TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 29 DE JANEIRO DE 2014:
O «ano de ação» que Barack Obama prometera para 2014 teve, no sexto State of The Union deste Presidente, o seu primeiro grande campo de batalha.
Trunfos apresentados no Estado da União: défice cortado a metade, mais de oito milhões de empregos criados nos últimos quatro anos.
Obama sentenciou: «São vocês, os cidadãos, que fazem o estado da nossa união forte. E aqui estão os resultados: o desemprego mais baixo dos últimos cinco anos. O mercado imobiliário está a disparar. O setor indutrial está a criar empregos pela primeira vez desde os anos 90».
Perante o Congresso, Obama apresentou como principal novidade o aumento do salário mínimo dos funcionários públicos americanos para os 10,10 dólares/hora, a partir dos atuais 7,25 dólares/hora.
A medida tem uma especial carga simbólica: as questões da «desigualdade social» são vistas pelo Presidente como «definidoras do nosso tempo» e marcam uma das diferenças cruciais entre a visão dos democratas e os republicanos na América.
Ao exortar, em pleno State of The Union, essa medida presidencial sem ir ao Congresso, Obama dá claro sinal de que tem intenções de usar essa figura para contornar o «gridlock» do Congresso.
O Presidente que, ao fazê-lo, terá como resposta dos republicanos a crítica de que estará a agitar a «luta de classes».
Mas a realidade política e social na América há muito que aponta para um cenário de permanente combate ideológico para quem queira mudar alguma coisa.
Obama tem a «prosperidade da classe média» como um dos pontos centrais da sua presidência. E o Presidente voltou a usar a melhoria dos indicadores económicos (6,7% de desemprego e 4,5% de crescimento).
O problema é que o «americano real» ainda não sentiu os benefícios da recuperação económica. E talvez por isso, o Presidente pediu «um pouco mais de tempo porque a melhoria vai sentir-se ainda mais».
«Hoje, depois de quatro de crescimento económico, os lucros empresariais e os preços das casas raramente estiveram tão altos e quase nunca mostraram resultados tão bons», destacou Obama, para depois admitir. «Mas a média dos salários não foi alterada. A desigualdade aumentou. A mobilidade estancou. A realidade, nua e cruam é que mesmo em plena recuperação, demasiados americanos trabalham mais horas do que nunca para apenas conseguirem aguentar. E demasiados estão ainda sem trabalho».
«Oportunidade é o que nós somos. E o projeto da nossa geração é restaurar essa promessa», apontou o Presidente.
O State of The Union 2014 mostrou também um Presidente em autêntico «contra-relógio»: a dez meses das eleições intercalares, Obama quer resultados concretos ainda nesta sessão legislativa.
Obama insistiu na necessidade da reforma da Imigração, de uma lei que restrinja o acesso às armas e apontou para uma Energy Bill que coloque a América na rota da independência energética.
Tal como na questão do aumento do salário mínimo, o Presidente defendeu que uma «reforma da Imigração compreensiva terá benefícios económicos a longo prazo». Não criticou diretamente, por isso, a House republicana por não se ter ainda chegado a um acordo, mas expôs as vantagens que todos terão quando se chegar a entendimento quanto aos cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais.
Quanto ao «ObamaCare», termo que para bem ou para o mal definirá, nos livros de história, os dois mandatos do 44.º Presidente dos EUA, Obama escolheu Amanda Shelley, uma médica assistente de 37 anos, natural do Arizona, que não tinha seguro de saúde e já sentiu os benefícios da lei de cuidados de saúde promovida por esta administração.
Ação, combate e otimismo. O Presidente aproveitou o momento mais importante do ano político da América para voltar a ter a bola do seu lado.
Terá algum benefício do seu antepenúltimo State of The Union?
O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: a importância dos «State of The Union»
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 28 DE JANEIRO DE 2014:
Barack Obama endereça esta terça à noite (9.00pm em Washington, duas da manhã em Lisboa) o seu sexto discurso sobre o Estado da União, antepenúltimo da sua presidência.
Em momento contraditório da sua presidência (os indicadores económicos muito favoráveis, mas as dificuldades internas de fazer aprovar a sua agenda nunca foram graves), Obama tentará, certamente, aproveitar o momento de maior carga simbólica de cada ano político na América para recuperar para si a bola do difícil jogo de forças em Washington.
O Presidente prometeu para 2014 um «ano de ação». A ideia deve dominar o tom do discurso desta madrugada. E surge como uma necessidade para um Barack Obama que começa em contagem decrescente na gestão política e mediática da sua passagem pela Casa Branca.
É certo que ainda faltam três anos para terminar o segundo mandato. Mas na política americana é mais importante o tempo psicológico do que a realidade do cronómetro: estamos a poucos meses das intercalares para o Congresso e logo a seguir começa a corrida a sério para as nomeações partidárias para as presidenciais de 2016.
O ano político de 2014, que na prática começa esta noite com o sexto «State of The Union» com a assinatura de Obama, será talvez a última grande oportunidade para o 44.º Presidente dos EUA deixar a marca legislativa que prometera alcançar.
Há quatro focos essenciais que Obama tem que vencer nos próximos meses e que, certamente, servirão de linhas força do seu discurso desta noite.
O ObamaCare, já transformado em lei, continua com problemas de implementação e não é querido pela maioria dos americanos; a Reforma da Imigração, em discussão no Senado, terá que ter uma proposta consensual até ao verão; o «gun control», maior falhanço legislativo da Casa Branca em 2013, terá um «final push» de risco nos próximos meses; o aumento do salário mínimo e o prolongamento dos subsídios de desemprego, exigidos pelos liberais e assumidos pelo Presidente, mantêm feroz oposição da direita «tea party».
É de esperar que Obama carregue nestas quatro ideias e puxe da sua legimidade presidencial esta noite. Mas o momento político não o favorece: as últimas sondagens dão-lhe pouco mais de 40% de taxa de aprovação e uma maioria dos americanos a discordar das suas decisões.
Mas não se pense que os opositores de Obama estarão em vantagem no State of The Union desta noite.
A história recente realça a especial dificuldade para quem se coloca na posição de reagir, logo a seguir, ao discurso do Presidente.
O caso mais visível foi, no ano passado, o de Marco Rubio. O jovem e ambicioso senador republicano da Florida, «presidential hopeful» para 2016, teve o pior momento da sua carreira política, quando se viu obrigado a parar por largos segundos e beber, em direto, para milhões de americanos, um copo de água.
Um momento que chegou a ser bizarro, na arena mediática altamente preparada da alta política americana.
Quatro anos antes, em 2009, o governador Bobby Jindal, então com esperanças de nomeação presidencial republicana para 2012, chegou a ser gozado por não ter conseguido adotar uma postura minimamente equiparável à do Presidente.
A democrata Kathleen Sebelius, então governadora do Kansas e hoje secretária da Saúde da Administração Obama, fez a última reação aos «State of The Union» dos anos Bush e Bob McDonnell, então governador republicano da Virgínia, fez a resposta ao «Estado da União» de Obama em 2010.
As intervenções de Sebelius e McDonell não entraram para a história (nem por boas nem por más razões). Mas a verdade é que, anos depois, estão hoje ambos em maus lençóis: Kathleen tem culpas no fracasso da implementação do ObamaCare, Bob está a contas com um escândalo de caráter.
Será caso para falarmos numa «maldição» das respostas ao Estado da União?
Barack Obama endereça esta terça à noite (9.00pm em Washington, duas da manhã em Lisboa) o seu sexto discurso sobre o Estado da União, antepenúltimo da sua presidência.
Em momento contraditório da sua presidência (os indicadores económicos muito favoráveis, mas as dificuldades internas de fazer aprovar a sua agenda nunca foram graves), Obama tentará, certamente, aproveitar o momento de maior carga simbólica de cada ano político na América para recuperar para si a bola do difícil jogo de forças em Washington.
O Presidente prometeu para 2014 um «ano de ação». A ideia deve dominar o tom do discurso desta madrugada. E surge como uma necessidade para um Barack Obama que começa em contagem decrescente na gestão política e mediática da sua passagem pela Casa Branca.
É certo que ainda faltam três anos para terminar o segundo mandato. Mas na política americana é mais importante o tempo psicológico do que a realidade do cronómetro: estamos a poucos meses das intercalares para o Congresso e logo a seguir começa a corrida a sério para as nomeações partidárias para as presidenciais de 2016.
O ano político de 2014, que na prática começa esta noite com o sexto «State of The Union» com a assinatura de Obama, será talvez a última grande oportunidade para o 44.º Presidente dos EUA deixar a marca legislativa que prometera alcançar.
Há quatro focos essenciais que Obama tem que vencer nos próximos meses e que, certamente, servirão de linhas força do seu discurso desta noite.
O ObamaCare, já transformado em lei, continua com problemas de implementação e não é querido pela maioria dos americanos; a Reforma da Imigração, em discussão no Senado, terá que ter uma proposta consensual até ao verão; o «gun control», maior falhanço legislativo da Casa Branca em 2013, terá um «final push» de risco nos próximos meses; o aumento do salário mínimo e o prolongamento dos subsídios de desemprego, exigidos pelos liberais e assumidos pelo Presidente, mantêm feroz oposição da direita «tea party».
É de esperar que Obama carregue nestas quatro ideias e puxe da sua legimidade presidencial esta noite. Mas o momento político não o favorece: as últimas sondagens dão-lhe pouco mais de 40% de taxa de aprovação e uma maioria dos americanos a discordar das suas decisões.
Mas não se pense que os opositores de Obama estarão em vantagem no State of The Union desta noite.
A história recente realça a especial dificuldade para quem se coloca na posição de reagir, logo a seguir, ao discurso do Presidente.
O caso mais visível foi, no ano passado, o de Marco Rubio. O jovem e ambicioso senador republicano da Florida, «presidential hopeful» para 2016, teve o pior momento da sua carreira política, quando se viu obrigado a parar por largos segundos e beber, em direto, para milhões de americanos, um copo de água.
Um momento que chegou a ser bizarro, na arena mediática altamente preparada da alta política americana.
Quatro anos antes, em 2009, o governador Bobby Jindal, então com esperanças de nomeação presidencial republicana para 2012, chegou a ser gozado por não ter conseguido adotar uma postura minimamente equiparável à do Presidente.
A democrata Kathleen Sebelius, então governadora do Kansas e hoje secretária da Saúde da Administração Obama, fez a última reação aos «State of The Union» dos anos Bush e Bob McDonnell, então governador republicano da Virgínia, fez a resposta ao «Estado da União» de Obama em 2010.
As intervenções de Sebelius e McDonell não entraram para a história (nem por boas nem por más razões). Mas a verdade é que, anos depois, estão hoje ambos em maus lençóis: Kathleen tem culpas no fracasso da implementação do ObamaCare, Bob está a contas com um escândalo de caráter.
Será caso para falarmos numa «maldição» das respostas ao Estado da União?
Histórias da Casa Branca: o Estado da União, versão Obama
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 27 DE JANEIRO DE 2014:
«Não há nenhum desafio mais urgente nem nenhum debate mais importante. Podemos contentar-nos com um país em que um número reduzido de pessoas vive muito bem, enquanto um número cada vez maior de americanos sobrevive com dificuldade. Ou então podemos restaurar uma economia em que toda a gente dá a sua contribuição e toda a gente joga pelas mesmas regras. O que está em causa não são valores democratas ou republicanos, mas valores americanos ¿ e temos de os ressuscitar. Os milhões de americanos que trabalham no duro e cumprem as regras merecem que o Governo e o sistema financeiro façam o mesmo. As regras têm de ser iguais para todos ¿ sem resgates, nem dádivas, nem compromissos. Uma América de futuro tem de exigir responsabilidade a todos»
Barack Obama, discurso do Estado da União 2012
Barack Obama vai endereçar esta terça à noite o seu sexto discurso sobre o Estado da União, o antepenúltimo antes de abandonar a Casa Branca.
Em 2009, o primeiro «State the Union» da era Obama ainda foi feito em clima de euforia de vitória eleitoral. O de 2010, pelo contrário, ocorreu poucos dias depois da perda da supermaioria democrata no Senado e num clima de extrema dificuldade política, perante a iminência da queda da Reforma da Saúde.
A «Affordable Health Care Bill» viria a ser aprovada no Congresso dois meses depois desse discurso, mas esse viria a ser apenas o primeiro de um longo e custoso percurso que, três anos depois, ainda não está concluído.
Em 2011, Obama aproveitou o seu terceiro State of The Union para mostrar ao Congresso que, apenas dois meses depois da brutal derrota que os democratas sofreram nas intercalares, continuava a ter condições para impor uma agenda própria a partir da Casa Branca.
No discurso que ficou conhecido como «Winning the future», apontou a América como «país que continuará a ser fundamental em todas as grandes questões mundiais» e exortou: «Não há nenhuma razão para que os EUA não sejam liderantes na inovação e no conhecimento, apesar dos avanços de países como a Índia ou a China. Este é o momento Sputnik desta geração».
Um ano depois, em 2012, Obama escolheu como motes para o seu quinto State of the Union «Acreditar na América e numa Economia construída para durar».
Já em plena campanha para a reeleição, focou-se na recuperação e aproveitou o momento para sublinhar a criação de empregos já conquistada nessa altura: «Estes são os factos: nos últimos 22 meses, foram criados mais de três milhões de postos de trabalho. As empresas americanas estão a contratar, acrescentando emprego à economia pela primeira vez desde o fim dos anos 90».
No ano passado, meses depois da reeeleição e apenas três semanas após a tomada de posse, Obama lançou, a 12 de fevereiro de 2013, uma ideia inesperada: uma plataforma de livre comércio entre EUA e Europa.
O problema é que, meses depois, os estilhaços do «caso Snowden» levaram a um clima de tensão entre a América e os seus históricos aliados europeus que impediu ou, no mínimo, adiou a concretização dessa ideia.
O Presidente tem dois grandes trunfos a lançar para o seu antepenúltimo State of The Union: os índices de desemprego (que baixa para níveis anteriores à crise de 2007/2009) e o crescimento económico (4,5%, já próximo dos valores pré-crise).
Mas tem vários «cisnes negros» a enfrentar. A experiência de anteriores discursos mostra que nem o momento de aparente consenso do State of The Union serve para curar feridas intensas entre democratas e republicanos.
A agenda da reeleição passou pela reforma da Imigração, pela solução da «Fiscal Cliff» e pela manutenção de apoios sociais promovido pelo governo federal.
Terá Barack Obama condições para lançar uma nova ideia forte na terça à noite?
«Não há nenhum desafio mais urgente nem nenhum debate mais importante. Podemos contentar-nos com um país em que um número reduzido de pessoas vive muito bem, enquanto um número cada vez maior de americanos sobrevive com dificuldade. Ou então podemos restaurar uma economia em que toda a gente dá a sua contribuição e toda a gente joga pelas mesmas regras. O que está em causa não são valores democratas ou republicanos, mas valores americanos ¿ e temos de os ressuscitar. Os milhões de americanos que trabalham no duro e cumprem as regras merecem que o Governo e o sistema financeiro façam o mesmo. As regras têm de ser iguais para todos ¿ sem resgates, nem dádivas, nem compromissos. Uma América de futuro tem de exigir responsabilidade a todos»
Barack Obama, discurso do Estado da União 2012
Barack Obama vai endereçar esta terça à noite o seu sexto discurso sobre o Estado da União, o antepenúltimo antes de abandonar a Casa Branca.
Em 2009, o primeiro «State the Union» da era Obama ainda foi feito em clima de euforia de vitória eleitoral. O de 2010, pelo contrário, ocorreu poucos dias depois da perda da supermaioria democrata no Senado e num clima de extrema dificuldade política, perante a iminência da queda da Reforma da Saúde.
A «Affordable Health Care Bill» viria a ser aprovada no Congresso dois meses depois desse discurso, mas esse viria a ser apenas o primeiro de um longo e custoso percurso que, três anos depois, ainda não está concluído.
Em 2011, Obama aproveitou o seu terceiro State of The Union para mostrar ao Congresso que, apenas dois meses depois da brutal derrota que os democratas sofreram nas intercalares, continuava a ter condições para impor uma agenda própria a partir da Casa Branca.
No discurso que ficou conhecido como «Winning the future», apontou a América como «país que continuará a ser fundamental em todas as grandes questões mundiais» e exortou: «Não há nenhuma razão para que os EUA não sejam liderantes na inovação e no conhecimento, apesar dos avanços de países como a Índia ou a China. Este é o momento Sputnik desta geração».
Um ano depois, em 2012, Obama escolheu como motes para o seu quinto State of the Union «Acreditar na América e numa Economia construída para durar».
Já em plena campanha para a reeleição, focou-se na recuperação e aproveitou o momento para sublinhar a criação de empregos já conquistada nessa altura: «Estes são os factos: nos últimos 22 meses, foram criados mais de três milhões de postos de trabalho. As empresas americanas estão a contratar, acrescentando emprego à economia pela primeira vez desde o fim dos anos 90».
No ano passado, meses depois da reeeleição e apenas três semanas após a tomada de posse, Obama lançou, a 12 de fevereiro de 2013, uma ideia inesperada: uma plataforma de livre comércio entre EUA e Europa.
O problema é que, meses depois, os estilhaços do «caso Snowden» levaram a um clima de tensão entre a América e os seus históricos aliados europeus que impediu ou, no mínimo, adiou a concretização dessa ideia.
