quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: o estranho caso de Ted Cruz

TEXTO PUBLICADO A 26 DE SETEMBRO DE 2013, NO SITE TVI24:

«Um dia depois de a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, ter apontado sinais interessantes de aproximação entre Estados Unidos e Irão (com Rohani a insistir que não pretende ter armas nucleares e Obama a acenar, ainda que com «realismo», a disponibilidade de diálogo com Teerão), eis que o lado mais esquizofrénico da política americana volta a emergir.

A maratona oratória protagonizada pelo senador republicano Ted Cruz, um «presidential hopeful» para 2016, entrará para a história do Capitólio como um dos momentos mais ridículos que a estranha forma que a América tem de fazer política já nos mostrou.

Ted Cruz, um dos mais importantes membros da ala conservadora dos «cubano-americanos», quis assumir-se como um campeão anti-Obamacare. 

Fê-lo de um modo inusitado e não deixa de ser curioso que tenha caído num dos erros que a comunidade de ascendência cubana na América mais critique em Fidel Castro: falando de modo quase interminável.

O objetivo era o de criar um «filibuster», um bloqueio que travasse a votação do Obamacare. «Pura perda de tempo», sentenciou Harry Reid, senador que lidera a maioria democrata no Senado. 

Aprovado há três anos e meio no Senado e na Câmara dos Representantes (e posteriormente confirmado pelo Supremo), o Obamacare tem-se mantido sob o fogo dos conservadores, que têm feito tudo para adiar e mesmo inviabilizar a implementação da mais importante reforma federal dos últimos 70 anos na América. 

Com o apoio de dos senadores Rand Paul e Marco Rubio, outros dois líderes em ascensão no Partido Republicano, Ted Cruz assumiu uma forma bizarra, mas não totalmente original na política americana, de se mostrar contra aquela que terá sido a maior vitória ideológica dos anos Obama. 

Este momento «only in America» de Ted Cruz, que para fazer horas até contou uma história de adormecer aos seus filhos, mereceu atenções mediáticas e um enorme «buzz» nas redes sociais. 

Mas, tal como notou Harry Reid, teve poucos efeitos práticos.

A lei será mesmo votada e o ato apenas terá ajudado a uma maior clarificação no campo republicano: entre estes resquícios de radicalismo político, inflamados pelo Tea Party, e a visão mais esclarecida de senadores como John McCain (que lembrou que «as eleições e as votações devem ter consequências e, como tal, devemos respeitar a aprovação do ObamaCare), o Partido Republicano continua a mostrar-se profundamente dividido.

Rand Paul, senador do Kentucky e estrela em ascensão da ala radical dos republicanos (ele próprio tinha estado quase 14 horas a falar no Senado, há meses, contra o programa da Administração Obama que permite a utilização de drones), perguntou de forma agressiva: «Porque é que o Presidente não adere ao ObamaCare, se gosta tanto dele? É o seu «bebé». De certeza que seria bem-vindo no mercado que quer criar. Se não adere, sr.Presidente, porque insiste tanto nele?» 

Barack Obama, que parecia ter saído algo enfraquecido do impasse na Síria, ganhou, nos últimos dias, em dois tabuleiros: na frente interna, voltou a perceber-se a falta de bom senso de quem se lhe opõe; no plano externo, reforçou na ONU a posição de exigência quanto ao desarmamento químico do regime de Assad e iniciou uma etapa que parece ter pernas para andar, na pacificação da ameaça nuclear iraniana. 

Com 17 de outubro a ser fixada como nova data para o atingir do teto da dívida, as próximas semanas voltam a ser de alta tensão política em Washington.

Na política americana, nada é definitivo e tudo se move. Mas há coisas que parecem não ter mesmo conserto.»

sábado, 21 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: o teto volta a ficar perto

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24, A 20 DE SETEMBRO DE 2013:


«Com a crise síria num impasse diplomático, Obama ganhou algumas semanas para voltar a olhar para a frente interna.

E a verdade é que, nesse ponto, Washington continua a mostrar o «business as usual».

Até ao final do mês, o relógio está a contar no Capitólio. Há uma nova bomba que a Administração Obama vai ter que desativar, antes que se atinja o «deadline». 

Os acordos de última hora feitos no verão de 2011 e no primeiro dia de 2013 adiaram a queda da «fiscal cliff», mas o perigo de «sequestro» do sistema de apoios sociais e incentivos fiscais continua.

A próxima semana será de especial tensão em Washington. Há um novo acordo a fazer entre Barack Obama e John Bohner, o «speaker» da House de maioria republicana.

As duas urgências são evitar o «government shutdown» (que não é apenas um fantasma artificial, aconteceu mesmo durante os anos Clinton, com semanas sem serviços em Washington e pagamentos congelados a funcionários governamentais) e obter um acordo de fundo para a aprovação do Orçamento de 2014.

