TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 23 DE MAIO DE 2013:
«A América não tem o pessimismo. E, se tiver, faz logo outro filme a dizer o contrário. Os americanos já estão a viver no futuro há meio século. Todas as ficções que eles fazem são de autodestruição, já destruíram Nova Iorque aí umas 10 ou 20 vezes. Isso pode parecer uma coisa mórbida, mas é preciso ter muita confiança no futuro para brincar com isso. E para ter público. Mas eles têm consciência de que são os primeiros da classe. Nós estamos, aqui, a atravessar uma fase marcada sobretudo pela sua natureza inesperada. O que isto quer dizer é que não sabemos em que tempo estamos».
Eduardo Lourenço, «Um Europeu Desencantado», entrevista a Teresa de Sousa, «2», Público, edição de 19 de maio 2013
Eduardo Lourenço, um dos maiores pensadores do último século português e europeu, faz hoje 90 anos.
O autor do «Labirinto da Saudade», ensaio que retrata o ser português como muito poucos conseguiram fazer até agora, viveu grande parte da sua vida, que hoje completa nove décadas, em França. Tem uma história e um percurso muito mais relacionados com a cultura europeia do que americana.
E isso, na minha perspetiva, aumenta ainda mais o interesse sobre a visão de Lourenço em relação à América: «Provavelmente, o resumo de tudo isto - e essa é uma mudança de paradigma total - é que a Europa que esteve no mundo e que foi o mundo, já não está na Europa, está inscrita em qualquer coisa mais vasta que é esta cultura globalizante, que não é uma abstracção, que está num sítio que se chama América», aponta o ensaísta, na entrevista a Teresa de Sousa, acima citada.
«Nós somos todos americanos, sabendo ou não sabendo, gostando ou não gostando. Veja que vivemos a eleição de Obama como se fosse a eleição do rei da Europa que não existe. Ou até do mundo. E vivemos esse sentimento da maneira mais generosa possível, quase de cinema», reflete Eduardo Lourenço, para depois acrescentar: «A América tem essa coisa que é uma espécie de juventude contínua, com contradições enormes. Eu não queria lá viver, mas eles avançam. Nós, aqui, estamos cercados por vários anéis. Acontece que a Europa foi sempre um continente que se discutiu. A Europa também foi, até à Reforma, um continente de fé orgânica. Mas mesmo na história da Europa religiosa, ela nunca deixou de discutir o seu estatuto humano, metafísico e o seu estatuto histórico».
Nascido em São Pedro de Rio Seco, a 23 de maio de 1923, Eduardo Lourenço de Faria licenciou-se em Histórico-Filosóficas, em 1946, em Coimbra. Três anos depois, com uma bolsa Fulbright, teve uma primeira experiência académica em França, na Universidade de Bordéus. Passou também pela Universidade de Montpellier, experimentou o Brasil por um ano (Bahia), mas fixou-se em França, em Vence, em 1965.
No último meio século, a uma distância nunca suficiente para se tornar ausência absoluta, assumiu-se como o grande pensador do ser português. Prémio Camões 1996, Prémio Pessoa 2011, somou muitas outras distinções literárias e académicas.
Neste 23 de maio, festeja 90 anos. A entrevista de domingo passado, que merece leitura atenta, prova que continuamos a aprender muito com ele.»
O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
sexta-feira, 24 de maio de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Histórias da Casa Branca: Obama controla danos
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 17 DE MAIO DE 2013:
«Barack Obama tinha planeado esta fase para avançar a sério com a Reforma da Imigração, aproveitando a boleia de Marco Rubio, o jovem senador republicano da Florida, filho de cubanos, que assumiu o tema como prioridade na sua agenda política.
As ideias de Rubio, possível nomeado presidencial republicano para 2016, ameaçam espartilhar os conservadores (que não conseguem ter uma posição uniforme sobre o tema) e isso, aparentemente, poderia ajudar o Presidente.
