sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Histórias da Casa Branca: Obama entre o orçamento, Putin e a Síria


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 2 DE OUTUBRO DE 2015: 


Barack Obama tem dois enormes desafios a resolver nas próximas semanas. 
  
Um deles é interno: a aprovação do Orçamento para 2016, depois de se ter evitado, por horas, um novo «shutdown» governamental (o Congresso aprovou, sobre o «deadline», lei que o impediu, com 32 senadores republicanos a juntarem-se aos democratas e 91 membros do GOP na House também a votar ‘sim’). 
  
O outro é externo, a nova etapa na luta contra o Estado Islâmico, com a entrada em cena de Vladimir Putin, como trunfo ambíguo pela sua relação com Assad. 
  
Desde o agravar no conflito na Ucrânia que Obama e Putin têm andado de candeias às avessas. A tensão entre Washington e Moscovo chegou a níveis que não permitiam uma relação normal entre os dois líderes. 
  
Mas, como tantas vezes acontece na política internacional, houve um inimigo comum a aproximá-los: o Estado Islâmico. 
  
A Rússia demorou a envolver-se diretamente na ameaça jiadista sunita. Mas finalmente está a agir em conformidade. 
  
Aliada do regime de Assad, Moscovo entendeu que chegou a altura de atuar. 
  
O recente encontro de mais de hora e meia entre Obama e Putin foi a confirmação definitiva de que os EUA e a Rússia estão finalmente a cooperar nesta questão, certamente empurrados para tal perante a escalada do problema dos refugiados a entrar pelo espaço europeu. 
  
Mas essa cooperação ainda não significa por inteiro uma união de esforços. Americanos e russos querem derrotar o Estado Islâmico, sim. 
  
Mas enquanto os EUA se recusam a ajudar militarmente Assad (e até admitem combatê-lo e derrotá-lo), a Rússia de Putin já começou aenvolver-se diretamente na guerra da Síria, agindo ao abrigo dos interesses de Assad. 
  
A Casa Branca, por via do secretário de Estado John Kerry, já fez saber que, desde que as ações militares russas na Síria sejam contra o Estado Islâmico, tudo bem («se a Rússia for apenas atingir o ISIS, estamos preparados para ajudar»). E, para já, o Kremlin vai dizendo que é só isso. 
  
O problema é que Putin dá sinais de querer envolvimento direto na guerra da Síria, ajudando a permanência de Assad e combatendo a oposição síria ao regime dominante. As ações aéreas russas das últimas 72 horas para isso apontam. 
  
Josh Earnest, porta-voz da Administração Obama, avisou: «A Rússia não será mais bem-sucedida na luta contra o ISIS do que os EUA foi no Iraque». 
  
Em estilo bem mais direto, como é seu costume, o senador John McCain, do Arizona, lançou: «É melhor que Putin saia do caminho». 
  
Ora, se isso se verificar, a relação Obama/Putin pode ficar ainda mais ambígua e complexa. 
  
Obama e o Papa
 
 
Mas nem tudo foi complicado na gestão internacional da agenda do Presidente Obama. A visita do Papa aos EUA foi um sucesso. 
  
Os dois maiores líderes do nosso tempo (Obama e Francisco) surgiram como os grandes defensores de uma via política que aponte para que as grandes potências enderecem seriamente as alterações climáticas. 
  
O tema foi encarado de frente no discurso do Papa Francisco em pleno Congresso americano. Nessa parte, só teve aplausos dos democratas. Os republicanos, céticos em relação ao «ClimateChange», ouviram, em silêncio. 
  
Mas, pouco depois, os mesmos republicanos aplaudiram entusiasticamente o Papa quando este se manteve firme na oposição ao aborto. 

A saída inesperada de John Boehner 
  
O tempo em Washington é de alguma perturbação política. 
  
O anúncio inesperado do «speaker» do Congresso, o republicano John Boehner, do Ohio, de se demitir até ao fim de outubro, abriu um novo capítulo na agenda política da maioria republicana no Capitólio. 
  
Está aberta a corrida à sucessão e o primeiro pretendente anunciado (e forte candidato) é Kevin McCarthy, atual líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes e congressista da Califórnia. 
  
Se ouvirmos os candidatos presidenciais republicanos nestas primárias, percebemos que há grandes divisões no GOP. 
  
Setores mais à direita, representados por nomes como Mike Huckabee, Ted Cruz ou Rick Santorum, desejam um Partido Republicano ainda mais obstrutivo do que tem sido para com a agenda do Presidente Obama. 
  
Esta questão deverá dominar a sucessão de Boehner, que em alguns momentos críticos foi acusado de não ter sido suficientemente destrutivo para com os intentos do Presidente Obama. 
  
O próximo teste já está em marcha: a discussão sobre o Orçamento. 
  
Num cenário de grande maioria republicana nas duas câmaras (embora ‘filibuster’ de bloqueio democrata no Senado), Obama sabe que terá que fazer concessões (como sempre aconteceu, ano após ano, desde 2009, de resto). 
  
Mas do lado republicano preparam-se, em dois temas cruciais («Planned Parenthood» e «Obamacare»), medidas de «reconciliação» (que precisam de apenas 51 votos no Senado, e não os 60 de Supermaioria que os republicanos não têm), de modo a aprovar legislação que impeça partes significativas da Reforma da Saúde e do planeamento familiar. 
  
O que fará Barack Obama com a sua «veto pen» a essas leis que receberá do Congresso republicano? 
  

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: Hillary sobrevive, Joe hesita, Sanders aproveita


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 30 DE SETEMBRO DE 2015:


Enquanto do lado republicano começa finalmente a verificar-se o esvaziamento de Donald Trump (ainda à frente a nível nacional, mas a perder gás e já a ceder a liderança em alguns estados), a corrida democrata caiu numa espécie de impasse. 
  
Hillary Clinton continua em apuros com as ondas de choque do «mailgate» e com um certo esgotamento da sua imagem. 
  
A super favorita tem vindo a perder muitos pontos nas sondagens, nos últimos meses, mas começou tão em cima que ainda se aguenta como líder clara nas sondagens nacionais e em quase todos os estados. 

Os estrategas de Hillary têm tentado minimizar danos: puseram a candidata a somar desculpas sobre os erros de procedimento nos emails enquanto secretária de Estado e estão à espera que o momento negativo simplesmente passe, mantendo o plano de atacar já a eleição geral, com Jeb Bush como possível adversário republicano daqui a um ano.  

Estratégia inteligente ou... pouco humilde? 
  
O momento ainda é de Bernie 

Bernie Sanders, a grande surpresa do lado democrata, é cada vez mais líder no New Hampshire, estado onde tem criado uma grande onda de entusiasmo, com comícios muito participados e energizados.
  
O «campeão do progressismo americano» tem conseguido passar uma mensagem mais forte e clara na crítica ao «business as usual» e aos vícios do sistema financeiro, numa plataforma que em alguns aspetos faz lembrar a campanha de Barack Obama nas primárias de 2007/08, embora posicionado de forma mais marginal em relação ao «mainstream». 

Ou seja: enquanto Obama em 2007/08 criticava o sistema mas queria conquistá-lo para o melhorar (o que viria mesmo a suceder), o senador independente do Vermont coloca-se fora dele e consegue, com isso, lançar críticas ainda mais violentas e eficazes. 
  
Traz votos, energia e apoios, sim, mas está muito longe de ser suficiente para obter a nomeação. 
 Hillary Clinton, que em temas como as alterações climáticas, a reforma fiscal e os apoios à classe média tem agenda tão à esquerda como Bernie Sanders, não consegue descolar-se da imagem de ser, há décadas, uma das «caras do establishment» e do poder de Washington, sendo atirada por Bernie como uma das responsáveis pela influência que «Wall Street continua a ter» sobre o poder político.
  
Joe adia e adia e adia... 

Hillary ainda lidera, mas sofre; Bernie aproveita e sobe. Mas Joe Biden, em vez de se decidir... adia.

O vice-presidente vai fazendo saber que ainda não chegou ao ponto de ter a certeza do que fazer («he's not there yet», lançou um assessor próximo de Joe, ao «Politico.com»).

Sem a garantia de que terá apoio de Barack Obama, de quem foi número dois na Casa Branca nestes oito anos, Joe Biden parece temer vir a ser acusado de dividir o campo democrata. Hillary, para já, continua como herdeira política dos anos Obama -- e talvez só num cenário de «hecatombe Clinton» (ainda não estamos aí) -- assistiremos a uma decisão de Joe avançar.


Ainda sem Biden na corrida, mas já com as sondagens a contar com ele, o cenário é este: Hillary à frente nas sondagens nacionais, com média de 40.8%, para 27.6 de Bernie Sanders e 20% de Joe Biden; Sanders lidera no New Hampshire (43.4%, para 31.8% de Hillary e 13.2% de Biden), mas Hillary aguenta-se no Iowa (38.5%, para 333% de Sanders e 14.8% de Joe Biden).

Faltam quatro meses para o arranque das votações. E continuaria a ser uma enorme surpresa de Hillary Clinton não viesse a ser a nomeada presidencial democrata para 2016. Mas na política americana nunca se sabe.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: Scott Walker, de favorito a desistente


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 24 DE SETEMBRO DE 2015:


E aqui está a primeira vítima do louco verão que lançou Donald Trump para liderança folgada e improvável da corrida republicana: Scott Walker, popular governador do Wisconsin, ‘frontrunner’ no Iowa até julho, desistiu da candidatura à presidência dos EUA. 
  
Em dois meses passou de favorito à nomeação (disputava esse estatuto com Jeb Bush no início do verão) a desistente precoce (só Rick Perry, ‘cowboy’ texano o fez antes). 
  
Apagado nos dois debates televisivos (as atenções estiveram essencialmente focada em Trump no primeiro e em Trump e também Carson e Fiorina no segundo), Scott Walker foi por aí abaixo nas sondagens nas últimas semanas e não terá resistido a ver o seu nome com menos de… 1% na sondagem CNN já depois do segundo debate. 
  
Visto como um conservador forte em estado chave e do Midwest (ganhou três vezes o estado do Wisconsin nessa plataforma de impostos baixos e programa de direita), não foi capaz de transportar essas credenciais para a corrida republicana. 
  
Como é que isto foi possível? 
  
Muito terá a ver, certamente, com a tendência dos republicanos de se virarem para os candidatos que se assumem como «não políticos». 
  
À cabeça, claro, o fenómeno Donald Trump. Mas mais recentemente, também Ben Carson, segundo classificado neste momento (e cada vez mais próximo de Trump nas sondagens nacionais) e, nas últimas semanas, também Carly Fiorina (que está a capitalizar o bom desempenho nos dois debates televisivo e é, também ela, uma ‘não política’ de carreira). 
  
Na declaração de desistência, Scott Walker exortou, em Madison, Wisconsin: «Acredito que fui convocado para ajudar a limpar o terreno desta corrida, para que seja possível o surgimento de uma mensagem conservadora positiva. Uma alternativa positiva ao atual favorito». 
  
Sem acusar o toque, Trump escreveu no twitter: «Scott Walker é um tipo simpático com um grande futuro». 
  
Mas Walker, insistindo na ideia de que essa é uma «necessidade para assegurar o futuro do Partido Republicano», lançou mesmo apelo a outros candidatos a seguirem o seu exemplo, no sentido de «se encontrar uma solução capaz de fazer prevalecer alternativa conservadora positiva, para que, no fim, os votantes escolham não pelos ataques pessoais, mas por ideias construtivas. Que votem a favor de algo, não contra alguém». 
  
Sean Trende, no Real Clear Politics, observa, em artigo com pergunta sugestiva: «O que terá acontecido ao forte campo republicano?», comparando esta fase com uma corrida de cavalos: «A questão é que as pessoas que seguem corridas de cavalos sabem que, à primeira volta, não se presta grande atenção à posição de cada concorrente. Não se ignora todos ao mesmo tempo, mas estamos mais interessados na forma como os cavalos correm, como eles estão sair-se comparado com corridas anteriores, se estão a correr o tipo de corridas a que estão habituados…» 
  
Referindo-se à desistência de Walker, Trende apontou: «Ele não saiu da corrida porque caiu para pouco mais de zero por cento a sondagem da CNN, nem desistiu porque toda a gente estivesse errada na ideia de que ele poderia ser um bom candidato. Na verdade, a asserção dele no início da candidatura – não se ganha três vezes o governo do Wisconsin como um republicano conservador sem várias qualidades como candidato – continua a ser correta. Mas mesmo um bom candidato pode fazer uma péssima campanha (Phil Gramm e Tim Pawlenty são dois exemplos disso no passado). 
  
Quem vai ganhar com isto?
 
 
Ainda é cedo para saber, mas tudo indica que haverá, pelo menos para já, quatro beneficiários com a saída de Walker: Jeb Bush (que continua abaixo dos dez pontos nas sondagens nacionais), Marco Rubio, John Kasich e Carly Fiorina. 
  
Bush pode tentar começar a assumir-se como a tal «alternativa conservadora positiva» que Walker reclama; Rubio disputava com Scott a noção de «jovem conservador com futuro»; Kasich, governador do Ohio, tem pontos de proximidade com as credenciais executivas republicanas de Scott; Fiorina está a tentar apanhar um ponto comum entre ser mais moderada que Trump e Carson mas menos colada «aos políticos» que os outros candidatos. 
  
Não será de excluir que, nos próximos três ou quatro meses, ainda antes do Iowa, outros candidatos sigam o caminho de Perry e Walker (Santorum? Graham? Jindal? Christie?). 
  
Talvez só quando o leque de candidatos se resume a cerca de metade dos atuais 15 comece a ficar mais claro qual será o verdadeiro cenário de decisão do nomeado. 
  
Quanto ao futuro presidencial de Scott Walker… talvez 2020 lhe seja uma data mais favorável. 
  

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: Trump bombardeado no debate dos «outsiders»


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A DE 17 DE SETEMBRO DE 2015:


A Ronald Reagan Presidential Library, em Simi Valley, California, acolheu o segundo exame para os 11 principais candidatos à nomeação republicana. 
  
Por esta ordem nas sondagens: Donald Trump, Ben Carson, Jeb Bush, Ted Cruz, Scott Walker, Marco Rubio, Carly Fiorina, Mike Huckabee, Rand Paul, John Kasich e Chris Christie. 
  
O debate da CNN foi, acima de tudo, um teste à resistência dos candidatos. Quase três horas, com uma só paragem (de quatro minutos e meio) para os candidatos que necessitarem de ir à casa de banho, no terceiro bloco para compromissos comerciais. 
  
Trump, Trump, Trump: ainda é este o som dominante da corrida republicana. 
  
Mas o segundo debate televisivo mostrou sinais de evolução: Donald esteve sob fogo cruzado dos restantes candidatos, numa intensidade ainda maior do que aconteceu no primeiro. 
  
Logo nas declarações iniciais, Mike Huckabee passou ao ataque: «Acho que somos a ‘A Team’. Temos muito bons candidatos, ao contrário do que um deles que aqui está costuma dizer, não somos uns ‘tolos’». 
  
Jeb Bush, bem mais enérgico que no primeiro debate, passou ao ataque: exigiu que Trump pedisse desculpa a Columba, a mexicana-americana que há mais de 40 anos é mulher de Jeb. Mas Donald recusou-se a fazê-lo. 
  
Ainda não se sabe se essa recusa em pedir desculpas continua a render votos ao ‘frontrunner’ republicano. 
  
Mas neste debate a coisa já ficou mais complicada para Trump: levou resposta de Carly Fiorina sobre a tirada do ‘look at this face…’ e de Rand Paul ao comentário de que ‘nem sequer devia estar neste palco, está só com 1% nas sondagens’» 
  
E houve outro nome citado por todos no debate: Reagan. 
  
Se quase todos os candidatos quiseram jurar ser muito diferentes de Donald Trump, o que mesmo todos quiseram foi colar-se à herança do mais popular presidente republicano de sempre. 
  
Jeb Bush até fez, num dos momentos acalorados com Donald Trump, uma comparação feliz: «Prefiro a visão Reagan de uma América otimista e positiva do que a visão Trump de que tudo é mau e que todos querem fazer mal a este grande país». 
  
O ex-governador da Flórida aproveitou ainda a questão da herança do pai e do irmão na parte militar para lembrar que está «contra os cortes» no Pentágono. E sobre o irmão George W: «Ele manteve-nos seguros». 
  
Já nos ataque a Barack Obama, Jeb lançou uma pergunta em forma de ‘gaffe’: «Alguém consegue nomear um país que passou a dar-se melhor com os EUA com esta presidente?» Pois, muitos se terão lembrado logo de Cuba… 
  
Ben Carson a marcar diferenças 
  
E também houve Ben Carson: o neurocirurgião negro, segundo nas sondagens, foi outro centro de atenções. 
  
Evitou entrar em confronto direto com Trump, sabendo, por certo, que este estava a ser o debate dos «outsiders» da política. 
  
Carly Fiorina, que também marcou pontos na área dos «não políticos», lançou tese sobre isso: «Não é por acaso que 75% dos americanos consideram o governo corrupto». 
  
O único momento de divergência clara entre os dois (para lá do estilo, que é muito diferente), terá sido na parte fiscal: Donald defende a progressividade (maior carga percentual para quem ganha mais), Ben advoga uma «flat tax» de 10% para todos os contribuintes, independentemente de serem ricos ou pobres. 
  
«A América é assim», comentou Carson. «Conheço muitos tipos dos hedge funds que fazem muito dinheiro e não pagam nada. Não acho justo», ripostou Donald, anunciando para breve plano fiscal com cortes de impostos para a classe média. 
  
Walker e Rubio apagados 
  
Os focos sobre Trump e Carson levaram a mais um apagamento de dois candidatos apontados como «elegíveis», mas que continuam por baixo nas sondagens: Scott Walker e Marco Rubio. 
  
Ainda assim, o senador da Florida puxou da sua história familiar e pessoal para concluir que «uma reforma de imigração tem que ser algo bem mais profundo do que Donald Trump diz sobre o tema». 
  
John Kasich, governador do Ohio, manteve registo à parte, tentando contar o seu caso de reformador com credenciais em estados decisivos e temas que podem ser importantes para a eleição geral. 

Chris Christie a renascer? 

Quase fora deste painel principal, tão mal está nas sondagens, o carismático governador da Nova Jérsia tentou renascer com desempenho forte e visível. Será que chega para reaparecer na corrida?  

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: e se a surpresa vier dos democratas?


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 10 DE SETEMBRO DE 2015:


«Está tudo a falar no «elefante Trump» do lado republicano, mas… e se, afinal, a surpresa vier mesmo do campo democrata? 
  
Após semanas de sinais preocupantes, agora é oficial: a campanha deHillary Clinton encontra-se em estado de choque. 
  
Um dos momentos mais alarmantes da «crise Hillary» foi a sondagem do fim de semana passado, realizada, pela Survey USA, que colocava pela primeira vez Donal Trump à frente da antiga secretária de Estado, e logo por cinco pontos (45-40), num cenário de Donald e Hillary serem os nomeados para a eleição geral. 
  
A preocupação no campo democrata com o desempenho de Hillary nesta fase da corrida é indisfarçável -- e já há setores do partido a defenderem um «big-name plan B» do estilo de Al Gore ou John Kerry, antigos nomeados que perderam eleições gerais. 

«Se os líderes do partido se depararem com um cenário no próximo inverno de real possibilidade de Bernie Sanders obter a nomeação, acho que se colocará a sério a hipótese de Kerry ou Gore entrarem nas primárias. Ou então Joe Biden ou até Elizabeth Warren», comentou Garnet F. Coleman, legislador democrata do Texas.  

A super favorita para a investidura democrata, que chegou a ter mais de 50 pontos de avanço nas sondagens nacionais e nos estado principais, foi perdendo terreno e tinha já cedido a liderança no New Hampshire, primeiro estado a votar em sistema tradicional, para Bernie Sanders. 
  
O senador septuagenário do Vermont, independente e campeão da ala radical da esquerda americana, tem sabido capitalizar a mobilização e não para de crescer nos estados de arranque: mantém-se forte no New Hampshire, com uma vantagem de cerca de sete pontos sobre Hillary, e surge, pela primeira vez em primeiro lugar o «caucus» do Iowa, primeira votação das primárias 2016. 

Sondagem Quinnipiac para o Iowa dá 41 pontos a Bernie Sanders, 40 a Hillary Clinton e apenas 12 a Joe Biden (que pondera avançar, mas ainda não decidiu). 

E então, Joe? 
  
O momento de crise da campanha Hillary parece ter aberto um caminho que há alguns meses surgia como mera impossibilidade: será que Joe Biden vai mesmo avançar? 
  
Perante a quase inevitabilidade da nomeação de Hillary, que dominou a primeira fase da corrida democrata, a questão da herança dos anos Obama parecia arrumada: seria a antiga rival de Barack na disputa pela nomeação de 2008, secretária de Estado na primeira administração Obama, a capitalizar politicamente os dois mandatos do 44.º Presidente. 

Neste cenário, não se vislumbraria espaço para uma tentativa do vice-presidente (que só poderá ter alguma hipótese se for ele a agarrar a herança dos anos Obama). 
  
Mas Joe Biden tem uma certa vocação para o risco – mesmo quando os dados parece não permitir-lhe qualquer veleidade de sucesso. 
  
Joe tentou já duas vezes a nomeação presidencial democrata; em 1988 (perdeu para Mike Dukakis) e em 2008 (caiu rapidamente, vítima do super duelo Obama/Hillary, e ainda com John Edwards como terceira opção que resistiu durante alguns meses). 
  
Mas a escolha de Barack Obama, nomeado democrata em 2008, de Joe Biden para vice-presidente ofereceu ao antigo senador pelo Delaware uma última oportunidade de atingir o olimpo da política americana. 
  
E logo ele, que teria tantos impedimentos: uma vida pessoal marcada pela tragédia (perdeu mulher e um filho num acidente de automóvel nos anos 70 e há poucos meses perdeu outro filho, Beau Biden (que aos 46 anos faleceu com um cancro na cabeça). 
  
Apesar de tanto infortúnio e de derrotas políticas que desaconselhariam nova tentativa, há uma certa «onda Joe» a animar as hostes democratas. 
  
Por cada ponto que Hillary desce nas sondagens o «buzz» sobe mais um bocadinho: vamos ou não ter Biden na corrida? «Enquanto o vice-presidente não decide, amigos próximos dizem que ele ainda não atingiu certezas sobre o que deve fazer. Sobretudo porque há algum tempo terá dito, no núcleo duro da Casa Branca, que se inclinaria por um apoio a Hillary», conta Glenn Thrush, no Politico.com. 
  
Com 72 anos, e mais de metade da vida dedicada ao Senado (36 anos no Capitólio em representação do Delaware), há quase sete na Casa Branca ocupando o número dois da Administração Obama, Joe Biden tem o currículo mas talvez não tenha os «skills» políticos necessários para chegar a Presidente: soma ‘ gaffes’ incómodas, é inconveniente e tem um certo «cheiro a político do passado», demasiado comprometido com o «business as usual» de Washington. 
  
Nas últimas semanas, Joe andou em consultas. Tentou até ter o apoio de Elizabeth Warren, a senadora do Massachussets que muitos esquerdistas queriam ver no lugar de Bernie Sanders a desafiar Hillary.
  
Mas terá ainda faltado aquele ‘clique’ que é preciso ter para se avançar para uma empreitada com a dimensão de uma corrida presidencial. 
  
As sondagens, é preciso dizer, não têm sido especialmente excitantes para Joe Biden. Mesmo com Hillary em queda livre, é Bernie Sanders que surge como ameaça real a Clinton – não Joe. 
  
Um antigo assessor da campanha falhada de Biden em 2008 sintetiza, ao «Huffington Post»: «No Iowa, por exemplo, Joe Biden foi o candidato que fez mais amigos e o que teve menos votos». 

Não é um retrato promissor para quem sonha em chegar à Casa Branca, de facto.   

Já foi mais provável uma entrada em cena de Joe Biden na corrida de 2016. O tempo está a contar.»


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Histórias da Casa Branca: Ben Carson, a versão «soft» do populismo


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 4 DE SETEMBRO DE 2015:


A corrida republicana continua em estado de choque pela liderança de Donald Trump, mas começa a haver sinais de que o momento do multimilionário pode estar a terminar. 
  
As sondagens continuam a dar bom avanço a Trump, é certo, mas recente estudo da Suffolk para o Iowa deu empate entre Donald e a outra grande surpresa desta fase: Ben Carson, neurocirurgião negro que também se apresenta como alguém fora do sistema político e com mensagem própria. 
  
Trump e Carson são ambos herdeiros do sentimento «anti-políticos» que vai reinando na direita americana. Do descontentamento e até da zanga de grande parte do eleitorado republicano em relação à incapacidade dos seus líderes, nos últimos anos, evitarem os sucessos da Administração Obama. 
  
Os dois são populistas e orgulham-se de não terem currículo governamental ou no Congresso, reivindicando uma certa «pureza» perante os «vícios» de Washington. 
  
Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois: Donald é agressivo, zangado, dispara em todas as direções; Ben fala de modo eloquente, num estilo «soft». 
  
Se até há poucas semanas quase ninguém imaginava que Donald Trump agarrasse a liderança da corrida, já Ben Carson tem mostrado, há alguns meses, ter um segmento minoritário mas fiel que o apoia. 
  
Essa fatia tinha, até há semanas, uns 5/7%. Mas parece estar a crescer. Nas sondagens nacionais, Ben aparece por vezes em segundo, noutras em terceiro, acima dos 10 pontos. E no Iowa surge bem melhor, com essa pesquisa Suffolk a colocar-lhe taco a taco com Trump, ambos acima dos 20 pontos. 
  
Tudo aponta para que seja tendência passageira. 
  
Mas não deixa de ser enorme surpresa esta preferência pelos anti-políticos, que está a remeter os candidatos politicamente mais sólidos (Jeb Bush, Marco Rubio, Scott Walker, Chris Christie) com apoios inesperadamente residuais. 

Donald «vs» Jeb 
  
Talvez por estar muito acima do favorito, Donald Trump tem-se dedicado a apontar baterias a Jeb Bush. 
  
Critica o irmão e filho dos últimos dois presidentes republicanos por falar com regularidade em espanhol (Jeb aposta forte nos segmentos latinos), lembrando que «a língua oficial dos EUA é o inglês»; acusa Jeb de ser «fraco» e insinua que «se ele fosse presidente os EUA ia por aí abaixo, seria uma desgraça…» 

Jeb, que começou por ignorar, está a mudar de estratégia e vai subindo o tom das respostas aos desvarios de Trump, Mas a verdade é que passa por «seca» nas sondagens, com valores muito baixos nos estados de arranque (Iowa e New Hampshire) e mesmo nas sondagens nacionais, que já chegou a liderar. 

Não por acaso, o ex-governador da Florida tem tido problemas internos na sua campanha, com mudanças em postos chave nos seus assessores e conselheiros (pode estar à vista uma alteração na estratégia de Jeb). 

Fiorina e Kasich a crescer 
  
Quem estão à espreita, perante a crise dos favoritos Bush, Rubio e Kasich, são Carly Fiorina (cada vez mais forte no Iowa e com provável presença no debate na CNN do próximo dia 16, na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan) e o governador do Ohio, John Kasich, a obter apoios crescentes no New Hampshire.

Mike Huckabee, Rand Paul e Chris Christie, pretendentes com potencial mas neste momento em dificuldades nas sondagens, terão nesse debate de dia 16 uma espécie de... última oportunidade antes do arranque das votações para tomar o seu momento.

Candidatos como Rick Santorum, Bobby Jindal, Rick Perry, Jim Gilmore, Lindsey Graham e George Pataki, que nem aos dois pontos percentuais chegam, podem desistir ainda antes do Iowa, uma vez que começam a ter sérios problemas de financiamento nas respetivas campanhas.

A América é mesmo uma caixinha de surpresas.