quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Lidar com a Coreia do Norte, depois do sucesso diplomático de Bill Clinton

Um artigo de Nicholas Kristof, jornalista do New York Times, publicado hoje no «i»:

«Agora que o presidente Bill Clinton já tirou as jornalistas Laura Ling e Euna Lee da Coreia do Norte, começa o trabalho difícil.

Há novos indícios de que a Coreia do Norte pode estar a transferir tecnologia nuclear para Myanmar, o país ditatorial também conhecido por Birmânia, e de que anteriormente já teria fornecido um reactor à Síria. Durante muitos anos, baseando-me em cinco visitas à Coreia do Norte e às suas áreas fronteiriças, defendi uma abordagem de diálogo com Pyong- yang, mas agora, e com relutância, tive de concluir que precisamos de mais paus e menos cenouras.

Os desertores birmaneses deram dados pormenorizados sobre um reactor norte-coreano - talvez uma réplica do que foi fornecido à Síria - construído nas profundezas de uma montanha em Myanmar. Esses testemunhos, publicados em primeira mão este mês pelo "Sydney Morning Herald", foram recolhidos por Desmond Ball, respeitado estudioso de assuntos asiáticos, e Phil Thornton, jornalista especialista em Myanmar, e corroborados por outras informações dos serviços secretos.

Caso os relatos dos desertores sejam verídicos, o reactor "poderá estar operacional e produzir uma bomba por ano, todos os anos, a partir de 2014", escrevem Ball e Thornton.

As suspeitas podem ser falsas. O Iraque é prova de que os testemunhos de desertores sobre armas de destruição em massa podem estar errados. Porém, em parte porque o reactor da Síria (destruído durante um bombardeamento israelita em 2007) apanhou de surpresa os serviços secretos, todos estão a levar a sério os relatórios mais recentes. A secretária de Estado Hillary Clinton manifestou preocupação com a transferência de tecnologia nuclear da Coreia do Norte para Myanmar, sem entrar em mais pormenores.

Tudo isto tinha sido estranhamente previsto pelos próprios norte-coreanos.

Ocasionalmente, no passado, parecia haver esperança na diplomacia para dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir o programa nuclear e convencê-la a aderir ao diálogo entre nações. Hoje em dia isso parece quase impossível.

A verdade é que a Coreia do Norte não pretende abdicar do seu material nuclear. Está centrada na sua própria transição e, este ano, recusou a visita de um enviado especial da administração Obama, Stephen Bosworth. O Norte não está interessado em "conversações a seis" sobre assuntos nucleares; procura, isso sim, ter conversações com os EUA conquanto estes aceitem o estatuto da Coreia do Norte como potência nuclear - o que é inaceitável.

Nos últimos meses, a Coreia do Norte desfez algumas reformas económicas e projectos de cooperação económica com a Coreia do Sul. Entretanto, continua a falsificar notas de 100 dólares - o produto de mais alta qualidade que a Coreia do Norte fabrica - e as suas embaixadas no Paquistão e noutros países pagam as despesas fazendo contrabando de droga, bebidas e divisas. A Coreia do Norte libertou reféns dos EUA mas continua a ter sul-coreanos na prisão. E é o estado mais totalitário da história: nas casas norte-coreanas vi "altifalantes" nas paredes que todas as manhãs acordam as pessoas com propaganda. Mais estranho ainda: é vulgar os trigémeos serem retirados aos pais pelo estado porque são considerados de mau agoiro.

É um país onde não existem boas alternativas e uma revolução das bases é praticamente impossível. A maioria dos norte-coreanos, mesmo os que vivem na China e desprezam o regime no seu país, dizem que grande parte dos norte-coreanos "engole" a propaganda. Com efeito, a popularidade de Kim Jong-il no seu país pode bem ser superior à de Barack Obama nos EUA.

A nossa melhor aposta será continuar a apoiar as negociações, incluindo um canal nos bastidores, que possa centrar- -se em assuntos de substância e não no protocolo, bem como nas trocas económicas e culturais - mas com a ajuda de paus.

Sempre que tivermos informações sobre navios norte-coreanos que transferem material ou tecnologia nuclear para países como Myanmar ou o Irão, devemos avançar e interceptá-los. É um passo extremo, mas seria um pesadelo que o Irão simplesmente decidisse poupar tempo e comprasse uma ou duas armas nucleares à Coreia do Norte. Não podemos permitir que isso aconteça.»

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