sexta-feira, 24 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: Brexit, o ‘cisne negro’ que pode salvar a candidatura Trump?


«Os ingleses recuperaram o seu país. Isso é uma coisa boa. Outros vão querer seguir o mesmo caminho. E vão querer ter política monetária. Vão querer ter um país»
DONALD TRUMP, a reagir na Escócia ao triunfo do «Brexit»

«Respeitamos a escolha do Reino Unido. Estes tempos de incerteza reforçam a necessidade de uma liderança clara e forte dos Estados Unidos»
HILLARY CLINTON, na reação, em comunicado no Twitter, à vitória do «Brexit»

«O povo do Reino Unido pronunciou-se e nós respeitamos a sua decisão. A relação especial entre os EUA e o Reino Unido é duradoura e a presença do Reino Unido na NATO continua a ser um pilar fundamental na política económica, de segurança e internacional dos Estados Unidos»
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, na reação ao Brexit, dias depois de ter avisado, em Londres, para os perigos dessa «relação especial» estar em risco se o «sim» vencesse… como venceu



As últimas duas semanas correram muito mal a Donald Trump.

Hillary Clinton resolveu finalmente o problema matemático para chegar à nomeação, contendo a ameaça Sanders (o septuagenário Bernie até já admite que vai votar na antiga secretária de Estado de Obama, que tanto criticou nos últimos meses) e focando-se, finalmente, no ataque a Trump.

A pressão da elite republicana aumentou, no sentido de contestar a escolha dos eleitores nas primárias, numa última tentativa de travar a nomeação de Trump na Convenção de Cleveland – e até surgiu um movimento de cerca de 400 delegados que, apesar de estarem supostamente presos à fidelidade dos resultados nas urnas, parecem dispostos a quebrar a tradição e não votar mesmo em Donald, o que poderia pôr em dúvida a investidura do multimilionário como candidato presidencial.




Os números de maio revelaram diferenças enormes na capacidade de angariação de fundos nas duas campanhas: Hillary com mais de 40 milhões de dólares recolhidos; Donald apenas 1,3 (num sinal óbvio de que os financiadores tradicionais dos republicanos ainda não conseguiram engolir o ‘sapo’ Trump).

A forma exagerada, primária e simplista como Donald reagiu ao massacre de Orlando caiu mal até no eleitorado republicano, que não viu em Trump o líder à altura de acontecimento tão dramático.

Mais relevante que todos os dados anteriores, Hillary descolou nas sondagens nas últimas três semanas, depois de uma fase em que Trump estava quase a apanhar a democrata.

Os últimos números deram Hillary com vantagens entre os 5 e os 12 pontos nas sondagens nacionais e vantagens em quase todos os estados decisivos.

Hillary aquecia os motores para capitalizar a ideia de que teria tudo para ganhar claramente em novembro, frente a um opositor mal-amado por grande parte dos republicanos e que, em recente sondagem, é rejeitado por sete em cada dez eleitores americanos.

Trump, cercado e em risco de ver crescer ameaça real de chegar à Convenção e ver outra solução preparada para o travar, já preparava mudança de estratégia.

Despediu há dias o seu diretor de campanha, Corey Lewandowski (um dos grandes mentores do estilo feroz e de ataque a tudo e todos, entre media e políticos), e preparava-se para tentar uma nova via, menos desalinhada e capaz de segurar os mínimos para uma nomeação tranquila.


«Turning point» mas… quanto?

Mas, já se sabe, uma corrida presidencial nos EUA dá muitas voltas. A quatro meses e meio da decisão, muita coisa pode ainda acontecer.

O que poderia recolocar Trump na rota de uma candidatura forte, depois daqueles meses de desvario em que, nas primárias republicanas, bastou capitalizar os falhanços sucessivos dos políticos do ‘establishment’?

Um grande atentado em solo americano, com planos gizados pelo ISIS? Doença súbita de Hillary Clinton?

Para além destas duas hipóteses trágicas (embora ambas possíveis em teoria de suceder até novembro), muito pouco mais.

Ora, dentro desse «muito pouco», há sempre alguns ‘cisnes negros’ que podem aparecer.

Pois.

A questão é que ontem mesmo, 23 de junho, pode ter aparecido uma dessas improbabilidades estatísticas mas que, por existirem, têm que ser introduzidas na equação.

Não é que o «Sim» dos britânicos à saída da União Europeia fosse assim tão inesperado.



Empurrão para Donald

Mas a conjugação de fatores políticos a ela associada, essa sim, parece gerar uma «tempestade perfeita», no timing e nas consequências, em favor da narrativa que Donald Trump pretende corporizar.

Pode ser, para o multimilionário nova-iorquino, um grande momento, como ele bem gosta, de «eu bem que tinha avisado».

Reforça a ideia de que os ventos estão para a penalização das elites políticas, do ‘status quo’ partidário, do ‘business as usual’ das instituições oficiais.

Alimenta a ilusão que está a ser vendida pelo futuro nomeado republicano de que a solução para os perigos internos da América está no fecho de fronteiras, na hostilidade para o tudo o que vem «de fora», no recuo do multilateralismo promovido nos anos Obama/Biden/Hillary/Kerry e num regresso a um protecionismo guiado pelo medo mas sem qualquer fundamentação real.




