terça-feira, 28 de abril de 2015

Histórias da Casa Branca: o «sprint» final de Barack Obama

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 28 DE ABRIL DE 2015:

Enquanto a corrida presidencial para a sua sucessão vai aquecendo, Barack Obama está longe de ter vontade de desacelerar no cumprimento da agenda política do seu segundo mandato na Casa Branca. 
  
A nomeação (recentemente confirmada no Senado com o voto dos 46 senadores democratas e ainda de dez republicanos) de Loretta Lynch para «attorney general» (primeira mulher negra a liderar o Departamento de Justiça) foi mais uma marca deixada pelo Presidente. 
  
Quase desde o início do seu segundo mandato que se diz que «a era Obama está perto de acabar». 
  
Essa ideia parecia ter tido, de resto, a sua estocada final quando, em novembro de 2014, os democratas levaram grande derrota, perdendo o controlo do Senado nas intercalares. 
  
Mas uma análise do quadro geral mostra que Barack Obama tem já, nos seus seis anos e quatro meses de presidência, «achievements» que definirão o registo do seu legado: a recuperação económica sustentada (desemprego acima dos 10% no início da sua presidência, agora apenas nos 5.5%, depois de mais 60 meses seguidos de criação de postos de trabalho nos EUA); criação de sistema tendencialmente universal de cuidados de saúde (em lei ainda com implementação progressiva e que já permitiu o apoio de vários milhões de americanos); desanuviamento de tensões de longo prazo dos EUA com Cuba e Irão (acordos históricos com Castro e Rohani). 
  
A estes dados, já consolidados, podemos ainda juntar a questão da Imigração, outro tema já assumido pelo Presidente (ao avançar para as medidas executivas unilaterais que impediram, ou pelo menos adiaram, a deportação de mais cinco milhões de ilegais). 
  
No entanto, o problema da Imigração é de tal modo complexo e diverso nos EUA que será difícil, em contexto de forte maioria republicano no Congresso, que Obama consiga fazer muito mais para permitir melhores condições de enquadramento legal, que impeçam um cenário de deportação em massa. 
  
O último quarto de oito anos no poder 

A 19 meses de deixar a Casa Branca (as eleições serão a 8 de novembro de 2016, mas a tomada de posse do 45.º Presidente será só a 20 de janeiro de 2017), Obama vê ainda tempo suficiente para terminar o trabalho noutros temas que considera cruciais para a «plataforma» social e política que lhe deu duas grandes maiorias presidenciais. 
  
Indicaria quatro grandes objetivos definidos pelo Presidente, a conseguir até 20 de janeiro de 2017: consolidar a Reforma Fiscal por que se bateu na reeleição; travar o Estado Islâmico; assinar acordos comerciais em grande escala (Pacific Trade Deal e TTIP EUA/Europa); impor visão sobre alterações climáticas. 
  
Reforma Fiscal será talvez (a par da Reforma da Saúde) a principal ideia de Barack Obama: dar melhores condições à classe média para prosperar e apoiar os mais desfavorecidos, baseando a arrecadação da receita na taxação dos «super ricos» (na expressão feliz de Warren Buffet). 
  
Estado Islâmico, não sendo apenas uma ameaça para os EUA, representa desafio novo na luta contra o terrorismo islâmico e deverá exigir, nos próximos meses, uma das decisões mais difíceis da presidência Obama (talvez só equiparável à decisão de aprovar a Operação Gerónimo, que redundaria na morte de Osama Bin Laden): enviar ou não tropas americanas para o terreno? Até agora, a promessa de não voltar a envolver soldados americanos em conflitos no estrangeiro tem prevalecido e é visto como visão correta, uma vez que um cenário de muitos americanos mortos pelos Estado Islâmico no Iraque e na Síria seria politicamente insustentável, neste momento. 
  
Os acordos comerciais que estão a ser negociados com o Pacífico e com a Europa integram-se na visão de Obama de que a liderança americana é reforçada (e não diminuída) quando se abre ao exterior. Especialmente no caso do Pacific Trade Deal, as reservas da ala esquerda dos democratas, representada por Elizabeth Warren, podem complicar. 
  
As alterações climáticas são outro grande ponto na visão Obama do que pretende fazer enquanto Presidente dos EUA. 
  
Foi um dado inesperadamente relevante na reeleição (enquanto Romney cedia a quem, na direita, queria acabar com o FEMA, a violência inusitada do «Sandy» levou a resposta pronta e efetiva das autoridades federais, no apoio a quem tinha perdido tudo em estados como Nova Jérsia, Nova Iorque ou Connecticut) e mantém-se como tema chave nas intervenções de Obama. 
  
Este vídeo, muito visto e comentado nos últimos dias, com o «anger translator» a dizer alto e bom som, no jantar anual dos correspondentes da Casa Branca, o que Obama sentirá, mostra com humor refinado e inteligente, como o «negacionismo» de vários republicanos no Congresso pode levar o Presidente a reações entre o paternalismo e o desespero…

Desafios para o 45.º Presidente 
  
Para lá destes quatro enormes objetivos, há muitos outros desafios que, certamente, não estarão acabados por janeiro de 2017, quando Obama ceder o lugar na Sala Oval a Hillary Clinton ou a umrepublicano: a ameaça russa (Putin estará à espera de ver como será o sucessor de Obama para voltar a criar instabilidade no Leste da Europa), a ascensão da China, a questão israelo-palestiniana (que não avançou como se chegou a acreditar durante os anos Obama), a consolidação da recuperação económica. 
  
A atenção mediática estará cada vez mais virada, nos próximos meses, para a excitante corrida presidencial de 2016. Mas ainda é cedo para deixar de contar com a capacidade de criar surpresas do 44.º Presidente dos EUA. 
  


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Hillary 2016 em 138 segundos


A comunicação política não tem idade.

Tem regras, depende do gosto, varia o seu efeito em função do segmento que pretende atingir.

E sim: faixas etárias diferentes reagem de forma diversa à mesma mensagem.

Mas a capacidade de as transmitir não tem prazo de validade: Hillary Clinton que o diga.

Super favorita à nomeação presidencial democrata (tem 50 pontos de avanço nas primárias do seu partido), a ex-secretária de Estado norte-americana é, a ano e meio das eleições que vão definir o sucessor de Barack Obama na Casa Branca, a pessoa mais bem colocada para vencer a eleição.

Mesmo nos possíveis duelos com os eventuais candidatos republicanos, as sondagens dão vantagem considerável (sempre com dois dígitos) a Hillary, seja o nome do possível opositor Jeb Bush, Scott Walker, Marco Rubio ou qualquer outro dos vários pretendentes. Com 69 anos à data da eleição (vai completá-los em outubro de 2016), Hillary Clinton teria na idade avançada (77 no final dos dois mandatos que pretenderá liderar na Casa Branca) o seu maior problema.

Ora, a forma como escolheu marcar o arranque da sua segunda candidatura presidencial praticamente resolveu essa questão.

O vídeo «Getting started», com apenas dois minutos e 18 segundos, juntou quase tudo o que a candidata pretende desenvolver, nos próximos 19 meses.
 

Nesses 138 segundos, estão lá os focos da agenda política e social de Hillary Clinton:
  • dar força e condições à «working middle class america»;
  • as minorias étnicas (negros, hispânicos, asiáticos);
  • as minorias sexuais (casal gay de dois homens; casal gay de duas mulheres);
  • as mulheres jovens, que pretendam juntar carreira e família;
  • até uma recém-reformada com vontade de continuar ativa.
A dar consistência a tudo isto, uma ideia geral de otimismo e «cal to action» (mobilização para a ação), muito americana e que se insere numa espécie de «fase II» da versão democrata de recuperação pós-crise. Tudo num ambiente de «mudança para melhor», também ele muito americano.

Hillary quis, no vídeo, lembrar que os piores anos já passaram, mas deu como ideia forte: «Há muito ainda a fazer. E está na altura de dar às pessoas as vantagens da recuperação».

Ela quer, por isso, ser a «campeã que os americanos precisam», porque «o sistema ainda está construído para favorecer quem está no topo».

Entre a confirmação do «core» democrata que foi apoiando Barack Obama (minorias étnicas, sexuais, classe média trabalhadora, mulheres e jovens), há aqui uma «nuance» importante: ela deixa a entender que o Presidente Obama não foi suficientemente longe no ataque ao «business as usual» e aos «alçapões de Wall Street».

Sendo Hillary, há décadas, uma pessoa «do sistema» (Primeira Dama com agenda própria durante oito anos; senadora nos oito seguintes; quase nomeada presidencial democrata em 2008; secretária de Estado no primeiro mandato de Obama), ela poderia ter dificuldades em assumir-se como a candidata que vai conseguir mudar esse «status quo».


E este vídeo ajuda a posicioná-la onde quer: nesses 138 segundos, a candidata só aparece perto do centésimo e depois de ouvirmos e vermos as histórias de «real people» que ela pretende apoiar e «patrocinar», uma vez na Casa Branca.

Em entrevista que me concedeu para o site TVI24, Bill Schneider, comentador político da CNN, observou: «Não foi um anúncio em grande estilo, com grande aparato, tipo «shock and awe». Foi pessoal e «friendly». E não foi, de modo algum, sobre a candidata. Ela já é suficientemente conhecida. A intenção do video foi mostrar a sensibilidade de Hillary. A sua ligação ao mundo real.
Um anúncio assim poderia não resultar com candidatos menos conhecidos.»

Correu tudo bem no lançamento de Hillary16’?
Não. Contrastando com o excelente «Getting started», o «logo» da campanha não está à altura do vídeo: tem linhas antiquadas, uma ideia demasiado simples (aproveita o H de Hillary e faz uma seta a apontar para a frente, com um jogo de cores azul e vermelho, «obrigatório» na América dominada pela dicotomia blue/red).

Em janeiro de 2007, quando anunciou a sua primeira tentativa presidencial, Hillary também o fez por um vídeo, para confirmar: «I’m in… and I’m in to win!»

Quase tudo diferente, há oito anos e quatro meses: estilo clássico de comunicar, mera mensagem da candidata, em ambiente a misturar carga institucional com noção familiar. 

Hillary16’ arrancou com muito mais força e modo mais inovador e mobilizador. 
A candidata, mesmo perto dos 70, está hoje muito mais tecnológica. 

Em versão «3.0», pondo para trás os fantasmas do passado e cheia de vontade de agarrar o futuro.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Histórias da Casa Branca: Hillary versão 3.0

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 20 DE ABRIL DE 2015:

Hillary 08’ foi a crónica de uma derrota inesperada que tinha tudo para ter sido uma vitória anunciada (não fora ter aparecido um tal de Barack Obama). 
  
Hillary 16’ arranca com um rótulo de favoritismo ainda mais expressivo que há oito anos (agora a vantagem no campo democrata é de 40/50 pontos e não de 20/30…), mas a candidata, escaldada com o que lhe aconteceu na primeira tentativa, fará tudo para não ser surpreendida. 
  
O anúncio da candidatura foi amplamente elogiado: o vídeo «Getting started» (4,27 milhões de visualizações no momento da escrita desta crónica) apanha, em dois minutos e 18 segundos, o essencial do «universo Hillary» e da base de apoio dos democratas e das maiorias presidenciais Obama 2008 e 2012: os latinos, os negros, os asiáticos, as minorias, as mulheres, as jovens mães com vontade de singrar na vida, os casais gay (duas mulheres e dois homens), gente com capacidade de trabalho e com vontade de «mudar» para poder melhorar as condições de vida. 
  
A estes segmentos, Hillary somou também uma recém-reformada. Se nos jovens e nos negros Obama foi mais forte que a agora favorita para 2016, Hillary pode melhorar o desempenho do seu antecessor na nomeação presidencial democrata nas mulheres com idades acima dos 60. 
  
Para lá destas «nuances» típicas da comunicação política nos EUA, há uma mensagem dominante que Hillary quis passar: desta vez, o foco vai estar nas pessoas, «real people», não tanto no seu próprio percurso político, por muito rico e inspirador que ele possa ser (e é). 
  
E há, sobretudo, um otimismo e uma «call to action» (mobilização para a ação) notáveis para uma mulher com quase 68 anos (só aquele logótipo é que não passou muito bem...). 
  
A derrota de 2008 deu-lhe mais trunfos que desvantagens: ela sabe o que quer e quer ser a «campeã de que os americanos precisam» para que, passada a grande crise que marcou os primeiros anos de Obama, os benefícios da recuperação económica possam ser aproveitados pela «middle class working America» (a classe média trabalhadora). 
  
Hillary 08’ foi muito sobre o passado e sobre «ela». Hillary 16’ será virado para o futuro: mais «tecnológico» (as campanhas Obama foram um «turning point» e mais focado nos eleitores e não na candidata). 
  
Enquanto as sondagens continuam a mostrar-se muito simpáticas para a super favorita (não se vê quem possa tirar-lhe a nomeação na corrida democrata, com Elizabeth Warren e Joe Biden pelos 10/14%; Bernie Sanders, Jim Webb e Martin O’Malley sem chegar aos 5% e Hillary a passear nos 55/65…), a presumível nomeada arrancou com esse vídeo e vai gerindo, para já tranquilamente, o início da campanha. 

Dias depois do «Getting started», fez uma incursão no Iowa (o estado de arranque onde, em 2008, não passou do terceiro posto, com 29%, menos um que John Edwards e menos nove que Barack Obama), e teve contatos «one to one» com os eleitores que decidirão os «caucuses» que marcam a abertura das primárias presidenciais. 
  
Hillary quer uma campanha tipo «small is beautiful»: desta vez, o que decide serão os pormenores, por muito que tudo o resto jogue a favor dela (o dinheiro arrecadado, os apoios, as sondagens, a logística). 
  
A gestão do tempo (ainda faltam sete meses e meio para o Iowa e quase 19 meses para eleição) será um fator chave para quem tem avanço tão impressionante. 
  
O que une os republicanos? Travar Hillary
 
  
Do lado republicano, o «fator Hillary» está a mostrar-se ponto de união entre pretendentes tão diversos. 
  
No terreno, como candidatos declarados, há já três nomes: Ted Cruz, senador do Texas favorito do «Tea Party»; Rand Paul, senador do Kentucky, de credenciais libertárias e contra a vigilância governamental da NSA; Marco Rubio, filho de cubanos, senador da Florida, apenas 43 anos e a tentar fazer pontes entre latinos, conservadores clássicos e a direita radical. 
  
Mas vai haver mais: Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas e segundo classificado nas primárias de 2008, outro «Tea Party darling», que nos últimos anos incendiou argumentos da direita radical nos comentários na FOX, deve avançar a 5 de maio. 
  
Mais tarde, devem apresentar-se os três nomes mais viáveis: Scott Walker, governador do Wisconsin, à frente em muitas sondagens mas que recentemente teve grande desilusão ao ver que perde no seu próprio estado para Hillary Clinton por 52/40 (sondagem Marquette University, já depois do avanço da democrata); Jeb Bush, ex-governador da Florida, talvez o nomeado mais provável, que até se quis antecipar ao «Getting started» de Hillary com vídeo a garantir que fará melhor do que a «política externa Obama/Clinton»; e ainda Chris Christie, governador da Nova Jérsia, que chegou a estar à frente nas sondagens republicanas, mas tem tido meses complicados. 

Ainda podem aparecer, à direita de Bush, Walker e Christie, as candidaturas de Ben Carson, Rick Santorum, Lindsay Graham e Rick Perry (nenhum tem hipóteses reais de ganhar). 
  
Talvez com mais hipóteses de obter a nomeação, mas não mostrando para já garantias de avançar, estão o congressista Paul Ryan, do Wisconsin (candidato a vice no ticket de Mitt Romney em 2012), e Carly Fiorina (ex-CEO da Hewlett Packard). 
  
No fim de semana, no New Hampshire (o estado que se seguirá ao Iowa), os republicanos reuniram-se para tentar perceber quem preferem. 
  
A resposta sobre quem será o nomeado presidencial da direita americana está longe de ser clara. Mas uma coisa é certa: todos querem travar Hillary. É isso que, para já, os une. 

Se olharmos para a sondagem CNN/Opinion Research Corporation, a primeira grande pesquisa nacional feita depois dos anúncios de Hillary e Rubio, é fácil perceber porquê: Hillary Clinton arrasa, com 58 pontos de avanço na corrida democrata (69 por cento para 11 de Joe Biden) e  bate Jeb Bush e Scott Walker por mais de 15 por cento na eleição geral. Bush aparece ligeiramente à frente nos republicanos (17%), com Walker a seguir (12%) e Rubio e Rand Paul com 11%. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bill Schneider: «Se as eleições fossem hoje, Hillary Clinton ganharia»

ENTREVISTA COM BILL SCHNEIDER, PUBLICADA NO SITE TVI24 A 15 DE ABRIL DE 2015:

Bill Schneider, 70 anos, «senior fellow» da Third Way, importante «think tank» de Washington, professor de Public and International Affairs na George Mason University, é considerado pelos seus pares o «Aristóteles da análise política na América». 
  
Conhecido comentador da CNN (foi analista político sénior do canal de Atlanta entre 1990 e 2009, está agora na CNN Internacional), é também analista na Al Jazeera English, no Politico.com e na Reuters.com.  

Washington Times elegeu-o o «maior especialista americano em eleições». Fez parte da equipa de Política da CNN que venceu um Emmy pela cobertura das «midterms» de 2006 e um Peabody pela cobertura das eleições de 2008. Tem outros prémios na área jornalística e académica e alguns livros publicados. 
  
Em dezembro de 2012, logo a seguir à reeleição de Obama, Bill Schneider concedeu uma entrevista ao site TVI24 em que defendia: «O sistema americano só funciona com grandes crises». 

Na entrevista que se segue, Schneider antecipa a corrida presidencial de 2016, aponta Hillary Clinton como favorita à sucessão de Barack Obama e identifica Jeb Bush como mais bem colocado para obter a nomeação republicana. 

Marco Rubio, Scott Walker e os anos Obama são outros temas analisados por um dos mais prestigiados analistas políticos dos EUA. 
  

Como comenta a forma como Hillary Clinton avançou? Foi o momento certo? 
  
Sim, acredito que foi. Os democratas estavam a começar a ficar ansiosos com o facto dos republicanos começarem a ter a atenção mediática. 
  
  
  
O vídeo «Getting started» teve o efeito desejado? Vai marcar uma mudança na comunicação política dos EUA? 

Não foi um anúncio em grande estilo, com grande aparato, tipo «shock and awe». Foi pessoal e «friendly». E não foi, de modo algum, sobre a candidata. Ela já é suficientemente conhecida. A intenção do video foi mostrar a sensibilidade de Hillary. A sua ligação ao mundo real. Um anúncio assim poderia não resultar com candidatos menos conhecidos. 
  
  
  
Hillary sobreviveu ao «mailgate», escândalo sobre a utilização de email pessoal em troca de correspondência ao serviço do Departamento de Estado?
 
 
Até agora tem sobrevivido, mas as pessoas estão consternadas com o seu comportamento em relação a esse tema. O caso reforça a crítica de que ela é demasiado opaca, secreta 

  
  
Além do «mailgate», que outros problemas poderá vir a ter Hillary na sua candidatura? 
  
Os adversários dela estão a chamá-la de candidata do passado. Mas a primeira mulher Presidente não parece uma noção do passado. Depois, ela é uma figura divisiva. E tem que convencer os votantes de que poderá construir consensos. 
  

  
Leia ainda nesta entrevista:

«Se as eleições fossem hoje, Hillary Clinton ganharia»

«Jeb Bush é o mais provável nomeado republicano»
 

«Hillary pode juntar diversidade e inclusão à herança Obama» 


  
O avanço de Hillary nas primárias democratas é irreversível? 
  
Nada em política é irreversível. Mas ela está numa posição mais forte para obter a nomeação do que qualquer não-incumbente (nota: candidato que não seja presidente em funções) de que há memória. 
  


Quem poderá desafiar esse favoritismo no lado democrata? 
  
A esquerda adoraria desafiá-la. Mas, neste momento pelo menos, não há «challenger» credível para enfrentar Hillary pela esquerda. 


  
Se as eleições fossem hoje, quem seria eleito Presidente? 
  
Hillary Clinton. 
  


  
Leia ainda nesta entrevista:

«Se as eleições fossem hoje, Hillary Clinton ganharia»

«Jeb Bush é o mais provável nomeado republicano»
 

«Hillary pode juntar diversidade e inclusão à herança Obama» 


Marco Rubio pode ser a mudança geracional de que os republicanos necessitam? 
  
Os democratas é que precisam verdadeiramente de fazer essa mudança geracional. Rubio é um candidato de uma nova geração e um «campaigner» atrativo. Mas acredito que a sua vez virá no futuro. Talvez não seja para já. 
  
  

É possível juntar conservadorismo com minoria hispânica, como Rubio pretende fazer? 
  
A maioria dos hispânicos é democrata. Rubio poderia obter ganhos junto dos hispânicos mas não os conseguiria converter ao «conservadorismo». 

  
  
Jeb Bush é o mais provável nomeado republicano? 
  
É. Não é ainda o nomeado confirmado, mas é o mais provável neste momento. 
  
  

Leia ainda nesta entrevista:

«Se as eleições fossem hoje, Hillary Clinton ganharia»
 

«Jeb Bush é o mais provável nomeado republicano»

«Hillary pode juntar diversidade e inclusão à herança Obama»
 



Scott Walker pode desafiar Bush? 
  
Pode. Walker será, provavelmente, o «challenger» de Bush pela direita. 
  
  
  
Quem poderá aproveitar o não avanço de Mitt Romney? 
  
Jeb Bush, porque ambos são «favoritos» do «establishment» republicano. Sem Romney, Bush pode assim ficar como único candidato desse «establishment». 


Que temas poderão decidir a eleição presidencial de 2016? Imigração, Saúde, Economia, impostos, Estado Islâmico e Irão? 
  
É impossível de prever. O mais provável talvez seja a política externa – Irão e ISIS (Estado Islâmico). 
  


Leia ainda nesta entrevista:

«Se as eleições fossem hoje, Hillary Clinton ganharia»

«Jeb Bush é o mais provável nomeado republicano»

«Hillary pode juntar diversidade e inclusão à herança Obama»
 
  


Hillary poderá tentar aproveitar a herança de Obama? E em que áreas? 
  
Recuperação económica, reforma da saúde, alterações climáticas. A isso juntará o seu registo em «diversidade» e «inclusão». 
  

  


“Hillary Clinton é a super favorita” - entrevista ao site «Panorama»


Panorama falou com Germano Almeida, autor da rubrica “Histórias da Casa Branca” no site da TVI24, para perceber quais as condicionantes que se adivinham na corrida de Hillary Clinton à Casa Branca.
Com que trunfos conta hoje Hillary Clinton que não tinha em 2008, quando perdeu as primárias para Obama?
Diria que o essencial tem a ver com não ter, desta vez, adversário directo. É certo que em 2007, quando se partiu para as primárias de 2008, Hillary tinha um bom avanço. Parecia, na altura, a nomeada quase inevitável. Mas 2008 teve um fenómeno – Barack Obama – que aparece muito raramente, pela forma meteórica como apareceu e ascendeu. Desta vez, jáhillaryObama não há tempo para que surja um outro candidato capaz de retirar a vitória à favorita. E com esta diferença: em 2008, Hillary partiu com 20/30 pontos de avanço para as primárias. Agora tem avanço de 40/50. Ora, uma diferença dessas não é reversível no espaço de um ano e pouco (o nomeado democrata definir-se-á no verão de 2016). Hillary não foi nomeada em 2008 mas obteve 18 milhões de votos. O problema dela foi apenas um: Barack Obama. Num cenário de normalidade, ela já tinha ganho em 2008. Parte para 2016 com vantagem nunca vista nesta fase (quase 50 pontos de avanço para as primárias e cerca de 10 pontos de vantagem contra todos os republicanos para a eleição geral). A menos que tenha um problema de saúde ou algo de absolutamente imprevisto, é a super favorita.
O facto de ser mulher pode ser uma mais valia para Hillary Clinton?
Ajuda a diferenciá-la. Não creio que seja o ponto decisivo na sua candidatura, mas pode ter efeitos benéficos, se ela os souber usar (em 2008 não soube completamente). Se em 2008 a história das eleições foi Barack Obama, por ter conseguido provar que era possível eleger um negro para a Casa Branca, Hillary vai querer fazer de 2016 a primeira eleição de uma mulher para a Casa Branca. Ela já tinha tentado fazer isso em 2008, mas o fenómeno Obama acabou por se sobrepor. Poderá ajudar Hillary o facto de ser mulher? Diria que sim, por duas razões: por esse efeito «novidade» (as eleições na América adoram novidades e detestam coisas previsíveis) e pelos problemas que isso coloca aos republicanos: sendo as mulheres maioria do eleitorado americano (cerca de 52 em cada 100 americanos que votam nas presidenciais são mulheres), atacar Hillary é, em última instância, atacar a única representante do leque de candidatos do género feminino…
Quais serão as maiores dificuldades que a candidata vai encontrar?
Uma eleição presidencial americana é um monte de dificuldades, que se prolonga ao longo de quase dois anos. Esta campanha parte a 20 meses da data da eleição, a de 2008 partiu ainda antes (Obama e Hillary apresentaram-se às primárias desse ano em… Janeiro de 2007). Portanto, diria que a primeira dificuldade é o tempo imensamente longo desta batalha, algo que só se consegue gerir com auto-controlo, resistência física e muito ânimo. Depois há três «sombras» no seu passado: Bengazhi, a maior mancha em percurso público de quatro décadas (quando era secretária de Estado, um embaixador americano foi morto na Líbia); mailgate (uso indevido do e-mail pessoal em exercício de funções); financiamento das fundações dos Clinton. Os republicanos vão tratar, nos próximos meses, de falar muito destas três coisas. Há ainda o factor idade: em 2008, os americanos preferiram um candidato extremamente jovem e inexperiente (Barack Obama) sobre um velho leão da política americana (John McCain). Se elegerem Hillary vão escolher uma candidata com quase 70 anos e que tem uma vida pública de mais de quatro décadas. Isso pode ser um problema.
O contexto político actual nos EUA é favorável a esta candidatura?
Hillary tem muito mais trunfos que problemas no actual contexto. Diria que o principal problema tem a ver com o princípio da alternância: depois de oito anos de presidente democrata, talvez fosse provável que para a Casa Branca, em 2016, fosse um republicano. Mas isso não é obrigatório: por exemplo, depois dos dois mandatos de Reagan, republicano, houve outro republicano, George Bush pai. E depois dos dois mandatos de Clinton, Gore esteve pertíssimo de ser eleito. No resto, Hillary quase só tem trunfos. Destacava quatro principais:
1- A “Maioria democrática é real”: A evolução demográfica favorece o nomeado presidencial democrata, pelo menos enquanto os republicanos continuarem a ter tantas dificuldades como os segmentos «negros» e «hispânicos». Os democratas venceram no voto popular em cinco das últimas seis eleições presidenciais (Gore teve mais 500 mil votos que W. Bush em 2000, mas perdeu no Colégio Eleitoral, Obama e Bill Clinton ganharam duas vezes o voto popular). Desde 1992, só George W. Bush em 2004 conseguiu ter mais votos, como nomeado republicano, que o nomeado democrata (John Kerry).
2 – O voto jovem: Barack Obama arrasou nesse segmento em 2008 e, embora tenha baixado um pouco, voltou a ganhar por larga margem em 2012. Nenhum republicano parece ter, para já, condições de conquistar o voto jovem.
3 – Notoriedade quase total: Hillary Clinton é conhecida de quase 100% dos americanos. Qualquer adversário (seja nas primárias democratas ou na eleição geral com o nomeado republicano) terá que fazer um caminho muito duro para chegar sequer perto. Mesmo com uma taxa de rejeição considerável (há milhões de americanos que não gostam dela), Hillary é muito popular. E isso, na hora do voto, conta incrivelmente.
4 – A herança económica: A presidência Obama colocou os EUA na mais baixa taxa de desemprego dos últimos sete anos e no maior crescimento económico da última década. Hillary poderá vir a colher os créditos desse desempenho. E ainda há, é claro, a «herança económica» do marido da candidata, o presidente Bill Clinton, que dirigiu a América nos prósperos anos 90 e deixou o país com um superavite significativo.
Quem poderá vir a ser o seu grande adversário?
Nas primárias democratas, acredito que dois ou três dos seguintes nomes serão candidatos: o vice-presidente Joe Biden (que poderá tentar ficar com parte da herança Obama); Martin O’Malley, governador do Maryland; Elizabeth Warren, senadora do Massachussets; Jim Webb, ex-senador da Virgínia; Bernie Sanders, senador do Vermont. Para a eleição geral, creio que o nomeado republicano será um destes três nomes: Jeb Bush, ex-governador da Florida e irmão e filho de ex-presidentes da República; Scott Walker, governador do Wisconsin; Marco Rubio, senador da Florida. Em condições normais, o duelo final será Hillary/Jeb, numa improvável repetição dum duelo Clinton/Bush (em 1992, foi esse o duelo, entre Bill Clinton e George Bush pai). Mas Scott Walker e Marco Rubio podem ter uma palavra a dizer e tirar a nomeação a Bush.