronómica de mil milhões de dólares em fundos angariados para a sua reeleição.

Romney consegue uma conjugação ideológica que o coloca na zona moderada do Partido Republicano, mas sem hostilizar a ala mais religiosa. Governou um dos estados mais liberais da América (o Massachussets) e tem um sólido currículo no mundo empresarial -- dados que podem ter o seu peso se as palavras mágicas na eleição geral forem (como é provável que venham a ser) «economia» e «recuperação».

Tem, no entanto, duas questões que lhe podem causar desconforto: é mórmon, religião vista com alguma desconfiança por uma fatia importante do eleitorado americano (estudos feitos nas primárias de 2008 revelaram esse problema para Mitt) e aprovou, enquanto governador do Massachussets, uma reforma da Saúde muito semelhante ao ObamaCare, que agora critica.

Serão contrariedades a mais para que Romney se consiga assumir como a escolha inevitável dos republicanos? Ainda é cedo para responder.

Por muito que os dados do momento o possam apontar como claro favorito, nunca nos podemos esquecer que as corridas presidenciais na América são férteis em surpresas – e assumem uma dinâmica imprevisível, à medida que se vão sucedendo as votações nos diferentes estados.

As cartas escondidas
Quem viu o debate no New Hampshire pode ter achado que já seria certo que o adversário de Obama em 2012 sairá de um daqueles sete candidatos (Romney, Pawlenty, Bachmann, Cain, Gingrich, Santorum e Paul).

Já poderá parecer um leque suficientemente alargado para os delegados republicanos escolherem, mas há cartas escondidas que ainda podem surgir deste estranho baralho.

Nos textos anteriores apontei algumas dessas cartas que podem surgir de surpresa: Sarah Palin, Rudy Giuliani, Jon Huntsman, Marco Rubio, Chris Christie ou Paul Ryan.

Huntsman deixará, em breve, de ser uma «carta escondida»: o ex-governador do Utah, e embaixador dos EUA na China até Abril passado, anunciará oficialmente, na próxima terça-feira que pretende concorrer contra Obama, o Presidente que o nomeou para Pequim.


Jon Huntsman anuncia terça-feira a sua candidatura e vai tentar posicionar-se como a alternativa a Romney na luta pela nomeação

Será que Sarah Palin se prepara para tirar o protagonismo da ala radical a Michelle Bachmann, apesar da boa prestação da congressista do Minnesota no debate do New Hampshire?

A dúvida ocupa os espaços de discussão da Direita americana mas não me parece que seja decisiva para a nomeação: o vencedor da corrida republicana não virá da ala apoiada pelo Tea Party.

A questão é que candidatas com as características de Sarah Palin ou Michelle Bachmann vão permitir uma grande mobilização (outra palavra mágica desta corrida) do eleitorado conservador, compensando assim uma certa ideia, que vigorou até há poucas semanas, de que «o próximo candidato republicano será para perder», um dado que estará a fazer adiar a decisão de nomes apontados como futuras estrelas do GOP, como Chris Christie, Marco Rubio, Paul Ryan ou mesmo Bobby Jindal.

Christie já garantiu que não vai mesmo avançar. Rubio, Ryan e, eventualmente, Jindal também devem guardar-se para 2016.

E ainda há Rick Perry: o governador do Texas nunca afastou completamente uma candidatura e estará a apalpar terreno. Já foi líder dos governadores republicanos, estrutura importante para dominar o establishment do partido. E a verdade é que há muitos sectores do GOP que não se sentem mobilizados com as duas candidaturas «do sistema» que estão no terreno: Mitt Romney e Tim Pawlenty.


Rick Perry, governador do Texas, pode ser a «carta escondida» das primárias republicanas para 2012: quase ninguém está a contar com ele, mas se avançar altera, por completo, os dados da corrida

Se Rick Perry, um «conservador fiscal» de créditos firmados, decidir avançar, a narrativa destas primárias pode mudar completamente. De todas as possíveis «cartas escondidas», Rick é, sem dúvida, o trunfo mais poderoso.

Outra vez o Iowa
Pode parecer uma banalidade dizer-se que os estados de arranque são muito importantes, mas desta vez vão mesmo ser cruciais para se perceber a dinâmica destas primárias.

E o Iowa, estado chave para a nomeação de Obama nas primárias democratas de 2008, pode vir a ser a maior de todas as «palavras mágicas» desta corrida.

Romney tem aí a sua prova de fogo: se se sair bem no caucus do Iowa terá caminho aberto para fazer sempre na liderança o seu percurso até à nomeação, uma vez que terá nas etapas seguintes vitórias quase garantidas: New Hampshire, Michigan (seu estado natal e onde o seu pai, George Romney, foi governador muitos anos), Nevada e, possivelmente, também Carolina do Sul.

Michelle Bachmann nasceu no Iowa e, apesar de representar o Minnesota, estado onde vive desde pequena, tem usado o local de nascimento como trunfo para fazer campanha naquele estado do Midwest.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Histórias da Casa Branca: Desesperadamente à procura do anti-Obama


Da esquerda para a direita: Rick Santorum, Michelle Bachmann, Newt Gingrich, Mitt Romney, Ron Paul, Tim Pawlenty e Herman Cain: os sete participantes do debate no New Hampshire podem vir a ter ainda mais concorrência na luta pela nomeação presidencial republicana. Tudo está ainda em aberto e a ordem é encontrar o candidato com melhores condições de impedir a reeleição de Obama


Desesperadamente à procura do anti-Obama

Por Germano Almeida


O debate do New Hampshire, o segundo das pré-primárias republicanas para 2012, já nos mostrou um desenho mais claro sobre como será a luta pela nomeação presidencial do partido do elefante. Mas ainda esteve longe de revelar o essencial.

Mitt Romney confirmou a ideia de ser, pelo menos para já, o ‘frontrunner’. Só que a chave desta corrida estará na forma como os republicanos poderão conseguir encontrar a estratégia que lhes permita fabricar até ao Verão do próximo ano uma espécie de… «anti-Obama».

Foram a jogo sete candidatos: o antigo governador do Massachussets e terceiro classificado nas primárias de 2008, Mitt Romney; o ex-governador do Minnesota, Tim Pawlenty; o antigo ‘speaker’ do Congresso, Newt Gingrich; o antigo senador pela Pensilvânia, Rick Santorum; a congressista do Minnesota e preferida dos movimentos Tea Party, Michelle Bachmann; o responsável pela Reserva Federal de Kansas City, Herman Cain; e, ainda, o médico e congressista do Texas, Ron Paul, que tenta pela quinta vez uma candidatura «impossível» à Casa Branca, dado que representa uma facção ultra-minoritária no Partido Republicano.

Recusaram os convites da organização outros cinco nomes, embora por razões diferentes. Mitch Daniels, governador do Indiana, e o multimilionário Donald Trump já anunciaram que não vão avançar para uma corrida presidencial. Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e a mais popular figura da Direita americana, Rudy Giuliani (antigo mayor de Nova Iorque e «candidato desastre» das primárias republicanas de 2008) e Jon Huntsman, antigo governador do Utah e embaixador dos EUA na China até Abril passado, também optaram por passar esta oportunidade de entrar já em jogo, por não terem ainda revelado publicamente se tencionam concorrer.

No caso de Giuliani, até há muito pouco tempo havia sinais que indicavam uma resposta negativa, mas as sondagens dos últimos dias podem tê-lo feito pensar melhor: é que, mesmo com Sarah Palin em jogo, Rudy surge em terceiro lugar, com 12 ou 13 por cento.
Sem Palin na corrida, aparece como a alternativa mais forte a Mitt Romney, podendo chegar aos 16 ou 17 por cento – números que não devem ser negligenciados, se atendermos ao facto de que o antigo presidente da Câmara de NY nem sequer está no terreno.

O mesmo não se poderá dizer de Sarah Palin: embora ainda não tenha dito uma palavra sobre se vai ou não ser candidata à presidência dos EUA, as suas acções indiciam, pelo menos, essa intenção. Palin continua a ser a figura mais mediática do campo republicano e a sua estratégia poderá ser a de esperar para ver.

Para todos os efeitos, a falta de entusiasmo em torno do actual quadro de candidatos permitirá a Sarah ficar, literalmente, à sombra durante o Verão. E, havendo condições para tal, Palin poderia ser o factor-surpresa do início do Outono, quando faltar precisamente um ano para a eleição geral…

Romney confirma a dianteira
Todas as sondagens têm apontado Mitt Romney com um avanço ainda não muito claro, mas já significativo. Não foi de admirar, por isso, que o debate do New Hampshire tenha colocado o
ex-governador do Massachussets na berlinda.