O modo como Donald tem falado de «mexicanos», «muçulmanos» e «centenas de milhares de refugiados sírios» não é muito diferente (apenas um pouco menos subtil) do que fizeram, nos últimos quatro meses, Nigel Farage, Boris Johnson e outros defensores do «Leave UK from EU».

Curiosamente (ou talvez não), Trump estava, esta manhã, a chegar à Escócia, para inaugurar um campo de golfe que deu polémica. E cantou vitória, referindo que «os ingleses recuperaram o seu país e isso é uma coisa boa».


Hillary outra vez com o papel mais difícil

Num tema como este, em que o fator medo foi decisivo para a decisão (saberão os ingleses que fora do Reino Unido estão bem menos «protegidos» da pressão migratória, por exemplo?), o discurso fácil e populista de Trump é muito mais passível de ter colhimento do que, propriamente, uma análise completa e multifacetada de tão complicado problema.



O papel mais difícil volta, assim, a caber a Hillary Clinton.

Sem ceder à emoção do momento, a presumível candidata democrata mostrou respeito pela decisão do Reino Unido, insistiu na «velha aliança EUA/Reino Unido, que não sairá abalada», mas assumiu que «se vivem tempos de incerteza».

«Uma liderança experiente na Casa Branca é fundamental», avisou, numa clara bicada à total falta de experiência política e/ou de chefia militar de Trump.

O mundo precisa, em momentos destes, «de uns Estados Unidos liderantes e fortes», diz Hillary, reforçando a visão que sempre manteve, quando liderava o Departamento de Estado, sobre o papel dos EUA no mundo.

Até se percebe a ‘nuance’ em relação a uma visão mais ‘declinista’ de Obama, que aponta mais o foco no «realismo de contenção», mas falta saber se Hillary consegue vencer a tal barreira do «medo»: no momento do voto, quem verão os americanos mais no papel de «líder forte para uma América forte»?

Não será o discurso simplista de Trump de «Make America Great Again» mais apetecível para um eleitorado assustado?

Depois do «Brexit», o ítem «medo» galgou mais umas posições na lista de prioridades, certamente.

Aguardam-se com (muita) expetativa as primeiras sondagens que já apanhem o pós-Brexit.

Nunca é bom desvalorizar o lado imprevisível dos duelos presidenciais na América.


Faltam 137 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: o fator medo


«Somos liderados por um homem que ou não é duro nem esperto, ou tem outra coisa em mente. As pessoas não conseguem acreditar que o Presidente Obama age da forma como age e que nem sequer menciona as palavras ‘terrorismo radical islâmico’. Passa-se alguma coisa. É inconcebível»
DONALD TRUMP, a acusar Barack Obama, após o massacre de Orlando

«Não vou declarar ‘guerra’ a uma religião. Os líderes da nossa nação têm que tirar o que aconteceu do plano partidário. É o momento de toda a gente se unir e homenagear quem morreu nesta tragédia, apoiar quem sofre diretamente com isto e tentar perceber o que podemos fazer»
HILLARY CLINTON, entrevista telefónica ao «Today News», após o massacre de Orlando
  
«Na América, é mais fácil comprar uma arma do que obter um divórcio, tirar a carta de condução ou conseguir um animal doméstico».
Peça informativa no site da CNN
  


Desde a confirmação da nomeação republicana de Donald Trump que já se tinha percebido que esta corrida presidencial de novembro de 2016 iria ser marcada pelo fator medo.

O massacre de Orlando, num ato que envolveu mistura explosiva de carga religiosa, possível terrorismo islâmico radical e sentimentos homofóbicos, veio agravar esses receios.

A candidatura Trump tem-se alimentado no pasto do descontentamento com o sistema político de Washington e uma noção, um pouco primária, de que os anos Obama fizeram enfraquecer a posição da América no mundo.



O «make America great again» tem tanto de demagógico como de poderoso.

Demagógico, obviamente, porque uma análise atenta aos dados fundamentais mostra-nos que os EUA nunca deixaram de ser grandes.

Em alguns aspetos (taxa de desemprego, independência energética, exploração das renováveis), os anos Obama reforçaram a posição da América, não a enfraqueceram.



Noutros, a questão é mais polémica: uma boa parte dos americanos, é certo, discorda da visão de «contenção» explanada pelo Presidente Obama, considerando que a retirada do Iraque e do Afeganistão, e a recusa constante num envolvimento real de tropas americanas na Síria e nos territórios dominados pelo Estado Islâmico diminuiu a capacidade dos EUA serem o ás de trunfo para eliminar as grandes ameaças do globo.

O fator medo, jogado por Trump, pode ser poderoso, porque não depende de factos concretos.

Perceção mais forte que a realidade

Cresce pela perceção, não pela realidade, e multiplica-se pelos receios de que o «inimigo está prestes a entrar pela nossa casa dentro», por culpa da suposta «fraqueza de quem elegemos erradamente nos últimos anos».

