sexta-feira, 8 de junho de 2012

Histórias da Casa Branca: O desafio da mobilização


A última semana trouxe sinais preocupantes para Barack Obama: a vitória de Scott Walker no Wisconsin, as críticas de Bill Clinton e Ed Rendell e a maior angariação de fundos da campanha de Romney no mês de Maio levantaram dúvidas sobre a capacidade de mobilização do campo democrata para novembro



O desafio da mobilização

Por Germano Almeida



Numa altura em que Mitt Romney parece ter sossegado os críticos republicanos, depois de uma época de primárias particularmente conturbada, os sinais de divisão interna aparecem, de forma um pouco inesperada, no campo democrata.

A última semana foi especialmente difícil para o Presidente Obama. No Wisconsin, estado que vota democrata nas eleições presidenciais desde 1988, o triunfo do governador republicano Scott Walker complicou a missão de Barack para novembro.

Walker foi eleito legitimamente, mas a sua polémica governação levou a uma eleição intermédia (figura prevista no sistema americano), que o obrigou a ter que defender o seu próprio cargo, de novo nas urnas. Até há poucos dias, sempre que tal sucedeu na América, os governadores em funções perderam.

Mas Scott Walker venceu, em grande parte devido ao forte financiamento de sectores do Tea Party. Como a sua mulher oportunamente observou na noite da vitória, «Scott é o primeiro governador americano a ser eleito duas vezes para o mesmo mandato».

As sondagens continuam a mostrar uma boa vantagem de Obama sobre Romney neste importante estado do Midwest, no que à disputa presidencial diz respeito. Mas a vitória de Walker (um republicano da ala dura, que tem governado com base num programa altamente crítico dos direitos dos sindicatos e de associações ligadas ao Partido Democrata) levantou algumas dúvidas sobre se Obama conseguirá mesmo manter o Wisconsin na coluna dos estados garantidos.

Há quatro anos, Barack derrotou John McCain no Wisconsin por uma larga vantagem -- mas foi o próprio David Axelrod, principal conselheiro político de Obama, a reconhecer: "A partir de agora, o Wisconsin passa a estar entre os estados em disputa nas eleições de novembro".

Unir o campo democrata. É o principal desafio de Obama nas próximas semanas: afastar os sinais de divisão que começam a desenhar-se no Partido Democrata, em função da herança do primeiro mandato presidencial de Barack.

Bill Clinton, o último Presidente democrata antes de Obama, surgiu nos últimos dias com afirmações um pouco contraditórias. Apesar de apoiar Barack de forma clara, na tentativa de reeleição, o 42º Presidente dos EUA demarcou-se das críticas feitas pela campanha de Obama ao trabalho de Mitt Romney na Bain Capital, elogiando o desempenho empresarial do nomeado republicano (e mesmo quando esclareceu as declarações, Clinton pareceu querer assumir um discurso diferente do da campanha de Obama).

O marido da atual secretária de Estado foi prontamente "corrigido" pela presidente do Comité Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz, que sentenciou: "O Presidente Clinton está errado em relação ao passado de Mitt Romney na Bain Capital".

Mas Clinton não foi o único notável democrata a aparecer em dissonância com a mensagem de Obama, nos tempos mais recentes. Ed Rendell, antigo governador da Pensilvânia e elemento importante do Democratic Nacional Comittee, admitiu «não ter a certeza que Obama será reeleito» e mostrou-se «desapontado» com os ataques da campanha de Barack ao passado empresarial de Mitt Romney, na gestão da Bain Capital.

Convém explicar que Ed Rendell foi um dos principais líderes do Partido Democrata a apoiar a candidatura presidencial de Hillary Clinton, há quatro anos. Nunca foi do núcleo próximo de Obama, embora tenha sido, por exemplo, forte defensor da forma como o Presidente geriu politicamente a batalha pela aprovação legislativa da Reforma da Saúde.

Há quem veja nestas críticas de Rendell a Obama um resquício de uma certa facção do Partido Democrata, que se estará a preparar para uma candidatura presidencial de Hillary Clinton em 2016.

Certo, certo é que Barack Obama tem que saber interpretar estes sinais, se pretender repetir a fantástica mobilização de há quatro anos. Sem uma boa parte dos independentes que nele votaram em 2008, Obama não pode dar-se ao luxo de perder um segmento que seja do eleitorado tradicionalmente democrata.

Há outro dado recente que merece reflexão junto da máquina de apoio a Obama: em Maio, a campanha de reeleição de Barack angariou 60 milhões de dólares de apoios. No mesmo período, a campanha de Romney amealhou 76,5 milhões -- uma diferença que ainda está longe de ser suficiente para colmatar a grande vantagem de Obama sobre Mitt no dinheiro total angariado, mas que sinaliza uma certa desaceleração no entusiasmo das hostes democratas. 

O próximo desafio será, por isso, o da mobilização do seu próprio partido, para uma reeleição que, tudo o indica, permanecerá uma incógnita até 6 de novembro. 

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