TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 31 DE OUTUBRO DE 2014:
A quatro dias das eleições para o Congresso dos EUA, restam mais dúvidas do que certezas.
A provável vitória republicana pode conter surpresas. Os sinais do eleitorado ainda não garantem a queda do Senado, embora apontem probabilidade de mudança de controlo, dos democratas para os republicanos.
O «Real Clear Politics» antecipa dois cenários para terça: «A perceção do eleitorado, neste momento, é um pouco estranha. A aprovação do Presidente está nos 42%. Isso deveria ser consistente com um terrível resultado para os democratas nestas «midterm elections». E, de facto, há dados que apontam para esse cenário: a vantagem curta de Jeanne Shaheen no New Hampshire; as vantagens grandes dos republicanos Cory Gardner e Joni Ernst no Colorado e no Iowa; o sufrágio geral a dar seis a oito pontos de avanço aos republicanos em algumas sondagens (algo idêntico ao que acontecia em 2010) (¿) No entanto, há aquilo que podemos considerar uma segunda vaga de sondagens que é profundamente inconsistente com a noção de uma «onda»: o sufrágio geral a apontar para empate técnico ou mesmo até para uma ligeira vantagem democrata; corridas competitivas nos governos de estado; pequena mas firme vantagem do democrata Tom Cotton no Arkansas; corridas apertadas para lugares na House em estados como Arkansas e Michigan, que há uns meses era claramente republicanos», nota Sean Trende.
As mulheres, que nas eleições presidenciais de 2008 e 2012 preferiram em massa Obama a McCain e Romney, ainda dão vantagem aos democratas, mas dão mostras, desta vez, de alguma hesitação. «A batalha pelo voto feminino está a aumentar de tom, sobretudo nos estados decisivos, mas não se vê como possa mudar claramente para os republicanos», nota Gloria Borger, analista sénior da CNN.
As sondagens têm apontado para a vantagem masculina dos republicanos é muito superior ao avanço que as mulheres conferem aos democratas: e essa diferença pode ser decisiva, até para atribuir o controlo do Senado ao Partido Republicano.
Mas a pergunta essencial permanece e, perante sinais contraditórios, merece ser feita outra vez: será que a matemática eleitoral dos democratas está assim tão negativa?
Nate Cohn, no «New York Times», observa: «As sondagens mostram que os republicanos têm vantagem na luta pelo controlo do Senado. Lideram em estados suficientes para obter esse controlo e têm oportunidades adicionais na Carolina do Norte e no New Hampshire para fazer possíveis surpresas. À medida que o Dia da Eleição se aproxima, os democratas esperam, cada vez mais, que as sondagens estejam profundamente enganadas. E essa possibilidade não é desfasada. As sondagens têm, no geral, subestimado os democratas nos últimos anos e há razões para pensar que isso pode voltar a acontecer».
Cohn aponta o exemplo de 2010 para sustentar essa ideia: «Em 2010, as sondagens subestimaram os democratas em todos os estados competitivos para o Senado numa média de 3.1 por cento. Em 2012, sondagens pré-eleição subestimaram o Presidente em nove de dez «battleground states» numa média de dois pontos percentuais.»
Seja como for, as «trends» mostram que, numa situação normal, deverão acontecer estas três coisas: clara vitória republicana na Câmara dos Representantes (a vantagem do GOP sobre os democratas na House parlamentar é de 234 para 201); muito equilíbrio no Senado com prováveis ganhos republicanos a poderem implicar mundança de controlo partidário na câmara alta (o Senado tem 53 democratas, 45 republicanos e dois senadores independentes com votação tendencialmente democrata); possível vitória republicana nos governadores (tendência para vantagem em 22 estados, para avanço dos democratas em 16, com 12 estados em empates técnicos).
Obama com vida difícil depois de 4 de novembro? Certo. Mas não há novidade nisso, pois não?
O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: nova onda republicana?
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 29 DE OUTUBRO DE 2014:
Talvez não venha a ser o «tsunami» que afundou os democratas em novembro de 2010, mas é muito provável que se sinta uma nova onda republicana nas eleições para o Congresso da próxima terça.
Os números são claros: o ambiente político para as «midterms» do próximo dia 4 de novembro tendem de forma acentuada para os republicanos.
Dan Balz nota, em artigo no Washington Post: «Os republicanos entram para a semana decisiva destas eleições para o Congresso construindo uma vantagem crescente sobre os democratas, uma vantagem ajudada pela insatisfação em torno da liderança do Presidente Obama, com a direção que o país tem tomado e com a forma como o governo federal tem lidado com os principais problemas».
Sondagem da ABC/Washington Post aponta: seis em cada dez norte-americanos não confia no poder de Washington para resolver os seus problemas (taxa equivalente à de um ano, quando ocorreu o «government shutdown» por falta de acordo orçamental no Capitólio) e até idêntica à fase de total bloqueio informático na aplicação do Obamacare.
Ora, a maioria do eleitorado aponta culpas ao Presidente Obama e aos democratas como causadores desse descontentamento, que cresceu nos últimos anos.
Mas há uma tendência que esta sondagem ABC/WP identifica e que pode baralhar um pouco as contas da próxima terça-feira: há menos interesse por estas «midterms» do que havia em 2010 e até em 2006.
Ora, um dos fatores que levaram ao tal «tsunami» republicano de há quatro anos teve a ver com a «energização» feita pelo Tea Party e pelos candidatos que promoveu e fez eleger no Capitólio.
O grau de interesse, desta vez, está na ordem dos 65%, dez pontos abaixo de há quatro anos (e a diferença pode estar no menor envolvimento do radicais de direita).
Apenas 22 por cento dos votantes dizem que tiveram contato direto com um candidato ou, pelo menos, com uma organização relacionada com esta campanha, um valor 12 pontos abaixo do que acontecera há quatro anos.
Mesmo assim, o maior entusiasmo parece estar mesmo do lado republicano, tendo em conta o maior índice de garantia de que irão votar, comparando com o eleitorado democrata. E mais votantes Romney nas presidenciais de 2012 dizem estar a seguir de perto as «midterms», comparando com os votantes Obama na mesma eleição.
A mesma sondagem identifica que 50 por cento dos votantes prováveis na próxima terça dizem que irão escolher candidatos republicanos, 44 por cento apontam candidatos democratas.
Em vários aspetos, aliás, o quadro eleitoral é parecido com o de há quatro anos (altura em que os republicanos obtiveram a maior maioria no Congresso em quatro décadas).
Nove em cada dez democratas e republicanos diz pretender manter a tendência de voto de 2010, dado que reforça forte possibilidade de maioria republicana na House.
Entre os independentes, os republicanos exibem grande maioria sobre os democratas, sendo que, geralmente, é esse eleitorado flutuante que define maiorias em eleições na América.
Em termos de género, os homens, como era esperado, colocam os republicanos na frente por mais de dez pontos. Entre as mulheres (eleitorado que favoreceu largamente Obama em 2008 e 2012), os democratas têm pequena vantagem (com diferença insuficiente para compensar o largo avanço republicano no segmento masculino).
Quanto aos lugares em aberto no Senado, os republicanos aparecem com boas hipóteses de arrancar entre três a seis vagas entre sete que estavam na posse dos democratas: Alasca, Arkansas, Colorado, Iowa, Luisiana, Carolina do Norte e New Hampshire.
Na mesma linha, outra sondagem, esta da CNN, aponta que sete em cada dez americanos estão «insatifeitos» com o rumo que o país tomou e que a taxa de reprovação do Presidente é agora de 53%, dois dados que favorecem as contas republicanas para 4 de novembro.
Talvez não venha a ser o «tsunami» que afundou os democratas em novembro de 2010, mas é muito provável que se sinta uma nova onda republicana nas eleições para o Congresso da próxima terça.
Os números são claros: o ambiente político para as «midterms» do próximo dia 4 de novembro tendem de forma acentuada para os republicanos.
Dan Balz nota, em artigo no Washington Post: «Os republicanos entram para a semana decisiva destas eleições para o Congresso construindo uma vantagem crescente sobre os democratas, uma vantagem ajudada pela insatisfação em torno da liderança do Presidente Obama, com a direção que o país tem tomado e com a forma como o governo federal tem lidado com os principais problemas».
Sondagem da ABC/Washington Post aponta: seis em cada dez norte-americanos não confia no poder de Washington para resolver os seus problemas (taxa equivalente à de um ano, quando ocorreu o «government shutdown» por falta de acordo orçamental no Capitólio) e até idêntica à fase de total bloqueio informático na aplicação do Obamacare.
Ora, a maioria do eleitorado aponta culpas ao Presidente Obama e aos democratas como causadores desse descontentamento, que cresceu nos últimos anos.
Mas há uma tendência que esta sondagem ABC/WP identifica e que pode baralhar um pouco as contas da próxima terça-feira: há menos interesse por estas «midterms» do que havia em 2010 e até em 2006.
Ora, um dos fatores que levaram ao tal «tsunami» republicano de há quatro anos teve a ver com a «energização» feita pelo Tea Party e pelos candidatos que promoveu e fez eleger no Capitólio.
O grau de interesse, desta vez, está na ordem dos 65%, dez pontos abaixo de há quatro anos (e a diferença pode estar no menor envolvimento do radicais de direita).
Apenas 22 por cento dos votantes dizem que tiveram contato direto com um candidato ou, pelo menos, com uma organização relacionada com esta campanha, um valor 12 pontos abaixo do que acontecera há quatro anos.
Mesmo assim, o maior entusiasmo parece estar mesmo do lado republicano, tendo em conta o maior índice de garantia de que irão votar, comparando com o eleitorado democrata. E mais votantes Romney nas presidenciais de 2012 dizem estar a seguir de perto as «midterms», comparando com os votantes Obama na mesma eleição.
A mesma sondagem identifica que 50 por cento dos votantes prováveis na próxima terça dizem que irão escolher candidatos republicanos, 44 por cento apontam candidatos democratas.
Em vários aspetos, aliás, o quadro eleitoral é parecido com o de há quatro anos (altura em que os republicanos obtiveram a maior maioria no Congresso em quatro décadas).
Nove em cada dez democratas e republicanos diz pretender manter a tendência de voto de 2010, dado que reforça forte possibilidade de maioria republicana na House.
Entre os independentes, os republicanos exibem grande maioria sobre os democratas, sendo que, geralmente, é esse eleitorado flutuante que define maiorias em eleições na América.
Em termos de género, os homens, como era esperado, colocam os republicanos na frente por mais de dez pontos. Entre as mulheres (eleitorado que favoreceu largamente Obama em 2008 e 2012), os democratas têm pequena vantagem (com diferença insuficiente para compensar o largo avanço republicano no segmento masculino).
Quanto aos lugares em aberto no Senado, os republicanos aparecem com boas hipóteses de arrancar entre três a seis vagas entre sete que estavam na posse dos democratas: Alasca, Arkansas, Colorado, Iowa, Luisiana, Carolina do Norte e New Hampshire.
Na mesma linha, outra sondagem, esta da CNN, aponta que sete em cada dez americanos estão «insatifeitos» com o rumo que o país tomou e que a taxa de reprovação do Presidente é agora de 53%, dois dados que favorecem as contas republicanas para 4 de novembro.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: o plano de sobrevivência dos democratas
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 27 DE OUTUBRO DE 2014:
A uma semana e um dia das eleições intercalares, as atenções mediáticas dos americanos começam só agora a estar mais focadas nessa votação.
E escrevo «só agora» porque era suposto que umas eleições na América despertassem atenções mais precoces.
Mas, nos últimos meses, os «hot topics» nos Estados Unidos foram, sem dúvida, «ISIS» (Estado Islâmico, na versão portuguesa), «Ferguson», «Border Crisis» ou «Ebola Outbreak».
A derrota da política? Não exatamente.
Mas que existe uma espécie de cansaço do eleitorado para com um sistema bipartidário que, durante uma boa parte dos mandatos, simplesmente, não funciona, isso parece claro.
Menos «sexy» para os media do que um duelo presidencial, umas eleições para o Congresso têm, no entanto, efeitos de barómetro político muito significativos.
Se, em muitos estados, os candidatos democratas a lugares na House e no Senado temem contágio negativo da falta de popularidade do Presidente, a verdade é que Barack Obama mostra confiança nas possibilidade de um resultado dos democratas acima do que as expetativas, nos últimos meses, têm mostrado, embora saiba que as premissas são, à partida, desfavoráveis.
E o Presidente até parece perceber essa atitude de... reserva por parte de muitos democratas: «A questão central é esta: temos um mapa político complicado. Muitos dos estados que estão em disputa são estados que eu não ganhei na eleição presidencial. E, por isso, para muitos candidatos democratas é complicado ter-me em campanha, porque os republicanos desses estados vão tentar usar isso para mobilizar os mais fanáticos republicanos desses estados», apontou Obama, em entrevista à MSNBC.
Para o Presidente, «o mais importante é que os democratas que se estão a candidatar são tipos que me apoiam, que têm votado comigo nestes anos, que me dão suporte no Congresso. Eles estão no lado certo em questões como o salário mínimo. Estão no lado cedo na questão do «fair pay» (nota: que garante salário igual para trabalho igual para homens e mulheres). Estão no lado certo no apoio a programas de construção de infra-estruturas. Estão no lado certo no apoio a programas à educação. Têm sido meus apoiantes e o que lhes digo é que eles devem o que é preciso para serem eleitos. Eu farei a minha parte, tentando que os nossos apoiantes vão votar».
A.B. Stoddard, editor associado do «The Hill», pergunta, em jeito de comentário provocador: «E se os democratas, afinal, ganharem?»
Há, certamente, um lado retórico na pergunta. Tem, como quase tudo em política, muito a ver com gestão de expetativas: «Digamos¿ e se os democratas sobreviverem ao dia da eleição? Parece que até o senador Ted Cruz tem dúvidas sobre isso: «Está equilibrado o suficiente para cair para qualquer lado», disse o senador republicano do Texas, em entrevista ao Bloomberg, na quarta à noite. As sondagens não o indicam, a disposição dos eleitores não o faz prever e os democratas no Senado já começam a deitar para a Casa Branca as culpas duma eventual perda do controlo da câmara alta do Congresso. Mas, mesmo assim, pode acontecer.»
Para Stoddard, «se a Grande Surpresa ocorrer, os democratas conseguirão ter sucesso na tentativa de bloquear o controlo republicano no Senado numa série de três ciclos eleitorais seguidos, o que será espantoso. Terríveis candidatos escolhidos pelo Tea Party reduziram as possibilidades dos republicanos nas eleições de 2010 e 2012 em estados como Nevada, Delaware, Indiana, Colorado ou Missouri. Mas neste ano, não são os republicanos que estão afetados pelos seus candidatos, mas sim os democratas (presidente impopular, candidatos fracos com pouco financiamento), pelo que se nem sem assim os republicanos ganharem estas corridas, isso será um golpe difícil de sarar».
O que significará mesmo «ganhar» ou «perder» a 4 de novembro?
A uma semana e um dia das eleições intercalares, as atenções mediáticas dos americanos começam só agora a estar mais focadas nessa votação.
E escrevo «só agora» porque era suposto que umas eleições na América despertassem atenções mais precoces.
Mas, nos últimos meses, os «hot topics» nos Estados Unidos foram, sem dúvida, «ISIS» (Estado Islâmico, na versão portuguesa), «Ferguson», «Border Crisis» ou «Ebola Outbreak».
A derrota da política? Não exatamente.
Mas que existe uma espécie de cansaço do eleitorado para com um sistema bipartidário que, durante uma boa parte dos mandatos, simplesmente, não funciona, isso parece claro.
Menos «sexy» para os media do que um duelo presidencial, umas eleições para o Congresso têm, no entanto, efeitos de barómetro político muito significativos.
Se, em muitos estados, os candidatos democratas a lugares na House e no Senado temem contágio negativo da falta de popularidade do Presidente, a verdade é que Barack Obama mostra confiança nas possibilidade de um resultado dos democratas acima do que as expetativas, nos últimos meses, têm mostrado, embora saiba que as premissas são, à partida, desfavoráveis.
E o Presidente até parece perceber essa atitude de... reserva por parte de muitos democratas: «A questão central é esta: temos um mapa político complicado. Muitos dos estados que estão em disputa são estados que eu não ganhei na eleição presidencial. E, por isso, para muitos candidatos democratas é complicado ter-me em campanha, porque os republicanos desses estados vão tentar usar isso para mobilizar os mais fanáticos republicanos desses estados», apontou Obama, em entrevista à MSNBC.
Para o Presidente, «o mais importante é que os democratas que se estão a candidatar são tipos que me apoiam, que têm votado comigo nestes anos, que me dão suporte no Congresso. Eles estão no lado certo em questões como o salário mínimo. Estão no lado cedo na questão do «fair pay» (nota: que garante salário igual para trabalho igual para homens e mulheres). Estão no lado certo no apoio a programas de construção de infra-estruturas. Estão no lado certo no apoio a programas à educação. Têm sido meus apoiantes e o que lhes digo é que eles devem o que é preciso para serem eleitos. Eu farei a minha parte, tentando que os nossos apoiantes vão votar».
A.B. Stoddard, editor associado do «The Hill», pergunta, em jeito de comentário provocador: «E se os democratas, afinal, ganharem?»
Há, certamente, um lado retórico na pergunta. Tem, como quase tudo em política, muito a ver com gestão de expetativas: «Digamos¿ e se os democratas sobreviverem ao dia da eleição? Parece que até o senador Ted Cruz tem dúvidas sobre isso: «Está equilibrado o suficiente para cair para qualquer lado», disse o senador republicano do Texas, em entrevista ao Bloomberg, na quarta à noite. As sondagens não o indicam, a disposição dos eleitores não o faz prever e os democratas no Senado já começam a deitar para a Casa Branca as culpas duma eventual perda do controlo da câmara alta do Congresso. Mas, mesmo assim, pode acontecer.»
Para Stoddard, «se a Grande Surpresa ocorrer, os democratas conseguirão ter sucesso na tentativa de bloquear o controlo republicano no Senado numa série de três ciclos eleitorais seguidos, o que será espantoso. Terríveis candidatos escolhidos pelo Tea Party reduziram as possibilidades dos republicanos nas eleições de 2010 e 2012 em estados como Nevada, Delaware, Indiana, Colorado ou Missouri. Mas neste ano, não são os republicanos que estão afetados pelos seus candidatos, mas sim os democratas (presidente impopular, candidatos fracos com pouco financiamento), pelo que se nem sem assim os republicanos ganharem estas corridas, isso será um golpe difícil de sarar».
O que significará mesmo «ganhar» ou «perder» a 4 de novembro?
domingo, 26 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: nos 67 anos de Hillary Rodham Clinton
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 26 DE OUTUBRO DE 2014:
Hillary Rodham Clinton, primeira Dama dos EUA entre 1993 e 2001, senadora por Nova Iorque entre 2001 e 2009 e chefe da diplomacia americana entre 2009 e 2013, completa este domingo 67 anos.
Curiosamente, o número 67 será para sempre marcante para a sua carreira política, uma vez que foi a 67.ª secretária de Estado dos EUA (e a terceira mulher, depois Madeleine Albright e Condoleeza Rice).
Os mais de 40 anos de percurso público e político fazem de Hillary uma norte-americana muito especial em vários aspetos: foi primeira-dama politicamente muito interventiva (para alguns conselheiros de Bill Clinton, «demasiado interventiva»); foi a única mulher (e de longe a mais nova) na comissão de investigação de «impeachment» do Presidente Nixon, no início dos anos 70; esteve a um pequeníssimo passo de se tornar a primeira mulher a obter a nomeação presidencial de um grande partido do sistema (quando, nas primárias de 2008, perdeu à última hora para Barack Obama, depois de partir com um grande avanço).