Esta junção de ideias feitas – o fantasma dos «imigrantes violadores, ladrões e criminosos», o fantasma do «ISIS e da sua crescente capacidade de invadir território americano», o fantasma do que é diferente e minoritário -- valeu mais 13 milhões de votos a Donald Trump nas primárias republicanas.

Não pode, por isso ser desvalorizado ou reduzido a anedota (o erro cometido por quase todos nos primeiros meses desta corrida, sempre que se tentava compreender o fenómeno Trump).

A matança de Orlando tirou todas as dúvidas em relação a uma das principais dicotomias desta eleição: Trump aproveitará sempre situações como esta para acusar Obama, Hillary e os democratas de terem deixado os americanos «mais vulneráveis a todo o tipo de ataques»; Hillary enquadra casos como os de Orlando na urgência, por si reivindicada e tentada no segundo mandato de Barack Obama, de apertar drasticamente as leis relacionadas com o «gun control».

As últimas semanas têm mostrado, de forma sólida e consistente, que Hillary Clinton parte para o duelo presidencial com Donald Trump com um avanço claro (ainda que não definitivo).


Hillary aumenta vantagem

Nas sondagens nacionais, Clinton oscila vantagens de 5 a 12 pontos sobre Trump. 

No mapa eleitoral por estados, aquilo que vai verdadeiramente decidir, Hillary surge à frente em quase todos os estados competitivos, parecendo ter o caminho para os 270 votos eleitorais (garantia da eleição) muito mais facilitado do que a rota de Trump para uma improvável eleição.



A pouco mais de um mês do arranque das convenções partidárias, cresce a ideia de que, desta vez, ambos os momentos não se cingirão a uma coroação antecipada dos vencedores das primárias.

Do lado democrata, Hillary fará tudo para receber o apoio claro e inequívoco do senador Bernie Sanders, que vendeu cara a derrota nas primárias e dispõe de um legado de enorme valor para as contas finais desta corrida: os seus 12 milhões de votos, somados graças a um posicionamento direto e frontal, que atraiu o descontentamento à esquerda sobre os falhanços e impasses criados pelo «gridlock» político em Washington e pelo que consideram ser a ambiguidade ética de Obama e Hillary em relação às grandes corporações e ao poder «de Wall Street sobre a Main Street».


Não está fácil, Donald

Mas no lado republicano as inquietações são ainda maiores.

Se para Hillary parece ser apenas uma questão de tempo e habilidade política até que consiga mesmo a bênção de Bernie Sanders (que na hora da verdade certamente preferirá o ‘mal menor’ da nomeada democrata a uma ameaça de ser cúmplice de uma eleição escandalosa de Trump), Donald corre risco real de ser investido na Convenção de Cleveland (18 a 21 de julho) num ambiente que poderá oscilar entre a frieza e a hostilidade mais ou menos declarada de uma boa parte da «elite» do Partido Republicano (vejam-se as posições recentes de Mitt Romney, em entrevista à CNN, e até de Paul Ryan, que depois de um 'endorsment' pouco convincente a Trump, já o criticou fortemente).

Que consequências tudo isto terá no plano eleitoral, será algo que só mesmo a 8 de novembro iremos perceber.

Mas não deixa de ser interessante constatar que as primeiras sondagens pós massacre de Orlando não só mostram vantagens para Trump (contrariando o que muitos previram) como até denotam um aumento do avanço de Hillary.

Sim, o fator medo pode ser marcar esta eleição presidência. Mas não apenas pelos receios lançados de forma demagógica pelo improvável nomeado republicano.

O medo de ver Trump na Casa Branca (sete em cada dez americanos não gosta de Donald e dois terços das mulheres nunca votaria nele, de acordo com sondagem Washington Post/ABC News) pode levar muitos segmentos a preferirem Hillary Clinton, mesmo que vejam na nomeada democrata muitos defeitos e pouca capacidade de atração política.


A América é mesmo uma caixinha de surpresas.

domingo, 12 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: aqueçam os motores e apertem os cintos – o grande duelo vai começar


A pouco mais de um mês do arranque das convenções partidárias (18 a 21 de julho no Quicken Loans Arena, em Cleveland, Ohio, do lado republicano; 25 a 28 de julho no Wells Fargo Center, em Filadélfia, Pensilvânia, no campo democrata), o duelo Trump/Hillary, na prática, já começou.



O tiro de partida, mesmo que não de forma oficial, foi o modo claro como Hillary derrotou Sanders na última ronda de primárias, obtendo claras vitórias na Califórnia e na Nova Jérsia, e ainda um triunfo apertado, mas significativo, no Novo México (desmontando assim a ideia de que Bernie poderia ainda surpreender Hillary se lhe «roubasse» o voto hispânico).

Os dados são objetivos – Hillary passou já em cerca de 450 delegados o «número mágico» para obter a nomeação – e o encontro do Presidente Obama com Bernie Sanders, na Casa Branca, no dia seguinte a essa ronda de primárias, terá sido a última machadada nas esperanças do «universo Sanders».



Barack tentou chamar Bernie à razão, lembrando-lhe que, há precisamente oito anos, Hillary Clinton teve a capacidade de colocar de lado as frustrações de não ter sido nomeada, mesmo tendo obtido 18 milhões de votos, e juntou-se a Obama, no esforço de contribuir para a eleição do candidato democrata.

Sanders, aparentemente, não se mostrou muito sensibilizado com os apelos do Presidente e saiu do encontro dizendo aos «media» que não vai desistir e que seguirá para as primárias em Washington DC.

Bernie sustenta-se no facto dos superdelegados poderem mudar de ideias até à Convenção – o que, sendo uma possibilidade teórica, não é um cenário realista, atendendo ao facto de Hillary ter garantido supremacia sobre Bernie em todos os capítulos.

O que faria, nas próximas semanas, mais de cinco centenas de superdelegados fletir dramaticamente de Clinton para Sanders?

Mais significativa foi a declaração do senador do Vermont, no sentido de que «o mais importante será que o movimento que fizemos crescer nesta campanha inesquecível faça tudo para travar uma eventual Presidência Trump».


Obama: «Bernie fez de Hillary uma candidata ainda melhor»

Obama, em entrevista a Jimmy Fallon no dia seguinte ao encontro com o senador Sanders, fez questão de elogiar «a grande caminhada de Bernie», sentenciando: «Não tenho dúvidas de que as ideias e as propostas lançadas a debate por Sanders contribuíram para que Hillary Clinton se tornasse numa candidata ainda melhor».

Sem qualquer surpresa, o Presidente endossou a candidatura de Hillary Clinton (que, na prática, apoia desde o início), declarando: «Possivelmente, nunca existiu uma candidata tão conhecedora, tão experiente e tão bem preparada para o cargo de Presidente dos EUA como Hillary Clinton».



Nas próximas semanas, possivelmente ainda antes do arranque da Convenção de Filadélfia, é de esperar que Sanders se renda às evidências e declare apoio sólido a Hillary, de modo a tentar estancar uma «fuga» significativa de votantes seus nas primárias para Trump na eleição geral.

O risco é real: algumas sondagens apontam uma bolsa entre os 8 e os 12% de votantes Sanders nas primárias a admitirem preferir Trump em detrimento de Hillary na eleição geral.

O espanto não será assim tão grande: Sanders baseou grande parte do seu crescimento na crítica ao sistema de poder, colocando Hillary como uma das mais claras representantes desse «establishment» diabolizado.

Ainda assim, e de acordo com sondagem Reuters/Ipsos feita nos dias seguintes à confirmação da maioria Hillary para a nomeação, Clinton segura, de imediato, três quartos do eleitorado democrata para a eleição geral, sendo que, do lado republicano, Trump se fica pelos 70% (42-34 a favor de Hillary no resultado global dessa sondagem).  


Romney não apoia mesmo Trump

Do lado republicano, a campanha de Donald Trump vai dando sinais de que pretende apresentar, nos próximos tempos, o seu candidato com uma versão mais soft e não tão politicamente incorreta, mas o próprio Trump dá mostras de não querer ir por aí.

Os comentários de teor racista que Donald teceu nos últimos dias, sobre juiz do Indiana de origem mexicana, levaram Mitt Romney, nomeado presidencial republicano de 2012, a reafirmar, em entrevista a Wolf Blitzer, na CNN, que não vai mesmo apoiar o seu sucessor como candidato republicano.



Mitt vai mais longe e acusa Donald de não estar à altura da nomeação: «Não deve ser o exemplo para futuras gerações ou o exemplo da América para o Mundo. Não quero ver o Presidente dos EUA a dizer coisas de natureza racista que mudem o coração e o caráter deste país».

Romney, entretanto, levou já a réplica por parte do diretor de campanha de Donald Trump. Paul Manafort não fez a coisa por menos e chamou Mitt de «cobarde». «Podia ter entrado na corrida presidencial de 2016 e escolheu não o fazer. Agora critica Trump, que teve mais 3,5 milhões de votos nas primárias do que ele em 2012...» 

Na mesma linha de Romney, David Brooks, colunista muito influente do «New York Times», de tendência conservadora, representa uma corrente realista e pragmática da Direita americana, que ainda se encontra numa espécie de… estado de choque perante a inevitabilidade de Trump.

Ora, Brooks, que numa situação normal se colocaria do lado do nomeado republicano contra Hillary, vê Clinton como a solução óbvia para evitar um desastre Trump: «Continuo a acreditar que as pessoas se vão fartar de Donald Trump e irão preferir Hillary Clinton. Pelo menos ela será competente e será normal», apontou o analista e comentador, em debate na PBS.



Sim, a campanha promete ser feia

A menos de 150 dias do momento que definirá a sucessão de Barack Obama, o relógio já começou a contagem decrescente.

E, tendo em conta as características, as histórias de vida e o passado dos dois candidatos, não vale a pena ter grandes ilusões: a campanha vai ser feia.

