quarta-feira, 6 de junho de 2012

Histórias da Casa Branca: Quatro caminhos para a reeleição




Barack Obama em campanha no Iowa: há quatro anos, os triunfos no Midwest foram decisivos na nomeação democrata e, sobretudo, na eleição geral. Em 2012, Obama continua forte na América profunda, apesar da timidez da recuperação económica




Quatro caminhos para a reeleição


Por Germano Almeida 


A exatamente cinco meses das eleições presidenciais nos EUA (serão a 6 de novembro de 2012), prevalece a ideia de que esta será uma disputa muito renhida.

Há fatores de enorme relevância que só ficarão mais claros depois do verão (como se comportará a evolução do emprego nos próximos meses?; a aparente união dos republicanos em torno da nomeação de Mitt Romney é passageira, ou será para manter?), mas tudo indica que o duelo Obama/Romney será mesmo definido por detalhes nos estados chave.

As probabilidades de reeleição de Obama, que já chegaram a passar a barreira dos 65 por cento, estão agora abaixo dos 55 por cento -- embora o Presidente continue a ser favorito.

Obama é, em traços gerais, melhor político do que Romney. É mais mobilizador, tem uma oratória mais convincente e apresenta um conjunto de qualidades políticas mais consistentes, quando comparadas com as características do seu adversário.

Se a isto juntarmos o facto de ser historicamente mais provável que um Presidente se reeleja, então teremos, aparentemente, um conjunto de dados muito favoráveis ao triunfo de Obama em novembro.

Mas há um dado com muito peso que pode baralhar as contas: o fator económico. Romney apresenta-se como «o candidato CEO» -- e faz valer no seu currículo gestões positivas nos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City (1992); no governo do estado de Massachussets (primeiros anos do século XXI) e na Bain Capital (ainda que a campanha de Obama já o tenha atacado por, supostamente, Mitt ter tido intervenção no corte de postos de trabalho na empresa).

A verdade é que Romney tem feito valer, nesta primeira fase da campanha, a sua imagem de «criador de empregos aproveitando o melhor do capitalismo americano», contrapondo com o registo mediano da Administração Obama no aspeto económico.

A campanha de Barack recorda que, em três anos, «foram criados 3,7 milhões de empregos na América» e contextualiza: «O Presidente Obama começou o seu mandato herdando a pior crise desde os anos Roosevelt». Romney rebate e comenta: «Tem havido criação de emprego... apesar de Obama».

Depois de uma melhoria lenta, mas gradual, durante vários meses, o relatório de Maio sobre o emprego foi negativo para a tese económica de Obama: o desemprego subiu para 8.2% (desde Roosevelt que nenhum Presidente é eleito com uma Taxa de Desemprego superior a 7.5%) e o número de postos de trabalho criados foi muito abaixo do esperado (69 mil, bem menos que os 230 mil de meses anteriores).

Ainda é cedo para ter certezas sobre se esta tendência se manterá até novembro, mas há nuvens negras a perturbar a estratégia de reeleição de Obama.

Apostar na aritmética. As sondagens nacionais continuam a dar um grande equilíbrio, mas perante os problemas de Obama na parte económica enquanto Presidente, a campanha de reeleição de Barack está atenta e parece disposta a voltar a apostar numa estratégia eleitoral alargada.

Obama revelou-se, há quatro anos, um candidato multifacetado, capaz de se bater em campos tradicionalmente difíceis para um nomeado presidencial do Partido Democrata. E as sondagens mostram que isso voltará a acontecer em 2012, embora não com os níveis de excelência de 2008, por culpa do desgaste da governação.

Obama vai colocar muitas fichas em estados como a Virgínia, a Carolina do Norte, o Indiana, o Colorado ou o Nevada, que não costumam ser terreno propício a uma vitória democrata na eleição presidencial, mas que o Presidente venceu claramente há quatro anos.

Jim Messina, diretor de campanha da reeleição de Obama, explica: "Há quatro caminhos que foram cumpridos há quatro anos e que continuam completamente em aberto para Barack: a via do Oeste, os estados do Midwest, o Ohio e Iowa, e ainda a Florida. Se olharmos para os dados neste momento, há fortes perspetivas de vencermos nestas quatro frentes".

É certo que a recuperação de Romney nas últimas semanas retirou algum favoritismo a Obama para novembro. Mas convém lembrar que há meio ano, no final do verão de 2011, "Barack Obama parecia politicamente morto". A expressão é de Dan Pfeiffer, assessor de Obama há vários anos e atual diretor de comunicação da Casa Branca. "Depois das negociações com o Congresso sobre o teto da dívida, o Presidente foi de férias para Martha's Vineyard frustrado com o retrato que faziam do seu trabalho. Viam-no como um Presidente fraco -- e ele nunca foi isso".

O final de 2011 e os primeiros meses deste ano pareciam ter selado a recuperação de Obama -- como Presidente e como candidato à reeleição. Dos 38 por cento a que chegou a sua popularidade em Agosto passado, passou-se para níveis superiores a 50 por cento.

Mas o arrefecimento da Economia americana voltou a colocar dúvidas sobre a tese do sucesso do primeiro mandato de Obama. Os próximos tempos vão ajudar-nos a olhar para este filme de um forma um pouco mais coerente.

Faltam cinco meses para a grande eleição -- e tudo está em aberto.

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