Nas últimas semanas, perante a iminência de um ataque à Síria, o Partido Republicano até mostrou poder concordar com o Presidente em matérias de relevo na política externa. 

Mas quanto às divergências de fundo na frente interna, elas continuam. E «No Drama Obama» dá sinais de começar a perder a paciência: «Nunca se tinha visto na história dos EUA o teto da dívida ou a ameaça de não subir esse teto usados como para extorquir o Presidente ou um partido e tentar forçar temas que não têm nada a ver com o orçamento e nada a ver com a dívida. Então, é aqui que estamos (esta é a linha mais funda e quero que todos aqui percebam o que está em causa). Apresentei um orçamento que lida e continua a lidar com a dívida e o défice de forma efetiva. E estou preparado para trabalhar com democratas e republicanos para olhar para algumas prioridades que os republicanos entendem ser importantes, mas também para aquelas que nós consideramos serem importantes. Fi-lo no passado e vou continuar a fazê-lo».

Esta argumentação de Obama podia ter sido tirada da crise do verão de 2011 ou dos últimos dias de 2012. Mas foi usada à mesa das negociações para o Orçamento, perante os líderes republicanos, no passado dia 18.

Um dos «hot points» em causa é a implementação do ObamaCare. Três anos e meio depois da aprovação no Congresso e dois anos depois da confirmação da sua legalidade pelo Supremo Tribunal, e mesmo depois da relegitimação política de Obama nas eleições de novembro de 2012, os republicanos ainda não desistiram da ideia de o revogar.

A congressista Debbie Wasserman Shultz, da Florida, uma das «pitbulls» de Obama no Congresso, insiste: «Quando as pessoas receberem os benefícios do ObamaCare, não vão querer que esta reforma volte atrás e não vão abdicar dela». 

Paul Krugman foi mais longe e intitulou o Partido Republicano de «crazy party», em artigo no New York Times: «No início deste ano, Bobby Jindal, o governador republicano da Luisiana, pediu aos companheiros do seu partido para que deixassem de ser o «partido estúpido». Infelizmente, o sr. Jindal falhou na necessidade de apresentar propostas construtivas sobre como poderiam fazer isso. E disse, ele próprio, coisas que não se mostraram especialmente inteligentes. No entanto, os seus companheiros de partido seguiram o conselho de Jindal e o Partido Republicano deixou de ser o «partido estúpido», passando a ser o «partido louco». 

Nesse artigo no NYT, Krugman expõe a urgência de um regresso à moderação dos republicanos na sua relação com o Presidente e lembrou a forma construtiva como, nos anos 80, Tip O¿Neill (o líder democrata do congresso durante os anos Reagan) lidou com o presidente republicano.

Mas isso foi há 30 anos. Desde aí, a disfuncionalidade da dinâmica política de Washington foi agravada.»

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: Putin, Obama e o que mudou na crise síria

TEXTO PUBLICADO A 16 DE SETEMBRO DE 2013, NO SITE TVI24:


«Os últimos dias parecem ter mostrado uma viragem dramática na questão síria.

Barack Obama está a ser acusado, em várias frentes, de ter deixado a liderança do problema para Vladimir Putin e que isso até poderia significar uma perda de relevância dos EUA em relação à Rússia neste tipo de situações.

Terá sido mesmo assim? 

Na sequência do ataque químico de 21 de agosto passado nos arredores de Damasco, e dos relatórios que recebeu dos Serviços Secretos e do Departamento de Estado, Obama considerou que Assad tinha violado de forma inaceitável a «red line» apontada.

Perante a insistência da versão russa e iraniana de que o regime de Assad não tinha feito ataques químicos, o Presidente dos EUA decidiu preparar uma intervenção militar sem o apoio da ONU (perante o veto previsível de Moscovo).

O problema é que Obama começou, nesse ponto, a perceber que esta seria tudo menos uma intervenção consensual. Teve o apoio de Cameron, mas não do parlamento inglês; de Paris, recebeu não só apoio político, mas também incentivo; mas de Berlim, e com Merkel a dias de tentar a reeleição, só beneficiou de ajuda ao nível de informação, mas com princípio de não entrar nas acções militares.

Para lá da falta de «consenso internacional» quanto aos contornos da operação, a Administração Obama conheceu, sobretudo, obstáculos ao nível da opinião pública.

Todos os estudos feitos nas últimas semanas apontaram para que os americanos não queriam uma intervenção militar. Por muito que o Presidente se tenha esforçado em explicar que «a Síria não é o Iraque, nem mesmo o Afeganistão», que esta ação não implica «boots on the ground» nem sequer uma invasão a Damasco que provocasse a queda do regime de Assad («não somos nós que iremos resolver as guerras dos outros»), a verdade é que a perceção tem mais peso que os factos.

E a perceção aponta para que as opiniões pública nos EUA e nos países europeus não tenham a mínima vontade de ver os seus governos patrocinarem uma ação militar. 

O interesse de Obama, Prémio Nobel da Paz, em ficar com a fama de ser uma espécie de «Bush em versão suave» (a expressão é de Oliver Stone) era muito reduzida.

Mais uma vez, interessa pôr de lado a perceção e olhar para os factos: Obama traçou uma «red line» e, porque dá crédito aos relatórios que recebe do terreno, para ser coerente com a sua posição tinha que defender agora uma intervenção, nos termos que definiu. Tudo apontava para uma aprovação alargada no Congresso de maioria republicana, que, noutras matérias, tantas vezes tem estado contra as visões do Presidente.

Tudo mudou na véspera da data em que estava prevista a votação no Congresso. Num golpe de asa, Putin avançou com uma proposta de desmantelamento do arsenal químico de Assad, fator que retirou o argumento americano da urgência de um ataque.

Subitamente, os papéis parecem ter-se invertido: Putin e também a diplomacia de Teerão ficaram com o lado pacificador, Obama vestiu a pele do lobo que queria ir para a guerra, e teve, à última hora, de travar os seus ímpetos.

A verdade é que se não fosse o ultimato americano para um ataque nunca Assad teria aceite um plano destes. A Síria, que sempre se recusara a assinar o Tratado Anti-Armas Químicas, sentiu vontade súbita de aderir ao acordo, certamente temendo as consequências que uma ofensiva americana teria no regime. 

Putin pode, nesta fase, ter saído como o vencedor da crise. Se a diplomacia ganhou à última hora, fantástico. 

O diabo está nos detalhes que se podedem seguir: vai Assad cumprir o desmantelamento, enquanto a guerra interna prossegue em força na síria? Se os rebeldes não acreditam na eficácia do plano, que efeitos práticos terá um acordo que nunca conhecerá frutos antes de novembro? 

A crise síria continua a ser séria. »

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: a carta russa e a insistência de Obama

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 11 DE SETEMBRO DE 2013:


«O fardo da liderança é, muitas vezes, pesado, mas o Mundo é um lugar melhor porque somos capazes de o carregar» 
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, discurso sobre a Síria

A crise síria levou uma volta inesperada, embora a intervenção militar continue a ser um cenário provável. 

Putin encostou Obama à parede, mas não retirou do Presidente dos EUA a decisão final.

A Rússia, «player» essencial em relação ao que se passar em Damasco, está de tal modo receosa com as consequências de uma intervenção americana que lançou uma jogada surpreendente, capaz de adiar os planos americanos para Damasco.

Aproveitando uma brecha na argumentação de John Kerry (que havia falado, em resposta a uma pergunta sobre o que ainda poderia fazer evitar uma intervenção militar dos EUA, na exigência de «Assad entregar todo o seu arsenal químico»), Putin, por certo em concertação com Assad, lançou essa carta, como que a dizer a Obama: «Se a Síria vos der o que Keery diz que pretendem, não têm argumentos para atacar». 

Numa primeira reação, Obama parece ter sido apanhado de surpresa. No seu «timing», a jogada de Putin foi muito bem lançada. Obama preparava-se para conseguir os votos do Congresso e essa parecia ser a antecâmara da intervenção. 

Com a jogada russa, o Presidente dos EUA foi forçado a mostrar que está recetivo a reavaliar as intenções de Assad, mas rapidamente a retórica de Obama, Kerry e Hagel se manteve neste plano: as armas químicas já foram usadas, isso exige uma resposta, e quem já as utilizou pode voltar a fazê-lo.

A posição da Administração Obama não mudou no essencial. John Kerry, secretário de Estado, lançou o aviso: «Será difícil cumprirem todas as exigências». 

Em entrevista à PBS, Barack Obama fez questão de reforçar a sua visão do problema, mesmo depois da proposta de Putin: «Fui eleito para acabar guerras, não para as começar. Isto não é o Iraque, não é o Afeganistão. Não é sequer a Líbia. Não haverá tropas no terreno, será uma ação limitada».

E sobre a jogada do seu homólogo russo: «Falei com Putin em São Petersburgo. Proposta da Rússia é uma continuação dessas conversas. As armas químicas não são aceitáveis».

«Assad não tem capacidade militar para responder a um ataque dos EUA. Aliados dele, como o Irão, teriam capacidade de fazer respostas assimétricas, a embaixadas nossas na região, por exemplo. Mas não têm o mínimo interesse nisso», acrescentou o Presidente. 

Horas depois, no discurso em «prime time» que fez aos americanos, e apesar de algumas mudanças de última hora que teve que fazer ao texto inicial, forçado pelo decorrer dos acontecimentos, Barack Obama desenvolveu a ideia de «excecionalidade americana», na qual se inscreve por completo: «Os nossos valores, para serem defendidos, podem necessitar do uso da força, em algumas circunstâncias. O fardo da liderança é, muitas vezes, pesado, mas o Mundo é um lugar melhor porque somos capazes de o carregar». 

Mas o Presidente retomou a ideia de descolagem com o que se poderá passar na Síria, em relação ao que aconteceu no Iraque e o Afeganistão: «Passei quatro anos e meio a acabar guerras, não a começá-las». 

Obama fez questão de recordar que resistiu «a responder militarmente à guerra na Síria porque não podemos resolver os conflitos dos outros com o uso da força», insistindo que só passou a defender a intervenção depois da «red line» violada por Assad, com o ataque químico de 21 de agosto.

O Presidente dos EUA resolveu dar uma última oportunidade à diplomacia, mostrando que o uso da força só será a escolha se não houver outra melhor. A verdade é que a crise síria conheceu um novo impasse. O Presidente pediu ao Congresso um adiamento do voto de autorização do ataque.

«Never ending story» em Damasco?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: missão impossível, Barack?

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 6 DE SETEMBRO DE 2013:


O Senado dos EUA já aprovou o plano da Casa Branca para atacar a Síria.

Com uma ligeira maioria democrata na câmara alta do Congresso, esse «sim» era triunfo obrigatório para a rota de Obama no espinhoso plano de ter apoios para avançar para Damasco.

Na próxima segunda-feira, a Câmara dos Representantes, com forte maioria republicana, votará a proposta e aí as coisas mostram-se bem mais difíceis para o Presidente.

Obama tem tido alguns aliados republicanos de peso nesta questão. O principal deles é John McCain, profundo conhecedor da realidade política e militar da Síria, que até tem defendido uma ação em escala mais alargada. Outro senador sénior republicano que tem tentado convencer o seu partido a apoiar o Presidente democrata é Lindsay Graham, da Carolina do Sul.

Nos últimos dias, Obama tem feito um «final push» junto dos aliados dos EUA, para que possa ter uma coligação forte.
O «não» do Parlamento britânico e a posição clara de Merkel referindo que não tem o mínimo interesse em envolver militarmente a Alemanha nesta operação mostraram que a América de Obama está longe de ter a Europa na mão.

A França de Hollande é o principal interessado europeu nesta operação, mas mesmo em Paris há quem, na oposição, exija um mandato da ONU para avançar.

Uma análise pelos principais «players» deste tabuleiro mostra-nos que esse mandato não é realista. Com a Rússia e a China com poder de veto no Conselho de Segurança, a Administração Obama nunca terá uma resolução das Nações Unidas a legitimar o seu plano.

A verdade é que todos os estudos apontam para que a opinião pública americana está, em larga maioria, contra esta intervenção. Sondagem da Reuters-Ipsos aponta apenas 20% de americanos favoráveis ao plano de Obama, enquanto pesquisa idêntica do Pew identifica apenas 29%.

Peggy Noonan, antiga «speechwriter» de Ronald Reagan e importante analista conservadora, vê razões de sobre para os EUA intervirem, em função do que já se passou na Síria. Mas expõe a sua visão sobre porque é «a América está a dizer não»: «Poderá o Presidente mudar esta perceção? Sim e vai tentar. Mas até agora não resultou. O que é que os americanos estão neste momento a pensar? Provavelmente algo como: tempo errado, local errado, plano errado, homem errado. Doze anos de guerra. Uma ideia de que o que fizemos no Médio Oriente, no Afeganistão, no Iraque, não correu bem. Que a Líbia está sem lei. Que no Egito deitámos fora um amigo de 30 anos e que agora temos que lidar com a Irmandade Muçulmana, com perturbação e com um golpe militar. Os americanos estão agora mais exigentes e mais realistas», escreve Peggy, em artigo no «Wall Street Journal».

Outra importante voz conservadora, esta bem mais crítica de Obama, é o analista Charles Krauthammer. Em artigo na National Review Online, acusa Obama de estar a sério «pouco sério» nesta questão: «Estamos com um problema. O Presidente propõe atacar a Síria e o seu principal conselheiro militar não consegue dizer-nos qual é o objetivo».

A definição clara da operação (da sua dimensão, dos seus alvos e objetivos) é, de facto, a prioridade das prioridades nos próximos dias para a Administração Obama.

O plano de ataque para a Síria não é, para o conceito de Obama, uma nova guerra com contornos comparáveis com o Iraque e o Afeganistão. Os dados objetivos dão razão ao Presidente. Mas antes da intervenção militar, Obama tem uma missão a vencer: convencer os americanos e os seus principais aliados que esta é mesmo a jogada certa.
Missão quase impossível?

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: construir consenso para a intervenção

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 4 DE SETEMBRO DE 2013:


Os próximos dias serão decisivos para que Barack Obama consiga sair-se bem do argumento para a guerra na Síria.

Damasco, Moscovo e Teerão estão a tentar a inverter o ónus, de modo a aproveitar a hesitação da comunidade internacional em apoiar claramente a ação americana e isolar a pretensão de Obama.

Depois do chumbo do parlamento britânico, um eventual «não» do Congresso americano colocaria Obama e Cameron numa posição especialmente delicada. Mas a posição de vários destacados senadores e congressistas republicanos parece ajudar o intuito da Administração Obama.

«Um não do Congresso sobre uma intervenção na Síria seria desastroso», nota o senador John McCain, republicano do Arizona, um dos membros do Capitólio mais especializados no tema. 

McCain não só apoia a decisão do Presidente em querer avançar, como defende uma ação em maior escala.

Ari Fleischer, antigo porta-voz de George W. Bush, felicitou o Presidente: «Saúdo-o por estar a tomar uma atitude corajosa e certa nesta questão».

Até John Boehner, speaker da Câmara de Representantes de maioria republicana, que por tantas vezes cortou as vazas a Obama, apoia a visão do Presidente sobre uma intervenção miitar na Síria. 

A Casa Branca tem feito, nos últimos dias, uma operação de propaganda junto de Congresso, explicando os motivos e as 
balizas da intervenção.

O problema desta situação é que, apesar das evidências na Síria serem muito superiores às que havia há dez anos no Iraque, a noção de desastre continua muito presente. Bush não ouviu os apelos de quem o queria travar e quis decidir unilateralmente. 

Obama anunciou a sua visão e tem-se preocupado em defender o argumento na opinião pública e no Congresso. «Ao procurar autorização do Congresso para usar a força militar contra o regime de Assad, Obama não está a enfraquecer o poder presidencial, nem está a tentar evitar uma guerra que não deseja. Está a fazer o que é absolutamente necessário numa república democrática. Está a construir consenso em torno de um passo grave e muito delicado e para aquilo que será sempre uma decisão controversa», aponta ED Dionne, no «Washington Post». 

As parecenças, que muitos apontam e dizer assustar-se com elas, entre o Iraque-2003 e o que pode vir a ser a Síria-2013, são, por isso, mais aparentes do que reais. 
A questão não estará tanto nos motivos e na legitimidade (ambos existem), mas no propósito: se a Administração Obama não assume o objectivo claro de derrubar Assad, para quê fazer isto?

Primeiro, haverá o argumento da punição: havendo «provas irrefutáveis» de que foi Assad a cometer o ato criminoso de 21 de agosto, a Administração Obama propõe-se assumir as despesas do exemplo para evitar repetições. Depois, há a questão de diminuição de risco de novos ataques químicos. 
Mas falta, neste momento, explicar o que os americanos pretendem para o pós-intervenção. O receio de uma Síria sem Assam é fundado: quem viria a seguir? 

Por outro lado, um ataque militar em escala de grande destruição poderia colocar o Irão e mesmo a Rússia em posição de terem que se envolver diretamente numa ação militar. E aí as consequências de uma escalada na região ficariam mesmo fora de controlo.

Nem a Rússia nem o Irão têm o mínimo interesse nesse cenário. E também por isso têm mostrado que querem forçar os EUA a uma solução política e diplomática. Não estão presos ao argumento moral da «red line» que Obama impusera e que, agora, lhe está a empurrar para assumir uma guerra que não queria.

A França, que tem mostrado ainda mais vontade na intervenção, já assumiu que tem que esperar pelos americanos para admitir avançar. 

Tudo em política tem solução. E esta situação de «pré-guerra» também poderá ter?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: entre as evidências e a retórica

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 2 DE SETEMBRO DE 2013:


«Este ataque é um assalto à dignidade humana. Apresenta também uma séria ameaça à nossa segurança nacional. Os seus riscos constituem uma afronta à proibição global ao uso de armas químicas. Colocam em perigo os nossos amigos e aliados ao longo das fronteiras da Síria, incluindo Israel, a Jordânia, a Turquia, o Líbano e o Iraque. Pode levar a uma escalada de uso de armas químicas, ou à sua proliferação a grupos terroristas que as poderiam usar para fazer mal às populações. (...)

Não será uma ação indefinida no tempo. Não poremos tropas no terreno. A nossa ação será limitada no tempo e no espaço. Mas estou confiante de que poderemos responsabilizar o regime de Assad pelo uso de armas químicas, impedir a repetição destes atos e diminuir a sua capacidade para os levar a cabo. (...)

Não equacionamos colocar tropas nossas no meio de uma guerra que é de outros. Mas somos os Estados Unidos e não podemos e não devemos fechar os olhos ao que aconteceu em Damasco». 


BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, declaração sobre a Síria, 31 de agosto de 2013

Obama já terá chegado a um «no turning back» em relação à Síria. 

Com a declaração de sábado, cujos excertos principais abrem esta crónica, o Presidente expôs a sua visão sobre o que o leva a exigir uma intervenção militar «limitada no tempo», que não implicará «boots on the ground». 

Mas esta não é uma inversão de «doutrina Obama», que nos primeiros anos passou pela retirada do Iraque e do Afeganistão.

O Presidente traçara a «red line» para uma intervenção com um eventual uso de armas químicas. Perante as provas que chegaram à Administração Obama, e que nos últimos dias tiveram sinais reforçados de uso de gás sarin, essa tese saiu duplamente reforçada. 

Mesmo que a ação que tem vindo a ser anunciada pela Casa Branca seja «de curta duração» e sem uso de tropas no terreno, manda a tradição do sistema americano que o Presidente a vá legitimar ao Congresso. É certo que a decisão real de ir para a guerra foi passando do Congresso para a o Presidente. Mas essa aprovação continua a ser fundamental. 

A data chave para a «operação Síria» passou a ser 9 de setembro, dia em que o US Congress vai discutir o plano da Administração Obama. 

No fim-de-semana, o secretário de Estado John Kerry deixou clara a sua convicção de que «o Presidente Obama terá o apoio do Congresso» e nem admitiu espaço para outro resultado que não fosse um «sim». 

Na mesma linha, William Kristol, editor do «Weekly Standard» e um dos principais analistas conservadores, prevê um «apoio republicano a Obama» nesta questão: «Penso que o Partido Republicano«Penso que o Partido Republicano dará o passo certo e apoiará o Presidente contra um ditador apoiado pelo Irão, que patrocina o terrorismo e usou armas químicas», comentou, na NBC.

Mas a decisão de Obama está longe de ter apoio consensual nos meios políticos e nos «think tanks» americanos. Victor Davis Hanson, em artigo na National Review Online, questiona: «Qual é o ponto de uma intervenção na Síria? Se o objectivo é enfraquecer Assad sem apoiar islamistas pró-Al Qaeda, então a não iteria efeitos mais concretos. Se o objectivo é destruir depósitos de armas químicas e enviar uma lição ao Mundo, onde estão elas e como poderemos eliminá-las?»

Outro analista fortemente crítico da posição de Obama sobre a Síria é Fareed Zakaria: «A equipa de Obama falhou a abordagem à Síria. Estamos perante um exemplo de como não se deve atuar em política externa. Em março, o Presidente Obama disse que o uso de armas químicas seria um «gamechanger» na questão síria. Foi mesmo, mas não no sentido que ele que queria apontar.» 

Longe de ter na mão a opinião pública e a maioria dos analistas em relação à Síria, o Presidente parece ter tomado a decisão e espera apenas o «sim» do Congresso. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: a Síria não é o Iraque

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 29 DE AGOSTO DE 2013:


A decisão de fundo está tomada e só falta mesmo a ordem do Presidente para avançar. 

Os Estados Unidos já têm planos preparados e estão a libertar informação que aponta para uma ação «limitada no tempo» (previsivelmente, entre dois a cinco dias) e que não prevê o envio de tropas no terreno, mas uma utilização da tecnologia a fim de atingir alvos cirúrgicos.

No Pentágono, já se entra em modo laranja: «Estamos preparados para agir e esperamos apenas a luz verde do Presidente», garantiu, em viagem ao Bahrein, o secretário da Defesa, Chuck Hagel.

Nos próximos dias, a Casa Branca tratará de enquadrar legal e politicamente a ação que, do ponto de vista militar, já 
estará desenhada. 

Barack Obama, que nunca foi um entusiasta de uma intervenção na Síria, terá sido convencido, nos últimos dias, com as «provas inegáveis» de uma violação da Convenção de Genebra, cometida pelo regime de Assad, no ataque de 21 de agosto passado, em bairros periféricos de Damasco.

No Congresso, a maioria republicana da Câmara dos Representantes é entuasiasta da ideia e está recetiva a um plano da Administração Obama: «Sr. Presidente, apresente-nos o seu caso para a Síria», lançou John Boehner.

Obama, Prémio Nobel da Paz em 2009, já mostrou estar mais do que confortável com ações militares. Desde que elas tenham um objetivo claro e mostrem eficácia. Por isso tem patrocinado o programa de «drones» no Afeganistão, sensível aos resultados de diminuição drástica de baixas humanas.

Por outro lado, convém não esquecer que o Presidente dos EUA foi reeleito em novembro passado com um promessas de redução significativa do orçamento militar, numa busca de racionalização de meios e objetivos.

Neste quadro, a questão que muitos colocam é: não será «off message» ir agora para a guerra? Não existirá o risco dos EUA se estarem a meter num novo Iraque ou num novo Afeganistão? 

«Estamos a dizer, de uma forma clara e decisiva, mas de modo muito limitado, que parem com isto. Isso pode ter um impacto positivo na nossa segurança nacional a longo prazo», aponta Barack Obama, em entrevista ao programa «PBS News Hour».

O Presidente deixou a garantia de que o que está a ser preparado é uma «acção limitada, com procedimentos previstos, sem que se permita que se entre num conflito longo». 

E sobre esse receio de que os EUA possam estar a iniciar uma nova aventura desastrosa no Médio Oriente, reforçou: «Deixem-me ser claro. Não é um novo Iraque. Sei que isso é uma preocupação para muita gente». 

O argumento para avançar para a Síria foi a repetida violação da «red line» a partir da qual o regime de Assad seria alvo de uma intervenção militar internacional: o uso de armas químicas.

As evidência retiradas do ataque de 21 de agosto fizeram com que a inação fosse, neste ponto, mais arriscada do que uma intervenção: «Pode perder-se uma geração completa de seres humanos», avisa o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

A forma categórica como, há dias, John Kerry acusou a existência de «provas inegáveis e indesculpáveis» não deixa outra saída: a ação contra Assad estará por dias. 

Dez anos depois da invasão do Iraque, muitos se lembraram da mentira das «armas de destruição em massa». Interessa, por isso, fazer a comparação: quando se avançou para o Iraque, as dúvidas eram muito maiores que a certeza e o argumento principal dividiu os principais países da NATO (EUA e Grã-Bretanha a favor, Alemanha e França contra).

O atual quadro é completamente diferente. Pode questionar-se se a «red line» deve ser traçada pelo uso de armas químicas (Hitler, por exemplo, nunca as usou e cometeu atrocidades maiores que as que Assad está a infligir ao seu povo), mas não faz sentido equiparar a mais do que questionável guerra do Iraque com a intervenção que se prepara na Síria. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: Síria, a guerra inesperada

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 27 DE AGOSTO DE 2013:


Era uma guerra que ninguém queria, mas, aqui chegados, parece ser já uma inevitabilidade.

Depois da «guerra estúpida» do Iraque, da «guerra necessária» do Afeganistão, a Síria deverá ser a «guerra inesperada» do segundo mandato de Obama.

A vontade política de Washington em avançar para Damasco é quase nula. Os maus exemplos dos últimos anos desaconselhariam nova aventura bélica. As reduções militares previstas passaram a ser a retórica dominante do Pentágono.

E convém lembrar que, há menos de um ano, o duelo presidencial entre Obama e Romney tinha, na área militar, uma importante «nuance»: o democrata defendia cortes nos gastos e contenção no uso do poderio militar; o republicano queria um aumento do orçamento de Defesa, para garantir a continuidade da «supremacia americana» perante a ameaça da Rússia, da China ou, é claro, das ambições nucleares iranianas. 

Todos estes dados apontariam para que Obama retirasse de todas as suas equações presidenciais a aprovação de uma intervenção militar americana numa nova frente.

Só que Barack Obama terá percebido, nos últimos dias, que não tem alternativa: enquanto Presidente dos EUA, será forçado a patrocinar uma ação militar na Síria.

A realidade, por vezes, ultrapassa qualquer cenário hipotético ou calculismo político. O novo paradigma passa pela contenção e pela prioridade ao «soft power»? Certo.

Mas o que, na Casa Branca, não se terá avaliado completamente, nos últimos meses, desde que em Damasco a situação se foi agravando, foram as consequências de uma eventual não intervenção.

É preciso lembrar que toda a retórica da Administração Obama sobre a guerra civil na Síria passou por duas grandes ideias. A primeira era a de que os EUA não interviriam diretamente, mas que estariam dispostos a estudar formas eficazes de apoiar a oposição ao regime de Assad; a segunda era a de que «red line» que Washington nunca poderia permitir ultrapassar seria uma utilização de armas químicas, ordenada por Assad, contra a população civil.

Ora, as últimas semanas mostraram à evidência que essas duas premissas estão desatualizadas. Por um lado, o «efeito dissuasor» não resultou: pelo contrário, terá feito agravar as atrocidades cometidas pelo regime de Assad contra os seus opositores; por outro, o ataque químico que vitimou, com pormenores de malvadez, cerca de 1300 civis nos subúrbios de Damasco, foi a maior de várias violações dessa tal «linha vermelha».

O tabuleiro sírio tem peças marcadas à partida: o Irão é o principal aliado do regime de Assad; a China e a Rússia têm uma conivência ambígua (por vezes crítica, mas no essencial apoiante) do ditador sírio; a Grã-Bretanha e a França defendem a deposição do regime e fizeram-no de um modo talvez ainda mais veemente do que os EUA, nas últimas semanas. 

Perante este quadro, Barack Obama não terá outra alternativa: vai mesmo dar luz verde a um avanço de tropas americanas na Síria.

Os próximos dias e semanas definirão o quadro legal e a política de alianças com que se fará esta indesejável (mas, neste momento, inevitável) operação. 

Numa fase em que se começa, nalguns meios, a dissertar sobre o «enfraquecimento americano», os EUA não poderiam perder por falta de comparência a este jogo. Até porque sabem que continuam a ser o ás de trunfo: quando entrarem, é certo que, militarmente, vão ganhar.

Falta saber o que acontecerá nos outros planos. O pós-guerra do Iraque e a a retirada do Afeganistão não auguram nada de bom.

O Mundo está perigoso.

Histórias da Casa Branca: momento «make or break»

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 13 DE AGOSTO DE 2013:

Maldição dos segundos mandatos? A história mostra que os Presidentes dos EUA, depois da reeleição, perdem parte da sua aura e somam derrotas políticas. 

Mas daí a dizer que Barack Obama está condenado a juntar-se a esse clube indesejado vai um grande passo.

É certo que o primeiro meio ano de Obama Presidente, parte II não tem sido um mar de rosas. Mas decretar já, a três anos e meio do final, o falhanço do legado Obama é, no mínimo, uma precipitação.

Se formos ver a história dos diferentes momentos de Barack Obama enquanto fenómeno presidencial, nada de novo. Afinal de contas, já foram várias as vezes em que se decretou o falhanço definitivo do atual Presidente dos EUA. 

E a verdade é que, desafio após desafio, Obama foi ultrapassando essas sentenças e seguiu em frente, depois de ser dado como «politicamente morto». 

Com a taxa de popularidade a cair para números próximos dos que tinha em 2010 e 2011, em fases em que muitos perguntavam se Obama ainda teria algum tipo de condições para se bater pela reeleição, Obama é visto, pela ala mais dura do Partido Republicano, como «um caso perdido». 

Correntes da direita americana estão até a fazer contas a possíveis ganhos nas intercalares de 2014, sonhando com uma imensa maioria republicana que levasse, no Congresso, a um cenário de «impeachment» do Presidente, contestando a agenda de Obama em temas como as alterações climáticas ou a Reforma da Saúde. 

Olhando para o tipo de retórica que tem dominado o pré-eleições para o Congresso, o «ObamaCare» voltará a ser tema forte de campanha.

Mas uma coisa é olhar para a luta política em Washington e outra, bem diferente, é perceber a estratégia de Obama para o seu segundo mandato. 

Uma consulta pelo calendário faz-nos perceber que este é, mesmo, o momento «make or break» para a Presidência Obama. 

O legado que Obama quer deixar quando, em janeiro de 2017, for a hora de sair da Casa Branca passa por quatro grandes ideias: reforçar a imagem da América no Mundo; diminuir a dependência dos EUA do petróleo do Médio Oriente; melhorar as condições da classe média; endereçar soluções globais para as alterações climáticas.

E a contradição pode ser esta: mesmo que boa parte do «momentum» mediático esteja a deslocar-se da Casa Branca para as eleições para o Congresso de 2014 e, depois, para as presidenciais de 2016, a verdade é que o que estará em causa, nos próximos três anos, para Barack Obama, já não será a sua popularidade eleitoral (foi isso que contou em novembro de 2012 para a reeleição), mas antes o legado que deixará nos seus oito anos de Presidência.

E o que é que vemos? Vemos uma América a recuperar economicamente (de forma lenta, mas sustentada); a manter o seu peso estratégico no Mundo (veja-se o receio que muitos países têm quando ouvem falar numa possível redução militar dos americanos nas suas áreas de influência); e a tornar-se, ela própria, uma potência energética (e, com isso, a comprar menos petróleo estrangeiro e a apostar nas energias limpas). 

Será este um caminho linear? Claro que não. Os dados económicos têm evoluções contraditórias, mas a linha, nos anos Obama, é claramente positiva. 

Foi essencialmente isto que o Presidente foi dizer ao «show televisivo» de Jay Leno: enquanto nas sondagens e nos «pundits» é visto como um político em queda, os dados essenciais mostram que as bases do seu legado estão em sólida construção.

Nos tempos que correm, nem sempre o que parece à primeira vista ficará escrito nos livros de história.