Donald Trump vai prometendo, nos comícios, que terá revelações comprometedoras a fazer nos próximos tempos sobre a sua adversária para novembro: «Nem sei bem se ela terá condições de ser candidata mesmo, mas vamos ver…», aponta o futuro nomeado republicano, insinuando que a questão dos emails poderá levar a uma acusação formal contra Hillary por parte do FBI.

Possivelmente nunca terá havido um duelo assim para a eleição geral: Hillary tem níveis de rejeição de 40% ou mais (esse dado terá sido decisivo para que Obama levasse a melhor na corrida à nomeação democrata há oito anos); mas Donald, esse, passa os 60% de americanos a dizerem que não gostam dele ou têm, pelo menos, opinião negativa.

É claro que os próximos meses podem mudar essa perceção, mas fica difícil vislumbrar como pode um candidato com um nível de rejeição tão elevado sonhar com a vitória em eleição tão complexa como é a corrida presidencial norte-americana.

O melhor mesmo é aquecerem os motores e apertarem os cintos: o grande duelo está a começar e a campanha não vai ser bonita.

Mas, em vários sentidos, será interessante e imprevisível.

Hillary parte em vantagem, embora pareça estar em relativa perda nos últimos meses. Trump é o «cisne negro» que quase ninguém previu, mas que tem vindo a desmontar mitos e supostas certezas de analistas, comentadores e políticos.



Nunca é prudente desvalorizar o grau de incerteza que a política americana nos reserva. Para o bem ou para o mal, não há outra realidade mais rica, contraditória e desconcertante.

E as suas fraquezas e os seus defeitos tornam-se, muitas vezes, a sua principal força.

Faltam 149 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: sim, vai mesmo ser Hillary


Está confirmado: Hillary Rodham Clinton será a primeira mulher a chegar à eleição geral, na corrida à Casa Branca, ao ter mais do que garantida a nomeação presidencial do Partido Democrata.



A exatamente cinco meses do duelo com Donald Trump (será a 8 de novembro), a questão do lado democrata ficou complemente decidida, apesar da recusa de Bernie Sanders de encarar a derrota: «A luta continua!», insiste o senador do Vermont.

Mas como, Bernie, se Hillary já vai nos 2800 delegados garantidos (e só precisa de 2.383 para a nomeação na convenção)?

Em Brooklyn, Nova Iorque, acompanhada da filha, do genro e do marido, Bill Clinton, 42.º Presidente dos EUA, a possível 45.ª Presidente dos EUA proclamou vitória na corrida à nomeação democrata, falando numa altura em que ainda não se conheciam os resultados na Califórnia.



Horas depois, as melhores expetativas de Hillary confirmavam-se: venceu claramente na Califórnia (57/43 com 85% dos votos contados), esmagou na Nova Jérsia (63/37) e ainda venceu no Novo México (51.5/48.5) e Dakota do Sul (51/49).

Sanders ganhou no Montana (56/44, o que apenas lhe valeu mais um delegado do que Hillary na distribuição proporcional, 10-9), no Dakota do Norte (64/26, 13-5 em delegados) e recusa-se a desistir.

Faz mal: ao não aceitar as evidências, sobretudo depois de perder tão claramente a Califórnia, corre o risco, como notou um congressista democrata apoiante de Hillary, citado pelo Politico, que pediu o anonimato, «se Bernie Sanders perder a Califórnia e, mesmo assim, continuar na corrida democrata, será lembrado não como um campeão das ideias progressistas, mas como apenas mais um político narcisista».

É essa a posição, neste momento, da esmagadora maioria dos elementos do Partido Democrata: Sanders perdeu as últimas oportunidades de contestar realmente a nomeação de Hillary («ganhe a Califórnia ou saia do caminho…», foi o aviso de vários democratas notáveis a Sanders nos últimos dias) e por isso chegou o tempo de deitar a toalha.




Até Obama tenta demover Sanders

Até o Presidente Obama está a dar esse sinal ao senador do Vermont: Barack chamou Bernie para uma conversa esta quinta-feira na Casa Branca, possivelmente para lhe dizer que este é o momento de conceder a derrota e juntar esforços em torno da futura nomeada do Partido Democrata, de modo a preparar a eleição geral e reforçar as possibilidades de Hillary frente à ameaça Donald Trump.

Obama deverá lembrar a Sanders que, há precisamente oito anos, em junho de 2008, Hillary teve um gesto de concessão que agora deveria ser replicado por Bernie.

Numa disputa ainda mais cerrada do que foi esta, a então senadora Clinton admitiu que perdeu a nomeação para Obama e, num comício realizado simbolicamente em Unity, proclamou o armistício com o futuro nomeado, ajudando-o a chegar à Presidência.



Mas, então, porque é que Sanders não faz agora o mesmo?

«Vamos continuar esta corrida, vamos partir para as primárias em Washington DC na próxima terça-feira e vamos até à convenção de Filadélfia!», lançou Bernie.

Sanders lembra que o apoio maciço dos superdelegados a Hillary (571 para apenas 48 com Sanders) só pode ser concretizado a 25 de julho, já em Filadélfia e que, até agora, se trata apenas de uma indicação que o senador pretende reverter.

