O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
sábado, 17 de dezembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Seja o que Deus e o Iowa quiserem
Mitt Romney, Newt Gingrich e Ron Paul: os primeiros dois vão discutir a nomeação republicana para 2012, mas o congressista do Texas está muito forte no Iowa e pode baralhar as contas ao favoritismo do antigo speaker da Câmara dos Representantes. Romney aposta tudo no New Hampshire e na ideia de ser mais «presidenciável» do que Gingrich
Seja o que o Deus e o Iowa quiserem
Por Germano Almeida
Numa corrida à nomeação republicana, a palavra «Deus» tem sempre importância. Mas há outra que também irá contar muito para a dinâmica deste tão imprevisível combate: e essa palavra é... «Iowa».
De quatro em quatro anos, este pequeno estado do Midwest ganha uma importância inusitada na corrida eleitoral à presidência dos Estados Unidos da América.
Manda a tradição que as primárias tenham no Iowa o seu estado de arranque. E isso pode ter uma enorme relevância na decisão sobre os nomeados.
Em ciclo de eventual reeleição do Presidente em funções (Barack Obama), desta vez a incógnita só se põe num dos lados da barricada.
E que incógnita: os últimos meses foram férteis em mostrar que a disputa pela investidura republicana para 2012 navega ainda num terreno indefinido, sendo pouco claro quais os dados que acabarão por determinar o desfecho da corrida.
A 16 dias do ‘caucus’ do Iowa, Newt Gingrich continua à frente, mas tem vindo a perder, nos últimos dias, alguns pontos num avanço que, até ao início de Dezembro, parecia ser folgado.
Desde que assumiu a liderança das sondagens, o ex-speaker da Câmara dos Representantes passou a estar sob fogo dos seus adversários. Mas ao contrário do que sucedeu com os anteriores frontrunners, Herman Cain e Rick Perry, não se tem saído mal com o embate e ainda não cometeu gaffes comprometedoras.
O Iowa é um estado com uma percentagem de eleitorado branco muito superior à média nacional. Tendo uma população pequena para a realidade americana, conta pouco para o Colégio Eleitoral, mas a sua localização geográfica ajuda a servir de barómetro para corridas mais significativas.
O problema é que é muito difícil fazer previsões sobre os resultados naquele pequeno, mas importante, estado: o sistema que por lá continua a vigorar não é de voto secreto em urna, mas de vários ‘caucuses’: assembleias de vizinhos que definem, de forma colectiva, que candidato apoiar.
Não será, por isso, de estranhar se os resultados de 3 de Janeiro próximo foram diferentes daqueles que as sondagens vierem a indicar.
Romney prepara o pós-Iowa
Se Gingrich vencer o primeiro combate, obtém a legitimação da sua recente condição da ‘frontrunner’. Mas a dinâmica do resto da corrida faz colocar o Iowa como um ‘must-win-state’ para Newt: é que o estado seguinte, o New Hampshire, terá Mitt Romney como vencedor quase certo – e o recente apoio da governadora Nikki Haley, uma 'rising star' do conservadorismo americano, coloca Romney com boas hipóteses no terceiro desafio, a Carolina do Sul (a 21 de Janeiro).
Apesar das óbvias dificuldades em descolar dos 30 por cento de preferências republicanas (valor manifestamente baixo para quem pretende ser o nomeado), Mitt Romney continua a apostar na via do «candidato legítimo».
Nos últimos dois debates, tentou mostrar que não está assustado com o «momento Gingrich» e não foi atrás da regra de atacar directamente quem está a liderar a corrida. Preferiu continuar a assestar baterias para o Presidente, lançando, repetidamente, a farpa ao agora também candidato Barack Obama: «Para se poder prometer empregos, convém ter-se criado empregos».
Desde que não tenha um resultado desastroso no Iowa, Romney continua a ser a carta mais temível para Obama.
Não subestimem Ron Paul
Talvez já seja tarde para antecipar outro cenário que não seja o de um duelo Romney/Gingrich para a nomeação. Mas parece cada vez mais provável que, desta vez, Ron Paul, o candidato libertário, é mesmo para levar a sério.
O discurso frontal e desconcertante de Paul sempre teve uma base fiel de apoio – mas os media nunca o encararam como um candidato credível para sonhar com a nomeação.
Os números mais recentes no Iowa apontam para que Ron Paul fique pelo menos em segundo lugar, não estando afastada a hipótese de ainda ultrapassar Gingrich no estado de arranque.
Mesmo que o Iowa premeie a persistência do congressista do Texas, que já vai na terceira candidatura à presidência, Paul não será, certamente, o nomeado republicano para 2012.
Mas quem o subestimar pode vir a ter uma grande surpresa.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Romney 'vs' Gingrich - quem diria?
Mitt Romney e Newt Gingrich: a menos de um mês do Iowa, os dados parecem apontar para este duelo na corrida à nomeação republicana. Ou será que ainda há tempo para mais uma surpresa?
Romney ‘vs’ Gingrich: quem diria?
Por Germano Almeida
A menos de um mês do ‘caucus’ do Iowa, momento que marcará o arranque das primárias, começa, finalmente, a fazer algum sentido a dinâmica de uma corrida que, nos últimos meses, pareceu ter contornos… esquizofrénicos.
A desistência de Herman Cain, ditada pelos escândalos sexuais que perturbaram a parte final campanha do empresário afro-americano que defendia o plano 9-9-9, ajuda a definir a questão central num duelo entre Mitt Romney e Newt Gingrich.
Romney, mais moderado, será, à primeira vista, um osso mais duro para Obama roer na eleição geral, dada a sua maior capacidade de disputar com o Presidente o eleitorado do centro e mesmo alguns sectores democratas desiludidos com a Presidência Obama.
Mas Gingrich, ressuscitado nas suas aspirações presidenciais depois de um início desastroso (em que parecia que tudo de negativo que poderia acontecer sucedia mesmo), pode mesmo arrebatar a nomeação republicana – e lançar uma narrativa de um republicano mais clássico e capaz de mobilizar a base conservadora contra o Presidente.
Romney e Gingrich são políticos muito diferentes. Apesar de terem apenas quatro anos de diferença (Mitt tem 64, Newt 68), o ex-governador do Massachussets exala uma imagem de maior juventude.
Gingrich, de cabelo branco há muitos anos e com uns quilos a mais, não preenche os requisitos ditados por esta sociedade da imagem. Mas tem uma carreira política longa e recheada (com altos e baixos) e fortes credenciais nos debates.
Tem uma melhor preparação política que Romney e dispõe de um conhecimento sobre a história norte-americana muito superior a qualquer outro candidato republicano.
Mitt calculista, Newt indisciplinado
Mitt tem como pontos fortes a experiência de 2008, a capacidade de desafiar Obama em estados-chave como o Ohio, a Pensilvânia, a Florida ou o Michigan e, é claro, a maior abrangência eleitoral.
Newt apostará no seu passado como ‘speaker’ de um Congresso que fez a vida negra a Bill Clinton – sendo que esta eleição de 2012 poderá ter alguns pontos de contacto com os dados que levaram Clinton à reeleição em 1996, dois anos depois de ter perdido o controlo da House e do Capitólio para os republicanos.
Mais previsível e calculista, Romney deverá, à primeira vista, criar mais dificuldades ao Presidente. Gingrich segue menos as regras do marketing político.
Por vezes, chega a ser politicamente incorrecto – mas consegue fazer melhor a identificação com os eleitorados que necessita agarrar: os republicanos clássicos e a base conservadora que se ‘desviou’ para terrenos próximos do Tea Party.
Seja Romney ou Gingrich o nomeado, parece já certo que Barack Obama não terá propriamente um passeio para a reeleição, dentro de 11 meses.
O Iowa aqui tão perto
A três semanas do Iowa, as sondagens dão Gingrich à frente. Mas continua tudo completamente em aberto. Por esta altura, há quatro anos, nas primárias democratas quem liderava no Iowa era… John Edwards.
O ‘caucus’ do Iowa não é uma votação normal. Os resultados decorrem de assembleias de vizinhos que se reúnem e decidem, em conjunto, que candidato apoiar. Da soma das diferentes assembleias surgem os votos em cada um.
