quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Histórias da Casa Branca: Obama contra-ataca e volta ao Midwest


Depois de semanas sob intenso fogo republicano, em que tentou ao limite ser o Presidente que consegue os «compromissos impossíveis», Barack Obama voltou a calçar as luvas de boxe e partiu para o terreno, já a pensar na batalha de 2012


Obama contra-ataca e volta ao Midwest

Por Germano Almeida

A corrida às presidenciais 2012 está definitivamente lançada e, depois de um fim-de-semana intenso no campo republicano -- que ditou o abandono de Tim Pawlenty e a confirmação de Rick Perry como forte pretendente à nomeação -- foi o próprio Obama a antecipar a sua entrada em campanha.

O caso não é para menos: Barack foi alvo de um autêntico massacre político em várias frentes, nas últimas semanas.

E perante o sentimento das bases do Partido Democrata, eixo político natural de Obama, de que será preciso «mais agressividade» na resposta aos ataques do campo oposto, o Presidente parece ter assumido as vestes do «lutador de boxe» (que já utilizara em momentos-chave do seu passado político, embora essa seja a faceta que menos gosta de mostrar), esquecendo, nesta fase, a sua já lendária «contenção».

O tempo não está, de facto, para o estilo ‘No Drama Obama’. A queda do rating da dívida americana para AA+ na Standard’s & Poor teve uma carga simbólica que os republicanos aproveitaram ao limite -– e nem o facto de esse inédito «downgrade» não ter sido acompanhado pelas restantes agências de referência parece ter amenizado o impacto da perda.

«Tea Party downgrade»?
O senador John Kerry, nomeado presidencial democrata em 2004, e David Axelrod, conselheiro-chefe da campanha de reeleição de Obama, rotularam a queda da notação americana de «Tea Party downgrade», atribuindo as culpas ao radicalismo da ala direita do Congresso.

Obama, em entrevista a Wolf Blitzer na CNN, foi mais longe e culpou John Boehner, speaker do Congresso, de se «ter preocupado mais com os interesses políticos e menos com as necessidades dos americanos», por não ter aceite uma solução que evitava cortes tão profundos na despesa e permitiria a arrecadação de receitas por via do aumento de impostos dos mais ricos.

Warren Buffet: ‘I beg you to raise my taxes!»
Esta visão pode parecer a mais sensata – e até tem defensores junto de quem iria ser penalizado. Basta consultar o interessantíssimo artigo de Warren Buffet (terceiro homem mais rico do Mundo, com fortuna avaliada em 80 biliões de dólares), assinado no New York Times «I beg you to raise my taxes!» (‘imploro que aumente os meus impostos!’) «Enquanto os pobres e a classe média lutam e morrem por todos nós no Afeganistão, e enquanto a maioria dos americanos lutam por se manterem à tona, nós, os milionários, continuamos a beneficiar de cortes de impostos. Parem de mimar os mega-ricos», exorta o multimilionário, que apoiou a candidatura presidencial de Obama e agora ficou desiludido com as cedências do Presidente às pressões do Tea Party.

Buffet identifica a contradição de haver, em Washington, uma maioria de congressistas que continuam a proteger os ricos, mesmo quando a economia real está na iminência de voltar a entrar em recessão.

O problema é que, nos dias que correm, as visões de Barack Obama, John Kerry ou Warren Buffet não são as que dominam nos corredores de Washington.

No estranho sistema político americano, em que o regime de «checks and balances» é levado ao extremo, o Presidente fica com muito poucos instrumentos para combater uma maioria conservadora no Congresso. Tem sido essa a sina de Obama nos últimos meses – mas Barack voltou à luta e não parece estar na disposição de assistir impávido a uma «capitulação» que muitos já decretavam na sua Presidência.

À reconquista do Midwest
Com a conversa em Washington a ser cada vez mais dominada pela hostilidade republicana, Obama decidiu contra-atacar junto da «Main Street» -- e partiu para o terreno.

O plano de resposta à ofensiva republicana começou nos últimos dias, com o ‘Obama Bus Tour’ – uma digressão de autocarro que o Presidente iniciou por três estados-chave do Midwest que venceu em 2008 e que poderão estar em perigo em 2012: Iowa, Minnesota e Illinois.

Esta escolha seguiu um roteiro criterioso: o Iowa marcou, simbolicamente, o início da ‘Obamania’, com o triunfo nas primárias de Janeiro de 2008. O Minnesota, tradicionalmente democrata, é um terreno muito afectado com a crise económica -– e pode vir a ser um dos ‘battleground states’ da eleição geral (sobretudo se o nomeado republicano for Romney).

O Illinois é o berço político de Obama. Uma derrota de Barack em Novembro de 2012 naquele estado seria simplesmente fatal.

Foi no Midwest que a ‘Obamania’ levou Barack a conquistar uma enorme vitória em Novembro de 2008 – e pode ser no Midwest que a principal batalha será travada na eleição de 2012.

«Obama fights back», titula a imprensa norte-americana, depois de semanas de autêntico massacre conservador sobre o Presidente.

Já toda a gente percebeu que o momento não é fácil para Barack Obama. Mas se olharmos ao pormenor para os factos, vemos que o cenário continua a ser razoavelmente favorável para as pretensões de reeleição do Presidente.

Mesmo depois dos 39 por cento de aprovação sinalizados pelo Gallup no passado dia 15 de Agosto, a verdade é que a média do mandato continua a centrar nos 45 por cento – valores equivalentes aos de outros Presidentes ‘first term’. E num contexto económico com dificuldades só comparáveis, nas últimas sete décadas, às que teve Franklin Roosevelt (com uma depressão económica profunda e guerras para resolver).

Debbie Schultz, congressista da Flórida, líder do Comité Nacional do Partido Democrata, coloca as coisas em perspectiva: «Ao contrário da narrativa que domina o momento, Obama não é um Presidente fragilizado. O que a tendência geral mostra é que tem um apoio muito sólido numa altura de dificuldades sem precedentes. E estou certa que esse apoio vai levá-lo à reeleição».

Nova versão: ‘it’s Obama… Cares’
No regresso ao terreno, Barack jogou alguns trunfos que sustentam um «comeback» político, depois de semanas de desgaste a negociar com quem não estava disposto a ceder um milímetro.

Para minimizar o impacto do ‘last minute deal’ que evitou o incumprimento, Obama prometeu um pacote de estímulo económico para Setembro, o mês em que se iniciará a dura batalha do Orçamento.


Iowa, Minnesota e Illinois: Obama está de regresso ao coração do Midwest, para recuperar terreno em estados que lhe deram vantagens confortáveis em 2008. E com três palavras mágicas para recentrar a mensagem: 'jobs, jobs, jobs'

É o regresso do ‘jobs, jobs, jobs’, numa altura em que, do lado republicano, a frase mágica para a nomeação republicana parece ser «eu sei criar empregos».

Outro mantra dos candidatos do GOP é prometer que, uma vez na Casa Branca, vão revogar a Reforma da Saúde aprovada por Obama. Entre o sarcasmo e a desdramatização, Barack já reagiu: «Eles prometem acabar com o ObamaCare, mas o que eles ainda não perceberam é que o termo correcto é… Obama Cares!»

Será que os americanos vão achar isso a 6 de Novembro de 2012, Barack?

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