TEXTO PUBLICADO NO TVI24.IOL.PT, A 13 DE JULHO DE 2013:
«Barack Obama está quase a completar meio ano do segundo mandato.
Na 
altura da posse, o momento parecia ser de recuperação política para o 
Presidente. O clima de hostilidade dos republicanos tinha sido penalizado nas 
urnas pelo americanos.
Na tomada de posse e três semanas mais tarde 
no State of The Union, Obama lançava quatro grandes ideias: reforma da Imigração 
compreensiva; independência energética e combate às alterações climáticas; 
diminuição das desigualdades sociais; lançamento de uma parceria transatlântica 
de comércio e investimento.
Ainda em fase de recuperação económica, mas já 
sem o pânico de janeiro de 2009, parecia existirem condições para um segundo 
mandato politicamente mais «normal», longe do momento de exceção dos primeiros 
quatro anos. 
Só que os primeiros meses do segundo mandato 
voltaram a reforçar a ideia de que a Presidência Obama poderá estar condenada a 
ser vivida em momentos de especial tensão.
Primeiro, foram os escândalos relacionados com 
as escutas a jornalistas; depois, perseguições da autoridade fiscal a grupos 
ligados ao Tea Party. Dois temas desconfortáveis para Obama, mas, na verdade, 
nenhum deles comprometedor. 
O pior veio a seguir: as revelações de Edward 
Snowden, antigo funcionário da CIA e da NSA, sobre a verdadeira dimensão do 
PRISM colocaram a administração americana na berlinda e puseram, pelo menos 
durante alguns dias, em sério risco o prestígio internacional de Obama: até 
mesmo (e sobretudo) junto dos seus aliados mais duradouros. 
Obama 
teve que voltar a colocar o seu foco na gestão de crise e, desta vez, até numa 
área em que, no primeiro mandato, manteve sempre fortes créditos: a política 
externa e a imagem internacional. 
A maior consequência voltou a ser o seu 
enfraquecimento interno. 
Se, nos primeiros tempos do pós-reeleição, se 
começaram a desenhar sinais de que zonas do Partido Republicano, sobretudo 
afetas a Marco Rubio (senador da Florida cubano-americano) estariam dispostas a 
avançar para uma Immigration Bill a aprovar pelo Congresso, a verdade é que os 
créditos políticos do Presidente foram-se esfumando nos últimos meses. 
«Ele 
precisa de vitórias e precisa delas rapidamente. Não há grande volta a dar em 
relação a isso», comentou, sob anonimato, um estratega democrata, citado pelo 
«The Hill». 
Em 2012, no auge da disputa com Romney, Obama 
previu que «depois da reeleição, a febre republicana no Congresso iria 
diminuir». 
O problema é que isso não está a acontecer. Os 
últimos meses voltaram a ser de «political gridlock». 
O que se 
passou com o «gun control» foi especialmente preocupante: após o massacre de 
Sandy Hook, poucas semanas depois da reeleição, Obama sentiu que tinha condições 
únicas de avançar para legislação poderosa para travar com a ameaça das armas. 
A 
verdade é que as propostas da Casa Branca tiveram, até agora, efeito zero no 
Congresso. Nem junto dos senadores democratas elas mereceram consenso.
O mesmo 
já não sucede em relação à Imigração. Uma primeira diligência passou facilmente 
no Senado, por 68-32 (com muitos votos de republicanos). Só que o mesmo não está 
a ocorrer na House, com muitos congressistas conservadores a bloquearem a 
exigência de Presidente de conceder a cidadania aos imigrantes ilegais. 
Doug 
Thornell, estratega democrata, resume com uma imagem divertida a limitação 
política de Obama num congresso de maioria republicana: «São precisos dois para 
dançar o tango e e os republicanos continuam a preferir ficar sentados nas 
cadeiras que estão encostadas na sala».
Um caso perdido? Talvez não. Em 2014, há 
eleições para o Congresso e Obama terá que pôr todas as fichas políticas na 
recuperação do controlo democrata. 
Se não for assim, corre mesmo o risco de ficar 
na história como o «Presidente bloqueado».»
 
 
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