domingo, 31 de julho de 2016

Histórias da Casa Branca: sim, ainda podemos


TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 28 DE JULHO DE 2016:

Esperança no lugar da dificuldade; esperança no lugar da incerteza. A audácia da esperança! América, fizeste vigorar a esperança nestes últimos oito anos. E agora estou pronto para passar o testemunho e fazer a minha parte enquanto cidadão comum. Neste ano, nesta eleição, estou aqui a pedir que se juntem a mim -- na rejeição do cinismo, na rejeição do medo, para que prevaleça o melhor de nós; para elegermos Hillary Clinton como próxima Presidente dos EUA e mostrarmos ao mundo que ainda acreditamos na promessa desta grande nação. Obrigado por esta incrível caminhada. Vamos continuar a seguir em frente. Que Deus abençoe os Estados Unidos da América."
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA, discurso na Convenção de Filadélfia, 27 de julho de 2016


"Donald Trump não sabe nada de nada. É o candidato mais mal preparado de sempre."
JOE BIDEN, vice-presidente dos EUA, discurso na Convenção de Filadélfia, 27 de julho de 2016


Foi, provavelmente, o último grande discurso político de Barack Obama enquanto ainda é Presidente dos EUA. E foi uma demonstração poderosa e eloquente de como o campo democrata está unido em torno da necessidade de ajudar Hillary Clinton a derrotar Donald Trump, a 8 de novembro.

Depois de Michelle Obama ter definido Hillary como "alguém que nunca cede à pressão", um "exemplo inspirador" para as suas filhas, e de Bill Clinton ter rotulado a sua mulher de de "change maker", o atual inquilino da Casa Branca fez a coisa por menos: "Hillary Clinton é a melhor candidata possível. Não há ninguém mais qualificado para ser Presidente dos EUA do que ela. Nem eu, nem Bill: ninguém. Temos a obrigação de dar o melhor de nós para ajudarmos a elegê-la", destacou Barack, no palco do Wells Fargo Center, de Filadélfia.

O Presidente fez questão de expor uma visão otimista, positiva e confiante do valor e das capacidades da América: "Os EUA são grandes. Continuam a ser grandes. E não precisamos que Donald Trump nos diga que somos."

O mote estava lançado: durante 45 minutos, Obama não só exortou as melhores qualidades daquela que deseja venha a ser a sua sucessora, como não se coibiu de atacar fortemente o nomeado presidencial republicano.


E em termos não muito habituais num Barack Obama geralmente mais moderado na forma e nas palavras. "No mundo não se entende o que se está a passar nestas eleições. Trump pretende tirar proveito de tudo o que possa beneficiar, colocando umas pessoas contra os outros, lançando ideias falsas, para isolar o país do resto do mundo. Mas os americanos são fortes, já derrotaram comunistas, fascistas e demagogos", declarou.

Rejeitou as teses declinistas e negativas de Trump sobre o suposto enfraquecimento dos EUA nos últimos oito anos e defendeu a herança que pretende deixar a Hillary.
Com Hillary Clinton, a América pode ser ainda maior. Ainda mais forte. Porque nunca houve ninguém tão qualificado como ela para exercer a função de liderar este grande país", insistiu Obama.
A América de Obama é positiva, multilateral e a apontar para a esperança. Para o ainda Presidente dos EUA, a América de Trump seria negativa, a jogar com o medo. Luz versus escuridão.
Sem poupar nas palavras, Barack acusou: "Trump pretende uma América dividida, assustada, com medo. Mas a América ainda é a cidade luminosa na colina."

Luz versus escuridão



Dificilmente assistiríamos a duas convenções tão distintas e opostas como a que se realizou em Cleveland, na semana passada, e nomeou Donald Trump, e a que termina esta madrugada em Filadélfia, com o discurso de aceitação de Hillary Clinton.
No mundo não se entende o que se está a passar nestas eleições. Trump pretende tirar proveito de tudo o que possa beneficiar, colocando umas pessoas contra os outros, lançando ideias falsas, para isolar o país do resto do mundo. Mas os americanos são fortes, já derrotaram comunistas, fascistas e demagogos", declarou Barack Obama.
No modo assertivo como separou as "extraordinárias qualificações de Hillary" e o rol de críticas e defeitos que apontou a Trump, Obama quis deixar a ideia, nesta passagem de testemunho em 2016 após ter sido o nomeado democrata das convenções de 2008 e 2012 (e a grande revelação na de 2004, com o discurso de elogio a Kerry que o lançou no plano nacional e internacional), de que "yes we still can" (sim, ainda podemos).
Hillary até entrou de surpresa em palco, no fim do discurso de Barack, e ambos abraçaram-se e agradeceram à multidão em êxtase. Missão cumprida: estava passado o testemunho.

Fogo intenso sobre Donald

Foi um dia de ataques sem piedade dos democratas a Donald Trump. O discurso de Obama foi, obviamente, o prato forte, mas houve outras intervenções de relevo, sempre de setas apontadas ao nomeado republicano.

Michael Bloomberg, um dos trunfos da candidatura lançados nesta convenção, arrasou Trump. Chamou-o "mentiroso", "hipócrita", alguém que "não é de confiança".

Antigo mayor de Nova Iorque, o milionário independente (primeiro democrata. depois eleito pelo Partido Republicano quando liderou a câmara de Nova Iorque, mas entretanto mais próximo dos democratas outra vez), não hesitou em dar o seu endorsment a Hillary Clinton, porque é "uma pessoa saudável, preparada, que conhece o mundo".
Deus nos livre de vermos Trump na Casa Branca. Ele não percebe o execionalismo americano, não tem dimensão para o cargo. Prefere lançar bombas a resolver problemas", apontou Bloomberg.

Por registo parecido andou Joe Biden. O vice-presidente, no seu estilo terra a terra, de quem fala diretamente com o americano comum, lançou: "Trump não faz ideia do que é ser Presidente dos EUA". Em tom apaixonado, por vezes agressivo até, Joe criticou o estilo de Trump, até na forma como Donald aparecia no programa «The Apprentice»: "Como se pode ter prazer em despedir alguém? Em privar uma pessoa do seu trabalho?"

Tim marca pontos

Tim Kaine foi confirmado pela Convenção como candidato a vice no ticket de Hillary. Aproveitou para dar-se a conhecer no grande palco nacional, ele que é figura importante no Partido Democrata há vários anos (foi governador da Virgínia, líder do Comité Nacional e é agora senador) e também ele marcou pontos ao elogiar Hillary e arrasar Trump ("não se pode confiar numa palavra que diga").


Jerry Brown, governador da Califórnia, e Martin O'Malley, ex-governador do Maryland e ex-candidato nas primárias democratas, protagonizaram outros momentos altos do dia 3, ao defenderem com convicção e poder cénico o caso de Hillary e a urgência em travar Trump.

Tudo num dia em que Donald Trump terá mesmo feito a declaração mais grave desde que é candidato à presidência: apelou, em plena conferência de Imprensa, aos russos para que investiguem os emails de Hillary no Departamento de Estado e, caso os tenham, que os deem "ao FBI e aos media". Uma atitude prontamente considerada de "irresponsável" não só por setores democratas, mas também por elementos ligados à Defesa e Relações Externas.

Hillary não poupou nas palavras: "Já não estamos no plano da política ou da curiosidade. Isto é um caso de segurança nacional."
 

Sem comentários: