sexta-feira, 20 de março de 2009

As memórias de Bill Clinton


«Quando Bob Rubin veio para a administração, era talvez o homem mais rico da nossa equipa. Depois de ele ter apoiado o plano económico de 1993, que incluía o aumento dos impostos para os americanos com rendimentos mais altos, eu costumava gracejar dizendo: 'Bob Rubin veio para Washington para me ajudar a salvar a classe média e, quando se for embora, fará parte dela.' Agora que Bob regressava à vida privada, eu já não tinha de me preocupar com este assunto. Nomeei vice-secretário de Bob, Larry Summers, para lhe suceder. Larry estivera no centro de todas as grandes questões económicas dos últimos seis anos, e estava disponível».

in A Minha Vida, Bill Clinton, Temas e Debates, 2004, página 878


Esta é uma de muitas histórias contadas por Bill Clinton num livro que já tem quase cinco anos, mas que só ontem acabei de ler na totalidade. É de leitura obrigatória para quem se interessa por política americana e faz um apanhado do que de mais relevante se passou na América e no Mundo nas últimas seis décadas -- o tempo de vida do ex-Presidente.

Aspecto muito, muito curioso: o nome de Barack Obama nunca foi mencionado. Nem uma vez. Não se pense que a explicação tem alguma coisa a ver com ressentimento por parte de Bill, em relação ao que se passou nas primárias de 2008. Nada disso. Como já referi, o livro foi terminado em 2004. A questão é que, em apenas cinco anos, a América foi capaz de produzir um Presidente que veio... do nada, do total desconhecimento do grande público.

Ao longo da leitura deste livro de quase mil páginas (que prolonguei por quase quatro anos, entrecortada por dezenas e dezenas de outros livros de leitura mais imediata), fui reparando nesse pormenor. Mas como, mesmo assim, achei a situação estranha, consultei, no final, o índice onomástico. E é mesmo verdade: Barack Obama nunca foi referido, sendo que o nome de John McCain, por exemplo, é referido mais de uma dezenas de vezes, bem como inúmeras outras figuras da política americana e internacional, de dimensão bem menor, se comparada com o Presidente dos EUA.

Moral da história: só mesmo nos Estados Unidos isto seria possível. A mobilidade da política americana é o garante da sua capacidade de regeneração. Não é tudo, como é óbvio. Há uma certa continuidade, que é mostrada no excerto que escolhi: Bob Rubin, que Clinton elogia, foi secretário do Tesouro no primeiro mandato e é a principal referência de quem, hoje, manda nas Finanças da Administração Obama: Tim Geithner, o actual secretário do Tesouro, Peter Orszag, o director do Orçamento, e Larry Summers, conselheiro económico nacional, são todos 'rubinomics', discípulos de Bob Rubin.

Mas quando olhamos para a realidade política europeia e comparamos com este exemplo, só podemos mesmo concluir que, com todos os defeitos inerentes, a mobilidade americana faz dos EUA, ainda, a terra de todas as oportunidades.

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