Mas a tese não tem qualquer fundamento: há oito anos, a confirmação de Obama, precisamente nesta altura, surgiu pela soma dos delegados eleitos com o apoio dos superdelegados e nem sequer Hillary se atreveu a colocar essa tendência em causa até à convenção.

E é importante esclarecer que, ao contrário do que o senador Sanders está a tentar fazer crer nos últimos dias, a vantagem clara de Hillary não se baseia apenas nos superdelegados.


Bernie foi extraordinário mas factos são factos: Hillary bate Sanders em todos os capítulos

É verdade que Bernie chegou muito mais longe do que qualquer analista previu no início desta corrida (partiu com 5% ou até menos e chega ao fim destas primárias com mais de 40% dos votos expressos dos democratas, o que é simplesmente notável para um candidato das suas características, septuagenário, socialista até há dois anos e com tantos anticorpos no ‘establishment’ do partido).

Mas factos são factos e convém não sermos iludidos pela gestão das perceções e das expetativas.

Sim, Hillary teve mais dificuldades do que se esperava para chegar à nomeação. Sim, ela perdeu em alguns estados onde era suposto ter ganho claramente (o Michigan e New Hampshire, só para indicar dois).

Mas aqui chegados, na reta da meta deste longo processo de primárias, eis que os números fundamentais nos mostram que Hillary bateu Sanders em todos os capítulos: mais 380 delegados eleitos (2230 contra 1850 de Bernie), mais 520 superdelegados do seu lado (570 para 50 do adversário), mais votos expressos (15,5 milhões para Hillary, 11,8 milhões para Bernie), mais estados ganhos (35 para Hillary, 25 Sanders, num total superior ao número de estados dos EUA devido às disputas em territórios como Porto Rico, Ilhas Virgens, Guam ou Samoa Americana).

Tudo isto somado, Hillary já vai com perto de 500 delegados acima do número mágico de 2.383 necessário para chegar a Filadélfia com a nomeação assegurada.

Como pode Bernie continuar a negar as evidências por muito mais tempo?


Hillary já pisca o olho aos eleitores Sanders… mas não será fácil conquistá-los a todos

No discurso de vitória desta madrugada, Hillary fez questão de acenar a Sanders, elogiando a «jornada extraordinária» do senador do Vermont e dos seus apoiantes, «especialmente os jovens». «Sem dúvida que Bernie e eu tivemos nesta campanha discussões muito importantes em questões como o apoio à classe média e sobre como dar mais poder aos cidadãos deste país», destacou Hillary.



A futura nomeada presidencial democrata sabe que, para vencer claramente Trump em novembro, será fundamental segurar o eleitorado Sanders, evitando uma tentação que parte desse eleitorado sentirá de cair para o lado mais «anti-políticos» e «anti-sistema» da retórica de Trump.

E convém não esquecer que o senador Sanders andou meses e meses a dizer cobras e lagartos sobre Hillary, sobretudo em relação às ligações dos Clinton «a Wall Street, à Goldman Sachs e às grandes corporações».

Como ainda não deitou a toalha ao chão, Bernie manteve esse registo crítico em relação à adversária democrata, mas a única evolução de Sanders, após a noite eleitoral que confirmou em definitivo a nomeação de Hillary, foi o sinal que deu aos seus eleitores, e de algum modo a todo o universo democrata também, de que «o grande objetivo em novembro será o de impedir que Trump seja presidente».

Terá sido este um primeiro passo para uma negociação mais vasta com o campo de Clinton, rumo a um possível apoio pós convenção de Filadélfia, talvez até com um acordo Hillary/Bernie para uma futura administração?

Há quem arrisque um ticket Clinton/Sanders para novembro, uma forma de evitar uma possível fuga de votos Bernie para Trump. Mas no atual momento da corrida, esse cenário parece muito pouco provável.

O grande objetivo de Bernie será o de condicionar até ao limite a agenda política de Hillary, forçando-a a levar para a eleição geral uma plataforma mais progressista e o mais crítica possível de Wall Street e do «business as usual».


Trump dispara contra Hillary mas ainda tem muitas arestas a limar com os notáveis republicanos

A confirmação de Hillary foi a grande notícia da noite (selada, na verdade, ainda antes do fecho das urnas na Nova Jérsia, pelo apoio de superdelegados suficientes para Clinton atingir o «número mágico» de 2.383, entretanto já escalado para lá dos 2.800), mas há outro vencedor a destacar: Donald Trump, esse mesmo.

Já com a nomeação republicana garantida há algum tempo, Trump aproveitou para reforçar votação nos estados em jogo (sem opositores no terreno, passeou vitórias com 76% na Califórnia, 81% na Nova Jérsia, 74% no Montana, 71% no Novo México, 67% no Dakota do Sul).



Donald tem agora 13,2 milhões de votos expressos (ainda assim, menos dois milhões que Hillary).

E a chave, para ele, será saber que percentagem conseguirá segurar, na eleição geral, entre os 7,6 milhões de votantes em Ted Cruz, os 4,1 de John Kasich e os 3,5 milhões de Marco Rubio (que teriam sido pelo menos o dobro se Marco não tivesse desistido após a derrota na Florida).

