TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 27 DE MAIO DE 2015:
Maio foi um péssimo mês no combate ao Estado Islâmico.
As tomadas de Ramadi, no Iraque (a 100 quilómetros da capital, Bagdade) e sobretudo de Palmira (cidade síria com dimensão reduzida, mas enorme valor histórico e estratégico) voltaram a mostrar que o grupo jiadista sunita tem uma capacidade de adaptação surpreendente.
Até ao final de abril, começava a discutir-se nos meios políticos e militares em Washington que passo seguinte deveria ser feito no estratégia de combate ao ISIS, em cenário de iminente recuo do inimigo.
Não era apenas um «wishful thinking» (embora talvez tivesse um pouco disso, também) -- era a consequência de vários acontecimentos positivos nos meses anteriores.
Tikrit foi batalha ganha pelas forças iraquianas (com ajuda de milícias xiistas pró-iranianas e dos bombardeamentos da coligação liderada pelos EUA); Erbil, a capital do Curdistão, deixara de poder estar nas mãos dos jiadistas sunitas e, nas palavras do presidente curdo, Masoud Barzani, em recente entrevista ao Expresso, «o Curdistão conseguiu recuperar 95% do território perdido para o Estado Islâmico», ainda que «o Daesh continue a ser uma ameaça, enquanto estiver em Mossul».
E antes de Tikrit e Erbil tinha havido Kobani, cidade fronteiriça entre a Síria e Turquia, batalha que dominou a frente de guerra no final de 2014.
A passagem para mãos do EI chegou a parecer inevitável, mas depois de intensos combates, os «peshmerga» (combatentes) curdos retomaram o controlo da cidade.
A somar a estas perdas importantes para o Estado Islâmico, os últimos meses causaram baixas significativas nas lideranças do perigoso movimento: Abdul Rahman Mohammed, tido como número dois do EI, foi morto há semanas por drone da coligação; Abu Sayyaf, «ministro do Petróleo», o homem das finanças do EI, foi eliminado na Síria, em operação altamente sofisticada da Força Delta, envolvendo comandos americanos a atuar no terreno.
O próprio Abu Bakr Al-Baghdadi, autoproclamado «califa», esteve desaparecido por várias semanas e, perante rumores de que teria sido morto num dos bombardeamentos da coligação, o EI sentiu-se na necessidade de divulgar, no início de maio, uma gravação áudio com a voz do seu líder.
Primeiro Ramadi, depois Palmira
Mas quando o «monstro» jiadista parecia estar a perder força, eis que o EI volta a mostrar que consegue, de forma rápida e surpreendente, aproveitar as oportunidades que o terreno lhe propicia.
Primeiro, foi Ramadi: cidade iraquiana já próxima da capital (a 100 quilómetros de Bagdad), passou de controlo do exército iraquiano para o controlo do ISIS, após operação violentíssima, em que o Estado Islâmico aproveitou tempestade de areiapara apanhar o inimigo de surpresa.
Depois, Palmira: na primeira tomada de cidade síria por parte do Estado Islâmico, na sequência de luta direta com as tropas de Assad, o EI apropriou-se de local histórico, com património arqueológico valiosíssimo, e que agora corre o risco de ser vendido em peças para o tráfico internacional, de modo a enriquecer os cofres do grupo jiadista.
Em ambos os casos, as atrocidades cometidas pelos combatentes sunitas não se fizeram esperar.
Recuo tático, admite Obama
Foi um «recuo táctico», admite Obama, em entrevista a Jeffrey Goldberg, na Atlantic, reforçando a linha de comunicação americana sobre o que aconteceu em Ramadi.
O Presidente dos EUA recusa a ideia de mudança dramática da situação («não vamos alterar a nossa estratégia por causa disto»), deixando assim implícita a ideia de que nem sequer lhe passa pela cabeça um envio maciço de tropas americanas para o terreno.
Até porque a dimensão territorial controlada pelo inimigo não o permitiria. «ISIS is over extended» (o Estado Islâmico está sobredimensionado»), acha-se na Casa Branca e no Pentágono.
Com Palmira, o Estado Islâmico passa a controlar (ainda não ocupa, mas controla) metade da Síria. Com Ramadi (mantendo Falluja e Mossul), reforça posições na província de Anbar, no Iraque.
O crescimento excessivo do EI no terreno pode ser, a longo prazo, uma fragilidade de um grupo que ainda não é tão poderoso assim a nível militar -- é essa a linha de pensamento que Obama continua a seguir, embora ela não seja consensual em Washington.
«Não estávamos à espera de nada disto. Fomos apanhados de surpresa», deixa escapar fonte do Pentágono, ao «New York Times». «Não imaginávamos que eles, nesta fase, tivessem capacidade para fazer isto. Tomar uma cidade no Iraque e, dias depois, outra na Síria», acrescentou a mesma fonte.
O fator surpresa, já se sabe, tem um peso enorme em qualquer guerra. Numa luta tão híbrida e tão indefinida nos meios e no espaço como é este combate ao terrorismo jiadista, a importância de não se deixar apanhar de surpresa é ainda maior.
Bagdade tem que ajudar mais
E agora?
Bom, a luta continuará e, na verdade, ela prossegue diariamente, no Iraque e na Síria, com bombardeamentos da coligação EUA/monarquias árabes da região, contra posições militares e económicas do EI.
Mas depois de Ramadi e Palmira, muito terá que mudar.
No Iraque, é pedido/exigido pela Administração Obama um «maior envolvimento» das forças iraquianas (que voltaram a dar conta de fraqueza perante a maior eficácia dos combatentes jiadistas). «Notou-se na batalha de Ramadi uma falta de vontade das tropas iraquianas em combater devidamente o ISIS», acusou Ashton Carter, secretário da Defesa norte-americano.
A reconquista de Ramadi já está em marcha, mas terá que ser resolvida, no terreno, pelos soldados iraquianos.
Na Síria, Assad está sob pressão crescente. Não controla grande parte do território do seu país, tem no Estado Islâmico ameaça cada vez mais assustadora e, ao contrário do que se passa no Iraque, não conta com a ajuda indireta da aviação americana.
Até quando?
O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
quinta-feira, 28 de maio de 2015
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Histórias da Casa Branca: olhem para o Iraque
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 21 MAIO DE 2015:
Se nos democratas a corrida à nomeação para 2016 pode ser um pouco aborrecida (Hillary, tudo indica, já ganhou), no campo republicano a coisa está a animar.
Mesmo sem ter ainda sequer oficializado a sua candidatura, Jeb Bush começa a ser o ponto comum das discussões da direita americana.
E isso, para o irmão do 43.º Presidente dos EUA e filho do 41.º inquilino da Casa Branca, é bom – até nas situações em que está a ser criticado. Porque quer dizer que a opinião geral aponta para que Jebseja o candidato mais forte para desafiar Hillary na eleição geral.
Enquanto as sondagens vão confundindo mais do que esclarecendo (ora aparece Bush à frente, ora surge Rubio, Walker ou até Ben Carson e Mike Huckabee), as movimentações das diferentes candidaturas indicam o antigo governador da Florida como o alvo a abater.
É claro que alguns candidatos mais à direita (sobretudo Ted Cruz e Mike Huckabee) vão acelerando nos seus argumentos radicais que colocam a religião e uma leitura literal da Constituição americana como prioritárias na agenda das respetivas candidaturas, mas só terão estes meses de arranque para o fazer.
Quando se aproximarem as primeiras votações (Iowa e New Hampshire, daqui a oito meses), a irracionalidade política tende a diminuir.
Chegará a hora da «economia, estúpido», mas desta vez é provável que também apareça o… «foi o Iraque, estúpido».
Marco Rubio, animado pela subida pós-anúncio formal da sua candidatura, lançou o isco ao declarar: «Se soubesse que não havia armas de destruição maciça e fosse na altura presidente, não teria ordenado a invasão do Iraque».
Conseguida a descolagem com o pior do legado Bush, Rubio teve o cuidado de reduzir danos: «E acredito que o então presidente George W. Bush também não o teria feito».
A intenção do jovem senador da Florida foi clara: encostar Jeb ao constrangimento de ter que se posicionar em relação à decisão mais polémica e desastrada do irmão.
Jeb Bush, ainda não muito refeito do deslize linguístico («quando for candidato…»), tem hesitado na sua avaliação sobre o Iraque.
Perante a acusação de uma estudante universitária, durante uma sessão pública, de que o irmão «criara o ISIS», ao «ter enviado jovens soldados para a morte em nome do excecionalismo americano», Jeb Bush replicou: «Discordo respeitosamente disso. Quando saímos do Iraque, foi mantida segurança, a Al Qaeda foi afastada. E tínhamos um acordo que o atual presidente podia ter assinado que teria mantido dez mil soldados lá, menos dos que os que temos na Coreia. Esse acordo podia ter mantido a estabilidade que levaria ao progresso no Iraque. O resultado foi o oposto. Imediatamente, esse vazio foi preenchido».
O desvio de responsabilidades para os anos Obama é evidente: «Podemos reescreve a história do modo que quisermos. Mas a grande verdade é que estamos numa posição de muito maior risco agora, desde que os americanos saíram do Iraque».
Se nos democratas a corrida à nomeação para 2016 pode ser um pouco aborrecida (Hillary, tudo indica, já ganhou), no campo republicano a coisa está a animar.
Mesmo sem ter ainda sequer oficializado a sua candidatura, Jeb Bush começa a ser o ponto comum das discussões da direita americana.
E isso, para o irmão do 43.º Presidente dos EUA e filho do 41.º inquilino da Casa Branca, é bom – até nas situações em que está a ser criticado. Porque quer dizer que a opinião geral aponta para que Jebseja o candidato mais forte para desafiar Hillary na eleição geral.
Enquanto as sondagens vão confundindo mais do que esclarecendo (ora aparece Bush à frente, ora surge Rubio, Walker ou até Ben Carson e Mike Huckabee), as movimentações das diferentes candidaturas indicam o antigo governador da Florida como o alvo a abater.
É claro que alguns candidatos mais à direita (sobretudo Ted Cruz e Mike Huckabee) vão acelerando nos seus argumentos radicais que colocam a religião e uma leitura literal da Constituição americana como prioritárias na agenda das respetivas candidaturas, mas só terão estes meses de arranque para o fazer.
Quando se aproximarem as primeiras votações (Iowa e New Hampshire, daqui a oito meses), a irracionalidade política tende a diminuir.
Chegará a hora da «economia, estúpido», mas desta vez é provável que também apareça o… «foi o Iraque, estúpido».
Marco Rubio, animado pela subida pós-anúncio formal da sua candidatura, lançou o isco ao declarar: «Se soubesse que não havia armas de destruição maciça e fosse na altura presidente, não teria ordenado a invasão do Iraque».
Conseguida a descolagem com o pior do legado Bush, Rubio teve o cuidado de reduzir danos: «E acredito que o então presidente George W. Bush também não o teria feito».
A intenção do jovem senador da Florida foi clara: encostar Jeb ao constrangimento de ter que se posicionar em relação à decisão mais polémica e desastrada do irmão.
Jeb Bush, ainda não muito refeito do deslize linguístico («quando for candidato…»), tem hesitado na sua avaliação sobre o Iraque.
Perante a acusação de uma estudante universitária, durante uma sessão pública, de que o irmão «criara o ISIS», ao «ter enviado jovens soldados para a morte em nome do excecionalismo americano», Jeb Bush replicou: «Discordo respeitosamente disso. Quando saímos do Iraque, foi mantida segurança, a Al Qaeda foi afastada. E tínhamos um acordo que o atual presidente podia ter assinado que teria mantido dez mil soldados lá, menos dos que os que temos na Coreia. Esse acordo podia ter mantido a estabilidade que levaria ao progresso no Iraque. O resultado foi o oposto. Imediatamente, esse vazio foi preenchido».
O desvio de responsabilidades para os anos Obama é evidente: «Podemos reescreve a história do modo que quisermos. Mas a grande verdade é que estamos numa posição de muito maior risco agora, desde que os americanos saíram do Iraque».
sábado, 16 de maio de 2015
Histórias da Casa Branca: o fantasma de Bin Laden
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 16 DE MAIO DE 2015:
«O que é verdade nesta história não é novo e o que é novo não é verdade»
Reação oficial da Casa Branca ao artigo de Seymour Hersh na London Review of Books
«Sou repórter há muitos anos, tenho a noção das consequências do que escrevo. Acreditar que Bin Laden estava escondido tão perto do poder paquistanês é acreditar num conto de Lewis Carrol»
Seymour Hersh, à CNN
A «Operação Geronimo», que em maio de 2011 concretizou a eliminação de Osama Bin Laden, inimigo número 1 dos EUA desde o 11 de Setembro de 2001, foi apresentada como um dos melhores momentos do primeiro mandato presidencial de Barack Obama e jogada como trunfo para a reeleição em 2012.
Visto durante muito tempo como líder «fraco e hesitante» em política externa, Obama teve na eliminação de Bin Laden a jogada ideal para demonstrar força, decisão e liderança no momento mais arriscado.
A noção de que, com os republicanos, a América estaria mais segura deixou de ser um argumento claro e isso contou muito na forma como Obama bateu Romney, em novembro de 2012.
Mas… será que tudo o que foi revelado na altura corresponde à verdade?
Osama Bin Laden foi apanhado e morto numa vivenda que se situava muito perto de um complexo militar paquistanês em Abbotabad, algo que desde logo gerou desconforto entre Washington e as lideranças políticas e militares de Islamabade.
Seria mesmo verdade que o homem mais procurado do Mundo estava escondido sem o conhecimento dos paquistaneses? E que eles não tiveram intervenção direta na operação tão bem sucedida dos Navy Seal em noite escura?
Seymour Hersh, prémio Pulitzer, jornalista de investigação que publicou histórias muito incómodas para as versões oficiais em casos como os crimes de Abu Ghraib, publicou longo artigo no jornal «London Review of Books», no qual acusa a Administração Obama de criar uma «história alternativa na guerra ao terrorismo».
A narrativa de Hersh baseia-se essencialmente em duas fontes (ambas não reveladas) e num pressuposto de base: a Administração Obama mentiu em quase tudo no que nos contou sobre a eliminação de Bin Laden.
«O que é verdade? Que o Presidente Obama ordenou a operação, que os Navy Seals a concretizaram e mataram Bin Laden. Tudo o resto é mentira», atirou Seymour Hersh na entrevista que deu a Chris Cuomo, na CNN, após a publicação do polémico artigo.
Com ou sem o Paquistão?
O Presidente dos EUA falou numa «operação exclusivamente americana», mas Hersh garante que esta só foi possível com o envolvimento das chefias militares paquistanesas.
O jornalista vai mais longe e garante que Bin Laden estava doente e preso pelos paquistaneses, quando foi morto pela equipa Navy Seal.
«Sou repórter há muitos anos, tenho a noção das consequências do que escrevo. Acreditar que Bin Laden estava
escondido tão perto do poder paquistanês é acreditar num conto de Lewis Carrol», acusou Hersh na CNN, em entrevista a Chris Cuomo.
Hersh cita dois generais paquistaneses em «on», um deles referindo «you got the story» e uma «major U.S. source» para garantir que a Administração Obama cooperou com os serviços de informação paquistaneses para matar Bin Laden e que o «chief of staff» do exército paquistanês e diretor geral dos serviços de inteligência do Paquistão «sabiam da operação».
O jornalista está, ainda, convicto de que o «plano A» da Administração Obama seria anunciar alguns dias depois da morte de Bin Laden que um drone lançado para zonas de talibãs «algures no Waziristão, numa «no man land» entre o Paquistão e o Afeganistão, tivesse matado um tipo alto que, após análise de fotografias tiradas, se comprovasse ser Bin Laden».
«Esse era o plano A», insistiu Hersh. Mas o Presidente decidiu mudá-lo, anunciando nessa noite ao público que o tínhamos apanhado e morto. Talvez por interesses políticos, não sei».
«Demasiadas imprecisões»
Numa primeira reação, o porta-voz adjunto do Conselho de Segurança da Casa Branca, Ned Price, assegurou em comunicado que a história tem «demasiadas imprecisões e afirmações sem fundamento».
«A noção de que a operação que acabou com a vida de Osama bin Laden foi outra coisa que não uma missão unilateral dos EUA é evidentemente falsa», insistiu o porta-voz.
«Temos sido parceiros do Paquistão na luta contra a Al Qaeda e o terrorismo, mas esta operação foi exclusivamente americana», insistiu Price.
Mais tarde, num briefing, Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, foi ainda mais claro: «O que é verdade nesta história não é novo e o que é novo não é verdade».
Na verdade, não foi só a Casa Branca e a estrutura oficial da liderança política em Washington que desmontaram a versão de Seymour Hersh.
Peter Bergen, especialista em segurança nacional da CNN, ele próprio autor de investigação sobre a operação que eliminou Bin Laden, comentou: «A versão de Hersh tem muitas inconsistências. Baseia-se em duas fontes anónimas. Visitei a casa onde Bin Laden estava escondido e vi que estava cravejada de bolas. Houve tiroteio. A posição do Paquistão é também difícil de acreditar e cai pelo senso comum».
A versão de Hillary
No livro «Escolhas difíceis», recentemente publicado em versão portuguesa, a agora candidata presidencial e então secretária de Estado, Hillary Clinton, contou a sua versão.
E não regateou elogios à coragem e capacidade de liderança de Barack Obama no momento mais delicado da sua presidência até agora.
«Manter a América segura, forte e próspera implica um vasto conjunto de escolhas, muitas delas vêm com informações incompletas e interesses em conflito. Talvez o exemplo mais conhecido dos meus quatro anos como secretária de Estado foi a ordem do Presidente Obama de enviar uma equipa da Navy Seal numa noite sem luar, para trazer Osama Bin Laden à justiça. Os principais conselheiros do Presidente estavam divididos. Os dados dos serviços de inteligência eram fortes, mas longe de serem definitivos. Os riscos de falhanço eram significativos. Muito estava em jogo na segurança nacional americana, a nossa batalha contra a Al Qaeda e a nossa relação com o Paquistão. Acima de tudo, as vidas daqueles bravos Navy Seal e pilotos de helicópteros faziam equilibrar a balança. Foi a mais corajosa demonstração de liderança que alguma vez vi».
Podemos não ter ficado a saber toda a verdade sobre a operação que eliminou Osama bin Laden. Mas que se tratou de um dos momentos mais importantes do primeiro mandato presidencial de Obama, disso não ficarão grandes dúvidas.
sábado, 9 de maio de 2015
Histórias da Casa Branca: um ano e meio para a grande eleição
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 8 DE MAIO DE 2015:
Um ano e meio é, num cenário normal, um tempo imenso, tendo em conta a intensidade com que, nos dias de hoje, as coisas acontecem.
Mas a corrida presidencial norte-americana não se enquadra num «cenário normal». Para muitos, trata-se mesmo da «mais louca corrida do Mundo».
Ora, falta hoje (8 de maio de 2015) exatamente um ano e meio para as eleições que, a 8 de novembro de 2016, vão definir quem será o sucessor (ou sucessora…) de Barack Obama na Casa Branca.
O último mês foram particularmente animados nessa corrida tão especial.
Do lado democrata, confirmaram Hillary Clinton com um estatuto muito especial: nunca um candidato não incumbente (presidente em funções) gozou de avanço tão gigantesco nesta fase.
Perante vantagens de 40, 50 ou até 60 pontos nas sondagens para as primárias democratas, a ex-secretária de Estado decidiu assumir essa condição de «presumível nomeada» e avançou, como primeira e destacada candidata pelo Partido Democrata, a 13 de abril, com um vídeo muito elogiado, de dois minutos e 18 segundos, com o título «Getting started».
As sondagens posteriores ao anúncio reforçaram cenário de nomeação fácil para Hillary e nem as sombras que a candidata carrega do passado («mailgate», Bengasi, financiamentos das fundações dos Clinton) parecem pôr em risco essa vantagem.
Os democratas para lá de Hillary
Possíveis candidatos «do establishment democrata», como Joe Biden, vice-presidente dos EUA, ou Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, só avançariam no caso de algo falhar com Hillary – e aí teriam hipóteses de nomeação.
No atual quadro, o essencial do legado de Obama e agenda «core» dos democratas (reforma fiscal, minorias, recuperação económica) está a ser completamente absorvida pela campanha Hillary 2016, que até está a tentar somar bandeiras como os direitos das mulheres e das crianças.
Resta, do lado democrata, uma tentativa de captar os descontentes da esquerda que considera que Obama devia ter ido mais longe na «guerra ideológica» com os republicanos e até nos procedimentos no Congresso.
Uma parte dessa sensibilidade poderá apoiar o senador independente Bernie Sanders, do Vermont, um socialista que vota com a bancada democrata mas exige mais músculo na área da regulação financeira e do sistema bancário.
Sanders surge com 5/8 pontos nas sondagens. Mas se Elizabeth Warren, senadora do Massachussets muito apreciada pela forma frontal e direta como fala de temas como a desigualdade e o poder das grandes corporações.
Jeb ameaçado por Walker e Rubio
No campo republicano, Jeb Bush surgiu, nos últimos meses, como o pretendente mais viável, sobretudo numa perspetiva de disputar com Hillary Clinton a eleição geral.
Mas a corrida está muito aberta na direita americana: Marco Rubio, senador júnior da Florida, ganhou um «boost» depois do anúncio na Freedom Tower, em Miami, e lidera, neste momento, as sondagens (embora por pequena margem).
Mas Scott Walker, governador do Wisconsin, está a apostar bem nos estados de arranque (Iowa e New Hampshire), e dá mostras de poder disputar a nomeação até ao fim. Se ganhar vantagem até à Florida, e sobreviver ao duelo Bush/Rubio no «sunshine state», pode criar grande surpresa e terminar coroado pelos delegados republicanos na convenção.
Já na corrida, mas aparentemente sem hipóteses de nomeação, estão Rand Paul (senador do Kentucky), Carly Fiorina (ex-CEO da Hewlett Packard), Mike Huckabee (ex-governador do Arkansas, pastor batista e segundo classificado nas primárias de 2008), Ted Cruz (senador júnior do Texas) e Ben Carson (neurocirurgião negro).
A oito meses das primárias
A época de primárias começa a 1 de fevereiro de 2016, com o «caucus» democrata do Iowa, e no dia seguinte, 2 de fevereiro, para os republicanos.
Seguem-se o New Hampshire, a 9 de fevereiro (primeira por votação tradicional) e a Carolina do Sul, a 20 de fevereiro.
As primárias terminam em junho, ficando a investidura dos candidatos democrata e republicano para depois do verão.
A grande eleição, essa, será a 8 de novembro de 2016 - daqui a precisamente um ano e meio.
Um ano e meio é, num cenário normal, um tempo imenso, tendo em conta a intensidade com que, nos dias de hoje, as coisas acontecem.
Mas a corrida presidencial norte-americana não se enquadra num «cenário normal». Para muitos, trata-se mesmo da «mais louca corrida do Mundo».
Ora, falta hoje (8 de maio de 2015) exatamente um ano e meio para as eleições que, a 8 de novembro de 2016, vão definir quem será o sucessor (ou sucessora…) de Barack Obama na Casa Branca.
O último mês foram particularmente animados nessa corrida tão especial.
Do lado democrata, confirmaram Hillary Clinton com um estatuto muito especial: nunca um candidato não incumbente (presidente em funções) gozou de avanço tão gigantesco nesta fase.
Perante vantagens de 40, 50 ou até 60 pontos nas sondagens para as primárias democratas, a ex-secretária de Estado decidiu assumir essa condição de «presumível nomeada» e avançou, como primeira e destacada candidata pelo Partido Democrata, a 13 de abril, com um vídeo muito elogiado, de dois minutos e 18 segundos, com o título «Getting started».
As sondagens posteriores ao anúncio reforçaram cenário de nomeação fácil para Hillary e nem as sombras que a candidata carrega do passado («mailgate», Bengasi, financiamentos das fundações dos Clinton) parecem pôr em risco essa vantagem.
Os democratas para lá de Hillary
Possíveis candidatos «do establishment democrata», como Joe Biden, vice-presidente dos EUA, ou Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, só avançariam no caso de algo falhar com Hillary – e aí teriam hipóteses de nomeação.
No atual quadro, o essencial do legado de Obama e agenda «core» dos democratas (reforma fiscal, minorias, recuperação económica) está a ser completamente absorvida pela campanha Hillary 2016, que até está a tentar somar bandeiras como os direitos das mulheres e das crianças.
Resta, do lado democrata, uma tentativa de captar os descontentes da esquerda que considera que Obama devia ter ido mais longe na «guerra ideológica» com os republicanos e até nos procedimentos no Congresso.
Uma parte dessa sensibilidade poderá apoiar o senador independente Bernie Sanders, do Vermont, um socialista que vota com a bancada democrata mas exige mais músculo na área da regulação financeira e do sistema bancário.
Sanders surge com 5/8 pontos nas sondagens. Mas se Elizabeth Warren, senadora do Massachussets muito apreciada pela forma frontal e direta como fala de temas como a desigualdade e o poder das grandes corporações.
Jeb ameaçado por Walker e Rubio
No campo republicano, Jeb Bush surgiu, nos últimos meses, como o pretendente mais viável, sobretudo numa perspetiva de disputar com Hillary Clinton a eleição geral.
Mas a corrida está muito aberta na direita americana: Marco Rubio, senador júnior da Florida, ganhou um «boost» depois do anúncio na Freedom Tower, em Miami, e lidera, neste momento, as sondagens (embora por pequena margem).
Mas Scott Walker, governador do Wisconsin, está a apostar bem nos estados de arranque (Iowa e New Hampshire), e dá mostras de poder disputar a nomeação até ao fim. Se ganhar vantagem até à Florida, e sobreviver ao duelo Bush/Rubio no «sunshine state», pode criar grande surpresa e terminar coroado pelos delegados republicanos na convenção.
Já na corrida, mas aparentemente sem hipóteses de nomeação, estão Rand Paul (senador do Kentucky), Carly Fiorina (ex-CEO da Hewlett Packard), Mike Huckabee (ex-governador do Arkansas, pastor batista e segundo classificado nas primárias de 2008), Ted Cruz (senador júnior do Texas) e Ben Carson (neurocirurgião negro).
A oito meses das primárias
A época de primárias começa a 1 de fevereiro de 2016, com o «caucus» democrata do Iowa, e no dia seguinte, 2 de fevereiro, para os republicanos.
Seguem-se o New Hampshire, a 9 de fevereiro (primeira por votação tradicional) e a Carolina do Sul, a 20 de fevereiro.
As primárias terminam em junho, ficando a investidura dos candidatos democrata e republicano para depois do verão.
A grande eleição, essa, será a 8 de novembro de 2016 - daqui a precisamente um ano e meio.
terça-feira, 5 de maio de 2015
Histórias da Casa Branca: Mike Huckabee, o conservador sorridente
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT A 4 DE MAIO DE 2015:
Não é o favorito à nomeação republicana, mas também não é impossível que termine a corrida como o escolhido para defrontar Hillary na eleição geral.
Mike Huckabee, 59 anos, governador do Arkansas entre 1996 e 2007, pastor batista, casado há 41 anos com Janet e pai de três filhos, avança esta terça como candidato às primárias republicanas.
Conterrâneo de Bill Clinton (seu antecessor no cargo do governador do Arkansas, ambos nascidos em Hope), Huckabee é, no entanto, o oposto a nível político do marido da super favorita à nomeação democrata (ainda que ambos sejam também dois grandes apreciadores de música).
Muito conservador (é contra o aborto, contra quase todos os impostos e fala de Deus com uma obsessão assustadora), Mike Huckabee tem uma base de apoio ligada ao Tea Party.
Mas, ao contrário de outros políticos da direita americana, que nos últimos anos foram mostrando um tom demasiado agressivo e mesmo zangado, Mike tem uma imagem de marca: o seu sorriso e o seu bom humor.
Esse lado empático levou-o, até, a ter um programa com nome próprio na FOX, destacando-se como um dos faróis da opinião da da direita radical nos anos Obama.
Segundo classificado nas primárias republicanas de 2008, perdeu claramente para John McCain, mas conseguiu o feito de ter mais votos que Mitt Romney (que viria a obter a nomeação republicana quatro ano depois), pela persistência de ir até ao fim, recusando-se a dar apoio precoce ao candidato preferido pelos delegados.
Será o sexto nome a confirmar-se do lado republicano, depois de Ted Cruz (senador do Texas), Rand Paul (senador do Kentucky) e Marco Rubio (senador da Florida), que já avançaram nas últimas semanas, e ainda do neurocirurgião negro Ben Carson e da antiga CEO da Hewlett Packard, Carly Fiorina, que anunciaram esta segunda as respetivas candidaturas, embora não tenham hipóteses reais de obter a nomeação, por quase não terem experiência política de relevo.
Ben será o primeiro afro-americano a entrar na corrida republicana, Carly a primeira (e provavelmente única) mulher, perante as ausências esperadas de Michele Bachmann e Sarah Palin.
Já há dois cubano-americanos (Ted Cruz e Marco Rubio) e é possível que surja ainda um indiano-americano (Bobby Jindal, governador da Luisiana.
«A diversidade é positiva para o campo republicano», nota o estretaga Matt Mackowiak, citado pelo «The Hill», blogue político alojado ao Washington Post. «Mostra que é um partido mais vasto do que muitos dizem ser».
Do lado democrata estão já oficializadas as candidaturas de Hillary Clinton (super favorita à nomeação) e Bernie Sanders (senador independente do Vermont).
A corrida à sucessão de Barack Obama acelera, assim, a sua cadência: confirma-se cenário animado e imprevisível do lado republicano, com seis candidatos já no terreno, embora, curiosamente, três dos que têm mais esperanças de nomeação (Jeb Bush, Scott Walker e Chris Christie) não constem dessa lista.
A explicação pode estar na pura estratégia: no caso de Bush e Walker, porque têm os dados mais animadores nas sondagens, ainda nem sequer precisaram de declarar o que todos já perceberam ser garantido.
Enquanto isso, Scott vai marcando terreno perante Marco Rubio (para muitos, o seu grande rival no posicionamento final de principal «challenger» ao favoritismo de Bush) e Jeb já conseguiu perder 13 quilos nos últimos meses (e, sim, a imagem conta muito em eleições presidenciais nos EUA).
Já quanto a Chris Christie, os últimos meses foram tão conturbados, enquanto governador da Nova Jérsia, que Chris está à espera que o mau tempo passe – mas tudo indica que, algures em maio, o mais tardar em junho, também possa avançar.
E ainda é preciso ponderar as possíveis candidaturas de Rick Santorum (antigo senador da Pensilvânia, segundo classificado das primárias de 2012), Rick Perry (ex-governador do Texas) e o já referido Bobby Jindal (governador da Luisiana).
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