Só que Obama volta a não ter a gestão da agenda do seu agrado. As últimas semanas revelaram temas incómodos para a Administração democrata e ameaçam perturbar a condução política do segundo mandato do 44.º Presidente dos EUA.
Primeiro, foi o escândalo das «escutas» aos jornalistas da Associated Press que o Departamento de Justiça terá permitido, durante dois meses.
O caso levou republicanos e mesmo analistas independentes a tecerem fortes críticas, naturais num país que leva a liberdade de Imprensa e os direitos de privacidade muito a sério.
A Casa Branca, através do porta-voz de Obama, Jay Carney, sentiu-se na necessidade de se demarcar do Departamento de Justiça, colocando, assim, o ónus da crise em Eric Holder e não em Obama.
Mas rapidamente se levantaram vozes no Partido Republicano a exigirem a responsabilização do Presidente: afinal de contas, não será sempre ele quem tem a última palavra?
Na organização política de uma administração americana, essa associação nem sempre é líquida. Existe uma clara autonomia de atuação e mesmo de decisão entre os diferentes departamentos, ainda que, no plano mais político, a responsabilidade maior seja sempre do Presidente.
A forma como Obama fez questão de censurar o comportamento do IRS (Direção Geral dos Impostos) é um exemplo claro dessa leitura de separação feita pelo Presidente.
Obama demitiu o responsável pelos Impostos, Steven Miller, com críticas públicas à atuação deste, naquilo que considerou ser uma «perseguição inaceitável» a grupos ligados ao Tea Party.
A atitude de censura pública a alguém ligado à administração pública americana, pouco comum em Obama, dá conta do clima de profunda hostilidade que se criou sobre o Presidente nos últimos dias.
Ao demitir Miller, Obama acabou por ceder às pressões da direita, admitindo, de forma implícita, que estaria a ser pisada a linha de uma «intervenção inadmissível» do governo sobre os grupos independentes.
Entre a defesa da sua administração e o controlo de danos políticos e mediáticos, Barack Obama preferiu, neste caso a segunda hipótese.
Há coisas que, na América, nem um Presidente reeleito é capaz de mudar.»
«Barack Obama tinha planeado esta fase para avançar a sério com a Reforma da Imigração, aproveitando a boleia de Marco Rubio, o jovem senador republicano da Florida, filho de cubanos, que assumiu o tema como prioridade na sua agenda política.
As ideias de Rubio, possível nomeado presidencial republicano para 2016, ameaçam espartilhar os conservadores (que não conseguem ter uma posição uniforme sobre o tema) e isso, aparentemente, poderia ajudar o Presidente.
Só que Obama volta a não ter a gestão da agenda do seu agrado. As últimas semanas revelaram temas incómodos para a Administração democrata e ameaçam perturbar a condução política do segundo mandato do 44.º Presidente dos EUA.
Primeiro, foi o escândalo das «escutas» aos jornalistas da Associated Press que o Departamento de Justiça terá permitido, durante dois meses.
O caso levou republicanos e mesmo analistas independentes a tecerem fortes críticas, naturais num país que leva a liberdade de Imprensa e os direitos de privacidade muito a sério.
A Casa Branca, através do porta-voz de Obama, Jay Carney, sentiu-se na necessidade de se demarcar do Departamento de Justiça, colocando, assim, o ónus da crise em Eric Holder e não em Obama.
Mas rapidamente se levantaram vozes no Partido Republicano a exigirem a responsabilização do Presidente: afinal de contas, não será sempre ele quem tem a última palavra?
Na organização política de uma administração americana, essa associação nem sempre é líquida. Existe uma clara autonomia de atuação e mesmo de decisão entre os diferentes departamentos, ainda que, no plano mais político, a responsabilidade maior seja sempre do Presidente.
A forma como Obama fez questão de censurar o comportamento do IRS (Direção Geral dos Impostos) é um exemplo claro dessa leitura de separação feita pelo Presidente.