Nos últimos tempos, Trump tem tentado o que parecia quase impossível no início desta corrida, tendo em conta a agressividade desbragada com que falou sobre os seus rivais republicanos: está agora a tentar assegurar o apoio dos dirigentes do seu próprio partido, para poder ter uma aclamação pacífica na Convenção de Cleveland.

Esse objetivo já terá estado mais longe de ser atingido, mas continua a parece muito improvável.

Mesmo Paul Ryan, o «speaker» republicano do Congresso, voltou a criticar os «comentários racistas» de Donald a um juiz do Indiana, por ser de origem mexicana, isto apenas dias depois do próprio Ryan ter dado apoio a Trump, ainda que… muito a custo e com pouca convicção.




Sem valorizar muito estas nuances, Donald vira agora toda a sua artilharia contra Hillary e promete «um discurso nos próximos dias a denunciar todos os problemas e defeitos dos Clinton. São muitos, posso garantir-vos!»

Para tentar abafar a proclamação de Hillary, Trump voltou a prometer que vai «fazer a América grande outra vez» e que «vai criar empregos, empregos reais, como nenhum presidente conseguiu criar».

A exatamente cinco meses da grande eleição, o duelo Hillary vs Trump está ainda só a começar. As conveções partidárias do próximo mês de julho serão momentos importantes, mas serão ainda a meio de um verão que será, certamente, muito quente na política americana.


The race is on! 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: e agora para algo completamente diferente


Já todos sabíamos que as eleições presidenciais nos EUA não gostam de vencedores antecipados ou de coroações anunciadas.

Mas o que está a acontecer nesta corrida de 2016 é diferente.

Algo novo, sem grelha de comparação com nada do que se tenha vivido nas últimas décadas.

E se isso tem sempre um lado misterioso e interessante para o acompanhamento mediático e político, a verdade é que, desta vez, há ingredientes um pouco assustadores no guião deste filme com final absolutamente em aberto.

«Hillary vs Trump», em situação normal, era vitória certa e antecipada para a democrata, que partiu para esta corrida com vantagens de 50 pontos para a nomeação e 20 ou 30 para a eleição geral.

Certo?

Pois. A questão é que esta é mesmo uma eleição diferente. Atípica. Anómala.

Pelas inesperadas dificuldades de Hillary matar definitivamente a dúvida em relação ao duelo com Sanders para a nomeação presidencial democrata.




Pela caminhada totalmente imprevista e até bizarra de Donald Trump rumo à nomeação republicana, destronando, um a um, as esperanças presidenciais de nomes que prometiam ser viáveis, como Jeb Bush, Marco Rubio, Chris Christie, Rand Paul, Scott Walker, Carly Fiorina e até Ted Cruz.

Pelo sentimento de desconforto no sistema que tudo isto está a gerar em Washington DC e até nos media norte-americanos.

Ainda assim, se a eleição presidencial que vai definir o sucessor de Barack Obama na Casa Branca fosse hoje, seria relativamente pacífico afirmar que a vitória iria para Hillary.


A vantagem dos democratas no mapa eleitoral

Mesmo que algumas sondagens nacionais nas últimas semanas tenham colocado os dois futuros nomeados taco e taco (duas ou três a porem mesmo Trump ligeiramente à frente no voto popular), a verdade é que há registo consistente e continuado de avanço sólido de Hillary no plano nacional, sobretudo no mapa eleitoral por estados (e é isso que vai contar para definir o novo presidente, a 8 de novembro).

Em próximas crónicas dedicarei atenção pormenorizada ao evoluir do mapa eleitoral por estados (vale bem a pena).

Mas para simplificar o momento atual, a questão é a seguinte: Hillary parte com vantagem significativa nos estados que vão decidir.





Partindo da base Obama vs Romney de 2012, convém lembrar o que atual Presidente somou, na noite da sua reeleição, 332 votos eleitorais, contra apenas 206 do ex-governador republicano do Massachussets (são precisos 270 para vencer).

Ora, os primeiros indicadores mostram que Trump muito dificilmente conseguirá sequer chegar aos 206 de Romney, muito menos atingir uma situação que inverta a vantagem com que, pelo menos aparentemente, Hillary parte.

Para uma vitória Trump em novembro, Donald teria que roubar a Hillary pelo menos quatro destes cinco estados, se mantivermos os muito «latinos» Colorado e Novo México do lado democrata: Wisconsin (democrata nas últimas seis eleições presidenciais), Ohio (democrata nas últimas duas), Pensilvânia (democrata nas últimas seis eleições presidenciais), Michigan (democrata nas últimas seis eleições presidenciais) ou Florida (democrata nas últimas duas eleições presidenciais).

É possível inverter?

Claro que é, sobretudo se nos lembrarmos que estamos a falar da política americana, talvez o universo mais complexo e difícil de antecipar.

Mas seria, convenhamos, uma alteração dramática da tendência eleitoral no histórico recente das eleições presidenciais norte-americanas.