Há quatro anos, essa estranha forma de se escolher representantes políticos em pleno século XXI foi o empurrão decisivo para Obama na corrida democrata – mas o péssimo resultado de McCain não o impediu de garantir, mais tarde, a nomeação republicana.
É preciso, por isso, admitir todos os cenários perante um terreno tão imprevisível como é uma corrida presidencial nos EUA.
Iô-iô
A actual liderança de Newt Gingrich nas sondagens da corrida republicana é a mais recente surpresa do autêntico iô-iô que têm sido as pesquisas para se tentar perceber quem está melhor colocado para desafiar a reeleição de Obama.
Primeiro, foi Romney a aparecer à frente. Mas as dificuldades em segurar o eleitorado mais à direita, que não gosta dele, rapidamente mostraram que Romney terá dificuldades em «descolar» dos 25/30 por cento -- e precisa de bem mais para atingir a nomeação.
Perante a demora de Sarah Palin (que acabou mesmo por não avançar), quem aproveitou
o espaço à Direita foi a congressista do Minnesota, Michele Bachmann. Só que o excessivo radicalismo da candidata -- uma espécie de Sarah Palin do Midwest (um pouco menos ignorante, mas a acusar também falta de preparação política para ser Presidente) – foi fatal para esta ‘Tea Party darling’ que defende que «a mulher deve ter uma atitude submissa para com o marido».
No final do Verão, eis que surge em força Rick Perry. Com ares de cowboy do Texas, prometia discurso duro contra Obama e chegou a ter larga vantagem sobre Romney. Mas não resistiu aos debates, onde foi somando ‘gaffes’ e erros de palmatória. Já esteve acima dos 30%. Agoniza agora pelos cinco a sete.
Chegou, então, a vez de Herman Cain, um afro-americano de discurso populista, a roçar o anti-político, com apoios muito à Direita e uma solução simplificada para a questão fiscal.
Herman Cain passou da liderança à desistência em poucos dias. Falta saber quem irá agarrar os apoios do empresário afro-americano de perfil populista
Deu para assustar Romney e foi preciso ser alvo de ataques fortíssimos para se afastar. Não resistiu às acusações de infidelidade e assédio sexual – e atirou a toalha ao chão há poucos dias.
Enquanto acontecia este iô-iô (em que Romney se mantinha pelos 20/25 por cento e um dos seus opositores, à vez, lhe passava à frente e depois caía…), Ron Paul, um candidato geralmente subestimado pelo ‘mainstream’ media, mantém-se com apoios na ordem dos 15/18 por cento – que até o colocam com algumas aspirações de vitória no Iowa.
Libertário, defende a supressão de instituições como a ONU ou a NATO e é contra impostos e outro tipo de intromissões do Estado. Não será o nomeado, mas pode vir a fazer mossa nos apoios mais previsíveis para Romney e Gingrich.
Ainda há um monte de dúvidas no campo republicano, mas à medida que se aproxima o ‘caucus’ do Iowa, esta história começa a fazer sentido. Pelo menos, parece.
Herman Cain desiste
Herman Cain, 65 anos, chegou a liderar a corrida republicana, mas não resistiu às acusações de infidelidade e assédio sexual - e atirou a toalha ao chão.
Afro-americano, homem de negócios, não tem passado político (nunca foi eleito), mas somou pontos com um plano fiscal simples e atractivo para a base conservadora.
Foi o fenómeno do mês de Outubro, mas não sobreviveu aos ataques que apareceram por estar à frente. A questão que agora se coloca é: quem agarrará o seu discurso populista?
Com Rick Perry e Michele Bachamann pelas ruas da amargura, e Ron Paul forte no Iowa mas sem capacidade nos grandes estados, a questão, na nomeação republicana, deverá residir entre Mitt Romney e Newt Gingrich.
Faltam 30 dias para o caucus do Iowa
Texto de Kyle Adams, no Real Clear Politics:
«Hobbled by accusations of sexual harassment and infidelity, Republican presidential candidate Herman Cain announced Saturday that he is suspending his campaign.
Appearing at the opening of a new campaign office in DeKalb County, Ga., Cain praised his supporters, lambasted the media and touted the success of his campaign before announcing that because "false and unproved" accusations had taken a "painful" toll on his family, he was suspending his campaign.
