terça-feira, 6 de março de 2012

Histórias da Casa Branca: Oito meses para provar que é conservador


Mitt Romney voltou a ganhar vantagem depois de um bom mês de Fevereiro, mas precisa de uma Super Terça-Feira vitoriosa para reforçar estatuto de «inevitável» junto de uma base conservadora que o olha com desconfiança


Oito meses para provar que é conservador

Por Germano Almeida


A tripla vitória de Rick Santorum na noite do Missouri/Colorado/Minnesota parecia ter baralhado as contas à narrativa da «inevitabilidade de Romney».

O campo de Mitt chegou a tremer, sobretudo quando viu as sondagens nacionais feitas nos dias seguintes a esse triplo combate a darem uma inesperada vantagem a Santorum.
Mas o mês de Fevereiro ajudou a recolocar as coisas na sua ordem natural – se é que isso é possível num processo tão complexo e tendencialmente caótico, como é uma corrida presidencial na América.

Romney venceu os cinco estados que foram a jogo até à Super Terça-Feira (por esta ordem: Maine, Arizona, Michigan, Wyoming e Washington) e recuperou a tese de que será muito difícil perder a liderança da corrida.

É preciso explicar que as três vitórias de Santorum não se traduziram num número significativo de delegados – e depois desta série de cinco triunfos consecutivos, Romney volta a exibir uma clara vantagem na contagem de delegados: chega à Super Terça-Feira com 203, mais do dobro do que Santorum (92) e muito mais do que Gingrich (33) e Ron Paul (25).

Com mais dinheiro, mais votos, mais delegados, mais experiência e mais apoios que os seus rivais (nos últimos dias, o ex-governador do Massachussets passou a contar com os ‘endorsements’ de Eric Cantor, líder da maioria republicana no Congresso, e do senador Tom Coburn, do Oklahoma), Romney parece ter tudo para obter a nomeação.

Só que Mitt ainda não conseguiu provar que tem uma coisa fundamental para quem pretenda chegar à presidência dos EUA: carisma. Capacidade de mobilização.
Conquistar os corações do seu eleitorado.

O terceiro lugar de Romney no Minnesota – estado onde tinha o apoio do governador Tim Pawlenty – fez soar as campainhas de alarme em Boston, sede do quartel-general da campanha do ex-governador do Massachussets.

Com muito mais dinheiro para gastar em anúncios (em alguns estados, essa vantagem de Romney sobre Santorum chega a ser de cinco para um), Mitt tratou de atacar os pontos fracos de Rick. Nas últimas semanas, ficámos, assim, a saber que afinal o registo de Santorum como senador da Pensilvânia não foi assim tão conservador – e que em muitas situações, Rick votou alinhado com a via clássica do Partido Republicano.

Santorum viabilizou programas federais, nos anos Bush, que implicaram gastos públicos elevados na Educação e na Saúde – o que vai contra o ‘mantra’ dos apoiantes de Rick em temas como o ObamaCare.

O teste do Michigan
Romney chega à Super Terça-Feira tendo cumprido os serviços mínimos. Não está a fazer uma campanha brilhante (a ex-Primeira Dama Barbara Bush, apoiante de Mitt, desabafou ontem que «esta está a ser campanha mais horrível de que tem memória»), mas perante as debilidades da concorrência, começa a fazer valer a sua tese de que só ele poderá derrotar Obama em Novembro.

Há quem defenda que Mitt já ultrapassou o seu maior risco: o Michigan. Romney é filho de um antigo governador do Michigan (George Romney) e nasceu naquele estado.
Se perdesse a batalha do Michigan, teria ficado em maus lençóis.

E isso esteve perto de acontecer: Rick Santorum liderou as sondagens quase até ao dia da eleição, muito por culpa do que Romney disse sobre o plano de apoio da Administração Obama à indústria automóvel – e que salvou os três grandes fabricantes de Detroit (GM, Chrysler e Ford) da falência.

Uma boa parte dos eleitores ainda não esqueceu a posição de Romney, expressa em artigo no New York Times (“Deixem Detroit ir à falência”) – e Mitt teve que se explicar. Evitou o desastre mesmo sobre a meta, vencendo por uma curta margem (41-39) sobre Santorum. E, na mesma noite, obteve vitória folgada no Arizona.

O que podia ter sido o início do fim para Mitt, acabou por ser o momento da reafirmação da «inevitabilidade de Romney».


Jeb Bush está a ser desafiado a avançar com uma candidatura de última hora pelos sectores republicanos que não estão convencidos com as possibilidades de Mitt Romney derrotar Obama em Novembro

Corre, Jeb, corre?
As debilidades políticas de Mitt Romney estão a prolongar a ideia – improvável, mas, neste ambiente, não totalmente impossível -- de que ainda haverá espaço para uma candidatura de última hora.

Basta ouvir os lamentos dos apoiantes do Tea Party, que consideram não existir nenhum candidato que os convença no actual leque de quatro sobreviventes, para perceber que ainda haveria alguma margem para que Sarah Palin aparecesse de surpresa na Convenção Republicana – a fim de arrebatar os apoios da Direita radical.

Sectores mais moderados do Partido Republicano não se cansaram de apelar, nos últimos meses, a figuras como o governador do Indiana, Mitch Daniels, o ex-governador do Mississipi, Haley Barbour, o governador da Nova Jérsia, Chris Christie, ou mesmo ao jovem congressista do Wisconsin Paul Ryan, líder do Comité do Orçamento, no sentido de uma candidatura mais capaz de federar as diferentes sensibilidades do Partido Republicano.

O caso não é para menos: estudos recentes apontam para que os eleitores americanos, neste momento, confiam mais no Partido Democrata do que no Partido Republicano, numa relação de dois para um – um cenário totalmente diferente do que se verificava por alturas das midterms, em Novembro de 2010, que deram enorme maioria aos republicanos na Câmara dos Representantes.

A recuperação de Barack Obama nas sondagens (está nos 50 por cento de aprovação como Presidente e lidera confortavelmente os duelos para Novembro contra os quatro possíveis adversários republicanos) é outro sinal de alarme para as hostes republicanas.

Ann Coulter, escritora e comentadora conservadora, lançou recentemente, o repto: “Corre, Jeb, corre!”, num apelo ao ex-governador da Florida, Jeb Bush, para que se lance numa “last minute call” para a Casa Branca.

Irmão e filho de dois antigos Presidentes (George Bush pai e George W. Bush), Jeb foi um governador razoavelmente popular na Florida e tem uma rede de apoios que poderá ser activada a qualquer momento.

Por enquanto, não se mostra disponível para uma jogada de tamanho risco. Mas se esta estranha desconfiança do eleitorado republicano em torno do mais-que-provável-nomeado Mitt Romney se prolongar, será prudente admitir todos os cenários.

E a verdade é que, com esta distribuição proporcional dos delegados na maioria dos estados, é matematicamente possível que se chegue à Convenção Republicana sem que Romney consiga atingir o número mágico dos 1.144. Se assim for, a hipótese de uma convenção à antiga, onde tudo pode acontecer, não será de afastar.

É isso, Mitt: restam exactamente oito meses (a eleição geral é a 6 de Novembro) para provar que é mesmo conservador…

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