O Presidente tem dois grandes trunfos a lançar para o seu antepenúltimo State of The Union: os índices de desemprego (que baixa para níveis anteriores à crise de 2007/2009) e o crescimento económico (4,5%, já próximo dos valores pré-crise).
Mas tem vários «cisnes negros» a enfrentar. A experiência de anteriores discursos mostra que nem o momento de aparente consenso do State of The Union serve para curar feridas intensas entre democratas e republicanos.
A agenda da reeleição passou pela reforma da Imigração, pela solução da «Fiscal Cliff» e pela manutenção de apoios sociais promovido pelo governo federal.
Terá Barack Obama condições para lançar uma nova ideia forte na terça à noite?
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: foco numa recuperação durável
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 23 DE JANEIRO DE 2014:
Barack Obama prepara o seu antepenúltimo discurso sobre o Estado da União (terça à noite) e está a arrancar o segundo ano do segundo mandato presidencial.
O «hope and change» há muito que já lá vai. É certo que, na política americana, os ciclos são cada vez mais curtos. Mas Obama tem exatamente três anos para deixar um legado.
A certidão de óbito política do 44.º Presidente dos EUA já foi passada várias vezes. Mas continua a ser prematuro que ela seja selada em definitivo.
Obama quer «ação»: «E sempre que isso não for possível com o Congresso, exigirei que ação seja feita a partir da Casa Branca», exortou o Presidente, no discurso semanal em vídeo, do passado domingo.
Há um ano, o discurso do Estado da União foi marcado pela «concretização». Nos meses seguintes, a Câmara dos Representantes foi bloqueando/adiando as prioridades do Presidente: imigração, «gun control», subida do salário mínimo, prolongamento dos subsídios de desemprego.
Com o acordo bipartidário no Congresso para assegurar o orçamento, não se prevê nova crise da dimensão do «shutdown» de 16 dias que paralisou Washington em outubro passado.
A extensão do subsídios de desemprego deverá ser um dos temas fortes do discurso de Obama na próxima terça: «O Congresso tem que passar esta legislação de imediato! Há 14 milhões de americanos que estão à espera dessa aprovação».
Este tipo de apelos tem dominado a relação tensa entre Casa Branca e Câmara dos Representantes republicana. A escassa maioria democrata num Senado vulnerável a «filibusters» (minorias de bloqueio).
Há, por isso, uma preocupação eleitoral a dominar os próximos meses da agenda do Presidente.
É errada a ideia de que Obama já não tem tempo deixar a sua marca. Em três anos, muito pode ser conseguido. Mas para que Obama possa atacar a reta final do seu mandato em boas condições de concretizar as prioridades, será essencial que os democratas pelo menos mantenham a vantagem que têm no Senado. E seria conveniente que obtivessem o controlo da House (ou, pelo menos, reduzissem a diferença para os republicanos).
Mesmo assim, não é de prever que Obama tenha um envolvimento muito direto na campanha para as intercalares.
A agenda da Casa Branca, e a sua estratégia de comunicação, tem sido, desde 2010, cada vez mais independente dos temas que dominam o registo dos democratas. O desastre eleitoral de novebembro de 2010 foi, nessa medida, exemplar: muitos congressistas e senadores democratas sentiram-se prejudicados eleitoralmente por questões como o «ObamaCare»; o Presidente perdeu em definitivo o «estado de graça» com a hecatombe dessas «midterms» e acabou por conseguir a reeleição, dois anos depois, à custa dos seus créditos políticos.
Com a implementação do ObamaCare a começar a dar os seus frutos (e com a crise comunicacional a esvair-se com a passagem do tempo), é de prever que o Presidente recentre o foco da sua mensagem na recuperação económica (sem dúvida o maior trunfo dos cinco anos de sua presidência): «Na nossa vasta economia, há claros sinais de recuperação. Em parte, isso deve-se aos benefícios do Affordable Health Care Act, que reduzem os custos da saúde», destacou o Presidente na sua mensagem semanal.
Por isso, Obama tenciona destacar, no Estado da União, a economia como um trunfo: «Vou mobilizar o país em torno da missão de assegurar que a nossa economia ofereça a todo que trabalham arduamente uma justa oportunidade de atingir o sucesso».
Doyle McManus, no LA Times, nota: «A economia está finalmente a recuperar, saída das cinzas da Grande Recessão. As previsões apontam para um crescimento de 3%, com o desemprego a caminhar para os 6,5%. Os Presidentes levam com as culpas quando a economia está mal. Mas também devem receber créditos políticos quando a economia mostra melhorias».
Barack Obama prepara o seu antepenúltimo discurso sobre o Estado da União (terça à noite) e está a arrancar o segundo ano do segundo mandato presidencial.
O «hope and change» há muito que já lá vai. É certo que, na política americana, os ciclos são cada vez mais curtos. Mas Obama tem exatamente três anos para deixar um legado.
A certidão de óbito política do 44.º Presidente dos EUA já foi passada várias vezes. Mas continua a ser prematuro que ela seja selada em definitivo.
Obama quer «ação»: «E sempre que isso não for possível com o Congresso, exigirei que ação seja feita a partir da Casa Branca», exortou o Presidente, no discurso semanal em vídeo, do passado domingo.
Há um ano, o discurso do Estado da União foi marcado pela «concretização». Nos meses seguintes, a Câmara dos Representantes foi bloqueando/adiando as prioridades do Presidente: imigração, «gun control», subida do salário mínimo, prolongamento dos subsídios de desemprego.
Com o acordo bipartidário no Congresso para assegurar o orçamento, não se prevê nova crise da dimensão do «shutdown» de 16 dias que paralisou Washington em outubro passado.
A extensão do subsídios de desemprego deverá ser um dos temas fortes do discurso de Obama na próxima terça: «O Congresso tem que passar esta legislação de imediato! Há 14 milhões de americanos que estão à espera dessa aprovação».
Este tipo de apelos tem dominado a relação tensa entre Casa Branca e Câmara dos Representantes republicana. A escassa maioria democrata num Senado vulnerável a «filibusters» (minorias de bloqueio).
Há, por isso, uma preocupação eleitoral a dominar os próximos meses da agenda do Presidente.
É errada a ideia de que Obama já não tem tempo deixar a sua marca. Em três anos, muito pode ser conseguido. Mas para que Obama possa atacar a reta final do seu mandato em boas condições de concretizar as prioridades, será essencial que os democratas pelo menos mantenham a vantagem que têm no Senado. E seria conveniente que obtivessem o controlo da House (ou, pelo menos, reduzissem a diferença para os republicanos).
Mesmo assim, não é de prever que Obama tenha um envolvimento muito direto na campanha para as intercalares.
A agenda da Casa Branca, e a sua estratégia de comunicação, tem sido, desde 2010, cada vez mais independente dos temas que dominam o registo dos democratas. O desastre eleitoral de novebembro de 2010 foi, nessa medida, exemplar: muitos congressistas e senadores democratas sentiram-se prejudicados eleitoralmente por questões como o «ObamaCare»; o Presidente perdeu em definitivo o «estado de graça» com a hecatombe dessas «midterms» e acabou por conseguir a reeleição, dois anos depois, à custa dos seus créditos políticos.
Com a implementação do ObamaCare a começar a dar os seus frutos (e com a crise comunicacional a esvair-se com a passagem do tempo), é de prever que o Presidente recentre o foco da sua mensagem na recuperação económica (sem dúvida o maior trunfo dos cinco anos de sua presidência): «Na nossa vasta economia, há claros sinais de recuperação. Em parte, isso deve-se aos benefícios do Affordable Health Care Act, que reduzem os custos da saúde», destacou o Presidente na sua mensagem semanal.
Por isso, Obama tenciona destacar, no Estado da União, a economia como um trunfo: «Vou mobilizar o país em torno da missão de assegurar que a nossa economia ofereça a todo que trabalham arduamente uma justa oportunidade de atingir o sucesso».
Doyle McManus, no LA Times, nota: «A economia está finalmente a recuperar, saída das cinzas da Grande Recessão. As previsões apontam para um crescimento de 3%, com o desemprego a caminhar para os 6,5%. Os Presidentes levam com as culpas quando a economia está mal. Mas também devem receber créditos políticos quando a economia mostra melhorias».
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: começa hoje o ano seis da Presidência Obama
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 21 DE JANEIRO DE 2014:
Barack Obama completa hoje o primeiro ano do segundo mandato como Presidente dos EUA.
A 21 de janeiro de 2013, perante 700 mil pessoas (menos de metade da multidão que abarrotou o Washington Mall quatro anos antes), o 44.º Presidente anunciava um segundo mandato mais ideológico e com menos preocupação de «obter consensos».
Um ano depois, o que vemos é que o clima da paralisação em Washington até se agravou no arranque do segundo mandato.