However, he vowed to continue making the case for his policies, including the 9-9-9 tax plan ("It's not going away," he said), and announced the launch of a new website, TheCainSolutions.com. He also said he would make an endorsement in the GOP race "in the near future."
After walking off his campaign bus with his wife, Gloria, he opened his speech by thanking supporters and discussing his motivation for running for office before announcing the end of his campaign.
"I am suspending my presidential campaign because of the continued distraction, the continued hurt caused on me and my family, not because we are not fighters, not because I'm not a fighter," he said. "It's just that when I went through this reassessment of the impact on my family first, the impact on you, my supporters -- your support has been unwavering and undying -- as well as the impact on the ability to continue to raise the necessary funds to be competitive, we had to come to this conclusion."
Politico reported on Oct. 31 that two women accused Cain of inappropriate behavior during his time as the head of the National Restaurant Association. In early November, another woman, Sharon Bialek, publicly accused Cain of sexual harassment. Cain has maintained that he never harassed anyone.
This week, an Atlanta woman, Ginger White, came forward and said that she had a 13-year affair with the businessman. Cain has admitted to giving her money but denies the affair.
After surging into first place in several national polls in late October and early November, Cain has seen his support erode over the past few weeks. A Rasmussen Reports poll released Thursday showed him with only 8 percent support.
His support in Iowa has plunged as well. He has dropped to 8 percent in the latest Des Moines Register Iowa poll, down from 23 percent in late October.»
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Barack desafia o seu mantra
Convencer pela força da palavra e da retórica que está em melhores condições para resolver a crise. Eis o destino de Barack Obama, a um ano de tentar a reeleição
Barack desafia o seu mantra
Por Germano Almeida
Edith: Não te preocupes, Arch. O Presidente Roosevelt disse um dia que a “única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo”.
Archie Bunker: Pois, mas ele disse isso porque tinha emprego.
(diálogo na série “All in The Family”, sitcom produzida pela CBS entre 1971 e 1979, que em Portugal teve o título “Uma Família às Direitas”)
«Acho que a polarização de posições não tinha atingido este rubro desde o tempo da presidência Lincoln, que foram tempos de guerra civil, fim da escravatura, tudo. O fenómeno actual é particularmente interessante. O que tem acontecido com frequência, ao longo da nossa História, é a franja da extrema-esquerda puxar os democratas para tão longe que, no fim, não conseguem governar, porque não obtêm maiorias suficientes. Agora é o oposto. Com o Tea Party, a guinada foi para a direita. O meio já não é o que era. (…) Mas também acho que esta fase da política americana não vai durar muito mais tempo. Só pode ser um fenómeno cíclico. Vai mudar, garanto. Mas, por enquanto, verdade seja dita: o espectáculo é terrivelmente triste»
GEORGE CLOONEY, actor e realizador norte-americano, apoiante de Barack Obama desde a primeira hora, em entrevista à Revista Única, do Expresso
Quando um dos maiores apoiantes de Barack Obama, que agora no cinema é Mike Morris (um governador democrata da Pensilvânia que concorre à Casa Branca em "Ides of March"), fala assim sobre o ambiente político que tem dominado os corredores de Washington nos últimos três anos, é preciso tirar conclusões.
Obama foi eleito sob duas plataformas que, nalguns aspectos, poderiam parecer contraditórias, mas que no candidato democrata pareciam poder ser conjugáveis: a conciliação e a transformação.
Se o lado da «change» só pôde durar enquanto Barack teve respaldo no Congresso (começou o mandato com uma Super Maioria democrata no Senado e uma larga maioria na Câmara dos Representantes), Novembro de 2010 foi a marca da viragem: sem interlocutor válido no campo legislativo, deixou de ser viável prometer uma mudança real em matérias fundamentais.
Do ponto de vista político, o da estratégia de condução desta Presidência, foi uma atitude racional, esse «recentramento» assumido desde o discurso do Estado da Nação de 27 de Janeiro de 2010 – e posto em prática nos meses a seguir.
