sábado, 22 de dezembro de 2012

Histórias da Casa Branca: John Kerry, destinado a servir

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT:

Esteve perto de ser eleito Presidente dos EUA em 2004 (ficou a 130 mil votos de vencer o Ohio e com esse estado bateria George W. Bush no Colégio Eleitoral) e é um dos senadores mais experientes do Capitólio.

John Forbes Kerry, 69 anos, senador sénior do Massachussets desde 1985, líder do Comité de Relações Externas, é o futuro chefe da diplomacia norte-americana.

É uma escolha forte e dificilmente Barack Obama teria encontrado um nome mais consensual em Washington para exercer o importante cargo de Secretário de Estado. 

Tudo indica, aliás, que a nomeação de Kerry (apoiante de Obama desde as primárias de 2008) venha a ser confirmada pelo Senado por unanimidade, sem qualquer voto contra dos republicanos, coisa notável nestes tempos de crispação partidária em DC. 

Veterano do Vietname, foi herói de guerra e tem exemplos de bravura que foram particularmente explorados na campanha de 2004 pela máquina de propaganda democrata.

Filho de um antigo diplomata e militar, casado com uma das mulheres mais ricas da América (a luso-descendente Teresa Simões-Ferreira Heinz), John Kerry exibe o currículo perfeito para assumir aquele que muitos consideram o posto mais influente da política americana, logo a seguir ao de Presidente - bem mais importante que o de vice-presidente. 

O problema é que esta não foi a primeira opção de Barack Obama. O Presidente dos EUA tinha Susan Rice, a ainda embaixadora americana na ONU, como primeira escolha - e chegou e defendê-la em público.

Só que Rice foi a grande vítima política do «Bengasigate». 

Os estilhaços políticos e diplomáticos dos atentados contra interesses americanos na Líbia no 11.º aniversário do 11 de setembro (e que se propagaram a outros países muçulmanos nos dias seguintes) ainda estão a ser avaliados por uma comissão independente, nomeada pelo Congresso.

Uma das mais próximas conselheiras do Presidente em política externa, Susan Rice veio a público defender a versão da Administração Obama de que os incidentes seriam «uma reação a um vídeo anti-Islão de péssimo gosto que nada tem a ver com as ideias desta administração».

Tudo se complicou quando, nas semanas seguintes, se provou que esta posição da Administração Obama estava errada - e o próprio Presidente acabou por corrigir o discurso, mudando a versão oficial para «atentado». 

Susan Rice não aguentou as fortíssimas pressões dos republicanos, que puseram em causa a capacidade política da embaixadora para vir a liderar o Departamento de Estado.

As falhas na avaliação do risco já foram reconhecidas pela ainda Secretária de Estado, Hillary Clinton, que apesar de não ter comparecido nas audições da comissão, por se encontrar a recuperar de doença no estômago e duma queda que lhe causou um traumatismo cerebral, admitiu, por carta, os erros apontados ao gabinete que lidera.

John Kerry herda, assim, um Departamento de Estado em fase de conturbação. O caso Bengasi provocou demissões em lugares de topo na equipa de segurança e política externa e Tom Donilon, Conselheiro de Segurança Nacional, é um dos que está de saída. 

Obama estará a ponderar compensar a não nomeação de Susan Rice para chefe da diplomacia com uma possível escolha da embaixadora para suceder a Tom Donilon. 

A nomeação de Kerry para o muito agradável bairro de Foggy Bottom levanta um outro problema aos democratas: quem será capaz de suceder ao futuro Secretário de Estado no Senado pelo Massachussets?

John Kerry pode não ter sido a primeira escolha de Barack Obama. Mas o Presidente sabe que terá no Departamento de Estado um amigo pessoal e um político destinado a servir.

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