sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: Ben Carson, a versão «soft» do populismo


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 4 DE SETEMBRO DE 2015:


A corrida republicana continua em estado de choque pela liderança de Donald Trump, mas começa a haver sinais de que o momento do multimilionário pode estar a terminar. 
  
As sondagens continuam a dar bom avanço a Trump, é certo, mas recente estudo da Suffolk para o Iowa deu empate entre Donald e a outra grande surpresa desta fase: Ben Carson, neurocirurgião negro que também se apresenta como alguém fora do sistema político e com mensagem própria. 
  
Trump e Carson são ambos herdeiros do sentimento «anti-políticos» que vai reinando na direita americana. Do descontentamento e até da zanga de grande parte do eleitorado republicano em relação à incapacidade dos seus líderes, nos últimos anos, evitarem os sucessos da Administração Obama. 
  
Os dois são populistas e orgulham-se de não terem currículo governamental ou no Congresso, reivindicando uma certa «pureza» perante os «vícios» de Washington. 
  
Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois: Donald é agressivo, zangado, dispara em todas as direções; Ben fala de modo eloquente, num estilo «soft». 
  
Se até há poucas semanas quase ninguém imaginava que Donald Trump agarrasse a liderança da corrida, já Ben Carson tem mostrado, há alguns meses, ter um segmento minoritário mas fiel que o apoia. 
  
Essa fatia tinha, até há semanas, uns 5/7%. Mas parece estar a crescer. Nas sondagens nacionais, Ben aparece por vezes em segundo, noutras em terceiro, acima dos 10 pontos. E no Iowa surge bem melhor, com essa pesquisa Suffolk a colocar-lhe taco a taco com Trump, ambos acima dos 20 pontos. 
  
Tudo aponta para que seja tendência passageira. 
  
Mas não deixa de ser enorme surpresa esta preferência pelos anti-políticos, que está a remeter os candidatos politicamente mais sólidos (Jeb Bush, Marco Rubio, Scott Walker, Chris Christie) com apoios inesperadamente residuais. 

Donald «vs» Jeb 
  
Talvez por estar muito acima do favorito, Donald Trump tem-se dedicado a apontar baterias a Jeb Bush. 
  
Critica o irmão e filho dos últimos dois presidentes republicanos por falar com regularidade em espanhol (Jeb aposta forte nos segmentos latinos), lembrando que «a língua oficial dos EUA é o inglês»; acusa Jeb de ser «fraco» e insinua que «se ele fosse presidente os EUA ia por aí abaixo, seria uma desgraça…» 

Jeb, que começou por ignorar, está a mudar de estratégia e vai subindo o tom das respostas aos desvarios de Trump, Mas a verdade é que passa por «seca» nas sondagens, com valores muito baixos nos estados de arranque (Iowa e New Hampshire) e mesmo nas sondagens nacionais, que já chegou a liderar. 

Não por acaso, o ex-governador da Florida tem tido problemas internos na sua campanha, com mudanças em postos chave nos seus assessores e conselheiros (pode estar à vista uma alteração na estratégia de Jeb). 

Fiorina e Kasich a crescer 
  
Quem estão à espreita, perante a crise dos favoritos Bush, Rubio e Kasich, são Carly Fiorina (cada vez mais forte no Iowa e com provável presença no debate na CNN do próximo dia 16, na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan) e o governador do Ohio, John Kasich, a obter apoios crescentes no New Hampshire.

Mike Huckabee, Rand Paul e Chris Christie, pretendentes com potencial mas neste momento em dificuldades nas sondagens, terão nesse debate de dia 16 uma espécie de... última oportunidade antes do arranque das votações para tomar o seu momento.

Candidatos como Rick Santorum, Bobby Jindal, Rick Perry, Jim Gilmore, Lindsey Graham e George Pataki, que nem aos dois pontos percentuais chegam, podem desistir ainda antes do Iowa, uma vez que começam a ter sérios problemas de financiamento nas respetivas campanhas.

A América é mesmo uma caixinha de surpresas.
 

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