segunda-feira, 3 de junho de 2013

Histórias da Casa Branca: a nova luta antiterrorismo

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 3 DE JUNHO DE 2013:

«Se a luta antiterrorista deve continuar, esta guerra tem de acabar. Os EUA não podem viver em estado permanente de guerra»
BARACK OBAMA, discurso na National Defense University, 26 de maio 2013

A luta contra o terrorismo está a mudar. Nas últimas semanas, assistimos a alguns casos inesperados e que podem alterar a noção de como se deve combater as ameaças de quem fazer mal à nossa forma de viver nas sociedades ocidentais. 

Após a morte de Bin Laden, ficou claro que a Al Qaeda, enquanto organização global, estava em desagregação. 

Mas isso não quer dizer que o terrorismo tenha terminado ou, sequer, que esteja a recuar. 

A questão, essa sim, é que está a mudar a sua configuração e a sua concretização. 

Na sociedade espartilhada em que vivemos, já não há uma liderança única: seja ao nível dos governos, seja no plano das organizações. E isso vale, também, para o terrorismo. 

Em Boston, a 15 de abril passado, foi brutalmente surpreendente perceber como dois irmãos tchechenos puderam perpetrar um ato terrorista de dimensões surpreendentes. 

O assassinato a sangue frio, em plena rua e à luz do dia, num bairro de Londres, de um jovem soldado britânico que tinha combatido no Afeganistão, foi outro sinal de alarme para esta nova forma de ameaça terrorista: menos espetacular, menos global, mas se calhar mais assustador, porque completamente imprevisível. Pode acontecer em qualquer lado e a qualquer momento.

Obama assumiu uma visão, no primeiro mandato, que apontava para uma mudança do «idealismo» para o «realismo». Redução de meios e gastos de guerra; retirada do Iraque e do Afeganistão; presença discreta (e sem liderar) na Líbia; contenção em vez de intervenção na Síria.

Em vez de «guerra pesada», preferiu o «soft power». Apostou na tecnologia, incentivou a «guerra de espionagem», avançou para os «ciberataques» aos planos do Irão para fazer a bomba e às ameaças chinesas de entrar nos sistemas informáticos americanos. 

Adepto de uma visão «contida» do uso do poder militar americano, Obama apontou uma via de redução de perdas humanas no terreno e aposta clara nos «drones» (aviões militares não tripulados, capazes de, por via de controlo à distância, estabelecer ataques cirúrgicos a alvos potencialmente ameaçadores).

Mas nem tudo tem corrido bem neste caminho. 

Na promessa de restabelecer a imagem moral da América, Obama assinou o fecho de Guantánamo no dia seguinte a ter tomado posse pela primeira vez. Passaram-se quatro anos e meio e a verdade é que a prisão na baía cubana ainda está aberta. 

E essa é uma verdade inconveniente que pesa nos ombros do 44.º Presidente dos EUA e que foi recordada, a decibéis particularmente elevados, por uma pacifista que o interrompeu em pleno discurso sobre antiterrorismo, na National Defense University.

Nesse discurso, Obama defendeu o uso de drones para combater o terrorismo como «uma guerra justa» e até como forma de «auto-defesa». 

E explicou: «À luz das leis internas e internacionais, os Estados Unidos estão em guerra com a Al Qaeda, os talibãs e as suas forças associadas. Estamos em guerra com uma organização que neste momento mataria o maior número possível de americanos se não os impedíssemos primeiro. Portanto, esta é uma guerra justa, travada de forma proporcional e, em última instância, em auto-defesa».

Ao mesmo tempo que relegitimou essa via de utilização de drones, Obama reforçou que os ataques com aviões não tripulados «salvaram vidas» e «são legais».

Sobre Guantánamo, Obama voltou a defender o fecho da prisão e culpou o Congresso de isso ainda não ter acontecido: «Não há qualquer justificação, para além da política, para o Congresso nos impedir de fechar umas instalações que nunca deveriam ter sido abertas».

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