Em 2008, parecia ter tudo para ser a primeira mulher a chegar à Casa Branca. Oito anos depois, pode concretizar, já não com 61 anos mas perto dos 70, esse objetivo histórico, não só para as suas ambições pessoais, mas também para a realidade política dos EUA.
Hillary foi, com 20 e poucos anos, jovem advogada promissora, com desempenho universitário impecável em Yale, no final dos anos 60, inícios de 70, depois de ter sido escolhida para fazer o discurso dos alunos em Wellesley.
Nas décadas de 70 e 80 (quando passou pelos 30 e 40 anos de idade) assumiu, com particular eficácia, o papel de Primeira Dama do estado do Arkansas, como esposa do jovem governador democrata Bill Clinton.
Foi Bill, que conheceu em Yale, que a fez concluir o processo de evolução de republicana (que começou por ser, influenciada pelo pai conservador do Illinois e por Barry Goldwater, para quem trabalhou em campanha) para democrata convicta e empenhada.
Defensora, desde bem cedo, de causas sociais, da emancipação das mulheres e de políticas de incentivo à educação, pela via da ajuda estadual e não só federal, Hillary Rodham Clinton (assim mesmo, com os três nomes, não apenas com o apelido herdado do marido) foi mantendo um percurso de resiliência, intervenção cívica corajosa e, muitas vezes, criadora de polémica de ruturas.
Foi de Hillary o rótulo, em tom de acusação, de que os republicanos criaram, nos anos Clinton, uma «vasta conspiração de direita» para apear Bill e a própria Hillary da Casa Branca. E isso custou-lhe, durante anos, uma fama «divisiva» que lhe criou uma taxa de rejeição de quase 50%, quando das primárias de 2008.
Mas os anos como Secretária de Estado terão ajudado a dar-lhe uma dimensão mais nacional e menos partidária.
Todas as pesquisas mostram que Hillary Clinton é, de muito longe (diferença superior a 50 pontos), a democrata mais bem colocada para obter a nomeação presidencial de 2016.
E mostram também, embora em margem menor, que Hillary bateria, hoje, qualquer opositor republicano na eleição geral.
Ainda faltam dois anos para se definir o sucessor de Obama, mas a agenda de Hillary nos últimos meses não deixa grandes dúvidas: ela vai mesmo avançar.
Além de entrevistas e conferências em que dá conta de que terá interesse em tentar nova candidatura presidencial, Hillary tem sido uma espécie de «convidada de honra» dos comícios dos candidatos democratas nas intercalares do próximo dia 4 de novembro.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em Boston, há dias, em ação de camapnha por Martha Coakley, candidata a governadora do Massachussets, que teve Hillary como estrela maior e ainda juntou Elizabeth Warren, senadora que muitos também gostariam de ver candidatar-se à presidência, mas que jura que tem Hillary como candidata desejada.
Hillary Rodham Clinton, primeira Dama dos EUA entre 1993 e 2001, senadora por Nova Iorque entre 2001 e 2009 e chefe da diplomacia americana entre 2009 e 2013, completa este domingo 67 anos.
Curiosamente, o número 67 será para sempre marcante para a sua carreira política, uma vez que foi a 67.ª secretária de Estado dos EUA (e a terceira mulher, depois Madeleine Albright e Condoleeza Rice).
Os mais de 40 anos de percurso público e político fazem de Hillary uma norte-americana muito especial em vários aspetos: foi primeira-dama politicamente muito interventiva (para alguns conselheiros de Bill Clinton, «demasiado interventiva»); foi a única mulher (e de longe a mais nova) na comissão de investigação de «impeachment» do Presidente Nixon, no início dos anos 70; esteve a um pequeníssimo passo de se tornar a primeira mulher a obter a nomeação presidencial de um grande partido do sistema (quando, nas primárias de 2008, perdeu à última hora para Barack Obama, depois de partir com um grande avanço).
Em 2008, parecia ter tudo para ser a primeira mulher a chegar à Casa Branca. Oito anos depois, pode concretizar, já não com 61 anos mas perto dos 70, esse objetivo histórico, não só para as suas ambições pessoais, mas também para a realidade política dos EUA.
Hillary foi, com 20 e poucos anos, jovem advogada promissora, com desempenho universitário impecável em Yale, no final dos anos 60, inícios de 70, depois de ter sido escolhida para fazer o discurso dos alunos em Wellesley.
Nas décadas de 70 e 80 (quando passou pelos 30 e 40 anos de idade) assumiu, com particular eficácia, o papel de Primeira Dama do estado do Arkansas, como esposa do jovem governador democrata Bill Clinton.
Foi Bill, que conheceu em Yale, que a fez concluir o processo de evolução de republicana (que começou por ser, influenciada pelo pai conservador do Illinois e por Barry Goldwater, para quem trabalhou em campanha) para democrata convicta e empenhada.
Defensora, desde bem cedo, de causas sociais, da emancipação das mulheres e de políticas de incentivo à educação, pela via da ajuda estadual e não só federal, Hillary Rodham Clinton (assim mesmo, com os três nomes, não apenas com o apelido herdado do marido) foi mantendo um percurso de resiliência, intervenção cívica corajosa e, muitas vezes, criadora de polémica de ruturas.
Foi de Hillary o rótulo, em tom de acusação, de que os republicanos criaram, nos anos Clinton, uma «vasta conspiração de direita» para apear Bill e a própria Hillary da Casa Branca. E isso custou-lhe, durante anos, uma fama «divisiva» que lhe criou uma taxa de rejeição de quase 50%, quando das primárias de 2008.
Mas os anos como Secretária de Estado terão ajudado a dar-lhe uma dimensão mais nacional e menos partidária.
Todas as pesquisas mostram que Hillary Clinton é, de muito longe (diferença superior a 50 pontos), a democrata mais bem colocada para obter a nomeação presidencial de 2016.
E mostram também, embora em margem menor, que Hillary bateria, hoje, qualquer opositor republicano na eleição geral.
Ainda faltam dois anos para se definir o sucessor de Obama, mas a agenda de Hillary nos últimos meses não deixa grandes dúvidas: ela vai mesmo avançar.
Além de entrevistas e conferências em que dá conta de que terá interesse em tentar nova candidatura presidencial, Hillary tem sido uma espécie de «convidada de honra» dos comícios dos candidatos democratas nas intercalares do próximo dia 4 de novembro.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em Boston, há dias, em ação de camapnha por Martha Coakley, candidata a governadora do Massachussets, que teve Hillary como estrela maior e ainda juntou Elizabeth Warren, senadora que muitos também gostariam de ver candidatar-se à presidência, mas que jura que tem Hillary como candidata desejada.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: a surpresa de haver estados competitivos
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 24 DE OUTUBRO DE 2014:
A semana a meia de das eleições intercalares nos Estados Unidos, mantém-se a tendência para uma vitória republicana na Câmara dos Representantes (embora não com a margem de há quatro anos), uma pequena vantagem também republicana dos governadores de estado e tudo em aberto em relação ao controlo do Senado.
Dados do site «Real Clear Politics» apontam para que o GOP (Grand Old Party) tenha 228 lugares assegurados na House, contra 186 dos democratas, com 21 lugares por definir.
No Senado, ainda tudo muito equilibrado: vantagem republicana em 46 lugares, democratas com 45, com nove assento em aberto.
Convém explicar, que enquanto na câmara baixa todos o 435 lugares estarão em disputa a 4 de novembro, no caso da Capitólio só um terço dos assentos irão a votos. Neste momento, os democratas têm 53 senadores, com mais dois independentes com tendência para votar com o Partido Democrata; os republicanos têm apenas 45, precisando, assim, de obter pelo menos seis novos lugares para passarem a dominar todo o Congresso e não apenas a Câmara dos Representantes.
Na frente de campanha, Barack Obama continua a ser um nome pouco desejado na hostes democratas. Nalgumas, pelo menos: «Uma sondagem feita há duas semanas mostrou que 64 por cento dos votantes prováveis em estados competitivos pensam ou sentem que as coisas nos Estados Unidos estão a ficar fora de controlo. E isso é apenas um degrau abaixo de se pensar que o país está a caminhar para a direção errada. Isso tem sido negativo durante anos e é um reflexo de políticas falhadas que podem ser mudadas», nota Charles Krauthammer, analista conservador, em artigo no Washington Post.
Este quadro, um pouco bizarro num país que, do ponto de vista económico, já saiu da crise há dois ano e apresenta, pela primeira vez desde o verão de 2008 uma taxa de desemprego abaixo dos 6%, terá a ver, essencialmente, com três fenómenos bem diferentes: um deles estrutural (o eterno «gridlock» que paralisa politicamente o Congresso), os outros dois conjunturais (o medo do «Ébola», que a Administração Obama não soube travar; o medo do Estado Islâmico e algumas dúvidas sobre a forma como o Presidente tem gerido a ameaça).
«Com eventos preocupantes e uma sensação crescente de desordem ¿ a crise fronteiriça no verão, Ferguson, o crescimento do Estado Islâmico, Ebola ¿ a nação não espera milagres da Casa Branca, apenas competência. No mínimo, mera presença», insiste Krauthammer.
Os temas nacionais e até internacionais podem, por isso, ter uma relevância especial nestas eleições, que são geralmente dominadas por questões estaduais. Sendo que, na América, a realidade política estadual é muito diferente (por vezes, até contraditória) da agenda política de Washington.
Mais otimista para os interesses dos democratas é a visão da congressista da Florida e «chairwoman» do Comité Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz: «Os democratas estão a expandir o mapa eleitoral, nas últimas semanas. Quem imaginaria, há bem pouco tempo, que os republicanos correriam o risco de perder corridas para o Senado para governador em estados como Kansas, Dakota do Sul, Geórgia ou Kentucky. São «red states» bem vincados, território republicano puro e os candidatos democratas nesses estados estão a sair-se bem».