Mas olhando para os indicadores económicos na América (o ano de 2013 terminou com um crescimento de 4,5% e taxa de desemprego de 6,7%), verificamos que os anos Obama estão a ser marcados por recuperação sólida e continuada (a este ritmo, 2015 pode mostrar índices iguais ou até melhores aos anos anteriores à crise).
Obama inicia hoje o sexto ano da sua presidência. E tem repetido, nas intervenções públicas feitas nas últimas semanas (conferência de Imprensa de balanço de 2013; anúncio de restrições ao programa de vigilância da NSA), uma ideia forte: este terá que ser «um ano de ação».
É certo que as promessas de «hope and change» já perderam apelo político, encravadas por cinco anos de obstrucionismo republicano no Congresso.
Mas é também verdade que Obama ainda não desistiu de aproveitar os últimos três anos do seu mandato presidencial para cumprir grande parte da sua agenda.
O «gun control», que sofreu duro revés em abril passado, está novamente na lista de prioridades da Casa Branca, prevendo-se nova proposta a apresentar nos próximos meses.
A estratégia de Obama para 2014 parece passar por contornar, sempre que possível, o Congresso. EJ Dionne explica, no Washington Post: «Quando um grupo de responsáveis do setor se juntaram na semana passada para ajudar nos esforços do Presidente Obama de tornar possível que os estudantes com parcos recursos económicos acedam à universidade, estavam entusiasmados com os acordos conseguidos com reitores de universidades e fundações, de modo a derrubar barreiras sobre os pobres e sobre crianças provenientes de minorias desfavorecidas. Falaram de reduzir propinas, descreveram passos para minorar o fosso entre classes. Tudo boas ideias que até devotos conservadores poderia apoiar. Nenhuma requer a ação do Congresso. Nenhuma envolve o dispêndio de mais gastos públicos».
Boa parte dos sucessos que Obama poderá vir a ter em 2014 passa por este tipo de temas: apoios reais sobre gente real, sem ter que passar pela «chantagem» de um Congresso infetado pela oposição cega dos republicanos em temas essenciais.
Nos últimos cinco anos, grande parte das esperanças criadas pela eleição de Obama foram caindo aos pés de um sistema disfuncional.
Na frente externa, o acordo com o Irão colhe frutos: ainda ontem, foi anunciada a suspensão de sanções dos EUA sobre Teerão, como forma de compensar a redução da ameaça nuclear iraniana.
Mas as ondas de choque do «caso Snowden» continuam a gerar interpretações contraditórias. Para quem tem interesse no tema, vale a pena ver esta discussão na CNN entre Ruth Marcus, editorialista do Washington Post, e Glenn Greenwald, colunista do «Salon» que agora vive no Brasil (http://youtu.be/OouL16eWQvk)
O recente discurso de Obama, a anunciar restrições ao programa de vigilância da NSA, definiu bem a visão do Presidente sobre este tema tão sensível para a sua Administração.
O Presidente deixou claro que não quer ver a América «a espiar os seus amigos e aliados», reforçou ideia já transmitida de que «os EUA não andam a coscuvilhar mensagens e telefonemas de índole privada dos cidadãos», mas avisou, de forma pragmática: «As nossas agências continuarão a obter informações sobre as intenções dos Governos em todo o mundo, tal como o fazem as de as de todos os outros países. Não pedimos desculpa por sermos mais eficazes».
Barack Obama completa hoje o primeiro ano do segundo mandato como Presidente dos EUA.
A 21 de janeiro de 2013, perante 700 mil pessoas (menos de metade da multidão que abarrotou o Washington Mall quatro anos antes), o 44.º Presidente anunciava um segundo mandato mais ideológico e com menos preocupação de «obter consensos».
Um ano depois, o que vemos é que o clima da paralisação em Washington até se agravou no arranque do segundo mandato.
Mas olhando para os indicadores económicos na América (o ano de 2013 terminou com um crescimento de 4,5% e taxa de desemprego de 6,7%), verificamos que os anos Obama estão a ser marcados por recuperação sólida e continuada (a este ritmo, 2015 pode mostrar índices iguais ou até melhores aos anos anteriores à crise).
Obama inicia hoje o sexto ano da sua presidência. E tem repetido, nas intervenções públicas feitas nas últimas semanas (conferência de Imprensa de balanço de 2013; anúncio de restrições ao programa de vigilância da NSA), uma ideia forte: este terá que ser «um ano de ação».
É certo que as promessas de «hope and change» já perderam apelo político, encravadas por cinco anos de obstrucionismo republicano no Congresso.
Mas é também verdade que Obama ainda não desistiu de aproveitar os últimos três anos do seu mandato presidencial para cumprir grande parte da sua agenda.
O «gun control», que sofreu duro revés em abril passado, está novamente na lista de prioridades da Casa Branca, prevendo-se nova proposta a apresentar nos próximos meses.
A estratégia de Obama para 2014 parece passar por contornar, sempre que possível, o Congresso. EJ Dionne explica, no Washington Post: «Quando um grupo de responsáveis do setor se juntaram na semana passada para ajudar nos esforços do Presidente Obama de tornar possível que os estudantes com parcos recursos económicos acedam à universidade, estavam entusiasmados com os acordos conseguidos com reitores de universidades e fundações, de modo a derrubar barreiras sobre os pobres e sobre crianças provenientes de minorias desfavorecidas. Falaram de reduzir propinas, descreveram passos para minorar o fosso entre classes. Tudo boas ideias que até devotos conservadores poderia apoiar. Nenhuma requer a ação do Congresso. Nenhuma envolve o dispêndio de mais gastos públicos».
Boa parte dos sucessos que Obama poderá vir a ter em 2014 passa por este tipo de temas: apoios reais sobre gente real, sem ter que passar pela «chantagem» de um Congresso infetado pela oposição cega dos republicanos em temas essenciais.
Nos últimos cinco anos, grande parte das esperanças criadas pela eleição de Obama foram caindo aos pés de um sistema disfuncional.
Na frente externa, o acordo com o Irão colhe frutos: ainda ontem, foi anunciada a suspensão de sanções dos EUA sobre Teerão, como forma de compensar a redução da ameaça nuclear iraniana.
Mas as ondas de choque do «caso Snowden» continuam a gerar interpretações contraditórias. Para quem tem interesse no tema, vale a pena ver esta discussão na CNN entre Ruth Marcus, editorialista do Washington Post, e Glenn Greenwald, colunista do «Salon» que agora vive no Brasil (http://youtu.be/OouL16eWQvk)
O recente discurso de Obama, a anunciar restrições ao programa de vigilância da NSA, definiu bem a visão do Presidente sobre este tema tão sensível para a sua Administração.
O Presidente deixou claro que não quer ver a América «a espiar os seus amigos e aliados», reforçou ideia já transmitida de que «os EUA não andam a coscuvilhar mensagens e telefonemas de índole privada dos cidadãos», mas avisou, de forma pragmática: «As nossas agências continuarão a obter informações sobre as intenções dos Governos em todo o mundo, tal como o fazem as de as de todos os outros países. Não pedimos desculpa por sermos mais eficazes».
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: os 50 anos de Michelle Obama
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 17 DE JANEIRO DE 2014:
É muito mais popular que o marido, mas isso também não era difícil: depois da fase de «Obamania» da campanha de 2008, Barack Obama tem sido, nestes cinco anos de mandato na Casa Branca, um presidente com fracos índices de aprovação.
Michelle LaVaughn Robinson Obama, que hoje completa 50 anos, é uma das Primeiras Damas mais bem sucedidas da história americana.
Advogada de profissão, tirou Direito em Harvard (como Barack) e Sociologia em Princeton (com tese sobre a questão racial nos meios universitários).
Ao contrário de Barack, Michelle não tem ascendência mista: todas as raízes familiares são negras e Obama até lembrou, na primeira campanha, que «Michelle é descendente de escravos do sul, alguns deles até podem ter ajudado a construir a Casa Branca».
Nascida a 17 de janeiro de 1964 (completa assim, esta sexta-feira, meio século), em Chicago, filha de um antigo técnico de caldeiras envolvido no Partido Democrata (Frasier) e de uma secretária que viria a ficar desempregada em idade ativa (Marian), irmã de Craig, treinador de basquete e antigo jogador da NBA, Michelle é produto da típica família negra do «south side» de Chicago.
A vida dos pais de Michelle nunca foi fácil, sobretudo depois do desemprego de Marian.
Mas a aposta na educação dos filhos sempre foi prioritária.
No caso de Michelle, os dois cursos em universidades «Ivy League» confirmaram os méritos dessa aposta. Rapidamente, a jovem advogada encontrou lugar na «Sidley Austin», firma de Chicago onde Michelle teve como Barack como estagiário.
Uns tempos depois de se conhecerem, Michelle lá aceitou o convite de Barack para irem comer um gelado da «Baskin & Robbins». O resto da história é conhecido.
Em contraste com o casal Clinton, que terá resistido a todos os escândalos em que Bill se viu envolvido graças às sólidas ambições políticas de Hillary (que poderão vir a ter como auge a sua eleição presidencial em novembro de 2016), Michelle não tem ambições políticas próprias.
Assumiu uma visão discreta do posto (não oficial, mas muito importante) de Primeira Dama. Tem uma agenda própria e dedica-a, quase em exclusivo, à luta contra a obesidade infantil, por hábitos de vida saudável.
Numa América com percentagens escandalosas de gente com peso a mais, é cedo para cantar vitórias, mas os últimos anos têm mostrado ligeira redução do problema entre os mais jovens.
Em nome dessa causa, já dançou ao vivo em «prime time» na TV com Jimmy Fallon e fez flexões no programa de Ellen (sempre com muito estilo, no seu registo «cool»).
Tem respeitado a longa tradição de apoio que as Primeiras Damas americanas dão às famílias de quem soldados em zonas de conflito (marca de gerações nos EUA), tarefa que tem partilhado com Jill, a mulher do vice-presidente Joe Biden.
A festa dos 50 anos de Michelle está marcada para amanhã, sábado, no East Room da mansão presidencial. E o tema da festa não poderia ser mais informal: «Snacks & Sips & Dancing & Dessert» (Aperitivos, bebidas, dança e sobremesa».
Não quer ser a primeira mulher negra presidente dos EUA. Mas há muito que Michelle Obama é já uma Primeira Dama respeitada pela América.
É muito mais popular que o marido, mas isso também não era difícil: depois da fase de «Obamania» da campanha de 2008, Barack Obama tem sido, nestes cinco anos de mandato na Casa Branca, um presidente com fracos índices de aprovação.
Michelle LaVaughn Robinson Obama, que hoje completa 50 anos, é uma das Primeiras Damas mais bem sucedidas da história americana.
Advogada de profissão, tirou Direito em Harvard (como Barack) e Sociologia em Princeton (com tese sobre a questão racial nos meios universitários).
Ao contrário de Barack, Michelle não tem ascendência mista: todas as raízes familiares são negras e Obama até lembrou, na primeira campanha, que «Michelle é descendente de escravos do sul, alguns deles até podem ter ajudado a construir a Casa Branca».
Nascida a 17 de janeiro de 1964 (completa assim, esta sexta-feira, meio século), em Chicago, filha de um antigo técnico de caldeiras envolvido no Partido Democrata (Frasier) e de uma secretária que viria a ficar desempregada em idade ativa (Marian), irmã de Craig, treinador de basquete e antigo jogador da NBA, Michelle é produto da típica família negra do «south side» de Chicago.
A vida dos pais de Michelle nunca foi fácil, sobretudo depois do desemprego de Marian.
Mas a aposta na educação dos filhos sempre foi prioritária.
No caso de Michelle, os dois cursos em universidades «Ivy League» confirmaram os méritos dessa aposta. Rapidamente, a jovem advogada encontrou lugar na «Sidley Austin», firma de Chicago onde Michelle teve como Barack como estagiário.
Uns tempos depois de se conhecerem, Michelle lá aceitou o convite de Barack para irem comer um gelado da «Baskin & Robbins». O resto da história é conhecido.
Em contraste com o casal Clinton, que terá resistido a todos os escândalos em que Bill se viu envolvido graças às sólidas ambições políticas de Hillary (que poderão vir a ter como auge a sua eleição presidencial em novembro de 2016), Michelle não tem ambições políticas próprias.
Assumiu uma visão discreta do posto (não oficial, mas muito importante) de Primeira Dama. Tem uma agenda própria e dedica-a, quase em exclusivo, à luta contra a obesidade infantil, por hábitos de vida saudável.
Numa América com percentagens escandalosas de gente com peso a mais, é cedo para cantar vitórias, mas os últimos anos têm mostrado ligeira redução do problema entre os mais jovens.
Em nome dessa causa, já dançou ao vivo em «prime time» na TV com Jimmy Fallon e fez flexões no programa de Ellen (sempre com muito estilo, no seu registo «cool»).
Tem respeitado a longa tradição de apoio que as Primeiras Damas americanas dão às famílias de quem soldados em zonas de conflito (marca de gerações nos EUA), tarefa que tem partilhado com Jill, a mulher do vice-presidente Joe Biden.
A festa dos 50 anos de Michelle está marcada para amanhã, sábado, no East Room da mansão presidencial. E o tema da festa não poderia ser mais informal: «Snacks & Sips & Dancing & Dessert» (Aperitivos, bebidas, dança e sobremesa».
Não quer ser a primeira mulher negra presidente dos EUA. Mas há muito que Michelle Obama é já uma Primeira Dama respeitada pela América.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: as críticas de Robert Gates
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 13 DE JANEIRO DE 2014:
A recondução de Robert Gates no posto de secretário da Defesa foi uma das primeiras decisões de Barack Obama, quando foi eleito pela primeira vez para a Casa Branca. E sinalizou uma visão de continuidade em relação à política externa, entre os anos finais de Bush e o primeiro mandato de Obama.
Na altura, a escolha fez sentido: apesar da aparente contradição de estar a manter no Pentágono alguém que havia sido indicado, dois anos antes, por George W. Bush, a verdade é que Barack Obama se revia na «surge» (reinvidicada no terreno pelos generais David Petraeus e Stanley McChrystal) para assegurar saída digna do Iraque e do Afeganistão.
O Obama-político prometia a retirada. O Obama-presidente sabia que antes de sair, havia que evitar um banho de sangue e «novos Vietnames».
Robert Gates, republicano moderado que serviu quase todos os presidentes desde Nixon, foi, assim, a escolha política certa para o momento. Gates acabaria por sair a meio do primeiro mandato presidencial de Obama, dando a vaga a Leon Panetta, democrata da «linha dura», menos familiarizado com as chefias militares, mas mais ligado aos interesses dos «lobies» de Washinghton.
O cumprimento dos «deadlines» para as diferentes etapas das retiradas do Iraque e do Afeganistão (a primeira está concretizada, a segunda conhece este ano a fase derradeira) e o sucesso na operação de eliminação física de Bin Laden e de outros líderes da cúpula da Al Qaeda fizeram da questão militar um dos pontos mais fortes do primeiro mandato de Obama.
Mas nem tudo foi pacífico no relacionamento do Presidente com as chefias militares (crucial no legado dos presidentes americanos).
O rescaldo da «Operação Geronimo», a tal que terminou de Bin Laden (maio 2011), já tinha apontado alguma tensão entre a Casa Branca e o Pentágono.
No livro «Duty - Memoirs of a Secretary at War», Robert Gates assume que estava contra a eliminação de Bin Laden, receando um fracasso monumental para o Presidente. «Foi uma das decisões mais corajosas que já testemunhei na Casa Branca», assumiu Gates.
Foi das poucas passagens elogiosas para o Presidente. Neste livro de memórias, publicados há dias nos EUA, Robert Gates acusa Obama de duvidar dos planos militares que traçou para o Afeganistão.
«O Presidente não considerava sua a guerra do Afeganistão. Ele estava cético, se não completamente convencido que iria falhar», aponta Robert, desenvolvendo: «O seu problema fundamental com o Afeganistão era que as suas preferências políticas e filosóficas para a diminuição do papel dos EUA eram contraditórias com a sua retórica a favor da guerra, com as recomendações quase unânimes dos seus conselheiros e com a realidade no terreno».
A verdade é que Obama promoveu um reforço de 30 mil soldados no Afeganistão, defendendo-o em discurso em West Point que até foi elogiado por setores republicanos. Nestas memórias, Gates observa: «Nunca duvidei do apoio de Obama às tropas, apenas do seu apoio à missão».
As críticas mais fortes, no entanto, vão para o vice-presidente Joe Biden. Desde o caso da demissão de Stanley McChrystal (o general que comandava o ISAF, no Afeganistão, o Joint Special Operations Command), ficaram notórias as divergências entre os chefes militares e o vice-presidente.
No verão de 2010, McChrystal deu uma entrevista à Rolling Stone assumindo um registo improvável para um general com as suas responsabilidades. Entre outras coisas imprevistas, arrasou Joe Biden, a quem acusou de não ter a mínima noção do que se passa no terreno e no mundo militar.
Três anos e meio depois, o livro de Robert Gates reforça a tese de McChrystal: «Joe Biden envenenou as águas do poço contra as chefias militares» e «esteve errado em quase todos os grandes assuntos da política externa nas últimas quatro décadas».
A recondução de Robert Gates no posto de secretário da Defesa foi uma das primeiras decisões de Barack Obama, quando foi eleito pela primeira vez para a Casa Branca. E sinalizou uma visão de continuidade em relação à política externa, entre os anos finais de Bush e o primeiro mandato de Obama.
Na altura, a escolha fez sentido: apesar da aparente contradição de estar a manter no Pentágono alguém que havia sido indicado, dois anos antes, por George W. Bush, a verdade é que Barack Obama se revia na «surge» (reinvidicada no terreno pelos generais David Petraeus e Stanley McChrystal) para assegurar saída digna do Iraque e do Afeganistão.
O Obama-político prometia a retirada. O Obama-presidente sabia que antes de sair, havia que evitar um banho de sangue e «novos Vietnames».
Robert Gates, republicano moderado que serviu quase todos os presidentes desde Nixon, foi, assim, a escolha política certa para o momento. Gates acabaria por sair a meio do primeiro mandato presidencial de Obama, dando a vaga a Leon Panetta, democrata da «linha dura», menos familiarizado com as chefias militares, mas mais ligado aos interesses dos «lobies» de Washinghton.
O cumprimento dos «deadlines» para as diferentes etapas das retiradas do Iraque e do Afeganistão (a primeira está concretizada, a segunda conhece este ano a fase derradeira) e o sucesso na operação de eliminação física de Bin Laden e de outros líderes da cúpula da Al Qaeda fizeram da questão militar um dos pontos mais fortes do primeiro mandato de Obama.
Mas nem tudo foi pacífico no relacionamento do Presidente com as chefias militares (crucial no legado dos presidentes americanos).
O rescaldo da «Operação Geronimo», a tal que terminou de Bin Laden (maio 2011), já tinha apontado alguma tensão entre a Casa Branca e o Pentágono.
No livro «Duty - Memoirs of a Secretary at War», Robert Gates assume que estava contra a eliminação de Bin Laden, receando um fracasso monumental para o Presidente. «Foi uma das decisões mais corajosas que já testemunhei na Casa Branca», assumiu Gates.
Foi das poucas passagens elogiosas para o Presidente. Neste livro de memórias, publicados há dias nos EUA, Robert Gates acusa Obama de duvidar dos planos militares que traçou para o Afeganistão.
«O Presidente não considerava sua a guerra do Afeganistão. Ele estava cético, se não completamente convencido que iria falhar», aponta Robert, desenvolvendo: «O seu problema fundamental com o Afeganistão era que as suas preferências políticas e filosóficas para a diminuição do papel dos EUA eram contraditórias com a sua retórica a favor da guerra, com as recomendações quase unânimes dos seus conselheiros e com a realidade no terreno».
A verdade é que Obama promoveu um reforço de 30 mil soldados no Afeganistão, defendendo-o em discurso em West Point que até foi elogiado por setores republicanos. Nestas memórias, Gates observa: «Nunca duvidei do apoio de Obama às tropas, apenas do seu apoio à missão».
As críticas mais fortes, no entanto, vão para o vice-presidente Joe Biden. Desde o caso da demissão de Stanley McChrystal (o general que comandava o ISAF, no Afeganistão, o Joint Special Operations Command), ficaram notórias as divergências entre os chefes militares e o vice-presidente.
No verão de 2010, McChrystal deu uma entrevista à Rolling Stone assumindo um registo improvável para um general com as suas responsabilidades. Entre outras coisas imprevistas, arrasou Joe Biden, a quem acusou de não ter a mínima noção do que se passa no terreno e no mundo militar.
Três anos e meio depois, o livro de Robert Gates reforça a tese de McChrystal: «Joe Biden envenenou as águas do poço contra as chefias militares» e «esteve errado em quase todos os grandes assuntos da política externa nas últimas quatro décadas».
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: a «campanha sombra» de Hillary Clinton
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 10 DE JANEIRO DE 2014:
Nas primárias de 2008, Hillary Clinton parecia ter quase tudo para agarrar a nomeação democrata: partiu com uma vantagem de 30 pontos sobre Barack Obama e John Edwards e de mais de 40 sobre todos os outros pretendentes presidenciais do seu partido.
A noção de «inevitabilidade» em torno da então senadora por Nova Iorque, que já ocupara a Casa Branca por oito anos durante os dois mandatos do marido, apontava para uma corrida relativamente tranquila.
Só que essas primárias de 2008 estavam ainda mais talhadas a entrar para a história do que muitos pensavam. Não iriam selar, pela primeira vez, a nomeação presidencial duma mulher, mas revelariam algo ainda mais inédito: uma luta voto a voto, delegado a delegado, estado a estado, entre uma mulher e um negro.
O resultado final terá surpreendido ainda mais gente: Obama foi o nomeado e, meses depois, derrotaria McCain.
Poderia ter sido o fim do sonho presidencial de Hillary Clinton.
Dois assessores próximos assumiram, no livro «Game Change» dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin, 2010), que o campo de Hillary estava tão certo da nomeação e da consequente vitória em novembro que já havia gente do «staff» da candidata a preparar o gabinete de transição para uma futura Administração Hillary.
A aceitação do cargo de secretária de Estado no primeiro mandato de Obama foi o primeiro passo da segunda tentativa presidencial de Hillary.
Mesmo nos mínimos de popularidade de Obama no primeiro mandato (foram alguns), Hillary manteve taxa de aprovação muito elevada, bem acima dos índices revelados pelo Presidente.
Hillary passa, em 2014, por momento idêntico ao que Barack Obama atravessava em 2006: está a dois anos de ser, com fortes possibilidades, a próxima nomeada presidencial democrata.
O que deve fazer? Em ano de eleições intercalares para o Congresso, fará o mesmo que Obama há oito anos, aparecendo em campanha por candidatos democratas?
William Whalen, em artigo no «Foxnews.com», recorda: «Além de ter entrado na onda das campanhas dos democratas para essas intercalares, o então senador Obama lançou em 2006 o seu segundo livro».
«Não esperem ver em 2014 uma Hillary demasiado envolvida na campanha dos democratas. Não está no ADN dela ser um ícone dos liberais, numa fase como esta. Dará prioridade à gestão da sua corrida presidencial», prevê Whalen.
A dois anos do arranque das primárias (5 de janeiro de 2016, no Iowa), Hillary tem avanço tão grande nos primeiros estudos de opinião que se revela como o ás de trunfo da próxima corrida presidencial democrata.
Sondagem recente da Quinnipiac University dá quase 60 (!) pontos de avanço a Hillary: recebe 66 por cento das preferências, para apenas 8 do vice-presidente Joe Biden, 7 da senadora Elisabeth Warren, do Massachussets, e 3 do governador Andrew Cuomo, de Nova Iorque.
Se no início da corrida de 2008 a diferença parecia grande, desta vez é enorme. E parece apenas colocar uma dúvida: poderá Hillary abdicar de concorrer?
Os últimos sinais apontam para que ela vá mesmo avançamesmo avançar. Na verdade, já tem uma espécia de «campanha sombra» no terreno.
Nas redes sociais, há já vários grupos de apoio a «Hillary for President 2016», com um número muito elevado de adesões.
Democratas influentes como Charles Schumer (senador por Nova Iorque), Bill DeBlasio (novo «mayor» de NY) ou Nancy Pelosi (congressista pela California e líder da minoria demodemocrata na House) já apelaram, em público, a uma candidatura de Hillary para 2016.
Desde a decisão de 2010 do Supremo Tribunal, o financiamento a um candidato presidencial fora das angariações da própria candidatura passou a ser ilimitado. Quer isto dizer que para se chegar à Casa Branca é preciso ter «SuperPacs» muito bem recheadas.
E Hillary, a esta distância, já tem uma «Ready for Hillary» com uma conta que já reúne mais de 1,5 milhões de seguidores no no Facebook e que partiu com a base de apoio da campanha Hillary 2008.
Nas primárias de 2008, Hillary Clinton parecia ter quase tudo para agarrar a nomeação democrata: partiu com uma vantagem de 30 pontos sobre Barack Obama e John Edwards e de mais de 40 sobre todos os outros pretendentes presidenciais do seu partido.
A noção de «inevitabilidade» em torno da então senadora por Nova Iorque, que já ocupara a Casa Branca por oito anos durante os dois mandatos do marido, apontava para uma corrida relativamente tranquila.
Só que essas primárias de 2008 estavam ainda mais talhadas a entrar para a história do que muitos pensavam. Não iriam selar, pela primeira vez, a nomeação presidencial duma mulher, mas revelariam algo ainda mais inédito: uma luta voto a voto, delegado a delegado, estado a estado, entre uma mulher e um negro.
O resultado final terá surpreendido ainda mais gente: Obama foi o nomeado e, meses depois, derrotaria McCain.
Poderia ter sido o fim do sonho presidencial de Hillary Clinton.
Dois assessores próximos assumiram, no livro «Game Change» dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin, 2010), que o campo de Hillary estava tão certo da nomeação e da consequente vitória em novembro que já havia gente do «staff» da candidata a preparar o gabinete de transição para uma futura Administração Hillary.
A aceitação do cargo de secretária de Estado no primeiro mandato de Obama foi o primeiro passo da segunda tentativa presidencial de Hillary.