E há grandes sinais a apreciar: as últimas cinco ou seis eleições presidenciais mostraram-nos que há, sobretudo, nos estados competitivos (aqueles que tanto podem dar vitória a democratas como a republicanos), uma vantagem natural do Partido Democrata, por razões demográficas.

Minorias como os latinos, os negros ou até nalguns casos os asiáticos têm peso crescente em estados como a Florida, a Virgínia ou o Colorado.


O «cisne negro» que pode baralhar tudo

Onde pode estar o «cisne negro» desta eleição? Sobretudo se, desta vez, até essa grelha de análise não se verificar.

Ou seja: a suposta vantagem confortável de Hillary no mapa eleitoral funda-se no pressuposto de que, na Florida e no Colorado, Clinton vencerá claramente se conseguir fixar boa parte do eleitorado latino (que nas últimas duas eleições preferiu Obama sobre McCain e Romney numa relação superior a dois em cada três).

E há até quem defenda, no seio da campanha Hillary, que vale a pena explorar a possibilidade de competir no Arizona, estado fortemente republicano nas últimas eleições presidenciais, mas com enorme peso latino.




Tendo em conta o que Donald Trump tem dito dos mexicanos, era de supor que, desta vez, a vantagem da nomeada democrata sobre o nomeado republicano seria até maior nesse segmento.

Só que… não é bem isso o que as primeiras sondagens estão a dizer.

No texto «Nuestro amigo: some Latinos see Trump as friend and ally» (Nosso amigo: alguns latinos vêem Trump como amigo e aliado), Lucy Scott expõe a contradição inquietante. 

«As observações de Donald Trump sobre os hispânicos – ‘eles trazem drogas, eles trazem crimes, eles são violadores’, disse ele sobre os imigrantes mexicanos no verão passado – foram rotuladas de racista s e chocantes», começa por apontar Lucy Scott, para depois fundamentar. 

«62% dos votantes hispânicos, em sondagem recente da CBS, mostram-se desfavoráveis a Trump. No entanto, na fronteira Texas-Mexico, Trump goza de forte apoios de americanos de origem hispânica. E isso pode ser surpreendente. O Texas tem a segunda maior fatia de hispânicos de todos os EUA, incluindo cerca de cinco milhões de latinos com possibilidade de votar nas eleições presidenciais norte-americanas. Tony Castaneda, neto de imigrantes mexicanos no Texas, votou Trump nas primárias republicanas: ‘Sou antigo chefe de polícia na fronteira. Sou hispânico, tenho orgulho em ser hispânico e apoio a 100% a candidatura de Donald Trump à presidência dos EUA’, disse ele à CBS News. Ele não se sente ofendido com as observações de Trump. ‘Ele é muito duro e direto. Eu também sou. Talvez seja por isso que gosto de muitas das suas posições, porque ele não atira ao lado. Atira bem no alvo. Fala direto, vai direto ao assunto. Ele não é politicamente correto’».

Estará aqui uma das explicações para o sucesso de Trump?


Sistema vs anti-sistema: a grande ameaça para Hillary

Numa eleição muito marcada pela crítica ao «politicamente correto» e ao «business as usual», numa dicotomia cada vez mais construída em torno do «sistema vs anti sistema», Hillary corre o sério risco de ser atirada para o canto do «sistema» que grande parte do eleitorado pretende, desta vez, penalizar.

E Trump tem sabido, pelo menos até agora, surfar a onda do discurso anti-políticos até ao limite, transformando um aparente handicap (o de não ter qualquer experiência política, algo quase absurdo para quem conseguirá obter a nomeação presidencial de um grande partido do sistema como é o GOP), num eventual trunfo.

Mas até novembro essa dinâmica pode alterar-se um pouco.

Por um lado, não se vê como possível que a Convenção de Cleveland possa correr particularmente bem a Trump.

Uma parte muito significativa do Partido Republicano não o aceitará (Bush pai, Bush filho, John McCain, Mitt Romney, só para falar dos últimos quatro nomeados presidenciais do partido…) e isso terá uma expressão eleitoral.

Por outro lado, no campo democrata, a questão central será: como vai Hillary obter a paz com Bernie Sanders e os seus surpreendentes 40% de votantes democratas?

As eleições presidenciais nos EUA são, certamente, política e ideias. Mas são também muito matemática.

Ora, o que vai decidir são, mais ou menos, estas contas: 

a) que percentagem dos votos Sanders vão escapar para a abstenção ou até para Trump?; 

b) que percentagem da aversão republicana a Trump vai refletir-se em abstenção ou até em votos Hillary?; 

c) vão os negros, as mulheres, os jovens e os hispânicos (a «coligação Obama» de 2008 e 2012) manter-se fiéis a Hillary ou assistiremos a mudanças dramáticas no comportamento eleitoral desses segmentos?

Apontadas todas estas inquietações, que fique claro: nesta fase pelo menos, a cinco meses da grande eleição, Hillary Clinton continua a ser a pessoa mais bem posicionada para suceder a Barack Obama na presidência dos EUA.

Mesmo estando ela em tendência descendente e o seu adversário aparentemente a crescer.

Será assim até novembro?

Faltam 159 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA.