quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Histórias da Casa Branca: A pergunta depois da Florida - haverá mesmo alternativa à nomeação de Romney?


A vitória esmagadora na Florida recolocou Mitt Romney na rota da «inevitabilidade»: mesmo sem convencer a base conservadora, não se vê outra hipótese que não seja a da coroação do mais elegível dos candidatos republicanos


A pergunta depois da Florida:
haverá mesmo alternativa à nomeação de Romney?


Por Germano Almeida

Ainda é muito cedo para se declarar um vencedor e todos sabemos como as corridas presidenciais americanas são férteis em surpresas de última hora.

Mas a clara vitória de Mitt Romney na Florida reforçou a ideia de que será difícil imaginar outro cenário que não seja o da nomeação do ex-governador do Massachussets.

Mitt, um mórmon com fortes raízes familiares à igreja da qual já foi pastor, está longe de convencer a base conservadora, maioritariamente evangélica? É um facto.

As credenciais centristas do antigo governador de um dos estados mais liberais dos EUA, o Massachussets, fazem a Direita americana franzir a sobrancelha perante a coroação de um candidato “too moderate” para os anseios republicanos? Também parece ser esse o caso.

Só que a longa disputa pela nomeação presidencial do Partido Republicano tem um objectivo dominante: escolher o candidato que poderá reunir melhores condições de vencer a eleição geral em Novembro.

E as sondagens mostram que Mitt Romney é de longe, entre os candidatos que restam nesta bizarra disputa republicana, o que tem mais hipóteses de bater o Presidente Barack Obama.

Apesar de derrapagem na Carolina do Sul (batalha onde quase tudo jogou contra as hipóteses de Mitt: as características do eleitorado, os apoios de última hora a Gingrich, o caso da declaração de rendimentos desconfortavelmente alta….), a verdade é que os pilares que sustentam esta corrida se mantêm actuais: Romney é o candidato mais sólido, mais capaz de agarrar o eleitorado moderado e fazer ceder os mais radicais – e é, também, o candidato com mais dinheiro e melhores apoios no terreno.
Comparada com o Iowa, o New Hampshire -- e mesmo com a Carolina do Sul -- a Florida é um estado muito maior.

Vale 50 delegados na Convenção Republicana, tem um sistema “winner takes all” – e independentemente do que tivesse ocorrido antes, quem vencesse o “sunshine state”, passaria fatalmente para a liderança da corrida.

Com esta clara vitória de Romney, o «efeito Carolina do Sul» que parecia ter relançado Gingrich desvaneceu-se quase na hora.

A história dominante volta a ser a de uma «quase inevitabilidade» da nomeação de Romney – o candidato que não convence o seu próprio partido, mas que visto de fora é o menos… assustador.

Tim? Rudy? Mitch? Agora é tarde…
Olhando para o avanço que Romney pode vir a ter em breve (as próximas corridas são Maine, Nevada, Colorado e Minnesota, tudo estados onde Mitt parte com clara vantagem), vale a pena perguntar: no que estarão, neste momento, a pensar Tim Pawlenty (“terei desistido demasiado cedo?”), Rudy Giuliani ou mesmo Mitch Daniels (“porque diabo não aceitei avançar?”, pensarão o ex-mayor de NY e o governador do Indiana).

É que, neste quadro profundamente favorável à nomeação do candidato mais «moderado» (mesmo sem o entusiasmo do Tea Party e da ala dura do GOP), Mitt Romney parece estar a aproveitar, de mão beijada, o espaço deixado por outras hipóteses que optaram por não ir a jogo – receosos, talvez, do ambiente especialmente agressivo que o Tea Party foi preparando nos últimos dois anos.

Com uma máquina preparada desde 2008, Mitt Romney ganhou embalagem com as primárias de há quatro anos e, na verdade, nunca deixou de estar em campanha, desde aí, sempre com o olhar em 2012.

Identificando a viragem do Partido Republicano à direita – contagiado pelo Tea Party e atiçado pela reacção anti-Obama pós-2008 – Mitt Romney foi corrigindo o discurso em pontos que lhe seriam especialmente sensíveis (a tolerância que mostrou, anos atrás, sobretudo quando era governador do Massachussets, a temas como o aborto e os direitos dos homossexuais) e apresentou-se como um candidato mais sintonizado com o “core” dos valores republicanos.

O seu excelente resultado na Florida prova três coisas: por muito que Newt Gingrich se reivindique como o herdeiro dos «verdadeiros conservadores» nesta corrida, é Mitt quem mostra maior capacidade de vencer nos estados-chave; o perfil empresarial de Romney tem mais a ver com o que está em causa nesta corrida; os rios de dinheiro que Mitt despejou na corrida da Florida (ultrapassou Gingrich numa relação de… cinco para um) foram importantes para travar a ideia de que ainda havia espaço para uma “reviravolta conservadora”).

E agora, Newt?
É certo que só estão atribuídos cerca de dez por cento dos delegados. Mas o calendário eleitoral não parece dar espaço a viragens dramáticas no curso de Romney para a nomeação.

Gingrich dificilmente discutirá uma vitória com Mitt nos estados em jogo até à Super Terça-Feira. É certo que Newt ainda tem muito por onde apostar (terá vantagem nos estados do Sul e na chamada “Bible Belt”), mas teria que somar muito mais dinheiro para poder disputar a nomeação com hipóteses mais reais de vitória.

Não chega lançar o mantra do “anything but Mitt”. Newt não se terá livrado o estigma de ser um candidato do passado. E assumir-se como o candidato religioso, dos «valores», não é, propriamente, o fato que melhor serve a um Gingrich acossado pelas acusações das ex-mulheres (na mesma altura em que, como speaker, exigia a destituição do Presidente Clinton pelo caso com Monica Lewinsky, propunha à segunda ex-mulher uma… “relação aberta” no casamento para evitar um escândalo de divórcio, porque já matinha um relacionamento extra-conjugal com aquela com Callista, que é hoje a sua mulher…)

Matematicamente, tudo ainda é possível neste imprevisto duelo entre Mitt Romney e Newt Gingrich.

Mas não se vislumbra um caminho viável para a tese de uma histórica recuperação de Newt. Não por acaso, o discurso de vitória de Romney na Florida foi quase exclusivamente focado nas críticas a Obama e já não nas diferenças com Gingrich.

A Florida, que em 2000 foi dramaticamente decisiva para a derrota de Al Gore para George W. Bush na eleição geral, pode ter entrado para a história da corrida republicana de 2012 como o momento que traçou, mesmo que com alguns meses da confirmação oficial, a vitória de Mitt Romney.


RESULTADOS FINAIS NA FLORIDA

Mitt Ronney: 46% (50 delegados para Romney)
Newt Gingrich: 32%
Rick Santorum: 13%
Ron Paul: 7%

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