Mesmo nos mínimos de popularidade de Obama no primeiro mandato (foram alguns), Hillary manteve taxa de aprovação muito elevada, bem acima dos índices revelados pelo Presidente.
Hillary passa, em 2014, por momento idêntico ao que Barack Obama atravessava em 2006: está a dois anos de ser, com fortes possibilidades, a próxima nomeada presidencial democrata.
O que deve fazer? Em ano de eleições intercalares para o Congresso, fará o mesmo que Obama há oito anos, aparecendo em campanha por candidatos democratas?
William Whalen, em artigo no «Foxnews.com», recorda: «Além de ter entrado na onda das campanhas dos democratas para essas intercalares, o então senador Obama lançou em 2006 o seu segundo livro».
«Não esperem ver em 2014 uma Hillary demasiado envolvida na campanha dos democratas. Não está no ADN dela ser um ícone dos liberais, numa fase como esta. Dará prioridade à gestão da sua corrida presidencial», prevê Whalen.
A dois anos do arranque das primárias (5 de janeiro de 2016, no Iowa), Hillary tem avanço tão grande nos primeiros estudos de opinião que se revela como o ás de trunfo da próxima corrida presidencial democrata.
Sondagem recente da Quinnipiac University dá quase 60 (!) pontos de avanço a Hillary: recebe 66 por cento das preferências, para apenas 8 do vice-presidente Joe Biden, 7 da senadora Elisabeth Warren, do Massachussets, e 3 do governador Andrew Cuomo, de Nova Iorque.
Se no início da corrida de 2008 a diferença parecia grande, desta vez é enorme. E parece apenas colocar uma dúvida: poderá Hillary abdicar de concorrer?
Os últimos sinais apontam para que ela vá mesmo avançamesmo avançar. Na verdade, já tem uma espécia de «campanha sombra» no terreno.
Nas redes sociais, há já vários grupos de apoio a «Hillary for President 2016», com um número muito elevado de adesões.
Democratas influentes como Charles Schumer (senador por Nova Iorque), Bill DeBlasio (novo «mayor» de NY) ou Nancy Pelosi (congressista pela California e líder da minoria demodemocrata na House) já apelaram, em público, a uma candidatura de Hillary para 2016.
Desde a decisão de 2010 do Supremo Tribunal, o financiamento a um candidato presidencial fora das angariações da própria candidatura passou a ser ilimitado. Quer isto dizer que para se chegar à Casa Branca é preciso ter «SuperPacs» muito bem recheadas.
E Hillary, a esta distância, já tem uma «Ready for Hillary» com uma conta que já reúne mais de 1,5 milhões de seguidores no no Facebook e que partiu com a base de apoio da campanha Hillary 2008.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: a desigualdade na agenda política
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 7 DE JANEIRO DE 2014:
Obama prometeu uma parte final mais ideológica para deixar um legado de transformação na América.
Em alguns aspetos já o conseguiu: a aprovação da Reforma da Saúde foi o maior exemplo disso. Mas muito tem sido adiado, perante o clima de paralisação legislativa em Washington.
Na América, não é suposto ser o governo federal a assumir tão claramente a batalha contra as desigualdades sociais.
Para a mentalidade americana, essas desigualdades decorrem das diferenças de produtividade próprias de uma sociedade capitalista.
Mas a visão Obama para os seus oito anos de presidência é mesmo essa: deixar uma América mais justa e inclusiva.
A subida do salário mínimo, questão recorrente da batalha de argumentos entre os diversos atores políticos e sociais na Europa, é um tema até estranho na agenda americana.
A esse tema acresce a polémica dos apoios aos desempregados.
A Casa Branca tem pressionado a maioria democrata na Senado a aprovar uma lei que alargue os apoios a quem não tem emprego.
Essa necessidade decorreu da quantidade elevada de americanos (perto de 1,3 milhões) que, no final do ano, perderam o direito ao subsídio de desemprego, na sequência do final do prazo de dois anos que havia sido prolongado, no final de 2011, num acordo bipartidário que teve cedências das duas partes.
Obama tem apostado forte numa medida, para já de três meses, que o Senado terá que aprovar, que inclui duas grandes questões sociais: o aumento do salário mínimo e o alargamento dos apoios a desempregados.
Difícil encontrar tema mais fraturante do ponto de vista ideológico entre democratas e republicanos: Rand Paul, senador do Kentucky, um dos líderes da Direita radical, não fez a coisa por menos: «Não sou contra a existência de subsídio de desemprego como conceito, mas sou contra benefícios a longo prazo que potenciam um desincentivo ao trabalho».
Chuck Schumer, senador democrata de Nova Iorque, foi violento: «A posição de Rand Paul é insultuosa. Muitos dos meus colegas republicanos dizem: "oh, os apoios aos desempregados mantêm as pessoas fora do trabalho. Isso é insultuoso», repetiu Schumer.
Chuck, um dos principais impulsionadores de uma mais do que provável candidatura presidencial de Hillary em 2016, pertence ao grupo de senadores democratas que estão a tentar criar condições para a aprovação de uma lei que verta as posições do Presidente no problema das desigualdade.
Com Jack Reed (Rhode Island), Jeanne Shaheen (New Hampshire) e Sherrod Brown (Ohio), Schumer está a fazer tudo para recolher o apoio de pelo menos cinco senadores republicanos, de modo a evitar mais «filibuster» (minoria de bloqueio).
Apesar de ter maioria no Senado, os democratas não têm condições de governabilidade. Com 45 senadores, os republicanos têm votos suficientes para travar as decisões mais polémicas, uma vez que as regras do Senado exigem uma «supermaioria» de 60 senadores.
Até agora, só dois republicanos (o senador Dean Heller, do Nevada, e a senadora Susan Collins, do Maine) se mostraram abertos a votar a favor.
Mesmo os senadores republicanos que representam estados com elevado desemprego parecem continuar firmes contra a medida. É o caso do conhecido senador Lamar Alexander, que representa o Tennessee: «Não vou votar qualquer legislação antes de debater todas as soluções que ajudem verdadeiramente os americanos a procurarem um emprego», explicou Alexander, em declarações ao site «Politico».
Habituado a tornear os obstáculos dos republicanos, Obama voltou a ser muito duro para com o comportamento da oposição em torno de uma questão que se mostra urgente para 1,3 milhões de americanos: «Ajudar os desempregados ajuda também a criar empregos. Votar contra essa ajuda não cria qualquer posto de trabalho».
Obama prometeu uma parte final mais ideológica para deixar um legado de transformação na América.
Em alguns aspetos já o conseguiu: a aprovação da Reforma da Saúde foi o maior exemplo disso. Mas muito tem sido adiado, perante o clima de paralisação legislativa em Washington.
Na América, não é suposto ser o governo federal a assumir tão claramente a batalha contra as desigualdades sociais.
Para a mentalidade americana, essas desigualdades decorrem das diferenças de produtividade próprias de uma sociedade capitalista.
Mas a visão Obama para os seus oito anos de presidência é mesmo essa: deixar uma América mais justa e inclusiva.
A subida do salário mínimo, questão recorrente da batalha de argumentos entre os diversos atores políticos e sociais na Europa, é um tema até estranho na agenda americana.
A esse tema acresce a polémica dos apoios aos desempregados.
A Casa Branca tem pressionado a maioria democrata na Senado a aprovar uma lei que alargue os apoios a quem não tem emprego.
Essa necessidade decorreu da quantidade elevada de americanos (perto de 1,3 milhões) que, no final do ano, perderam o direito ao subsídio de desemprego, na sequência do final do prazo de dois anos que havia sido prolongado, no final de 2011, num acordo bipartidário que teve cedências das duas partes.
Obama tem apostado forte numa medida, para já de três meses, que o Senado terá que aprovar, que inclui duas grandes questões sociais: o aumento do salário mínimo e o alargamento dos apoios a desempregados.
Difícil encontrar tema mais fraturante do ponto de vista ideológico entre democratas e republicanos: Rand Paul, senador do Kentucky, um dos líderes da Direita radical, não fez a coisa por menos: «Não sou contra a existência de subsídio de desemprego como conceito, mas sou contra benefícios a longo prazo que potenciam um desincentivo ao trabalho».
Chuck Schumer, senador democrata de Nova Iorque, foi violento: «A posição de Rand Paul é insultuosa. Muitos dos meus colegas republicanos dizem: "oh, os apoios aos desempregados mantêm as pessoas fora do trabalho. Isso é insultuoso», repetiu Schumer.
Chuck, um dos principais impulsionadores de uma mais do que provável candidatura presidencial de Hillary em 2016, pertence ao grupo de senadores democratas que estão a tentar criar condições para a aprovação de uma lei que verta as posições do Presidente no problema das desigualdade.