Obama demitiu o responsável pelos Impostos, Steven Miller, com críticas públicas à atuação deste, naquilo que considerou ser uma «perseguição inaceitável» a grupos ligados ao Tea Party.
A atitude de censura pública a alguém ligado à administração pública americana, pouco comum em Obama, dá conta do clima de profunda hostilidade que se criou sobre o Presidente nos últimos dias.
Ao demitir Miller, Obama acabou por ceder às pressões da direita, admitindo, de forma implícita, que estaria a ser pisada a linha de uma «intervenção inadmissível» do governo sobre os grupos independentes.
Entre a defesa da sua administração e o controlo de danos políticos e mediáticos, Barack Obama preferiu, neste caso a segunda hipótese.
Há coisas que, na América, nem um Presidente reeleito é capaz de mudar.»
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Histórias da Casa Branca: a nova versão do domínio americano
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 10 DE MAIO DE 2013:
«Os últimos anos têm reforçado a narrativa de que os Estados Unidos estão a perder o estatuto de única superpotência mundial.
Mas quererá isso dizer que estão a perder influência no Mundo? Não necessariamente.
O crescimento económico de Índia, China, Rússia e Brasil (que Fareed Zakaria rotulou de «ascensão dos outros») está a alterar os dados de uma equação que, nas últimas duas décadas, parecia simples.
Depois da queda do muro de Berlim, muitos pensaram que o Mundo seria... apenas americano.
A hegemonia dos EUA cimentou-se, nos anos 90, pela prosperidade económica da era Clinton e pela supremacia militar de uma América que já não tinha o fantasma soviético e ainda não se apercebera das novas ameaças que se construíam no Irão, na Coreia do Norte e no terrorismo islâmico.
As guerras do Iraque e do Afeganistão, na primeira década do século XXI, anunciaram novos tempos.
Ainda exibindo uma supremacia militar impressionante, os Estados Unidos começaram a acusar dificuldades em conciliar o poder bélico com o equilíbrio económico.
Os esforços de guerra tiveram pesada fatura na economia americana e depois do abalo financeiro de 2007-2009 nada ficou como antes.
Já nem a superpotência americana saía incólume a tamanhas contrariedades.
Enquanto isso, a China crescia a 10% ao ano. A Índia foi aprimorando a sua capacidade de inovação. O Brasil sublinhou o seu «milagre», passando, em poucos anos, da quase bancarrota para um crescimento económico notável, que o coloca no clube restrito dos países a olhar com atenção.
Estes novos dados tornam o Mundo diferente do que era nos anos 90? Sem dúvida. Mas decretam o fim do domínio americano? De forma alguma.
O que estamos a assistir, nesta era Obama, é, isso sim, a uma nova versão desse domínio americano.
Mais realista e muito menos idealista. Mais marcada pelo conceito da «cooperação» e bem menos pelo «conflito».
Obama abdicou do «confronto» dos anos Bush e passou a preferir a «contenção».
Apesar de vários apelos, o 44.º Presidente do EUA recusou-se a intervir na Síria e surpreendeu ao optar por uma participação discreta na Líbia («leading from behind»), deixando as despesas da operação aos franceses e ingleses.
Colocando a questão norte-coreana num plano de menor credibilidade (Washington não ignora, mas também não valoriza excessivamente os devaneios do errático Kim-Jong Un), a grande preocupação tem a ver com o poder adquirido pela China.
O crescimento chinês tem sido tão forte nos últimos anos que Pequim está a começar a ter dificuldades em acomodar o seu poder na região da Ásia-Pacífico.
Demasiado grande para ser apenas uma potência regional, a China quer ser vista como uma potência mundial.
Já o é a nível económico e comercial. Quer ser também no plano militar. E isso é uma ameaça para os países vizinhos, que acenam cada vez mais com pedidos de ajuda aos EUA.
A tensão Washington/Pequim será a principal história a acompanhar na política e na diplomacia mundial nos próximos anos.
As acusações da Administração Obama de espionagem eletrónica supostamente feita pela China dá conta dessa crescente tensão sino-americana.
«Em 2012, vários sistemas de computadores no mundo, incluindo os do governo dos EUA, têm sido constantemente alvo de invasões, algumas das quais parecem ser diretamente atribuídas ao governo e às Forças Armadas da China», acusou a Casa Branca, em recente relatório ao Congresso.
Segundo o Pentágono, o objetivo é «roubar tecnologia industrial», mas também «desenhar um esquema das redes de defesa dos EUA e capacidades militares que podem ser exploradas numa possível crise bilateral».
O governo chinês garante que tudo não passa de «acusações infundadas e especulações» dos americanos.
O melhor é habituarmo-nos a este tipo de coisas.»
«Os últimos anos têm reforçado a narrativa de que os Estados Unidos estão a perder o estatuto de única superpotência mundial.
Mas quererá isso dizer que estão a perder influência no Mundo? Não necessariamente.
O crescimento económico de Índia, China, Rússia e Brasil (que Fareed Zakaria rotulou de «ascensão dos outros») está a alterar os dados de uma equação que, nas últimas duas décadas, parecia simples.
Depois da queda do muro de Berlim, muitos pensaram que o Mundo seria... apenas americano.
A hegemonia dos EUA cimentou-se, nos anos 90, pela prosperidade económica da era Clinton e pela supremacia militar de uma América que já não tinha o fantasma soviético e ainda não se apercebera das novas ameaças que se construíam no Irão, na Coreia do Norte e no terrorismo islâmico.
As guerras do Iraque e do Afeganistão, na primeira década do século XXI, anunciaram novos tempos.
Ainda exibindo uma supremacia militar impressionante, os Estados Unidos começaram a acusar dificuldades em conciliar o poder bélico com o equilíbrio económico.
Os esforços de guerra tiveram pesada fatura na economia americana e depois do abalo financeiro de 2007-2009 nada ficou como antes.
Já nem a superpotência americana saía incólume a tamanhas contrariedades.
Enquanto isso, a China crescia a 10% ao ano. A Índia foi aprimorando a sua capacidade de inovação. O Brasil sublinhou o seu «milagre», passando, em poucos anos, da quase bancarrota para um crescimento económico notável, que o coloca no clube restrito dos países a olhar com atenção.
Estes novos dados tornam o Mundo diferente do que era nos anos 90? Sem dúvida. Mas decretam o fim do domínio americano? De forma alguma.
O que estamos a assistir, nesta era Obama, é, isso sim, a uma nova versão desse domínio americano.
Mais realista e muito menos idealista. Mais marcada pelo conceito da «cooperação» e bem menos pelo «conflito».
Obama abdicou do «confronto» dos anos Bush e passou a preferir a «contenção».
Apesar de vários apelos, o 44.º Presidente do EUA recusou-se a intervir na Síria e surpreendeu ao optar por uma participação discreta na Líbia («leading from behind»), deixando as despesas da operação aos franceses e ingleses.
Colocando a questão norte-coreana num plano de menor credibilidade (Washington não ignora, mas também não valoriza excessivamente os devaneios do errático Kim-Jong Un), a grande preocupação tem a ver com o poder adquirido pela China.
O crescimento chinês tem sido tão forte nos últimos anos que Pequim está a começar a ter dificuldades em acomodar o seu poder na região da Ásia-Pacífico.
Demasiado grande para ser apenas uma potência regional, a China quer ser vista como uma potência mundial.
Já o é a nível económico e comercial. Quer ser também no plano militar. E isso é uma ameaça para os países vizinhos, que acenam cada vez mais com pedidos de ajuda aos EUA.
A tensão Washington/Pequim será a principal história a acompanhar na política e na diplomacia mundial nos próximos anos.
As acusações da Administração Obama de espionagem eletrónica supostamente feita pela China dá conta dessa crescente tensão sino-americana.
«Em 2012, vários sistemas de computadores no mundo, incluindo os do governo dos EUA, têm sido constantemente alvo de invasões, algumas das quais parecem ser diretamente atribuídas ao governo e às Forças Armadas da China», acusou a Casa Branca, em recente relatório ao Congresso.
Segundo o Pentágono, o objetivo é «roubar tecnologia industrial», mas também «desenhar um esquema das redes de defesa dos EUA e capacidades militares que podem ser exploradas numa possível crise bilateral».
O governo chinês garante que tudo não passa de «acusações infundadas e especulações» dos americanos.
O melhor é habituarmo-nos a este tipo de coisas.»
domingo, 12 de maio de 2013
Histórias da Casa Branca: desemprego mais baixo dos últimos quatro anos
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 3 DE MAIO DE 2013:
O mês de abril correu melhor do que o esperado para a economia americana. De acordo com dados do Departamento do Trabalho dos EUA, foram criados 165 mil novos empregos, um dado que permitiu a descida da taxa de desemprego para 7.5%.
A contratação, por parte das empresas americanas, de novos funcionários foi, em abril, muito mais forte do que nos últimos dois meses, abrandando assim os receios de que os cortes federais em Washington pudessem provocar uma arrefecimento da economia americana.
Resultado: no final de abril, os Estados Unidos registaram a mais baixa taxa de desemprego dos últimos quatro anos.
A expetativa de vários economistas era a de que, em abril, fossem criados cerca de 140 mil novos empregos. Mas, além de terem sido gerados mais empregos do que o previsto, o número de saídas foi também menor do que o esperado.
«Isso mostra que o mercado de trabalho e a economia em geral parecem estar mais resilientes do que os investidores temiam», expçica o analista de mercado da Western Union Business Solutions, em Washington, Joe Manimbo, citado pela Reuters.
A força relativa dos dados foram particularmente surpreendentes, dados outros sinais recentes que sugerem que a economia desacelerou com força nas últimas semanas.
Estes dados parecem reforçar a ideia que o Presidente Obama tem sustentado, de que está construída a «longa estrada da recuperação».
É preciso lembrar que, em janeiro de 2009, quando Barack Obama tomou posse pela primeira vez, o sistema financeiro estava a dias de desabar e a economia americana sofria uma queda livre.
No primeiro ano de Presidência Obama, a taxa de desemprego chegou a atingir 10.5%. Só depois de aprovado o Recovery Act no Congresso (na altura, ainda muito democrata, e mesmo assim com grandes resistências a tamanha intervenção federal), se começaram a sentir alguns efeitos positivos.
O caminho de recuperação identificado a partir de 2010, e acentuado em 2011 e 2012, chegou a ter um abrandamento nos últimos meses, muito por culpa dos cortes federais já decorrentes das negociações entre a Casa Branca e o congresso republicano, para fazer face à ameaça da «Fiscal Cliff».
Mesmo com um sistema político e administrativo «sequestrado» em Washington, os EUA têm mostrado uma grande capacidade de adaptação aos novos tempos e começam a ter, de novo, uma economia pujante e capaz de gerar novos empregos.
Infelizmente, não podemos dizer o mesmo deste lado do Atlântico. Longe disso...
O mês de abril correu melhor do que o esperado para a economia americana. De acordo com dados do Departamento do Trabalho dos EUA, foram criados 165 mil novos empregos, um dado que permitiu a descida da taxa de desemprego para 7.5%.
A contratação, por parte das empresas americanas, de novos funcionários foi, em abril, muito mais forte do que nos últimos dois meses, abrandando assim os receios de que os cortes federais em Washington pudessem provocar uma arrefecimento da economia americana.
Resultado: no final de abril, os Estados Unidos registaram a mais baixa taxa de desemprego dos últimos quatro anos.
A expetativa de vários economistas era a de que, em abril, fossem criados cerca de 140 mil novos empregos. Mas, além de terem sido gerados mais empregos do que o previsto, o número de saídas foi também menor do que o esperado.
«Isso mostra que o mercado de trabalho e a economia em geral parecem estar mais resilientes do que os investidores temiam», expçica o analista de mercado da Western Union Business Solutions, em Washington, Joe Manimbo, citado pela Reuters.
A força relativa dos dados foram particularmente surpreendentes, dados outros sinais recentes que sugerem que a economia desacelerou com força nas últimas semanas.
Estes dados parecem reforçar a ideia que o Presidente Obama tem sustentado, de que está construída a «longa estrada da recuperação».
É preciso lembrar que, em janeiro de 2009, quando Barack Obama tomou posse pela primeira vez, o sistema financeiro estava a dias de desabar e a economia americana sofria uma queda livre.
No primeiro ano de Presidência Obama, a taxa de desemprego chegou a atingir 10.5%. Só depois de aprovado o Recovery Act no Congresso (na altura, ainda muito democrata, e mesmo assim com grandes resistências a tamanha intervenção federal), se começaram a sentir alguns efeitos positivos.
O caminho de recuperação identificado a partir de 2010, e acentuado em 2011 e 2012, chegou a ter um abrandamento nos últimos meses, muito por culpa dos cortes federais já decorrentes das negociações entre a Casa Branca e o congresso republicano, para fazer face à ameaça da «Fiscal Cliff».
Mesmo com um sistema político e administrativo «sequestrado» em Washington, os EUA têm mostrado uma grande capacidade de adaptação aos novos tempos e começam a ter, de novo, uma economia pujante e capaz de gerar novos empregos.
Infelizmente, não podemos dizer o mesmo deste lado do Atlântico. Longe disso...
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Histórias da Casa Branca: dois anos depois de Bin Laden
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 2 DE MAIO DE 2013:
«Foi o momento de maior euforia do primeiro mandato de Barack Obama.
A América estava a poucos meses de assinalar uma década dos trágicos atentados de 11 de setembro de 2001. E reagiu, em êxtase, à notícia de que Osama Bin Laden, o principal mentor do maior ataque em solo americano, tinha sido morto.
Do ponto de vista simbólico, foi a estocada final no fantasma do terrorismo islâmico ¿ que depois dessa data infame, não viria a ter novas concretizações em território norte-americano (mas que nos anos seguintes à queda das Torres Gémeas teria réplicas significativas em Madrid, Londres, alguns países árabes e na Indonésia, em Bali).
Uma operação muito bem-sucedida, consumada no terreno por um pequeno grupo de operacionais altamente especializado da Joint Special Operations Command, em conjunto com a CIA, redundou na morte do inimigo número 1 da América: faz hoje dois anos.
Barack Obama ficaria, assim, com os louros de um momento mediático que o seu antecessor George W. Bush bem quereria ter tido: o de anunciar aos EUA e ao Mundo que Osama Bin Laden estava morto.
A «Operação Geronimo» era de risco máximo para o Presidente. «Se ele estivesse errado na decisão de mandar avançar, a sua Presidência estava acabada», observa Joe Biden, seu vice-presidente.
Se nos lembrarmos do momento político que se vivia há dois anos na América, é bem capaz de ser verdade.
Meio ano antes, Obama tinha sofrido a maior derrota eleitoral da sua vida: os democratas foram arrasados nas eleições intercalares de novembro de 2010 e o roteiro legislativo que o Presidente tinha preparado para o primeiro mandato estava em sério risco.
Um eventual fracasso nesta operação colocaria a legitimidade presidencial de Obama em sério risco.
O sucesso da operação em Abbotabad, nos arredores da capital paquistanesa, conferiu ao Presidente um novo impulso (atingiu, nas semanas seguintes, o pico de popularidade desde que chegou à Casa Branca) e reforçou a sua tese de que havia chegado o tempo de retirar o combate ao terrorismo das prioridades políticas dos EUA.
Dois anos depois, o quadro de referências em torno desta questão é bem diferente. Barack Obama foi reeleito para um segundo mandato. As retiradas do Iraque e do Afeganistão já estão em curso e são irreversíveis. Os casos da Líbia e da Síria mostram que os EUA estão, pelo menos durante a era Obama, numa fase de influenciar sem intervir.
Parecia ter chegado o tempo do realismo puro e duro. E parecia que o terrorismo tinha saído por completo da agenda política na América.
Mas entretanto aconteceu Boston. Aparentemente, não se trata de algo sequer comparável ao 11 de Setembro de 2001. Mas as investigações sobre quem esteve por trás dos inesperados acontecimentos na Maratona de Boston prosseguem e ainda está por esclarecer se os ataques foram apenas preparados pelos dois irmão chechenos.
Dois anos depois da morte de Bin Laden, a América parece mais segura. Mas nunca fiando.»
«Foi o momento de maior euforia do primeiro mandato de Barack Obama.
A América estava a poucos meses de assinalar uma década dos trágicos atentados de 11 de setembro de 2001. E reagiu, em êxtase, à notícia de que Osama Bin Laden, o principal mentor do maior ataque em solo americano, tinha sido morto.
Do ponto de vista simbólico, foi a estocada final no fantasma do terrorismo islâmico ¿ que depois dessa data infame, não viria a ter novas concretizações em território norte-americano (mas que nos anos seguintes à queda das Torres Gémeas teria réplicas significativas em Madrid, Londres, alguns países árabes e na Indonésia, em Bali).
Uma operação muito bem-sucedida, consumada no terreno por um pequeno grupo de operacionais altamente especializado da Joint Special Operations Command, em conjunto com a CIA, redundou na morte do inimigo número 1 da América: faz hoje dois anos.
Barack Obama ficaria, assim, com os louros de um momento mediático que o seu antecessor George W. Bush bem quereria ter tido: o de anunciar aos EUA e ao Mundo que Osama Bin Laden estava morto.
A «Operação Geronimo» era de risco máximo para o Presidente. «Se ele estivesse errado na decisão de mandar avançar, a sua Presidência estava acabada», observa Joe Biden, seu vice-presidente.
Se nos lembrarmos do momento político que se vivia há dois anos na América, é bem capaz de ser verdade.
Meio ano antes, Obama tinha sofrido a maior derrota eleitoral da sua vida: os democratas foram arrasados nas eleições intercalares de novembro de 2010 e o roteiro legislativo que o Presidente tinha preparado para o primeiro mandato estava em sério risco.
Um eventual fracasso nesta operação colocaria a legitimidade presidencial de Obama em sério risco.
O sucesso da operação em Abbotabad, nos arredores da capital paquistanesa, conferiu ao Presidente um novo impulso (atingiu, nas semanas seguintes, o pico de popularidade desde que chegou à Casa Branca) e reforçou a sua tese de que havia chegado o tempo de retirar o combate ao terrorismo das prioridades políticas dos EUA.
Dois anos depois, o quadro de referências em torno desta questão é bem diferente. Barack Obama foi reeleito para um segundo mandato. As retiradas do Iraque e do Afeganistão já estão em curso e são irreversíveis. Os casos da Líbia e da Síria mostram que os EUA estão, pelo menos durante a era Obama, numa fase de influenciar sem intervir.
Parecia ter chegado o tempo do realismo puro e duro. E parecia que o terrorismo tinha saído por completo da agenda política na América.
Mas entretanto aconteceu Boston. Aparentemente, não se trata de algo sequer comparável ao 11 de Setembro de 2001. Mas as investigações sobre quem esteve por trás dos inesperados acontecimentos na Maratona de Boston prosseguem e ainda está por esclarecer se os ataques foram apenas preparados pelos dois irmão chechenos.
Dois anos depois da morte de Bin Laden, a América parece mais segura. Mas nunca fiando.»
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