O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
domingo, 28 de junho de 2015
Histórias da Casa Branca: a melhor semana de Barack Obama
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 29 DE JUNHO DE 2015:
«Esta foi uma semana que definiu não apenas o segundo mandato de Obama e a sua presidência. Esta foi uma semana que deixa profundas marcas na nossa sociedade, estabelecendo princípios que durarão por muitos anos. Obama concorreu como um agente de mudança. Para o melhor e para o pior, esta é a semana que selará essa marca»
Chris Cilliza, Washington Post
Foi, muito provavelmente, a melhor semana da era Obama.
O 44.º Presidente dos Estados Unidos tem vivido mais fases difíceis do que períodos de bonança.
De tal modo assim tem sido que até se criou uma ideia, dominante até à reeleição, de que Obama seria irremediavelmente «um presidente falhado».
A forma clara como Obama derrotou Mitt Romney em novembro de 2012 parecia ajudar a desconstruir esse mito.
Mas, na verdade, não foi preciso esperar muito tempo para que, ainda em início de segundo mandato, a tal ideia de «presidente-que-não-conseguiu-grande-coisa» voltasse a prevalecer em muitos setores.
É certo que o clima de impasse com a oposição republicana ajudou a alimentar a tese. As enormes derrotas nas intercalares de 2010 e 2014 agravaram ainda mais o quadro.
Curiosamente, mesmo nos momentos de maior adversidade política, uma análise mais atenta mostrou sempre um registo bastante positivo para Obama: crescimento económico contínuo, taxa de desemprego a descer, aprovação da Reforma da Saúde (primeiro a nível legislativo, mais tarde no plano judicial), avanços em áreas como a independência energética.
Depois da derrota de novembro, a contagem decrescente para a presidência Obama passou para o modo «on».
Faltavam dois anos para o fim do segundo mandato -- e o relógio não ia parar.
E aí começou, claramente, uma nova fase: ações executivas unilaterais sobre a Imigração, acordo histórico com Cuba e acordo ambiental com a China (tudo ainda em 2014).
Na semana que passou, quatro concretizações de seguida: aprovação bipartidária (por 60-37), de uma «fast-track» para a entrada em vigor do TPP (acordo comercial com o Pacífico); confirmação pelo Supremo Tribunal da Reforma da Saúde e legalização, em todos os estados, do casamento entre pessoas do mesmo sexo; discurso notável em Charleston, Carolina do Sul, dias depois de tragédia que juntou o problema das armas com o do racismo nos EUA.
Será difícil voltarmos a ver, em tão curto espaço de tempo, conjugação tão positiva para o 44.º Presidente dos EUA.
A importância do Supremo
O casamento gay começou por ser tema secundário para Barack. Até maio de 2012, nem sequer o apoiava claramente, preferindo admitir as uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo.
Há três anos, Obama iniciou caminho de aproximação, nessa área, à ala mais progressista do seu partido – e até incluiu no discurso da tomada de posse do segundo mandato (em janeiro de 2013), uma referência bem visível ao assunto.
Já o caso da Reforma da Saúde é pessoalmente muito significativo. Barack teve, nos últimos anos, motivos mais que suficientes para deixar cair o tema, tão feroz foi a oposição republicana, tantas foram as tentativas para impedir a implementação do programa (e sim, nem a informática ajudou).
Nos dois temas, o Supremo Tribunal decidiu com pequenas diferenças (6-3 sobre Affordable Care Act, 5-4 no Equal Marriage).
Nos últimos dias ficou, assim, bem claro como é importante a nomeação de um juiz para o Supremo Tribunal: além de ser lugar vitalício, ela pode, literalmente, decidir as questões cruciais para os EUA.
O «Equal Marriage» prevaleceu no Supremo, por se ter considerado que o princípio constitucional dos direitos iguais para todos é superior a qualquer norma estadual que impeça o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Entre os nove juízes do Supremo, a tendência liberal ou conservadora é relativamente consistente em quase todos.
O juiz Anthony Kennedy, nomeado pelo Presidente Reagan, é o exemplo mais variável (já votou mais à esquerda, por vezes decide alinhado com as posições conservadoras).
Votou a favor do Equal Marriage, escrevendo o seguinte na sua decisão:
«A Constituição promete liberdade para todos em todas as suas dimensões, uma liberdade que inclui direitos específicos e que permite às pessoas, no primado da Lei, que definam e exprimam a sua identidade (…)
As origens do casamento confirmam a sua centralidade, mas não ficaram presas e isoladas dos desenvolvimentos da lei e da sociedade. A história do casamento é feita de continuidade e mudança. Essa instituição – mesmo confinada a relações entre pessoas de sexos diferentes – evoluiu ao longo do tempo. (…)
A natureza do casamento é que, no seu laço durável, duas pessoas juntas possam encontrar outras liberdades, como a de expressão, intimidade e espiritualidade. Isso é verdade para todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual… A dinâmica do nosso sistema constitucional aponta para que as pessoas não precisem de esperar pela ação legislativa para exercerem um direito fundamental. (…)
Uma pessoa pode invocar o direito da proteção constitucional quando esse direito for ferido, mesmo que a maioria do público discorde e mesmo que o poder legislativo se recuse a agir».
Já o caso do Obamatrade tem o aspeto curioso de ter sido a primeira situação clara em que a conjugação de forças políticas em Washington se alterou: os republicanos foram os aliados improváveis do Presidente, os democratas tentaram travar.
O sucesso das pretensões de Obama terá provado que, em matéria de congelar legislação, os democratas não chegam aos calcanhares dos republicanos.
Amazing Grace
«Esse reservatório de dignidade… Se conseguirmos encontrar essa graça, nada é impossível. Tudo pode mudar. Amazing grace, amazing grace»
BARACK OBAMA, a finalizar o discurso de Charleston
Para fechar semana de ouro para a Casa Branca, a tal «Amazing Grace» ao melhor estilo de Barack, o orador.
Um discurso simplesmente notável na Carolina do Sul, em ambiente de muita emoção, tão poucos dias depois da tragédia de Charleston.
Obama, primeiro Presidente negro dos EUA, fez jus à fama de pregador e proferiu 37 minutos de intervenção que ficarão recordados como dos melhores momentos deste Presidente, finalizados comsurpreendente interpretação do «Amazing Grace».
Mesmo para quem está habitado a ver os discursos de Obama, aquele foi um momento diferente, de elevação.
Quem aproveita?
As consequências desta «melhor semana dos anos Obama» na eleição de 2016 estão ainda por apurar.
Se os casos do «Equal Marriage» e Obama Care vão querer ser herdados por Hillary e por Sanders (têm ambos posições públicas claras em favor dos cuidados de saúde e dos direitos das minorias sexuais), o mesmo não sucede com o «Obamatrade».
Bernie Sanders, campeão no Senado das reivindicações da classe trabalhadora (ok, equiparado a Elizabeth Warren…), está frontalmente contra o acordo com o Pacífico, receando a perda de muitos postos de trabalho americanos.
Já Hillary, que tinha estado contra o NAFTA promovido pelo marido (mais tarde, percebeu as vantagens), é apoiante desde o início de um acordo comercial com os países do Pacífico, mas na fase final da discussão entre Obama e os congressistas democratas tomou posição salomónica, ao lembrar que teriam que ser protegidos os trabalhadores americanos que pudessem estar em perigo.
A longo prazo, um Obama forte em final de mandato beneficia as hipóteses de Hillary: na atual dinâmica da corrida à nomeação, é ela quem estará na melhor posição de herdar a popularidade do Presidente. Sanders, que corre por fora, tenta agarrar a ideia de que «Obama foi mais fraco do que muitos queriam».
O que a realidade insiste em mostrar-nos é que, afinal, Obama está a caminho de ser um dos presidentes com mais concretizações na história dos EUA.
Dylan Matthews, na Vox, não faz a coisa por menos: «Depois destas decisões do Supremo, não resta qualquer dúvida. Barack Obama é um dos presidentes mais consequentes da história americana. E vai ficar como figura emblemática na história do progressismo americano».
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Histórias da Casa Branca: aliança improvável no «Obamatrade»
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 25 DE JUNHO DE 2015:
Tinha tudo para ser um dos momentos mais tensos da relação de Obama com os democratas -- mas tudo indica que acabará por ser um dos momentos mais produtivos da relação do Presidente dos EUA com a oposição republicana no Congresso.
O acordo com o Pacífico (TPP – Trans-Pacific Partnership), proposto há já dez anos entre EUA e um vasto conjunto de países como México, Austrália, Canadá, Chile, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Perú e Singapura, só agora chegou à votação no Congresso norte-americano, depois de um longo caminho de negociações, iniciado em 2012 e concretizado, nos seus objetivos essenciais, em julho de 2014, há quase um ano, na cimeira de Otava, no Canadá.
O Presidente dos EUA empenhou-se tanto na concretização deste objetivo que, na linguagem mediática e política norte-americana, o TPP tem sido apelidado de «Obama Trade Deal», ou, simplesmente, «Obamatrade».
A par da parceria transatlântica (ideia defendida por Obama no Estado da União 2013 e ainda em fase de negociações com a Europa, o TTIP), o TPP será uma das maiores marcas que Barack Obama pretende deixar até ao final do seu segundo mandato.
Integra-se numa visão multilateral que o atual inquilino da Casa Branca advoga para estreitar laços com vizinhos e aliados estratégicos, reforçando a ideia de que «alargar mercados, desde que de forma regulada, será bom para todos a longo prazo».
O Presidente tem defendido que o TPP pode promover o crescimento económico e, por extensão, o aumento dos empregos nos países aderentes.
O problema, para Barack Obama, é que essa não é, de todo, a visão de grande parte do seu partido. E isso ficou bem claro no processo de discussão de detalhes para uma adesão efetiva dos EUA ao TPP.
Com fortes ligações aos sindicatos e associações de trabalhadores e a correntes de esquerda, a maioria dos congressistas democratas (sobretudo os membros da Câmara dos Representantes, mas também vários senadores) colocaram-se contra esta ideia, receando que a aplicação de acordo comercial desta dimensão possa pôr em risco a continuidade de muitos postos de trabalho na América.
Obama não concorda com essa visão das coisas e, durante o processo de discussão do tema, lembrou por diversas vezes que, nas duas campanhas presidenciais que venceu, deu sempre garante relevância ao argumento de « criar postos de trabalho na América e evitar a fuga de empregos para fora dos EUA».
Mais propensos à circulação de capitais e a uma menor taxação da atividade económica, os republicanos foram, por uma vez, os aliados improváveis do Presidente, proporcionando uma aprovação muito significativa no Senado, naquela que foi uma das maiores votações bipartidárias da era Obama.
Por 60-37, uma «fast track bill» aprovada pelo Senado acelera a aplicação do TPP em lei para muito breve, dando luz verde a Barack Obama para negociar os pormenores que faltam com os outros países, sem grande espaço para que os democratas na House of Representatives, em minoria, a possam travar.
Treze dos 60 votos a favor foram de senadores democratas, ainda que esta «fast track» não garanta a inclusão de Trade Adjustment Assistance, programa de assistência a trabalhadores que possam vir a perder o emprego na sequência da aplicação do acordo.
«Estou desiludida que a Trade Adjustment Assistance não tenha sido tão robusta como era necessário para complementar este acordo com o Pacífico. Será um acordo capaz de abranger 40% do comércio mundial nos próximos anos e era necessário garantir salvaguardas», comentou Nancy Pelosi, líder da minoria democrata no Congresso.
Nancy, forte aliada de Barack Obama nos últimos anos, teve, desta vez, uma divergência de fundo com o Presidente. E veremos quanto tempo as feridas poderão demorar a sarar.
Hillary entre Obama e o «core» democrata
Quem foi apanhada a meio da ponte neste estranho braço de ferro entre democratas foi Hillary Clinton.
Se Bernie Sanders, outro candidato presidencial para 2016, ficou incondicionalmente do lado dos sindicatos e dos «House democrats», contra o TPP, Hillary hesitou no posicionamento.
No essencial dos grandes temas, Hillary tem estado de acordo com a agenda política de Barack Obama. Mas, desta vez, não foi bem assim.
A mais do que provável nomeada presidencial democrata defendeu o TPP no passado, mas, depois de período de silêncio, pronunciou-se nos últimos dias de forma favorável às reservas apontadas pelos congressistas democratas, talvez para estancar o crescimento da corrente à sua esquerda no Partido Democrata (e que tem como dois grandes campeões os senadores Bernie Sanders, do Vermont, e Elizabeth Warren, do Massachussets).
«O Presidente deve ouvir e trabalhar com os seus aliados no Congresso, começando por Nancy Pelosi, que expressaram preocupações sobre o impacto que um acordo fraco poderia ter nos trabalhadores americanos e para garantir que termos o melhor e mais forte acordo possível», comentou Hillary, dias antes da aprovação no Senado.
Três senadores republicanos (Mike Lee do Utah, Bob Menendez da Nova Jérsia e Bob Corker do Tennessee) não foram à votação.
Mas Orrin Hatch, senador do Utah que foi um dos autores da «fast track bill» para acelerar o TPP, apontou o argumento mais forte: «Nos próximos anos, a maior fatia do crescimento económico do Mundo acontecerá fora dos Estados Unidos. Temos que aderir a isto e vamos ganhar com isto».
Tinha tudo para ser um dos momentos mais tensos da relação de Obama com os democratas -- mas tudo indica que acabará por ser um dos momentos mais produtivos da relação do Presidente dos EUA com a oposição republicana no Congresso.
O acordo com o Pacífico (TPP – Trans-Pacific Partnership), proposto há já dez anos entre EUA e um vasto conjunto de países como México, Austrália, Canadá, Chile, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Perú e Singapura, só agora chegou à votação no Congresso norte-americano, depois de um longo caminho de negociações, iniciado em 2012 e concretizado, nos seus objetivos essenciais, em julho de 2014, há quase um ano, na cimeira de Otava, no Canadá.
O Presidente dos EUA empenhou-se tanto na concretização deste objetivo que, na linguagem mediática e política norte-americana, o TPP tem sido apelidado de «Obama Trade Deal», ou, simplesmente, «Obamatrade».
A par da parceria transatlântica (ideia defendida por Obama no Estado da União 2013 e ainda em fase de negociações com a Europa, o TTIP), o TPP será uma das maiores marcas que Barack Obama pretende deixar até ao final do seu segundo mandato.
Integra-se numa visão multilateral que o atual inquilino da Casa Branca advoga para estreitar laços com vizinhos e aliados estratégicos, reforçando a ideia de que «alargar mercados, desde que de forma regulada, será bom para todos a longo prazo».
O Presidente tem defendido que o TPP pode promover o crescimento económico e, por extensão, o aumento dos empregos nos países aderentes.
O problema, para Barack Obama, é que essa não é, de todo, a visão de grande parte do seu partido. E isso ficou bem claro no processo de discussão de detalhes para uma adesão efetiva dos EUA ao TPP.
Com fortes ligações aos sindicatos e associações de trabalhadores e a correntes de esquerda, a maioria dos congressistas democratas (sobretudo os membros da Câmara dos Representantes, mas também vários senadores) colocaram-se contra esta ideia, receando que a aplicação de acordo comercial desta dimensão possa pôr em risco a continuidade de muitos postos de trabalho na América.
Obama não concorda com essa visão das coisas e, durante o processo de discussão do tema, lembrou por diversas vezes que, nas duas campanhas presidenciais que venceu, deu sempre garante relevância ao argumento de « criar postos de trabalho na América e evitar a fuga de empregos para fora dos EUA».
Mais propensos à circulação de capitais e a uma menor taxação da atividade económica, os republicanos foram, por uma vez, os aliados improváveis do Presidente, proporcionando uma aprovação muito significativa no Senado, naquela que foi uma das maiores votações bipartidárias da era Obama.
Por 60-37, uma «fast track bill» aprovada pelo Senado acelera a aplicação do TPP em lei para muito breve, dando luz verde a Barack Obama para negociar os pormenores que faltam com os outros países, sem grande espaço para que os democratas na House of Representatives, em minoria, a possam travar.
Treze dos 60 votos a favor foram de senadores democratas, ainda que esta «fast track» não garanta a inclusão de Trade Adjustment Assistance, programa de assistência a trabalhadores que possam vir a perder o emprego na sequência da aplicação do acordo.
«Estou desiludida que a Trade Adjustment Assistance não tenha sido tão robusta como era necessário para complementar este acordo com o Pacífico. Será um acordo capaz de abranger 40% do comércio mundial nos próximos anos e era necessário garantir salvaguardas», comentou Nancy Pelosi, líder da minoria democrata no Congresso.
Nancy, forte aliada de Barack Obama nos últimos anos, teve, desta vez, uma divergência de fundo com o Presidente. E veremos quanto tempo as feridas poderão demorar a sarar.
Hillary entre Obama e o «core» democrata
Quem foi apanhada a meio da ponte neste estranho braço de ferro entre democratas foi Hillary Clinton.
Se Bernie Sanders, outro candidato presidencial para 2016, ficou incondicionalmente do lado dos sindicatos e dos «House democrats», contra o TPP, Hillary hesitou no posicionamento.
No essencial dos grandes temas, Hillary tem estado de acordo com a agenda política de Barack Obama. Mas, desta vez, não foi bem assim.
A mais do que provável nomeada presidencial democrata defendeu o TPP no passado, mas, depois de período de silêncio, pronunciou-se nos últimos dias de forma favorável às reservas apontadas pelos congressistas democratas, talvez para estancar o crescimento da corrente à sua esquerda no Partido Democrata (e que tem como dois grandes campeões os senadores Bernie Sanders, do Vermont, e Elizabeth Warren, do Massachussets).