Nesta fase ainda muito inicial, os candidatos optaram por não se atacar mutuamente, preferindo apontar baterias para o «inimigo» comum: Barack Obama.
Romney, que é apontado como o mais forte candidato contra Obama num eventual cenário de crise económica agravada até 2012, tem um ponto fraco: o de ter aprovado no Massachussets uma reforma da Saúde muito parecida com o ObamaCare.

O tema tem sido alvo de críticas, sobretudo por parte de Tim Pawlenty -- que tenta disputar com Romney a zona moderada do Partido Republicano -- mas, estranhamente, Tim optou por recuar nessa estratégia no debate de ontem, esclarecendo que quando criticou a Reforma da Saúde apena se referia «ao Presidente».

Bachmann ataca pela Direita
Como era de prever, Michelle Bachmann aproveitou a ausência de Sarah Palin (e a completa desorientação estratégica de Newt Gingrich) para assumir o território da Direita.
Apresentou-se como solução para «a América real», a América que «está desiludida com Obama e quer voltar a ter um Presidente que ponha a economia deste país a funcionar».

Já se sabia que este tipo de chavões são muito mobilizadores para muitos sectores do Partido Republicano. O que ainda não se sabe é se será mesmo esse o discurso dominante ou se o GOP saberá encontrar uma estratégia mais moderada para defrontar Obama em Novembro de 2012.

Até ao fim do Verão, o campo republicano deverá saber encontrar as principais respostas para a grande dúvida: que registo deverá ter o «anti-Obama» por quem a Direita americana tanto anseia?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Histórias da Casa Branca: Mitt Romney ou uma surpresa?


Os dados para a nomeação republicana parecem estar destinados a favorecer Mitt Romney: está à frente nas sondagens, tem dinheiro para a campanha e posicionou-se nas primárias de 2008. Mas há vários sectores do Partido Republicano que não se entusiasmam particularmente com esta solução para defrontar Obama. Haverá uma carta escondida na manga para tramar Mitt?


Mitt Romney ou uma surpresa?

Por Germano Almeida


Será Mitt Romney a maior ameaça à reeleição de Obama? Os dados mais racionais parecem mostrar isso, mas na política americana, nunca se sabe.

As últimas semanas revelaram, finalmente, alguma clarificação no campo republicano. Com Donald Trump fora da arena, e Sarah Palin estranhamente a adiar a sua declaração de candidatura (aparece cada vez mais como ‘pop star’ da Direita americana, mas… por que raio não entra oficialmente na corrida?), a batalha pela nomeação poderá vir a ser disputada por estes quatro nomes (seguindo a ordem de probabilidades): Mitt Romney, Tim Pawlenty, Jon Huntsman e, espantem-se, Michelle Bachmann.

Dentro deste quadro (um pouco bizarro, diga-se), o nome da congressista do Minnesotta só aparece porque as hipóteses mais fortes que poderiam aparecer do campo radical ou não avançaram ou se encontram irremediavelmente feridas: Sarah Palin, Mike Huckabee, Donald Trump e Newt Gingrich.

É certo que há mais pretendentes no terreno, mas nenhum deles tem hipóteses reais de obter a nomeação: Gary Johnson (pela despenalização das drogas) e Ron Paul (contra qualquer tipo de imposto ou instituição) apenas discutem a facção minoritária dos libertários; Rick Santorum é um antigo senador da Pensilvânia com boas credenciais conservadoras mas, simplesmente, não tem dimensão nacional para poder sonhar com a nomeação; Herman Cain tem feito uma campanha incisiva na sua esfera muito colada à direita, mas nunca conseguirá atingir os dois dígitos nas sondagens, porque se trata de um candidato fora do mainstream do Partido Republicano.

A meio ano do Iowa e do New Hampshire, começa a ser tempo de pôr as cartas na mesa. E há um dado cada vez mais claro: a máquina que domina o establishment do Partido Republicano não se sente à vontade com Mitt Romney como provável nomeado – caso contrário já lhe teria dado um apoio mais visível.

A questão é que quem poderia agarrar esse apoio também não avançou: Mitch Daniels, antigo governador do Indiana, Haley Barbour, ex-governador do Mississipi, ou mesmo Jeb Bush, irmão e filho de antigos Presidentes e um ex-governador da Florida ainda muito popular.