De qualquer forma, a congressista Debbie Schultz já faz, em entrevista televisiva à CNN, uma espécie de «gestão de danos», antecipando uma previsível derrota democrata a 4 de novembro: «É normal que, numas eleições a meio de um segundo mandato de um presidente, o partido que o apoia perca, em média, em 29 estados. Diria que há boas hipóteses de, não só isso não acontecer, como inclusivamente conseguirmos não perder lugares».
A semana a meia de das eleições intercalares nos Estados Unidos, mantém-se a tendência para uma vitória republicana na Câmara dos Representantes (embora não com a margem de há quatro anos), uma pequena vantagem também republicana dos governadores de estado e tudo em aberto em relação ao controlo do Senado.
Dados do site «Real Clear Politics» apontam para que o GOP (Grand Old Party) tenha 228 lugares assegurados na House, contra 186 dos democratas, com 21 lugares por definir.
No Senado, ainda tudo muito equilibrado: vantagem republicana em 46 lugares, democratas com 45, com nove assento em aberto.
Convém explicar, que enquanto na câmara baixa todos o 435 lugares estarão em disputa a 4 de novembro, no caso da Capitólio só um terço dos assentos irão a votos. Neste momento, os democratas têm 53 senadores, com mais dois independentes com tendência para votar com o Partido Democrata; os republicanos têm apenas 45, precisando, assim, de obter pelo menos seis novos lugares para passarem a dominar todo o Congresso e não apenas a Câmara dos Representantes.
Na frente de campanha, Barack Obama continua a ser um nome pouco desejado na hostes democratas. Nalgumas, pelo menos: «Uma sondagem feita há duas semanas mostrou que 64 por cento dos votantes prováveis em estados competitivos pensam ou sentem que as coisas nos Estados Unidos estão a ficar fora de controlo. E isso é apenas um degrau abaixo de se pensar que o país está a caminhar para a direção errada. Isso tem sido negativo durante anos e é um reflexo de políticas falhadas que podem ser mudadas», nota Charles Krauthammer, analista conservador, em artigo no Washington Post.
Este quadro, um pouco bizarro num país que, do ponto de vista económico, já saiu da crise há dois ano e apresenta, pela primeira vez desde o verão de 2008 uma taxa de desemprego abaixo dos 6%, terá a ver, essencialmente, com três fenómenos bem diferentes: um deles estrutural (o eterno «gridlock» que paralisa politicamente o Congresso), os outros dois conjunturais (o medo do «Ébola», que a Administração Obama não soube travar; o medo do Estado Islâmico e algumas dúvidas sobre a forma como o Presidente tem gerido a ameaça).
«Com eventos preocupantes e uma sensação crescente de desordem ¿ a crise fronteiriça no verão, Ferguson, o crescimento do Estado Islâmico, Ebola ¿ a nação não espera milagres da Casa Branca, apenas competência. No mínimo, mera presença», insiste Krauthammer.
Os temas nacionais e até internacionais podem, por isso, ter uma relevância especial nestas eleições, que são geralmente dominadas por questões estaduais. Sendo que, na América, a realidade política estadual é muito diferente (por vezes, até contraditória) da agenda política de Washington.
Mais otimista para os interesses dos democratas é a visão da congressista da Florida e «chairwoman» do Comité Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz: «Os democratas estão a expandir o mapa eleitoral, nas últimas semanas. Quem imaginaria, há bem pouco tempo, que os republicanos correriam o risco de perder corridas para o Senado para governador em estados como Kansas, Dakota do Sul, Geórgia ou Kentucky. São «red states» bem vincados, território republicano puro e os candidatos democratas nesses estados estão a sair-se bem».
De qualquer forma, a congressista Debbie Schultz já faz, em entrevista televisiva à CNN, uma espécie de «gestão de danos», antecipando uma previsível derrota democrata a 4 de novembro: «É normal que, numas eleições a meio de um segundo mandato de um presidente, o partido que o apoia perca, em média, em 29 estados. Diria que há boas hipóteses de, não só isso não acontecer, como inclusivamente conseguirmos não perder lugares».
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: «Estado Islâmico», dupla contradição
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 22 DE OUTUBRO DE 2014:
As guerras contemporâneas fazem-se, cada vez mais, na comunicação.
Não se ganham só nesse espaço, como é óbvio.
Continua a contar mais o que acontece no terreno (quem ganha mais território; as vítimas; os mortos), mas há muito que uma batalha não passa, apenas, por sangue, suor e lágrimas.
E, mais relevante ainda, o que acontece no terreno pode ser «moldado», nas perceções que os públicos-alvos retiram das forças envolvidas, por aquilo que é comunicado e difundido.
Até há alguns meses, o violento grupo liderado por Abu Bakr Al-Baghdadi (autoproclamado «califa» a que os muçulmanos deveriam obedência), era designado nos meios políticos, diplomáticos, militares e mediáticos internacionais por «Exército Islâmico do Iraque e do Levante», com o acrónimo anglófono «ISIL».
Com a expansão terrotorial do perigoso grupo extremista (passando a dominar perto de um terço do Iraque e vastas zonas da Síria, que com a guerra civil que dura há dois anos passou a ter regiões não controladas pelas tropas de Assad), essa sigla «ISIL» (Islamic State of Iraq and the Levant) evoluiu para «ISIS» (Islamic State of Iraq and Syria).
Também na designação se notou essa evolução: de «Exército Islâmico do Iraque e do Levante», passou-se para «Exército Islâmico do Iraque e da Síria».
De forma progressiva, no entanto, o termo «Exército» passou a ser apontado como «Estado», perante o domínio dos jihadistas em cidades importantes do Iraque e da Síria, como Mosul ou Raqqa.
E, em poucas semanas, perante o impacto comunicacional (e emocional) de momentos como as decapitações dos jornalistas norte-americanos Jim Foley e Steven Sotloff (e as que se seguiram) estava uma boa parte da imprensa e dos media ocidentais a atribuir a «dignidade» de estado ao grupo que assusta e ameaça vários líderes e (isso sim) Estados em diversos pontos do Mundo.
Ora, essa «promoção» comunicacional está longe de ser inócua.
Revela a grande capacidade e organização meticulosa dos jihadistas sunitas, que se autodenominaram de «Estado Islâmico» e conseguiram colar essa ideia, mesmo junto de quem consideram inimigos.
As linguagens mediáticas e políticas norte-americana e britânica, não por acaso, têm resistido a isso.
O Presidente Obama, na comunicação em que anunciou o arranque de «vasta e prolongada campanha de contra-terrorismo», referiu-se sempre a «ISIL» e chegou mesmo a explicar: «Este grupo não é um «estado» e não pode ser considerado «Islâmico», porque nenhuma religião tolera as atrocidades que estão a ser cometidas».
Uma boa parte do sucesso deste autoproclamado «Estado Islâmico» passa pela forma como domina a linguagem mediática e das redes sociais, que utiliza para recrutar guerrilheiros improváveis no ocidente.
Identificado há muito tempo pelos serviços de inteligência americanos como um dos grupos mais perigosos, a verdade é que o antigo «ISIL» ou «ISIS» e agora «Estado Islâmico» não era apontado, até há poucos meses, como grupo tão violento como, por exemplo, o Al-Nusra e as milícias «Khorasan» (sucedâneas da Al Qaeda e apontadas pelo FBI como estando a preparar há meses um grande atentado contra os EUA e/ou um forte aliado, provavelmente o Reino Unido).
Parte da alteração de prioridades tem a ver com a maior eficácia do «Estado Islâmico» em lidar com a comunicação.
A verdade é que o termo pegou e agora é difícil deixarmos de falar de «Estado Islâmico», mesmo sabendo que estamo a cair numa dupla contradição nos termos.
Teria sido melhor seguir o conselho do secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, que propôs que se utilizasse o termo.. «Cowardly Murderers» (Assassinos Cobardes)?
As guerras contemporâneas fazem-se, cada vez mais, na comunicação.
Não se ganham só nesse espaço, como é óbvio.
Continua a contar mais o que acontece no terreno (quem ganha mais território; as vítimas; os mortos), mas há muito que uma batalha não passa, apenas, por sangue, suor e lágrimas.
E, mais relevante ainda, o que acontece no terreno pode ser «moldado», nas perceções que os públicos-alvos retiram das forças envolvidas, por aquilo que é comunicado e difundido.
Até há alguns meses, o violento grupo liderado por Abu Bakr Al-Baghdadi (autoproclamado «califa» a que os muçulmanos deveriam obedência), era designado nos meios políticos, diplomáticos, militares e mediáticos internacionais por «Exército Islâmico do Iraque e do Levante», com o acrónimo anglófono «ISIL».
Com a expansão terrotorial do perigoso grupo extremista (passando a dominar perto de um terço do Iraque e vastas zonas da Síria, que com a guerra civil que dura há dois anos passou a ter regiões não controladas pelas tropas de Assad), essa sigla «ISIL» (Islamic State of Iraq and the Levant) evoluiu para «ISIS» (Islamic State of Iraq and Syria).
Também na designação se notou essa evolução: de «Exército Islâmico do Iraque e do Levante», passou-se para «Exército Islâmico do Iraque e da Síria».
De forma progressiva, no entanto, o termo «Exército» passou a ser apontado como «Estado», perante o domínio dos jihadistas em cidades importantes do Iraque e da Síria, como Mosul ou Raqqa.
E, em poucas semanas, perante o impacto comunicacional (e emocional) de momentos como as decapitações dos jornalistas norte-americanos Jim Foley e Steven Sotloff (e as que se seguiram) estava uma boa parte da imprensa e dos media ocidentais a atribuir a «dignidade» de estado ao grupo que assusta e ameaça vários líderes e (isso sim) Estados em diversos pontos do Mundo.
Ora, essa «promoção» comunicacional está longe de ser inócua.
Revela a grande capacidade e organização meticulosa dos jihadistas sunitas, que se autodenominaram de «Estado Islâmico» e conseguiram colar essa ideia, mesmo junto de quem consideram inimigos.
As linguagens mediáticas e políticas norte-americana e britânica, não por acaso, têm resistido a isso.
O Presidente Obama, na comunicação em que anunciou o arranque de «vasta e prolongada campanha de contra-terrorismo», referiu-se sempre a «ISIL» e chegou mesmo a explicar: «Este grupo não é um «estado» e não pode ser considerado «Islâmico», porque nenhuma religião tolera as atrocidades que estão a ser cometidas».
Uma boa parte do sucesso deste autoproclamado «Estado Islâmico» passa pela forma como domina a linguagem mediática e das redes sociais, que utiliza para recrutar guerrilheiros improváveis no ocidente.
Identificado há muito tempo pelos serviços de inteligência americanos como um dos grupos mais perigosos, a verdade é que o antigo «ISIL» ou «ISIS» e agora «Estado Islâmico» não era apontado, até há poucos meses, como grupo tão violento como, por exemplo, o Al-Nusra e as milícias «Khorasan» (sucedâneas da Al Qaeda e apontadas pelo FBI como estando a preparar há meses um grande atentado contra os EUA e/ou um forte aliado, provavelmente o Reino Unido).
Parte da alteração de prioridades tem a ver com a maior eficácia do «Estado Islâmico» em lidar com a comunicação.
A verdade é que o termo pegou e agora é difícil deixarmos de falar de «Estado Islâmico», mesmo sabendo que estamo a cair numa dupla contradição nos termos.
Teria sido melhor seguir o conselho do secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, que propôs que se utilizasse o termo.. «Cowardly Murderers» (Assassinos Cobardes)?
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: a luz verde turca e o desafio curdo
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 21 DE OUTUBRO DE 2014:
A batalha por Kobani, cidade síria colada à fronteira com a Turquia, dirá muito sobre a capacidade que o autoproclamado «Estado Islâmico» terá de alargar o seu território.
Nas últimas três semanas, as ações aéreas dos EUA e seus aliados (sobretudo as monarquias árabes da região) sobre Kobani quintuplicaram.
Isso gerou baixas, alguma destruição de material bélico do EI, mas não teve a eficácia pretendida. Porquê? Porque a capacidade dos jihadistas penetrarem nos territórios que pretendem conquistar e se envolverem nas populações locais, é muito significativa.
Kobani tem sido a prova de que ataques aéreos, sendo importantes, muito provavelmente não vão chegar.
Ao mesmo tempo, o desviar de atenções para Kobani pode ser um «canto de sereia» que facilita os interesses do EI noutros pontos estratégicos.
Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior das forças armadas americanas e um dos principais defensores do envio de «boots on the ground» entre os conselheiros próximos do Presidente Obama, avisou em entrevista na ABC: «Eles estiveram a 20, 25 quilómetros do aeroporto de Bagdade. Se as forças do EI tivessem passado era num instante até o tomarem. Foi daquelas situações em que não podíamos esperar que eles "saltassem o muro". Tivemos que atuar, porque precisamos daquele aeroporto, nunca poderíamos permitir».
De todo o modo, o general Dempsey continua convicto de que o EI vai ser travado e que não conseguirá tomar Kobani: «Isso nunca irá acontecer». E recorda vitórias recentes no Iraque: «Erbil esteve quase a cair para as mãos deles e hoje está controlada.»
Mesmo assim, Dempsey avisa: «Travar o Estado Islâmico continuará uma tarefa muito dificil, pelo menos enquanto o governo do Iraque não conseguir dominar as maiorias sunitas em regiões que o EI controla. Não temos dúvidas de que, se eles puderem, vão voltar a cometer as atrocidades que já cometeram. Continuo a achar que poderá haver um ponto em que o uso de tropas no terreno será fundamental».
O impasse das últimas semanas, ditado pela ambiguidade de Erdogan (o presidente turco teme o avanço dos jihadistas sunitas para tão próximo da fronteira, mas recusa-se a ajudar implicitamente os interesses de Assad na Síria), teve agora uma ligeira mudança que pode beneficiar quem tenta travar o avanço dos radicais.
A Turquia vai deixar passar os curdos vindos do Iraque, que pretendem combater juntos dos curdos sírios, de modo a reforçar as forças de resistência, em Kobani.
Os «peshmergas», corajosos combatentes curdos que se espalham por zonas do Iraque, da Turquia e da Síria, têm sido os principais elementos no terreno, nesta «guerra híbrida» contra os jihadistas sunitas, e, nos últimos meses, até conseguiram algumas vitórias significativas sobre o Estado Islâmico (sobretudo desde que, do ar, as forças norte-americanas e aliadas intensificaram os bombardeamentos).
«Ajudamos as forças dos peshmergas curdos a atravessar a fronteira para chegarem a Kobani», confirmou o ministro dos negócios estrangeiros turco. «Nunca quisemos que Kobani caísse», insistiu Mevlut Cavusoglu.
Ou seja, mesmo continuando numa desesperante «abstinência de combate» da sua poderosa infantaria, a Turquia parece ter decidido ser uma «aliada passiva» da luta contra o Estado Islâmico.
Os guerrilheiros curdos em Kobani receberam também, nos últimos dias, armamento lançado pelos aviões norte-americanos.
Aviões de carga C-130 lançaram armas, munições e material médico fornecido pelas autoridades curdas do Iraque para permitir [às guerrilha curda] continuar a resistir aos avanços dos radicais. Ao mesmo tempo, a aviação norte-americana largou medicamentos e ajuda alimentar para a martirizada população de Kobani.
O Mundo é mesmo um lugar complicado. Sobre o Médio Oriente, então, o melhor mesmo é nem tentar rotular.
A batalha por Kobani, cidade síria colada à fronteira com a Turquia, dirá muito sobre a capacidade que o autoproclamado «Estado Islâmico» terá de alargar o seu território.
Nas últimas três semanas, as ações aéreas dos EUA e seus aliados (sobretudo as monarquias árabes da região) sobre Kobani quintuplicaram.
Isso gerou baixas, alguma destruição de material bélico do EI, mas não teve a eficácia pretendida. Porquê? Porque a capacidade dos jihadistas penetrarem nos territórios que pretendem conquistar e se envolverem nas populações locais, é muito significativa.
Kobani tem sido a prova de que ataques aéreos, sendo importantes, muito provavelmente não vão chegar.
Ao mesmo tempo, o desviar de atenções para Kobani pode ser um «canto de sereia» que facilita os interesses do EI noutros pontos estratégicos.
Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior das forças armadas americanas e um dos principais defensores do envio de «boots on the ground» entre os conselheiros próximos do Presidente Obama, avisou em entrevista na ABC: «Eles estiveram a 20, 25 quilómetros do aeroporto de Bagdade. Se as forças do EI tivessem passado era num instante até o tomarem. Foi daquelas situações em que não podíamos esperar que eles "saltassem o muro". Tivemos que atuar, porque precisamos daquele aeroporto, nunca poderíamos permitir».
De todo o modo, o general Dempsey continua convicto de que o EI vai ser travado e que não conseguirá tomar Kobani: «Isso nunca irá acontecer». E recorda vitórias recentes no Iraque: «Erbil esteve quase a cair para as mãos deles e hoje está controlada.»
Mesmo assim, Dempsey avisa: «Travar o Estado Islâmico continuará uma tarefa muito dificil, pelo menos enquanto o governo do Iraque não conseguir dominar as maiorias sunitas em regiões que o EI controla. Não temos dúvidas de que, se eles puderem, vão voltar a cometer as atrocidades que já cometeram. Continuo a achar que poderá haver um ponto em que o uso de tropas no terreno será fundamental».
O impasse das últimas semanas, ditado pela ambiguidade de Erdogan (o presidente turco teme o avanço dos jihadistas sunitas para tão próximo da fronteira, mas recusa-se a ajudar implicitamente os interesses de Assad na Síria), teve agora uma ligeira mudança que pode beneficiar quem tenta travar o avanço dos radicais.
A Turquia vai deixar passar os curdos vindos do Iraque, que pretendem combater juntos dos curdos sírios, de modo a reforçar as forças de resistência, em Kobani.
Os «peshmergas», corajosos combatentes curdos que se espalham por zonas do Iraque, da Turquia e da Síria, têm sido os principais elementos no terreno, nesta «guerra híbrida» contra os jihadistas sunitas, e, nos últimos meses, até conseguiram algumas vitórias significativas sobre o Estado Islâmico (sobretudo desde que, do ar, as forças norte-americanas e aliadas intensificaram os bombardeamentos).
«Ajudamos as forças dos peshmergas curdos a atravessar a fronteira para chegarem a Kobani», confirmou o ministro dos negócios estrangeiros turco. «Nunca quisemos que Kobani caísse», insistiu Mevlut Cavusoglu.
Ou seja, mesmo continuando numa desesperante «abstinência de combate» da sua poderosa infantaria, a Turquia parece ter decidido ser uma «aliada passiva» da luta contra o Estado Islâmico.
Os guerrilheiros curdos em Kobani receberam também, nos últimos dias, armamento lançado pelos aviões norte-americanos.
Aviões de carga C-130 lançaram armas, munições e material médico fornecido pelas autoridades curdas do Iraque para permitir [às guerrilha curda] continuar a resistir aos avanços dos radicais. Ao mesmo tempo, a aviação norte-americana largou medicamentos e ajuda alimentar para a martirizada população de Kobani.
O Mundo é mesmo um lugar complicado. Sobre o Médio Oriente, então, o melhor mesmo é nem tentar rotular.
sábado, 18 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: Obama com «mínimos» de sinal contrário
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 17 DE OUTUBRO DE 2014:
A Presidência Obama apresentou, nos últimos dias, dois «mínimos» de sinal contrário: um positivo (5,9%, a mais baixa taxa de desemprego desde que chegou à Casa Branca), o outro negativo (uma taxa de aprovação de apenas 40%).