«O Presidente deve ouvir e trabalhar com os seus aliados no Congresso, começando por Nancy Pelosi, que expressaram preocupações sobre o impacto que um acordo fraco poderia ter nos trabalhadores americanos e para garantir que termos o melhor e mais forte acordo possível», comentou Hillary, dias antes da aprovação no Senado.
Três senadores republicanos (Mike Lee do Utah, Bob Menendez da Nova Jérsia e Bob Corker do Tennessee) não foram à votação.
Mas Orrin Hatch, senador do Utah que foi um dos autores da «fast track bill» para acelerar o TPP, apontou o argumento mais forte: «Nos próximos anos, a maior fatia do crescimento económico do Mundo acontecerá fora dos Estados Unidos. Temos que aderir a isto e vamos ganhar com isto».
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Histórias da Casa Branca: armas, racismo e insanidade
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 19 JUNHO DE 2015:
«Tenho um emprego e é um emprego bastante simples. Chego, de manhã, olho para as notícias, vejo os jornais e escrevo piadas sobre isso… Junto umas caretas, faço uns sons. Depois, ao final do dia, saio por uma porta e está feito. Mas hoje não vou fazer isso, desculpem. Não tenho nada para vocês, não tenho piada ou sons, devido ao que aconteceu na Carolina do Sul»
JON STEWART, arranque do «Daily Show» de quinta
«Pessoas inocentes foram mortas, porque alguém que queria infligir sofrimento aos outros não teve problemas em obter uma uma arma nas suas mãos. Agora é o tempo do luto e de sarar as feridas. Mas sejamos claros: em algum ponto, enquanto país, temos que lidar com o facto que este tipo de violência em massa não acontece noutros países desenvolvidos. Não acontece noutros locais com este tipo de frequência. E está em nosso poder fazer alguma sobre isso».
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, a reagir ao massacre de Charleston
«Quantas mais pessoas precisam de morrer antes de agirmos?»
HILLARY CLINTON, provável nomeada presidencial democrata, sobre o massacre de Charleston
«Há pessoas más neste mundo, que são motivadas pelo ódio»
LINDSEY GRAHAM, candidato às primárias republicanas, senador pela Carolina do Sul
Columbine, Colorado, abril 1999; Lancaster County, Pennsylvania, outubro 2006; Blacksburg, Virgínia, abril 2007; DeKalb, Illinois, fevereiro 2008; Tucson, Arizona, janeiro 2011; Aurora, Colorado, julho 2012; Oak Creek, Wisconsin, agosto 2012; Newtown, Connecticut, dezembro 2012; base militar de Fort Hood, Killeen, Texas, abril 2014; Charleston, Carolina do Sul, junho 2015.
Não, não é tudo: a lista de tragédias com armas nos EUA, envolvendo mortes de inocentes, tem pelo menos 64 entradas desde 1982. Ontem, na Emanuel African Methodist Episcopal Church, foi a mais recente e levou nove pessoas. And so the story goes.
Nove pessoas mortas numa igreja, baleadas por um atacante que entrou e disparou indiscriminadamente.
Mais uma tragédia envolvendo o uso de armas nos EUA. A juntar a outras, nas últimas duas décadas, tão ou ainda mais mortíferas. Foram mais de seis dezenas de episódios sangrentos, sempre com vítimas inocentes que estavam apenas no local errado, no momento errado, nos últimos 33 anos.
Seria motivo para mudanças políticas e sociais drásticas e imediatas.
Mas sabemos que não será assim.
Voltemos a Jon Stewart para perceber porquê:
«Não quero entrar no argumentário político das armas e assim. Mas o que me deixa desconcertado é a disparidade da resposta entre o que as pessoas pensam ser estranho pode matar-nos e o que está a matar-nos. Se isto tivesse sido um ataque de terrorismo islâmico, entraria em nós como tal (invadimos dois países e gastámos triliões de dólares e milhares de vidas americanas e agora também máquinas de morte voadoras e não tripuladas, sobre cinco ou seis países). Torturámos pessoas. Tudo para pôr os americanos em segurança. Nove pessoas mortas numa igreja. E então: ‘Hey, que podemos fazer. Loucos, são loucos não é? Nada a fazer…’ Essa é a parte que não posso, enquanto for vivo, aceitar. Sabem no que esta discussão vai dar. ‘Esta é uma terrível tragédia’. Já estão a utilizar essa linguagem, cheia de ‘nuances’, de falta de esforço em relação a isto.»
Uma outra forma de ataque terrorista
O apresentador do «Daily Show» vai ao fundo da questão: «Isto é um ataque terrorista. Isto é um ataque violento à Emanuel Church na Carolina do Sul, que é um símbolo da comunidade negra. Ouvi alguém dizer nas notícias: ‘A tragédia visitou esta igreja’. Isto não foi um tornado. Isto foi um ato racista. Isto foi um tipo com o símbolo da Rodésia na camisola. Detesto ter que dizer isto, mas esta foi mesmo uma questão ‘preto e branco’. Não há nuance alguma aqui»
«Na Carolina do Sul», recorda Jon Stewart, «as estradas que os negros conduzem têm nomes de generais da Confederação, que lutavam por manter os negros afastados da possibilidade de guiarem livremente por essas estradas. Isso é insanidade. Isso é «wallpaper» racial. Isso... isso nós não podemos permitir».
Em fevereiro de 2013, em fase de acesa discussão no Congresso a propósito das propostas do Presidente Obama para o «gun control», publiquei na TVI24 esta entrevista com Elliot Fineman, presidente da National Guns Victims Action Council (NGAC), uma associação norte-americana, politicamente independente, que tem como lema ser «uma força que se bate por uma legislação de armas saudável».
Fineman, nessa entrevista, advogava a solução das «smart guns», que não permitem que a arma dispare se a impressão digital do atirador não corresponder com a impressão digital do dono legal da arma.
Quase dois e meio depois, muito pouco ou quase nada mudou.
Eugene Robinson, jornalista e colunista negro, aponta no «Washington Post»: «Talvez tenha sido a raiva branca que levou um jovem a matar nove pessoas inocentes enquanto estavam a rezar. Talvez tenha sido a doença mental ou outro tipo de motivação tortuosa. A única coisa que não temos mesmo qualquer dúvida, e que não pode gerar qualquer tipo de debate, é que foi uma arma».