Pode Tim Pawlenty merecer a confiança do aparelho republicano? Pode – mas ainda terá que provar muito, durante os próximos meses. Por enquanto, o ex-governador do Minnesotta continua a acusar uma grande falta de notoriedade nas sondagens. E não se prevê que seja ele a ultrapassar Romney.

Então e essa surpresa?
Um olhar pela história recente dos nomeados presidenciais republicanos mostra-nos uma tendência relativamente consistente: quem tenta uma e outra vez, e fica em segundo ou terceiro lugar, tem fortes hipóteses de alcançar a nomeação mais tarde. Foi assim com Nixon. Foi assim com Reagan. Foi assim com Bush pai. E foi assim com John McCain.

Este trend histórico parecia favorecer a narrativa de Romney (que foi terceiro nas primárias republicanas de 2008) como nomeado mais natural dos republicanos para 2012 – sobretudo depois de se saber que Mike Huckabee (segundo em 2008) não irá a jogo.

Se a isso juntarmos o lado moderado de Mitt (um dos dois candidatos, a par de Tim Pawlenty, com mais hipóteses de disputar o centro a Obama na eleição geral) e a máquina eleitoral que ele já conseguiu montar (herdada da campanha de 2008 e aumentada nas últimas semanas com a liderança nas sondagens do campo republicano), tudo indicava no sentido de Romney ser o claro favorito à nomeação.

Só que Mitt não entusiasma por aí além as hostes republicanas. Ann Coulter, escritora e ‘opinion maker’ conservadora, resume assim esse sentimento: «Mitt Romney é o nomeado provável para este ano. E tem motivos para o ser. Agora: se acho que ele vai bater Obama na eleição geral? Acho que não. E eu quero nomear alguém que me dê esperanças de derrotar este Presidente…»

Ainda que uma análise fria dos dados não dê grande razão a Ann Coulter (Romney poderá ter algumas hipóteses de derrotar Obama, de acordo com as últimas sondagens, sobretudo se a situação económica se agravar no próximo ano), esta ideia não é isolada no ‘core’ republicano.

Algumas vozes tentam desafiar uma candidatura surpresa, de nomes que são apontados como futuros trunfos do GOP para 2016, ano mais apetecível dado que não implicará uma disputa com um Presidente em funções: Marco Rubio, 40 anos, senador pela Florida; Chris Christie, 48anos, governador da Nova Jérsia; ou Paul Ryan, 41 anos, congressista do Wisconsin – a tal ‘candidatura-surpresa’ sairia de um destes três nomes.

Nada provável, mas suficientemente mobilizador para quem acha pobre o leque de actuais candidatos.

O desastre Gingrich
Fora da luta real pela nomeação está, definitivamente, Newt Gingrich. Newt é um daqueles casos de puro desperdício político: pode não simpatizar-se com as ideias dele (eu não simpatizo mesmo nada…), mas é indiscutível que se trata de um tipo brilhante. Muito culto e com uma grande noção do que «é ser americano» -- algo fundamental para um candidato que pretenda ter hipóteses reais de nomeação presidencial por um dos partidos do sistema.

Mas Gingrich foi mostrando quase sempre, no seu já longo percurso político, uma estranha tendência para estragar tudo na hora da verdade.

Isso voltou a acontecer desta vez. Newt avançou numa altura em que o cenário republicano parecia ser favorável às suas aspirações: sem um claro ‘frontrunner’ a destacar-se na corrida, e com uma noção generalizada de que faltava «peso político» aos candidatos que já estavam no terreno, Gingrich bem tentou ser a solução para um «back to basics» ao conservadorismo que se reivindicou como «maioria moral» da América na década de 90 – mesmo quando na Casa Branca estava um Presidente como Bill Clinton.

Só que a vocação de Newt para o desastre voltou a sobrepor-se. Gingrich ignorou os conselhos dos seus principais estrategas e seguiu num cruzeiro de duas semanas com a mulher, numa altura em que a corrida republicana entra numa fase importante.

Resultado: viu todos os seus conselheiros e assessores demitirem-se, sendo que alguns deles trabalhavam com o antigo speaker do Congresso há vários anos.

Parece que estava escrito nas estrelas: Gingrich não será mesmo candidato presidencial pelo Partido Republicano. Não o foi em 2000, nem sequer tentou em 2008 – e não o será em 2012.

Ao contrário do que muitos conservadores gritavam há quatro anos, para tentar travar a Obamania (‘Run, Newt, run!’), parece que desta vez o que se canta é… ‘No, Newt, don’t do it!’