A poucas semanas das eleições intercalares, os democratas poderiam ter trunfos económicos a apresentar junto dos seus eleitores.
A América está há 55 meses seguidos a criar postos de trabalho e setembro terminou com a mais baixa taxa de desemprego desde o verão de 2008: 5.9 por cento.
Curiosamente, há dois anos, num debate presidencial para a campanha de 2012, Mitt Romney prometera que, se fosse eleito, deixaria a América com um desemprego de... 6% até ao fim do mandato, ou seja até janeiro de 2017.
Ora, Obama, menos de dois anos antes dessa data, obteve a meio do seu segundo mandato um resultado até melhor que esse, no que toca à criação de emprego.
A par disso, e certamente relacionado com esse bom resultado, está uma tendência de crescimento na ordem dos 3%, com forte componente do investimento privado e do consumo interno.
Sucede que esses dados económicos animadores da economia americana não estão a ser suficientes para uma perceção globalmente positiva do desempenho político do Presidente.
As hesitações na resposta à ameaça do Estado Islâmico, e mesmo o caminho traçado por Obama na liderança rumo a uma «destruição da ameaça jihadista», que tarda em dar resultados, vão sinalizando dados que estão a marcar pontos negativos na avaliação da política externa do Presidente.
Ao mesmo tempo, a instabilidade bolsista (em contraciclo com o crescimento económico) reforça a ideia de que os consumidores e mesmo os investidores ainda não estão convencidos da suposta robustez do caminho económico que a América está a tomar.
Mas o que, essencialmente, está a falhar no segundo mandato de Obama é, sem dúvida, a relação com o Congresso.
O «gridlock» que marca a relação entre a Casa Branca e o Capitólio nos anos Obama não dá mostras de ter solução. E «congela» a agenda que o Presidente relegitimou nas urnas em novembro de 2012: imigração, redução da dívida, reforma fiscal.
Dois anos depois da reeleição, estes e outros pontos têm sido adiados: e há um sério risco de que uma possível derrota dos democratas no Senado no próximo dia 4 de novembro torne o caminho do Presidente ainda mais apertado, para os últimos dois anos.
Contraditório? Paul Krugman, na «Rolling Stone», acha que sim e explica, em artigo com o título «Em Defesa de Obama»: «Obama tem sido um dos mais bem-sucedidos presidentes da história da América.»
«No que toca a Obama, tenho estado sempre fora da corrente. Quando em 2008 os liberais estavam excitados com ele e o candidato tinha fortes índices de popularidade, estava cético.»
Mais à frente, Krugman considera: «Não estava enganado. Obama foi ingénuo. Enfrentou uma oposição feroz dos republicanos desde o dia 1 e precisou de anos para começar a lidar com essa oposição de forma realista. Depois, ficou perigosamente perto de pôr a América em perigo, na sua tentativa de conseguir uma «Grand Bargain» (grande acordo). (...) Mas sejamos justos: Obama enfrenta «lixo» vindo da esquerda, do centro e da direita, literalmente, e não o merece. Apesar de tanta oposição, de tantos bloqueios, tem-se mostrado um dos mais consequentes e, sim, um dos mais bem-sucedidos presidentes da história».
Em entrevista dada a seguir à ABC, a desenvolver as ideias desse artigo, o antigo Prémio Nobel da Economia enquadrou: «As pessoas que achavam que Obama ia conseguir a transformar a América estavam a ser ingénuas. Mas, vejamos, temos a Reforma da Saúde, temos uma significativa reforma financeira. Temos a ação ambiental... Não é tudo o que desejaríamos, mas é mais do que qualquer coisas que tenhamos tido em décadas».
A Presidência Obama apresentou, nos últimos dias, dois «mínimos» de sinal contrário: um positivo (5,9%, a mais baixa taxa de desemprego desde que chegou à Casa Branca), o outro negativo (uma taxa de aprovação de apenas 40%).
A poucas semanas das eleições intercalares, os democratas poderiam ter trunfos económicos a apresentar junto dos seus eleitores.
A América está há 55 meses seguidos a criar postos de trabalho e setembro terminou com a mais baixa taxa de desemprego desde o verão de 2008: 5.9 por cento.
Curiosamente, há dois anos, num debate presidencial para a campanha de 2012, Mitt Romney prometera que, se fosse eleito, deixaria a América com um desemprego de... 6% até ao fim do mandato, ou seja até janeiro de 2017.
Ora, Obama, menos de dois anos antes dessa data, obteve a meio do seu segundo mandato um resultado até melhor que esse, no que toca à criação de emprego.
A par disso, e certamente relacionado com esse bom resultado, está uma tendência de crescimento na ordem dos 3%, com forte componente do investimento privado e do consumo interno.
Sucede que esses dados económicos animadores da economia americana não estão a ser suficientes para uma perceção globalmente positiva do desempenho político do Presidente.
As hesitações na resposta à ameaça do Estado Islâmico, e mesmo o caminho traçado por Obama na liderança rumo a uma «destruição da ameaça jihadista», que tarda em dar resultados, vão sinalizando dados que estão a marcar pontos negativos na avaliação da política externa do Presidente.
Ao mesmo tempo, a instabilidade bolsista (em contraciclo com o crescimento económico) reforça a ideia de que os consumidores e mesmo os investidores ainda não estão convencidos da suposta robustez do caminho económico que a América está a tomar.
Mas o que, essencialmente, está a falhar no segundo mandato de Obama é, sem dúvida, a relação com o Congresso.
O «gridlock» que marca a relação entre a Casa Branca e o Capitólio nos anos Obama não dá mostras de ter solução. E «congela» a agenda que o Presidente relegitimou nas urnas em novembro de 2012: imigração, redução da dívida, reforma fiscal.
Dois anos depois da reeleição, estes e outros pontos têm sido adiados: e há um sério risco de que uma possível derrota dos democratas no Senado no próximo dia 4 de novembro torne o caminho do Presidente ainda mais apertado, para os últimos dois anos.
Contraditório? Paul Krugman, na «Rolling Stone», acha que sim e explica, em artigo com o título «Em Defesa de Obama»: «Obama tem sido um dos mais bem-sucedidos presidentes da história da América.»
«No que toca a Obama, tenho estado sempre fora da corrente. Quando em 2008 os liberais estavam excitados com ele e o candidato tinha fortes índices de popularidade, estava cético.»
Mais à frente, Krugman considera: «Não estava enganado. Obama foi ingénuo. Enfrentou uma oposição feroz dos republicanos desde o dia 1 e precisou de anos para começar a lidar com essa oposição de forma realista. Depois, ficou perigosamente perto de pôr a América em perigo, na sua tentativa de conseguir uma «Grand Bargain» (grande acordo). (...) Mas sejamos justos: Obama enfrenta «lixo» vindo da esquerda, do centro e da direita, literalmente, e não o merece. Apesar de tanta oposição, de tantos bloqueios, tem-se mostrado um dos mais consequentes e, sim, um dos mais bem-sucedidos presidentes da história».
Em entrevista dada a seguir à ABC, a desenvolver as ideias desse artigo, o antigo Prémio Nobel da Economia enquadrou: «As pessoas que achavam que Obama ia conseguir a transformar a América estavam a ser ingénuas. Mas, vejamos, temos a Reforma da Saúde, temos uma significativa reforma financeira. Temos a ação ambiental... Não é tudo o que desejaríamos, mas é mais do que qualquer coisas que tenhamos tido em décadas».
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: a ambiguidade turca
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 15 DE OUTUBRO DE 2014:
A ambiguidade turca é o problema central do atual momento da «campanha de contra-terrorismo» que o Presidente Obama anunciou para «destruir o Estado Islâmico».
As atrocidades desse autodenominado Estado Islâmico (que, na verdade, nem é um «estado» nem respeita a religião «Islâmica») não assustam só os norte-americanos, os europeus, os curdos iraquianos e sírios e as minorias cristãs na região.
A Turquia, país quase cem por cento muçulmano, com uma questão fundamental a travar com a vizinha Síria, nas regiões fronteiriças povoadas por curdos (e agora ameaçadas pelo avanço do proclamado EI), também está assustada com o que está a acontecer e seria suposto que estivesse empenhada em ajudar a «coligação» a impedir que os terroristas entrassem pelo seu território.
Ancara, note-se, tem a chave para travar o avanço dos jihadistas sunitas em Kobani. Mas, até agora, ainda não a quis utilizar.
E porquê?
Porque apesar de Erdogan, presidente com poderes excessivos para uma democracia, não gostar deste Estado Islâmico, a verdade é que ele vê Assad, o ditador responsável por uma guerra civil sangrenta que já dura há dois anos e meio na Síria, como inimigo ainda maior.
A Turquia foi o principal interessado num ataque americano à Síria de Assad, há um ano, na sequência da «crise das armas químicas». O problema é que, à última hora, esse ataque não aconteceu. Obama preferiu dar prioridade à sua noção de «contenção» e aceitou a negociação proposta por Putin.
Os americanos continuam a não gostar de Assad. Mas ele passou a ser um aliado improvável perante ameaça comum para EUA e Síria: este assustador Estado Islâmico.
Ora, Erdogan avalia as coisas de modo diferente de Obama e dos seus aliados europeus: para o líder turco, Assad não pode ganhar terreno na guerra civil que prossegue na Síria, à «boleia» da luta contra os jihadistas sunitas.
É um dilema típico das guerras: por vezes, um inimigo passa a ser aliado improvável. E há decisões aparentemente injustas ou até imorais que se tomam, por motivos estratégicos.
A conselheira de segurança nacional da Administração Obama, Susan Rice, tentou passar a ideia de que a coligação liderada pelos EUA para destruir o EI está a conseguir «construir consenso» na frente síria.
Em entrevista ao «Meet the Press», na NBC, Rice, antiga embaixadora dos EUA na ONU, garantiu que os turcos e os sauditas haviam autorizado o «uso de instalações militares em em território turco por parte das forças da coligação, americanas ou de outros países, de modo a que fossem desenvolvidas ações no Iraque e na Síria».
Mas a ambiguidade turca está longe de estar clarificada. Líderes militares de 22 países envolvidos em ações contra o EI reuniram-se na terça em Washington com o Presidente Obama.
Para lá da retórica política, a «construção de consenso» tem sido mais complicada no terreno, sobretudo porque a chave para travar os radicais sunitas do EI em Kobani está no uso de infantaria.
A partir do momento em que a estratégia de Obama passou por bombardeamentos em larga escala, o avanço do Estado Islâmico no terreno só pode ser derrotado por tropas da região.
No caso de Kobani, estamos a falar dos curdos sírios, dos curdos turcos e deveríamos estar também a falar das forças militares turcas, às ordens de Erdogan, que, por enquanto, se limitam a assistir, posicionadas, ao avanço dos extremistas do «califado», para indignação e desespero da população daquela cidade fronteiriça.
Enquanto a infantaria turca (a mais bem apetrechada da Europa continental, a que não conta com o Reino Unido) não avançar, a batalha de Kobani, que já dura há mais de um mês, correrá o risco de cair para lado do Estado Islâmico.
Se Kobani cair, ninguém sabe até onde chegará a ameaça do Estado Islâmico. O melhor mesmo é nunca sabermos.
A ambiguidade turca é o problema central do atual momento da «campanha de contra-terrorismo» que o Presidente Obama anunciou para «destruir o Estado Islâmico».
As atrocidades desse autodenominado Estado Islâmico (que, na verdade, nem é um «estado» nem respeita a religião «Islâmica») não assustam só os norte-americanos, os europeus, os curdos iraquianos e sírios e as minorias cristãs na região.
A Turquia, país quase cem por cento muçulmano, com uma questão fundamental a travar com a vizinha Síria, nas regiões fronteiriças povoadas por curdos (e agora ameaçadas pelo avanço do proclamado EI), também está assustada com o que está a acontecer e seria suposto que estivesse empenhada em ajudar a «coligação» a impedir que os terroristas entrassem pelo seu território.
Ancara, note-se, tem a chave para travar o avanço dos jihadistas sunitas em Kobani. Mas, até agora, ainda não a quis utilizar.
E porquê?
Porque apesar de Erdogan, presidente com poderes excessivos para uma democracia, não gostar deste Estado Islâmico, a verdade é que ele vê Assad, o ditador responsável por uma guerra civil sangrenta que já dura há dois anos e meio na Síria, como inimigo ainda maior.
A Turquia foi o principal interessado num ataque americano à Síria de Assad, há um ano, na sequência da «crise das armas químicas». O problema é que, à última hora, esse ataque não aconteceu. Obama preferiu dar prioridade à sua noção de «contenção» e aceitou a negociação proposta por Putin.
Os americanos continuam a não gostar de Assad. Mas ele passou a ser um aliado improvável perante ameaça comum para EUA e Síria: este assustador Estado Islâmico.
Ora, Erdogan avalia as coisas de modo diferente de Obama e dos seus aliados europeus: para o líder turco, Assad não pode ganhar terreno na guerra civil que prossegue na Síria, à «boleia» da luta contra os jihadistas sunitas.
É um dilema típico das guerras: por vezes, um inimigo passa a ser aliado improvável. E há decisões aparentemente injustas ou até imorais que se tomam, por motivos estratégicos.
A conselheira de segurança nacional da Administração Obama, Susan Rice, tentou passar a ideia de que a coligação liderada pelos EUA para destruir o EI está a conseguir «construir consenso» na frente síria.
Em entrevista ao «Meet the Press», na NBC, Rice, antiga embaixadora dos EUA na ONU, garantiu que os turcos e os sauditas haviam autorizado o «uso de instalações militares em em território turco por parte das forças da coligação, americanas ou de outros países, de modo a que fossem desenvolvidas ações no Iraque e na Síria».
Mas a ambiguidade turca está longe de estar clarificada. Líderes militares de 22 países envolvidos em ações contra o EI reuniram-se na terça em Washington com o Presidente Obama.
Para lá da retórica política, a «construção de consenso» tem sido mais complicada no terreno, sobretudo porque a chave para travar os radicais sunitas do EI em Kobani está no uso de infantaria.
A partir do momento em que a estratégia de Obama passou por bombardeamentos em larga escala, o avanço do Estado Islâmico no terreno só pode ser derrotado por tropas da região.
No caso de Kobani, estamos a falar dos curdos sírios, dos curdos turcos e deveríamos estar também a falar das forças militares turcas, às ordens de Erdogan, que, por enquanto, se limitam a assistir, posicionadas, ao avanço dos extremistas do «califado», para indignação e desespero da população daquela cidade fronteiriça.
Enquanto a infantaria turca (a mais bem apetrechada da Europa continental, a que não conta com o Reino Unido) não avançar, a batalha de Kobani, que já dura há mais de um mês, correrá o risco de cair para lado do Estado Islâmico.
Se Kobani cair, ninguém sabe até onde chegará a ameaça do Estado Islâmico. O melhor mesmo é nunca sabermos.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: tantas Américas no mesmo Congresso
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 13 DE OUTUBRO DE 2014:
«Estou nesta cidade há 50 anos e já vi o melhor e o pior de Washington. Neste momento, Washington está no seu pior. Pelo clime de paralisação quase doentia que se instalou»
LEON PANETTA, antigo diretor da CIA e secretário da Defesa em parte do primeiro mandato de Barack Obama
A três semanas das eleições intercalares para o Congresso, sobe a tensão política em Washington.
Depois de anos de «gridlock» na capital política, com divergências insanáveis entre os dois polos do sistema partidário a travarem a concretização da agenda política de Obama, duas vezes legitimada nas urnas (2008 e 2012), era de supor que estas «midterms» pudessem ser uma forma de clarificar o ambiente político em DC.
Mas esta não está a ser uma campanha «normal». Do lado democrata, os receios de se perder o controlo do Senado são reais. E isso exigiria um empenhamento direto do Presidente.
A questão é que uma boa parte dos candidatos democratas, seja à reeleição nos respetivos lugares no Congresso, seja ao desafio de posições republicanas, tem fugido autenticamente do apoio de Obama, com medo de que uma colagem às políticas do Presidente seja prejudicial junto dos respetivos eleitorados.
Jay Carney, antigo porta-voz da Casa Branca e agora comentador político da CNN, já lançou o aviso: «Os candidatos democratas têm que ter cuidado em relação à distância a que se colocam das políticas do Presidente Obama».
Essa atitude é especialmente visível em estados que, nas presidenciais, votam tradicialmente no candidato republicanos, mas onde decorrem corridas competitivas para o Senado.
No Kentucky, território conservador em presidenciais, o senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Capitólio, está a ter dificuldades em conseguir a sua reeleição, dispondo de vantagem curta sobre a candidata democrata, Alison Lundergan Grimes, atual secretária de Estado daquele território sulista.
Mas para Alison ter esperanças de apear o «eterno» McConnell da representação do Kentucky no Senado, a democrata optou por dizer na campanha que «não é Barack Obama».
«Discordo do presidente na questão das armas e em outros temas», exorta a candidata, que em alguns anúncios até faz gala em mostrar que pega muito melhor numa arma do que o seu opositor Mitch McConnell.
Outro caso é o da senadora Jeanne Shaheen, do New Hampshire: «O presidente deve focar-se nas crises que há neste momento no mundo, em como atacar o Estado Islâmico e outros problemas. Por isso, espero que ele fique em Washington e não esteja no terreno de campanha», comentou Jeanna, à MSNBC.
A política americana tem esse lado quase esquizofrénico: os tema que, a nível nacional, geram maiorias podem ser diferentes, por vezes até contraditórios, com os que valem no plano estadual.
Costuma até dizer-se que «um democrata no Texas é mais conservador que um republicano no Massachussets». Basta prestar alguma atenção às campanhas nos estados para se perceber que é assim mesmo: Mark Begich é democrata e tem boas hipóteses de vencer a corrida no Alaska, estado profundamente republicano, apostando, também ele, numa agenda que, numa eleição presidencial, seria digna do nomeado do GOP e não dos democratas.
Torna-se, por isso, difícil faze leituras de âmbito nacional do que vier a acontecer a 4 de novembro. Mesmo assim, é praticamente certo que na Câmara dos Representantes os republicanos vão manter vantagem larga (ainda que seja de prever que, desta vez, não sejam tão «contaminados» por membros eleitos pelo Tea Party como a «onda» de 2010).
A grande questão está no Senado. Os republicanos precisam de «roubar» seis assentos aos democrata.
De acordo com o «Real Clear Politics», neste momento os democratas têm vantagem em 46 lugares, os republicanos em 45 e há nove corridas em aberto.
«Estou nesta cidade há 50 anos e já vi o melhor e o pior de Washington. Neste momento, Washington está no seu pior. Pelo clime de paralisação quase doentia que se instalou»
LEON PANETTA, antigo diretor da CIA e secretário da Defesa em parte do primeiro mandato de Barack Obama
A três semanas das eleições intercalares para o Congresso, sobe a tensão política em Washington.
Depois de anos de «gridlock» na capital política, com divergências insanáveis entre os dois polos do sistema partidário a travarem a concretização da agenda política de Obama, duas vezes legitimada nas urnas (2008 e 2012), era de supor que estas «midterms» pudessem ser uma forma de clarificar o ambiente político em DC.
Mas esta não está a ser uma campanha «normal». Do lado democrata, os receios de se perder o controlo do Senado são reais. E isso exigiria um empenhamento direto do Presidente.
A questão é que uma boa parte dos candidatos democratas, seja à reeleição nos respetivos lugares no Congresso, seja ao desafio de posições republicanas, tem fugido autenticamente do apoio de Obama, com medo de que uma colagem às políticas do Presidente seja prejudicial junto dos respetivos eleitorados.
Jay Carney, antigo porta-voz da Casa Branca e agora comentador político da CNN, já lançou o aviso: «Os candidatos democratas têm que ter cuidado em relação à distância a que se colocam das políticas do Presidente Obama».
Essa atitude é especialmente visível em estados que, nas presidenciais, votam tradicialmente no candidato republicanos, mas onde decorrem corridas competitivas para o Senado.
No Kentucky, território conservador em presidenciais, o senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Capitólio, está a ter dificuldades em conseguir a sua reeleição, dispondo de vantagem curta sobre a candidata democrata, Alison Lundergan Grimes, atual secretária de Estado daquele território sulista.
Mas para Alison ter esperanças de apear o «eterno» McConnell da representação do Kentucky no Senado, a democrata optou por dizer na campanha que «não é Barack Obama».
«Discordo do presidente na questão das armas e em outros temas», exorta a candidata, que em alguns anúncios até faz gala em mostrar que pega muito melhor numa arma do que o seu opositor Mitch McConnell.
Outro caso é o da senadora Jeanne Shaheen, do New Hampshire: «O presidente deve focar-se nas crises que há neste momento no mundo, em como atacar o Estado Islâmico e outros problemas. Por isso, espero que ele fique em Washington e não esteja no terreno de campanha», comentou Jeanna, à MSNBC.
A política americana tem esse lado quase esquizofrénico: os tema que, a nível nacional, geram maiorias podem ser diferentes, por vezes até contraditórios, com os que valem no plano estadual.
Costuma até dizer-se que «um democrata no Texas é mais conservador que um republicano no Massachussets». Basta prestar alguma atenção às campanhas nos estados para se perceber que é assim mesmo: Mark Begich é democrata e tem boas hipóteses de vencer a corrida no Alaska, estado profundamente republicano, apostando, também ele, numa agenda que, numa eleição presidencial, seria digna do nomeado do GOP e não dos democratas.
Torna-se, por isso, difícil faze leituras de âmbito nacional do que vier a acontecer a 4 de novembro. Mesmo assim, é praticamente certo que na Câmara dos Representantes os republicanos vão manter vantagem larga (ainda que seja de prever que, desta vez, não sejam tão «contaminados» por membros eleitos pelo Tea Party como a «onda» de 2010).
A grande questão está no Senado. Os republicanos precisam de «roubar» seis assentos aos democrata.
De acordo com o «Real Clear Politics», neste momento os democratas têm vantagem em 46 lugares, os republicanos em 45 e há nove corridas em aberto.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Histórias da Casa Branca: olhem para Kobani
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 9 DE OUTUBRO DE 2014:
A «destruição do Estado Islâmico», prometida por Obama e desejada por coligação de mais de 50 países, promete ser ainda mais difícil, arriscada e demorada do que se imaginava.
Os bombardeamentos americanos e dos aliados árabes na região não estão a ser suficientes. Tiveram alguma eficácia momentânea, mas o efeito mais claro não foi, para já, o da «eliminação», mas antes uma alteração das peças do puzzle no terreno.
O EI continua a dominar várias cidades decisivas na Síria e no Iraque e, nas últimas semanas, moveu posições para a a fronteira entre a Síria e a Turquia.
Recip Erdogan, presidente da Turquia, depois de voltar de campo de refugiados curdo em Suruc, admitiu: «Precisamos de uma intervenção terrestre. Os ataques aéreos ao Estado Islâmico não chegam nem estão a resultar. Temos de utilizar forças terrestres e proteger as populações ameaçadas.»
Mas os turcos resistem a assumirem sozinhos as despesas de tão arriscada intervenção. Mevlut Cavusoglu, ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, avisou, com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, ao lado: «Não é realista esperar que a Turquia conduza uma operação no terreno por sua conta».
Kobani é a questão prioritária nesta luta sem quartel para travar o EI.
A batalha entre os jihadistas radicais sunitas e os curdos que tentam defender as suas posições foi quase rua a rua, casa a casa, naquela cidade do nordeste da Síria, na região de Aleppo, colada à fronteira com a Turquia.
O Pentágono e as chefias militares britânicas já vão avisando: os ataques aéreos americanos e do Reino Unido não serão suficientes para evitar que o Estado Islâmico se apodere de Kobani,
Com uma população de 45 mil pessoas, Kobani junta curdos, árabes, turcos e comunidades arménias.
A capacidade dos jihadistas se «misturarem» com a população civil é encarada por especialistas militares americanos e britânicos como a prova de que, a partir de um certo ponto, vai mesmo ter que haver tropas da coligação no terreno -- e não apenas o apoio aos rebeldes sírios, às forças iraquianas e aos «peshmargas» curdos.
«O uso de força por meio aéreo nunca foi garantia de que o conflito pudesse mudar de rumo a curto prazo, admitiu o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond.
Jimmy Carter, que recentemente completou 90 anos, penúltimo presidente democrata antes de Obama, criticou o atual inquilino da Casa Branca por ter «demorado demais» na resposta ao Estado Islâmico.
«No que toca ao Médio Oriente, Obama mudou de políticas e foi hesitante na travagem da ameaça jihadista. «Esperou demais. Deixou que o EI se financiasse, criasse estruturas, fortalecesse as suas capacidades», criticou.
Também Leon Panetta, antigo secretário da Defesa e ex-diretor da CIA, apontou críticas algo inesperadas ao Presidente, tendo em conta que vieram de um antigo membro de topo da primeira Administração Obama: «O Presidente perdeu o rumo na política de segurança e cometeu erros que podem prolongar por 30 anos a luta contra o Estado Islâmico».
«Durante os primeiros quatro anos, e no tempo que estive lá - à frente do Pentágono - pensei que era um líder forte em assuntos de segurança ... mas nos últimos dois anos creio que perdeu, de certo modo, o rumo. Enviou mensagens ambivalentes ao abordar os temas e tentar clarificar qual o papel deste país», disse Leon Panetta, numa entrevista ao «USA Today».
Na reação, Bill Burton, antigo conselheiro do Presidente Obama, ripostou: «As críticas de Panetta são desonrosas, tristes, pequenas. Na substância, este presidente mostrou a sua liderança várias vezes. Tomou decisões muito difíceis. Defendeu os interesses americanos em várias frentes. Apanhou e eliminou Osaba Bin Laden. Tirou as nossas tropas do Afeganistão. Moveu este país na direção correta.»
A «destruição do Estado Islâmico», prometida por Obama e desejada por coligação de mais de 50 países, promete ser ainda mais difícil, arriscada e demorada do que se imaginava.
Os bombardeamentos americanos e dos aliados árabes na região não estão a ser suficientes. Tiveram alguma eficácia momentânea, mas o efeito mais claro não foi, para já, o da «eliminação», mas antes uma alteração das peças do puzzle no terreno.
O EI continua a dominar várias cidades decisivas na Síria e no Iraque e, nas últimas semanas, moveu posições para a a fronteira entre a Síria e a Turquia.
Recip Erdogan, presidente da Turquia, depois de voltar de campo de refugiados curdo em Suruc, admitiu: «Precisamos de uma intervenção terrestre. Os ataques aéreos ao Estado Islâmico não chegam nem estão a resultar. Temos de utilizar forças terrestres e proteger as populações ameaçadas.»
Mas os turcos resistem a assumirem sozinhos as despesas de tão arriscada intervenção. Mevlut Cavusoglu, ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, avisou, com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, ao lado: «Não é realista esperar que a Turquia conduza uma operação no terreno por sua conta».
Kobani é a questão prioritária nesta luta sem quartel para travar o EI.
A batalha entre os jihadistas radicais sunitas e os curdos que tentam defender as suas posições foi quase rua a rua, casa a casa, naquela cidade do nordeste da Síria, na região de Aleppo, colada à fronteira com a Turquia.
O Pentágono e as chefias militares britânicas já vão avisando: os ataques aéreos americanos e do Reino Unido não serão suficientes para evitar que o Estado Islâmico se apodere de Kobani,
Com uma população de 45 mil pessoas, Kobani junta curdos, árabes, turcos e comunidades arménias.
A capacidade dos jihadistas se «misturarem» com a população civil é encarada por especialistas militares americanos e britânicos como a prova de que, a partir de um certo ponto, vai mesmo ter que haver tropas da coligação no terreno -- e não apenas o apoio aos rebeldes sírios, às forças iraquianas e aos «peshmargas» curdos.
«O uso de força por meio aéreo nunca foi garantia de que o conflito pudesse mudar de rumo a curto prazo, admitiu o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond.
Jimmy Carter, que recentemente completou 90 anos, penúltimo presidente democrata antes de Obama, criticou o atual inquilino da Casa Branca por ter «demorado demais» na resposta ao Estado Islâmico.
«No que toca ao Médio Oriente, Obama mudou de políticas e foi hesitante na travagem da ameaça jihadista. «Esperou demais. Deixou que o EI se financiasse, criasse estruturas, fortalecesse as suas capacidades», criticou.
Também Leon Panetta, antigo secretário da Defesa e ex-diretor da CIA, apontou críticas algo inesperadas ao Presidente, tendo em conta que vieram de um antigo membro de topo da primeira Administração Obama: «O Presidente perdeu o rumo na política de segurança e cometeu erros que podem prolongar por 30 anos a luta contra o Estado Islâmico».
«Durante os primeiros quatro anos, e no tempo que estive lá - à frente do Pentágono - pensei que era um líder forte em assuntos de segurança ... mas nos últimos dois anos creio que perdeu, de certo modo, o rumo. Enviou mensagens ambivalentes ao abordar os temas e tentar clarificar qual o papel deste país», disse Leon Panetta, numa entrevista ao «USA Today».
Na reação, Bill Burton, antigo conselheiro do Presidente Obama, ripostou: «As críticas de Panetta são desonrosas, tristes, pequenas. Na substância, este presidente mostrou a sua liderança várias vezes. Tomou decisões muito difíceis. Defendeu os interesses americanos em várias frentes. Apanhou e eliminou Osaba Bin Laden. Tirou as nossas tropas do Afeganistão. Moveu este país na direção correta.»
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