Armas, racismo e insanidade: os três maiores pecados americanos.
Deus precisa mesmo de abençoar os Estados Unidos da América.
«Tenho um emprego e é um emprego bastante simples. Chego, de manhã, olho para as notícias, vejo os jornais e escrevo piadas sobre isso… Junto umas caretas, faço uns sons. Depois, ao final do dia, saio por uma porta e está feito. Mas hoje não vou fazer isso, desculpem. Não tenho nada para vocês, não tenho piada ou sons, devido ao que aconteceu na Carolina do Sul»
JON STEWART, arranque do «Daily Show» de quinta
«Pessoas inocentes foram mortas, porque alguém que queria infligir sofrimento aos outros não teve problemas em obter uma uma arma nas suas mãos. Agora é o tempo do luto e de sarar as feridas. Mas sejamos claros: em algum ponto, enquanto país, temos que lidar com o facto que este tipo de violência em massa não acontece noutros países desenvolvidos. Não acontece noutros locais com este tipo de frequência. E está em nosso poder fazer alguma sobre isso».
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, a reagir ao massacre de Charleston
«Quantas mais pessoas precisam de morrer antes de agirmos?»
HILLARY CLINTON, provável nomeada presidencial democrata, sobre o massacre de Charleston
«Há pessoas más neste mundo, que são motivadas pelo ódio»
LINDSEY GRAHAM, candidato às primárias republicanas, senador pela Carolina do Sul
Columbine, Colorado, abril 1999; Lancaster County, Pennsylvania, outubro 2006; Blacksburg, Virgínia, abril 2007; DeKalb, Illinois, fevereiro 2008; Tucson, Arizona, janeiro 2011; Aurora, Colorado, julho 2012; Oak Creek, Wisconsin, agosto 2012; Newtown, Connecticut, dezembro 2012; base militar de Fort Hood, Killeen, Texas, abril 2014; Charleston, Carolina do Sul, junho 2015.
Não, não é tudo: a lista de tragédias com armas nos EUA, envolvendo mortes de inocentes, tem pelo menos 64 entradas desde 1982. Ontem, na Emanuel African Methodist Episcopal Church, foi a mais recente e levou nove pessoas. And so the story goes.
Nove pessoas mortas numa igreja, baleadas por um atacante que entrou e disparou indiscriminadamente.
Mais uma tragédia envolvendo o uso de armas nos EUA. A juntar a outras, nas últimas duas décadas, tão ou ainda mais mortíferas. Foram mais de seis dezenas de episódios sangrentos, sempre com vítimas inocentes que estavam apenas no local errado, no momento errado, nos últimos 33 anos.
Seria motivo para mudanças políticas e sociais drásticas e imediatas.
Mas sabemos que não será assim.
Voltemos a Jon Stewart para perceber porquê:
«Não quero entrar no argumentário político das armas e assim. Mas o que me deixa desconcertado é a disparidade da resposta entre o que as pessoas pensam ser estranho pode matar-nos e o que está a matar-nos. Se isto tivesse sido um ataque de terrorismo islâmico, entraria em nós como tal (invadimos dois países e gastámos triliões de dólares e milhares de vidas americanas e agora também máquinas de morte voadoras e não tripuladas, sobre cinco ou seis países). Torturámos pessoas. Tudo para pôr os americanos em segurança. Nove pessoas mortas numa igreja. E então: ‘Hey, que podemos fazer. Loucos, são loucos não é? Nada a fazer…’ Essa é a parte que não posso, enquanto for vivo, aceitar. Sabem no que esta discussão vai dar. ‘Esta é uma terrível tragédia’. Já estão a utilizar essa linguagem, cheia de ‘nuances’, de falta de esforço em relação a isto.»
Uma outra forma de ataque terrorista
O apresentador do «Daily Show» vai ao fundo da questão: «Isto é um ataque terrorista. Isto é um ataque violento à Emanuel Church na Carolina do Sul, que é um símbolo da comunidade negra. Ouvi alguém dizer nas notícias: ‘A tragédia visitou esta igreja’. Isto não foi um tornado. Isto foi um ato racista. Isto foi um tipo com o símbolo da Rodésia na camisola. Detesto ter que dizer isto, mas esta foi mesmo uma questão ‘preto e branco’. Não há nuance alguma aqui»
«Na Carolina do Sul», recorda Jon Stewart, «as estradas que os negros conduzem têm nomes de generais da Confederação, que lutavam por manter os negros afastados da possibilidade de guiarem livremente por essas estradas. Isso é insanidade. Isso é «wallpaper» racial. Isso... isso nós não podemos permitir».
Em fevereiro de 2013, em fase de acesa discussão no Congresso a propósito das propostas do Presidente Obama para o «gun control», publiquei na TVI24 esta entrevista com Elliot Fineman, presidente da National Guns Victims Action Council (NGAC), uma associação norte-americana, politicamente independente, que tem como lema ser «uma força que se bate por uma legislação de armas saudável».
Fineman, nessa entrevista, advogava a solução das «smart guns», que não permitem que a arma dispare se a impressão digital do atirador não corresponder com a impressão digital do dono legal da arma.
Quase dois e meio depois, muito pouco ou quase nada mudou.
Eugene Robinson, jornalista e colunista negro, aponta no «Washington Post»: «Talvez tenha sido a raiva branca que levou um jovem a matar nove pessoas inocentes enquanto estavam a rezar. Talvez tenha sido a doença mental ou outro tipo de motivação tortuosa. A única coisa que não temos mesmo qualquer dúvida, e que não pode gerar qualquer tipo de debate, é que foi uma arma».
Armas, racismo e insanidade: os três maiores pecados americanos.
Deus precisa mesmo de abençoar os Estados Unidos da América.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Histórias da Casa Branca: o caminho estreito de Jeb Bush
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 15 DE JUNHO DE 2015:
Jeb Bush, 62 anos, casado e pai de três filhos (George, John e Noelle), filho do 41.º Presidente e irmão do 43.º Presidente dos EUA, governador da Florida entre 1999 e 2007, declarou esta segunda-feira, na Universidade de Miami Dade, a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos.
