domingo, 18 de novembro de 2012

Histórias da Casa Branca: campanhas negativas

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 4 DE NOVEMBRO DE 2012:

Barack Obama foi eleito em 2008 sob a capa de ser um candidato limpo de ataques aos adversários e com uma proposta de melhorar o ambiente em Washington.

Quatro anos depois, e perante uma das disputas mais renhidas da história das presidenciais americanas, o Presidente tem seguido quase todos os instrumentos que as disputas eleitorais proporcionam na América: anúncios negativos ferozes, resposta e contra-resposta direta ao adversário, uso de aliados políticos como «pitbulls» de combate ao lado opositor (Joe Biden, Debbie Wasserman Schultz, Jennifer Gronholm, David Axelrod, Stephanie Cutter).

Do lado republicano, as munições nunca parecem ser em demasia. Milhões de dólares em anúncios negativos nos estados decisivos, garantindo que Obama quis que a Jeep saísse do Midwest para a China, ou com o relato de um emigrante híngaro que insinua que Obama esta a levar os EUA para o socialismo. Mitt Romney a guinar do radicalismo conservador (nas primárias) a uma súbita moderação pro-classe média (na eleição geral). A FOX News a massacrar os incautos telespetadores com imagens do ataque em Bengasi (que já foi há mês e meio).

Nas principais cadeias televisivas, estrategas dos dois campos não discutem entre si - interrompem-se e gritam. A agressividade está impregnada no ADN dos duelos nacionais na América. E é provável que já não haja caminho para trás.

Denise Li foi produtora-executiva da CBS durante 22 anos, no programa «Face The Nation», apresentado por Bob Schieffer (o moderador do terceiro debate entre Obama e Romney, realizado no passado dia 22 de outubro).

Em conversa com o tvi24.pt, esta antiga especialista da Time para a Asia, Europa, antiga URSS e África (é agora professora de chinês em Georgetown), considera que «este tom negativo é mais ou menos inevitável». «Há muito que as campanhas presidenciais na América são assim. A campanha negativa faz parte da nossa cultura politica. Há muita coisa em jogo e os dois campos chegam a um ponto em que não podem dar-se ao luxo de perder», explica.

Denise admite que se «chegou a um extremo», mas identifica alguns fatores que terão contribuído para este agravamento: «O surgimento do twitter e do facebook aceleraram a batalha da comunicação. Há quatro anos, isso notava-se muito menos. Por outro lado, há tanto dinheiro envolvido, que a capacidade de resposta e quase inevitável».

A antiga produtora da CBS destaca «dados absolutamente novos como o Presidente aceitar participar em Google Hangouts. Isso é fantástico.»

E os media, que papel devem ter no meio desta tempestade negativa? «Os media podem ajudar a contextualizar, com debates, com opiniões. Mas o papel principal é das candidaturas».

Os debates presidenciais continuam a ser um palco importante, mesmo com a dispersão de meios para propagar a mensagem: «São o único momento em que o publico pode tomar contacto com as propostas diretamente da voz dos candidatos, sem qualquer filtro ou desvio. Também por isso, continuam a ter audiência de várias dezenas de milhões de americanos».

Uma campanha presidencial na América dura perto de dois anos - entre o posicionamento dos candidatos, o arranque das primárias, as votações dos estados, a nomeação oficial nas convenções e os meses finais da eleição geral. Não será... tempo a mais? «Faz parte do processo politico», comenta Denise Li. «Há quem considere que é demasiado tempo, mas por outro lado permite as pessoas fazer escolhas. Elas quase que se tornam familiares com os candidatos, tanto tempo eles estão expostos às exigências da campanha».

Faltam 2 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA.

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