Com Jack Reed (Rhode Island), Jeanne Shaheen (New Hampshire) e Sherrod Brown (Ohio), Schumer está a fazer tudo para recolher o apoio de pelo menos cinco senadores republicanos, de modo a evitar mais «filibuster» (minoria de bloqueio).
Apesar de ter maioria no Senado, os democratas não têm condições de governabilidade. Com 45 senadores, os republicanos têm votos suficientes para travar as decisões mais polémicas, uma vez que as regras do Senado exigem uma «supermaioria» de 60 senadores.
Até agora, só dois republicanos (o senador Dean Heller, do Nevada, e a senadora Susan Collins, do Maine) se mostraram abertos a votar a favor.
Mesmo os senadores republicanos que representam estados com elevado desemprego parecem continuar firmes contra a medida. É o caso do conhecido senador Lamar Alexander, que representa o Tennessee: «Não vou votar qualquer legislação antes de debater todas as soluções que ajudem verdadeiramente os americanos a procurarem um emprego», explicou Alexander, em declarações ao site «Politico».
Habituado a tornear os obstáculos dos republicanos, Obama voltou a ser muito duro para com o comportamento da oposição em torno de uma questão que se mostra urgente para 1,3 milhões de americanos: «Ajudar os desempregados ajuda também a criar empregos. Votar contra essa ajuda não cria qualquer posto de trabalho».
domingo, 5 de janeiro de 2014
Histórias da Casa Branca: «comeback kid», versão Obama
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 3 DE JANEIRO DE 2014:
Na década de 90, Bill Clinton (o último Presidente democrata antes de Obama) ficou conhecido como o «comeback kid», tantas foram as vezes que conseguiu renascer das cinzas, voltando sempre a fortes níveis de popularidade.
Barack Obama está a tentar fazer o mesmo, depois de um 2013 para esquecer, na batalha com os republicanos.
A passagem de ano marcou vários balanços nas análises políticas na América.
Apesar de diferentes pontos de vista (facilmente identificáveis no ambiente de clivagem que se vive nos EUA há vários anos), houve um registo comum: o de que 2013 foi um «ano falhado» em Washington e que o Presidente Obama terá que aproveitar o novo ano para tentar recuperar a mão no jogo político em DC.
Na política americana, o tempo corre muito depressa. Passa-se quase diretamente de um ciclo eleitoral para outro, entre eleições presidenciais com «midterms» para o Congresso.
Daqui a poucos meses, estaremos em pleno ambiente eleitoral com a disputa de toda a Câmara dos Representantes e de um terço das vagas no Senado.
As sondagens ainda não são totalmente claras sobre o que poderá acontecer, mas um cenário de recuperação democrata que ofereça ao Presidente uma segunda parte do segundo mandato com os trunfos na manga para concluir a sua agenda está longe de ser a tendência dominante.
É de esperar que os democratas mantenham o controlo no Senado, mas parece francamente improvável que recuperem a «supermaioria» de 60 em 100, que detinham quando Obama foi eleito pela primeira vez, em novembro de 2008.
Quanto à Câmara dos Representantes, que se mantém largamente republicana, ainda que com um pendor do Tea Party menor que teve em 2010, tudo está em aberto. O mais provável, a esta distância de dez meses, é que o Partido Republicano mantenha o controlo da House, ainda que por uma curta margem.
Na Casa Branca, há quem defenda a teoria de que o Presidente deveria colocar todas as fichas na próxima campanha para as intercalares (na verdade, o último ato eleitoral de forte impacto para Obama até ao final da sua presidência, se atendermos ao facto de que Barack não poderá recandidatar-se à Casa Branca em 2016), de modo a ter condições para deixar um legado até janeiro de 2017.
Mas não se prevê que Obama coloque toda a carne no assador nessa campanha. O dilema é o mesmo que o perseguiu desde que tomou posse: a sua principal conquista legislativa (o ObamaCare) não é popular e assusta vários dos congressistas democratas, que temem custos eleitorais se se colarem à ideia.
O mais provável, por isso, é que o Presidente aposte na recuperação económica (cada vez mais uma realidade na América) e mantenha uma gestão política da sua agenda, desde a Casa Branca, com uma progressiva negociação com o Congresso.
«Há muitos 'ses' a marcar o ano de 2014 para a Presidência Obama. Mas acredito que os últimos anos desta presidência serão melhores que os anteriores, graças a uma economica que parece vir a ser cada vez melhor», aponta Joe Trippi, estratega democrata, comentador da Fox News.
A minimização dos erros do «ObamaCare enrollment» será um dos pontos cruciais. Depois do desastre de dezembro, as últimas semanas marcam alguma recuperação: o objetivo da Administração Obama aponta para sete milhões de americanos a a aderir ao megaplano até ao final de 2014 e o número, no início de janeiro, é já de dois milhões. 31 de março é um «deadline» importante: «Essa é a data chave, porque é o dia em que os americanos terão que decidir se preferem cobertura de saúde ou pagar por eles próprios. Se não tiverem plano de saúde do seu emprego ou não tiverem aderido ao ObamaCare, a lei prevê que tenham que assinar um plano próprio, sob pena de pagarem uma multa, incluída no reembolso anual dos seua impostos», explica Susan Page, no USA Today.
Na década de 90, Bill Clinton (o último Presidente democrata antes de Obama) ficou conhecido como o «comeback kid», tantas foram as vezes que conseguiu renascer das cinzas, voltando sempre a fortes níveis de popularidade.
Barack Obama está a tentar fazer o mesmo, depois de um 2013 para esquecer, na batalha com os republicanos.
A passagem de ano marcou vários balanços nas análises políticas na América.
Apesar de diferentes pontos de vista (facilmente identificáveis no ambiente de clivagem que se vive nos EUA há vários anos), houve um registo comum: o de que 2013 foi um «ano falhado» em Washington e que o Presidente Obama terá que aproveitar o novo ano para tentar recuperar a mão no jogo político em DC.
Na política americana, o tempo corre muito depressa. Passa-se quase diretamente de um ciclo eleitoral para outro, entre eleições presidenciais com «midterms» para o Congresso.
Daqui a poucos meses, estaremos em pleno ambiente eleitoral com a disputa de toda a Câmara dos Representantes e de um terço das vagas no Senado.
As sondagens ainda não são totalmente claras sobre o que poderá acontecer, mas um cenário de recuperação democrata que ofereça ao Presidente uma segunda parte do segundo mandato com os trunfos na manga para concluir a sua agenda está longe de ser a tendência dominante.
É de esperar que os democratas mantenham o controlo no Senado, mas parece francamente improvável que recuperem a «supermaioria» de 60 em 100, que detinham quando Obama foi eleito pela primeira vez, em novembro de 2008.
Quanto à Câmara dos Representantes, que se mantém largamente republicana, ainda que com um pendor do Tea Party menor que teve em 2010, tudo está em aberto. O mais provável, a esta distância de dez meses, é que o Partido Republicano mantenha o controlo da House, ainda que por uma curta margem.
Na Casa Branca, há quem defenda a teoria de que o Presidente deveria colocar todas as fichas na próxima campanha para as intercalares (na verdade, o último ato eleitoral de forte impacto para Obama até ao final da sua presidência, se atendermos ao facto de que Barack não poderá recandidatar-se à Casa Branca em 2016), de modo a ter condições para deixar um legado até janeiro de 2017.
Mas não se prevê que Obama coloque toda a carne no assador nessa campanha. O dilema é o mesmo que o perseguiu desde que tomou posse: a sua principal conquista legislativa (o ObamaCare) não é popular e assusta vários dos congressistas democratas, que temem custos eleitorais se se colarem à ideia.
O mais provável, por isso, é que o Presidente aposte na recuperação económica (cada vez mais uma realidade na América) e mantenha uma gestão política da sua agenda, desde a Casa Branca, com uma progressiva negociação com o Congresso.
«Há muitos 'ses' a marcar o ano de 2014 para a Presidência Obama. Mas acredito que os últimos anos desta presidência serão melhores que os anteriores, graças a uma economica que parece vir a ser cada vez melhor», aponta Joe Trippi, estratega democrata, comentador da Fox News.
A minimização dos erros do «ObamaCare enrollment» será um dos pontos cruciais. Depois do desastre de dezembro, as últimas semanas marcam alguma recuperação: o objetivo da Administração Obama aponta para sete milhões de americanos a a aderir ao megaplano até ao final de 2014 e o número, no início de janeiro, é já de dois milhões. 31 de março é um «deadline» importante: «Essa é a data chave, porque é o dia em que os americanos terão que decidir se preferem cobertura de saúde ou pagar por eles próprios. Se não tiverem plano de saúde do seu emprego ou não tiverem aderido ao ObamaCare, a lei prevê que tenham que assinar um plano próprio, sob pena de pagarem uma multa, incluída no reembolso anual dos seua impostos», explica Susan Page, no USA Today.
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