Quer ser o terceiro Bush na Casa Branca, 27 anos depois do pai e 15 anos depois do irmão lá terem chegado.
No dia do arranque oficial (na prática, já está no terreno há 18 meses, sendo que só em 2014 participou em mais de 40 eventos de campanha de governadores republicanos), Jeb anuncia plano de criação de 19 milhões de empregos e lança o headline «disrupt Washington», demarcando-se assim de outros candidatos republicanos como Ted Cruz, Marco Rubio, Lindsey Graham, Mike Huckabee ou Rand Paul, que são senadores.
E para atacar a política externa de Obama, Jeb promete, enquanto presidente, que «os EUA consigam envolver-se de forma diferente no mundo». Jeb foi o 11.º candidato declarado às primárias republicanas. Mas ainda vêm ai mais. Um deles é Chris Christie, que deve avançar em breve.
Jeb «overseas»
Nas semanas anteriores ao anúncio desta segunda, Jeb Bush viajou pela Europa, para apresentar aos parceiros europeus as credenciais que podem fazer dele o próximo presidente americano. Mostrando, essencialmente, uma preocupação: distanciar-se da visão de política externa do irmão e aproximar-se da do pai.
Avisou sobre o perigo russo, prometeu liderança americana nas principais questões que ameaçam o Mundo, mas fugiu de aventuras intervencionistas idênticas à que o irmão George W. promoveu em 2003 no Iraque.
E, claro, acusou Obama de ser líder hesitante e fraco, um «mantra» para qualquer republicano quando se refere à política externa do atual presidente: «Quando há dúvida, quando há incerteza, quando recuamos, isso cria menos hipóteses de vermos mais paz no Mundo», comentou Jeb na Polónia.
Quadratura do círculo
É mais ou menos isso que Jeb terá que fazer, se quiser agarrar a nomeação presidencial republicana, lá para o verão de 2016: uma autêntica «quadratura do círculo», entre mostrar-se suficientemente conservador para agradar à ala mais à direita do partido, não perdendo o que o diferencia de rivais como Ted Cruz, Rand Paul ou Marco Rubio.
Ou seja: Jeb não deve desdizer-se em temas como a imigração (sempre teve bons apoios entre os hispânicos, o maior deles está em casa, é casado há 41 anos com a mexicana Columba), mesmo sabendo que isso lhe está a custar muitos apoios na base republicana.
A observação tem a ver com o que as sondagens têm mostrado: Jeb aparece à frente da corrida republicana a nível nacional, sim, mas diferenças curtas perante nomes menos cotados como Scott Walker, Ben Carson ou até Rand Paul. E mal posicionado nos estados de arranque, Iowa e New Hampshire, dado que pode vir a alterar a dinâmica para o resto da corrida (que o diga, por exemplo, Rudy Giuliani em 2008).
Jonathan Martin e Patrick Healy, também no New York Times, sintetizam o caminho estreito de Jeb:«Tinha um plano de seis meses como candidato-não-declarado: angariaria dezenas de milhões de dólares, iria demarcar-se do controverso irmão ex-presidente, começaria a ganhar apoio dos conservadores e iria estabelecer-se como o candidato inevitável dos republicanos. Mas em vez disso, ainda não conseguiu recolher muito dinheiro e tem estado dividido entre defender e distanciar-se de George W. Bush. Não tem conseguido capitalizar o que fez como governador na imigração e na educação e depara-se com um muro de oposição à sua direita. E assim, no arranque oficial da sua candidatura, Bush vê-se em posição que não imaginaria: parte de um lote muito vasto de candidatos e com várias questões sobre a competência e conservadorismo».
Conseguirá Jeb ser maior do que apenas mais um Bush?
Jeb Bush, 62 anos, casado e pai de três filhos (George, John e Noelle), filho do 41.º Presidente e irmão do 43.º Presidente dos EUA, governador da Florida entre 1999 e 2007, declarou esta segunda-feira, na Universidade de Miami Dade, a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos.
Quer ser o terceiro Bush na Casa Branca, 27 anos depois do pai e 15 anos depois do irmão lá terem chegado.
No dia do arranque oficial (na prática, já está no terreno há 18 meses, sendo que só em 2014 participou em mais de 40 eventos de campanha de governadores republicanos), Jeb anuncia plano de criação de 19 milhões de empregos e lança o headline «disrupt Washington», demarcando-se assim de outros candidatos republicanos como Ted Cruz, Marco Rubio, Lindsey Graham, Mike Huckabee ou Rand Paul, que são senadores.
E para atacar a política externa de Obama, Jeb promete, enquanto presidente, que «os EUA consigam envolver-se de forma diferente no mundo». Jeb foi o 11.º candidato declarado às primárias republicanas. Mas ainda vêm ai mais. Um deles é Chris Christie, que deve avançar em breve.
Jeb «overseas»
Nas semanas anteriores ao anúncio desta segunda, Jeb Bush viajou pela Europa, para apresentar aos parceiros europeus as credenciais que podem fazer dele o próximo presidente americano. Mostrando, essencialmente, uma preocupação: distanciar-se da visão de política externa do irmão e aproximar-se da do pai.
Avisou sobre o perigo russo, prometeu liderança americana nas principais questões que ameaçam o Mundo, mas fugiu de aventuras intervencionistas idênticas à que o irmão George W. promoveu em 2003 no Iraque.
E, claro, acusou Obama de ser líder hesitante e fraco, um «mantra» para qualquer republicano quando se refere à política externa do atual presidente: «Quando há dúvida, quando há incerteza, quando recuamos, isso cria menos hipóteses de vermos mais paz no Mundo», comentou Jeb na Polónia.
Quadratura do círculo
É mais ou menos isso que Jeb terá que fazer, se quiser agarrar a nomeação presidencial republicana, lá para o verão de 2016: uma autêntica «quadratura do círculo», entre mostrar-se suficientemente conservador para agradar à ala mais à direita do partido, não perdendo o que o diferencia de rivais como Ted Cruz, Rand Paul ou Marco Rubio.
Ou seja: Jeb não deve desdizer-se em temas como a imigração (sempre teve bons apoios entre os hispânicos, o maior deles está em casa, é casado há 41 anos com a mexicana Columba), mesmo sabendo que isso lhe está a custar muitos apoios na base republicana.
Nate Cohn, no New York Times, identifica: «Bush pode ainda estar a caminho da nomeação. Mas a surpresa em torno da sua candidatura é que no momento em que entra oficialmente na corrida ele ainda não colheu grandes benefícios de ser o candidato do centro-direita e já sofreu muitos dos custos».
A observação tem a ver com o que as sondagens têm mostrado: Jeb aparece à frente da corrida republicana a nível nacional, sim, mas diferenças curtas perante nomes menos cotados como Scott Walker, Ben Carson ou até Rand Paul. E mal posicionado nos estados de arranque, Iowa e New Hampshire, dado que pode vir a alterar a dinâmica para o resto da corrida (que o diga, por exemplo, Rudy Giuliani em 2008).
«Jeb não está a ganhar a «corrida invisível» pelo apoio das elites republicanas. E nem sequer mobilizou ainda os votantes mais moderados. Ele começa numa posição mais fraca do que, por exemplo, o seu irmão em 1999 ou o seu pai em 1987, ou até mesmo Mitt Romney em 2011», insiste Nate Cohn.
Jonathan Martin e Patrick Healy, também no New York Times, sintetizam o caminho estreito de Jeb:«Tinha um plano de seis meses como candidato-não-declarado: angariaria dezenas de milhões de dólares, iria demarcar-se do controverso irmão ex-presidente, começaria a ganhar apoio dos conservadores e iria estabelecer-se como o candidato inevitável dos republicanos. Mas em vez disso, ainda não conseguiu recolher muito dinheiro e tem estado dividido entre defender e distanciar-se de George W. Bush. Não tem conseguido capitalizar o que fez como governador na imigração e na educação e depara-se com um muro de oposição à sua direita. E assim, no arranque oficial da sua candidatura, Bush vê-se em posição que não imaginaria: parte de um lote muito vasto de candidatos e com várias questões sobre a competência e conservadorismo».
Conseguirá Jeb ser maior do que apenas mais um Bush?
sábado, 13 de junho de 2015
Histórias da Casa Branca: Obama multifunções
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 12 JUNHO DE 2015:
A corrida presidencial norte-americana para 2016 avança a passos largos (o leque de candidatos republicanos já vai em dez e está prestes a subir, em vésperas do anúncio formal de Jeb Bush, e do lado democrata, Hillary fará este sábado o primeiro discurso em comício) e isso poderia diminuir a capacidade de Barack Obama marcar a agenda na política americana.
Mas o que está a acontecer é algo bem diferente.
Os últimos dias voltaram a provar que as posições e prioridades do 44.º Presidente dos EUA vão continuar a determinar o essencial da rota política da América no próximo ano e meio. Ainda que nem sempre pelos melhores motivos.
A ameaça russa estará, cada vez mais, na lista de prioridades da reta final da presidência Obama.
Na recente cimeira do G7, o presidente norte-americano não podia ter sido mais claro. Putin, acusou Obama, tem um «desejo obstinado de recrear as antigas glórias do império soviético».
E o presidente dos EUA lançou mais um aviso ao homólogo do Kremlin: «Estamos prontos para tomar futuras medidas restritivas de modo a aumentar os custos na Rússia, se as ações assim o determinarem».
Mas Obama não se preocupou só com Putin, na cimeira realizada na cidade alemã de Krun: insistiu muito na questão ambiental (as mudanças climáticas serão outra prioridade do ano e meio final deste Presidente), apelou ao «sentido de responsabilidade» do governo de Tsipras, na crise grega» e até exigiu «transparência» à FIFA.
O Iraque, sempre o Iraque
Alterações climáticas, independência energética, responsabilidade e ética nas relações internacionais e nas regras do jogo no futebol mundial: temas caros a Obama, sim, mas há sem dúvida um problema maior a encarar com prioridade máxima -- o Médio Oriente.
Dentro dessa grande tenda, dois pontos especialmente sensíveis (ambos diretamente ligados): o Iraque e o combate ao Estado Islâmico.
As últimas semanas são preocupantes: o ISIS a conquistar Ramadi, no Iraque, e Palmira, na Síria; também a ganhar posições a norte de Aleppo.
Obama, contestado em diversas frentes pela forma como está a liderar a coligação que trava combate ao EI, voltou a confessar: «Os EUA ainda não têm uma estratégia completa e total». Mas o líder da Casa Branca insistiu na urgência de uma mudança de atitude das autoridades iraquianas, remetendo alguma culpa ao governo de Abadi na perda de Ramadi: «Queremos mais tropas iraquianas treinadas, frescas, bem equipadas e concentradas. Abadi quer o mesmo, por isso estamos neste momento a rever os planos de como podemos fazer isso».
Pressão sobre Abadi
E Obama não quer só mais envolvimento dos iraquianos. Apela à ação dos muçulmanos sunitas em geral, numa separação de águas entre os sunitas moderados e os jiadistas radicais, também sunitas, do Estado Islâmico: «Temos vistos tribos sunitas que não só querem e estão preparadas para combater o Estado Islâmico, como têm-no feito com sucesso. Isto não tem acontecido com a velocidade necessária.»
O Presidente dos EUA já não tem tempo nem margem política para assumir uma mudança dramática na estratégia contra o «Daesh». Envio maciço de tropas para o terreno está fora de hipótese. Mas o recente envio para o Iraque de mais 350 «conselheiros militares» (muitos deles, na verdade, operacionais altamente especializados, capazes de dominar as tecnologias de ponta que os militares iraquianos no terreno não estarão a aproveitar devidamente) reforça a ideia de que o combate ao Estado Islâmico exigirá sempre um complemento «on the ground» às ações aéreas da coligação.
Recuo no Trade Deal
Outra frente importante para Obama neste ano e meio são os grandes acordos comerciais e de investimento com o Europa e o Pacífico. Integram-se na visão multilateral do Presidente de recentrar os EUA como pêndulo fundamental das relações internacionais.
Só que, por diferentes motivos, Barack não tem grandes aliados internos nessa sua intenção. Se em quase tudo o resto sofre forte e feroz oposição dos republicanos, no grande acordo com o Pacífico está a ter divergências muito complicadas de resolver com os seus amigos democratas no Congresso.
A explicação é relativamente simples: os democratas eleitos para o US Congress têm como intenção fundamental defender os interesses dos sindicatos que os apoiam nos respetivos estados. E receiam que o «Trade Deal» leve à perda de postos de trabalho americanos e a uma abertura não regulada a mercados asiáticos, que possam ser hostis aos «traditional american jobs».
Nesta sexta, como era de esperar, e apesar de apelo final de Obama no sentido de que tal não acontecesse, os democratas na House rejeitaram a Trade Bill: «Queremos um acordo melhor para os trabalhadores americanos», explicou Nancy Pelosi, a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes.
A vida está difícil para Barack Obama. Mas, desde que chegou à Casa Branca, sempre esteve, não é verdade?
A corrida presidencial norte-americana para 2016 avança a passos largos (o leque de candidatos republicanos já vai em dez e está prestes a subir, em vésperas do anúncio formal de Jeb Bush, e do lado democrata, Hillary fará este sábado o primeiro discurso em comício) e isso poderia diminuir a capacidade de Barack Obama marcar a agenda na política americana.
Mas o que está a acontecer é algo bem diferente.
Os últimos dias voltaram a provar que as posições e prioridades do 44.º Presidente dos EUA vão continuar a determinar o essencial da rota política da América no próximo ano e meio. Ainda que nem sempre pelos melhores motivos.
A ameaça russa estará, cada vez mais, na lista de prioridades da reta final da presidência Obama.
Na recente cimeira do G7, o presidente norte-americano não podia ter sido mais claro. Putin, acusou Obama, tem um «desejo obstinado de recrear as antigas glórias do império soviético».
E o presidente dos EUA lançou mais um aviso ao homólogo do Kremlin: «Estamos prontos para tomar futuras medidas restritivas de modo a aumentar os custos na Rússia, se as ações assim o determinarem».
Mas Obama não se preocupou só com Putin, na cimeira realizada na cidade alemã de Krun: insistiu muito na questão ambiental (as mudanças climáticas serão outra prioridade do ano e meio final deste Presidente), apelou ao «sentido de responsabilidade» do governo de Tsipras, na crise grega» e até exigiu «transparência» à FIFA.
O Iraque, sempre o Iraque
Alterações climáticas, independência energética, responsabilidade e ética nas relações internacionais e nas regras do jogo no futebol mundial: temas caros a Obama, sim, mas há sem dúvida um problema maior a encarar com prioridade máxima -- o Médio Oriente.
Dentro dessa grande tenda, dois pontos especialmente sensíveis (ambos diretamente ligados): o Iraque e o combate ao Estado Islâmico.
As últimas semanas são preocupantes: o ISIS a conquistar Ramadi, no Iraque, e Palmira, na Síria; também a ganhar posições a norte de Aleppo.
Obama, contestado em diversas frentes pela forma como está a liderar a coligação que trava combate ao EI, voltou a confessar: «Os EUA ainda não têm uma estratégia completa e total». Mas o líder da Casa Branca insistiu na urgência de uma mudança de atitude das autoridades iraquianas, remetendo alguma culpa ao governo de Abadi na perda de Ramadi: «Queremos mais tropas iraquianas treinadas, frescas, bem equipadas e concentradas. Abadi quer o mesmo, por isso estamos neste momento a rever os planos de como podemos fazer isso».
Pressão sobre Abadi
E Obama não quer só mais envolvimento dos iraquianos. Apela à ação dos muçulmanos sunitas em geral, numa separação de águas entre os sunitas moderados e os jiadistas radicais, também sunitas, do Estado Islâmico: «Temos vistos tribos sunitas que não só querem e estão preparadas para combater o Estado Islâmico, como têm-no feito com sucesso. Isto não tem acontecido com a velocidade necessária.»
O Presidente dos EUA já não tem tempo nem margem política para assumir uma mudança dramática na estratégia contra o «Daesh». Envio maciço de tropas para o terreno está fora de hipótese. Mas o recente envio para o Iraque de mais 350 «conselheiros militares» (muitos deles, na verdade, operacionais altamente especializados, capazes de dominar as tecnologias de ponta que os militares iraquianos no terreno não estarão a aproveitar devidamente) reforça a ideia de que o combate ao Estado Islâmico exigirá sempre um complemento «on the ground» às ações aéreas da coligação.
Recuo no Trade Deal
Outra frente importante para Obama neste ano e meio são os grandes acordos comerciais e de investimento com o Europa e o Pacífico. Integram-se na visão multilateral do Presidente de recentrar os EUA como pêndulo fundamental das relações internacionais.
Só que, por diferentes motivos, Barack não tem grandes aliados internos nessa sua intenção. Se em quase tudo o resto sofre forte e feroz oposição dos republicanos, no grande acordo com o Pacífico está a ter divergências muito complicadas de resolver com os seus amigos democratas no Congresso.
A explicação é relativamente simples: os democratas eleitos para o US Congress têm como intenção fundamental defender os interesses dos sindicatos que os apoiam nos respetivos estados. E receiam que o «Trade Deal» leve à perda de postos de trabalho americanos e a uma abertura não regulada a mercados asiáticos, que possam ser hostis aos «traditional american jobs».
Nesta sexta, como era de esperar, e apesar de apelo final de Obama no sentido de que tal não acontecesse, os democratas na House rejeitaram a Trade Bill: «Queremos um acordo melhor para os trabalhadores americanos», explicou Nancy Pelosi, a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes.
A vida está difícil para Barack Obama. Mas, desde que chegou à Casa Branca, sempre esteve, não é verdade?
Subscrever:
Mensagens (Atom)