segunda-feira, 6 de abril de 2015

Histórias da Casa Branca: nova página na contenção nuclear

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 6 DE ABRIL DE 2015:


«Graças aos nossos esforços diplomáticos, o Mundo manteve-se connosco e juntaram-se a nós nesta negociação a principais potências internacionais: o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Rússia, a China e a União Europeia. Há cerca de um ano, tomámos o primeiro passo rumo ao que atingimos hoje, com vista a um acordo que trave o crecimento do programa nuclear iraniano e o adapte a áreas chave» 
BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos 


«Se a outra parte honrar as suas promessas, nós honraremos as nossas promessas» 
HASSAN ROHANI, Presidente do Irão 


«Gostaria de ver os EUA e os «5+1» a obter um melhor acordo com o Irão. Ainda vão a tempo» 
BENJAMIN NETANYAHU, primeiro-ministro de Israel 


O Irão nuclear pode ter deixado de ser uma das principais ameaças da realidade internacional. 

acordo de Lausanne, obtido na passada sexta depois de uma longa negociação (especialmente intensa nas últimas semanas, com empenhamento direto do secretário de Estado norte-americano John Kerry e do seu homólogo iraniano, Javad Zarif), deverá ficar como um dos grandes marcos dos «achievements» em política externa dos EUA. 

A obtenção de um acordo nuclear global, que garantisse que o Irão suspendesse o seu programa de enriquecimento de urânio, a troco do alívio das sanções impostas a Teerão, era uma das grandes prioridades da reta final da presidência Obama. 

Ainda não está tudo garantido (até 30 de junho, terá que ser redigido um texto final do acordo Irão/potências internacionais), mas essa conjunção (suspensão da escalada do programa nuclear iraniano a troco do alívio de sanções) parece estar já garantida, tendo em conta as reações globalmente positivas das partes que se sentaram à mesa na Suíça, nas últimas semanas.  

Vitória política e diplomática indiscutível para Barack Obama (que nos últimos meses somou Cuba e Irão em acordos de dimensão histórica só possíveis pela sua liderança), sendo que, desta vez, não se tratou de mero entendimento bilateral entre os Estados Unidos e outro país. 

O problema do Irão tem extensões mais vastas e envolveu todos os grandes poderes do Mundo atual. De tal modo a ameaça era abrangente que colocou Rússia e China, principais rivais dos EUA em muitos outros temas, envolvidas de forma progressivamente mais clara, quando a perspetiva de acordo se foi desenvolvendo, nos dias finais da negociação. 

Até 30 de junho há arestas a limar, para que se chegue a um acordo final sublimado em texto escrito, assinado por todas as partes. 

Israel e mundo árabe olham de lado 

O acordo é histórico mas está longe de ser consensual. 

Em Telavive, o governo israelita, com relação muito tensa com a Administração Obama, não gostou do que saiu de Lausanne: «Gostaria de ver os EUA e os «5+1» a obter um melhor acordo com o Irão. Ainda vão a tempo», apontou Netanyahu, agora reforçado internamente. 

Dianne Feinstein, senadora democrata da Califórnia, reagiu, em defesa do que a diplomacia americana obteve: «O primeiro-ministro israelita disse o que tinha que dizer e, sinceramente, acho que isso pode virar-se contra ele.  

Uma parte do mundo árabe, com os sauditas (aliados principais dos EUA na região) na linha da frente, temem que o acordo de Lausanne abra uma nova etapa na relação EUA/Irão, terminado em definitivo com as tensões dos últimos 35 anos. 

Perante o inimigo comum (o «Estado Islâmico» feito de jiadistas sunitas), EUA e Irão, agora aproximados pelo acordo de Lausanne, são um «gamechanger» inquietante para sauditas e israelitas, sobretudo. 

O aviso de Obama ao Congresso: não estraguem isto 

Tem sido frequente nos anos Obama, mas desta vez foi feito com particular veemência: o Presidente dos EUA fez aviso sério ao Congresso de maioria republicana: não estraguem isto. 

«Se o Congresso matar este acordo, de forma não baseada na análise e sem oferecer qualquer alterantiva razoável, então serão os Estados Unidos a serem culpados pelo falhanço da sua diplomacia. A comunidade internacional vai colapsar e o caminho será muito estreito. O povo americano sabe disso e é por isso que dou suporte sólido a uma resolução diplomática para a questão nuclear iraniana». 

Não é essa a visão de muitos setores conservadores, aqui representados pelo comentário de Charles Krauthammer na FOX: «Basta ver as reações de contentamento do ministro dos negócios estrangeiros do Irão no momento do acordo. Eles foram muito pouco claros sobre os pressupostos. É possível que quando assinarem em junho, já beneficiem de uma enorme quantidade de sanções aliviadas. E quando Obama fala de levantar as sanções, seos iranianos estiverem a fazer batota, não voltará a a haver a hipótese de russos, chineses e europeus voltaram a impor sanções outra vez. Vamo agir sozinhos, estaremos completamente isolados». 

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