Esta linha de rumo exigiria a refinação da outra faceta de Barack Obama: a conciliação. O de acreditar que ele seria o único político capaz de estabelecer pontes, nivelar diferenças, absorver divergências num país tão vasto, díspar e heterogéneo como são os Estados Unidos.
Mas o que já não estaria nas previsões do 44º Presidente dos EUA seria este clima tão bem descrito por George Clooney, no excerto acima mencionado.
O mantra de Obama parece ser, por isso, o de encontrar consensos onde parece só haver hostilidade. O de suavizar tensões quando, na América -- um país que durante décadas foi cimentando o seu sistema político num regime bipartidário que relegava grupos políticos e sensibilidades ideológicas minoritárias para nichos que quase não conseguiam visibilidade mediática – se começam agora a ver movimentos que reivindicam independência em relação a democratas e republicanos (à extrema-esquerda, o Occupy Wall Street; à extrema-direita, as reminescências do Tea Party, agora em declínio).
De novo a solução?
Identificado o problema, sublinhado o incómodo de ver uma sociedade como a americana, que historicamente tem sabido unir-se nos momentos fundamentais em torno de um profundo sentimento de «nação» (em contraponto, por exemplo, com a Europa), assim tão fracturada, falta saber onde está a solução para a tal «polarização de posições».
Olhando para o quadro actual, vemos que o político que está em melhores condições para dar o salto em frente continua a ser Barack Obama.
Mesmo comparando com Mitt Romney (o pretendente republicano mais moderado), Obama continua a ser olhado pelos americanos como tendo «o melhor quadro de valores», «a melhor preparação» e «mais capacidade para se entender com o outro lado».
Dito de outro modo: as pessoas continuam a gostar de Obama, e apreciar as suas qualidades políticas. Só não conseguem é aprová-lo em massa como Presidente, em tempos sombrios como este. Como disse recentemente o ex-Presidente Bill Clinton, «Obama tem feito um trabalho muito melhor do que o crédito que lhe dão».
Mas não deixa de ser significativo que, com uma taxa de desemprego ainda nos nove por cento, Obama esteja bem colocado para sonhar com a reeleição daqui a um ano – quando, historicamente, nenhum Presidente anterior garantiu um segundo mandato com uma taxa de desemprego superior a 7,5%.
É essa, por isso, outra sina de Obama: convencer com o poder da palavra e dos discursos (o seu ponto forte) uma larga fileira de desempregados norte-americanos que está em melhores condições de responder à crise do que qualquer candidato republicano.
Será que, também nesse aspecto, Barack será capaz de desafiar o seu mantra?
O texto 100
Com esta crónica, a rubrica «Histórias da Casa Branca» atinge o texto 100.
Começou em Junho de 2009, dando o nome a um espaço que se criava no site de «A Bola», secção Outros Mundos. Prosseguiu apenas neste blogue, numa cadência semanal, por vezes com mais frequência ainda (sempre que o momento o justifica), num acompanhamento permanente da Administração Obama.
A partir de hoje, com nova imagem gráfica e com o relógio já em contagem decrescente – falta menos de um ano para as eleições presidenciais de Novembro de 2012. Continuaremos por cá, então.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Entrevista na Antena 1, a um ano das eleições presidenciais de 2012
http://tv1.rtp.pt/antena1/index.php?t=Entrevista-a-Germano-Almeida.rtp&article=4260&visual=11&tm=16&headline=13&fb_source=message
Entrevista a Ricardo Alexandre, emitida na Manhã 1 de segunda-feira, 7 de Novembro (versão integral) e no Visão Global, de 6 de Novembro
VISÃO GLOBAL
http://tv3.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=2311&e_id=&c_id=1&dif=radio
domingo, 6 de novembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Um ano para merecer mais quatro
Barack Obama 2012: falta precisamente um ano para saber se a campanha da reeleição será premiada, mas os valores já angariados apontam para um recorde. Conseguirá o Presidente transformar essa capacidade de atracção em votos?
Um ano para merecer mais quatro
Por Germano Almeida
A 6 de Novembro de 2012, daqui a precisamente um ano, será realizada a 57.ª eleição presidencial nos Estados Unidos da América. Poderá indicar o nome do 45º Presidente dos EUA, no caso de o vencedor vir a ser o nomeado do Partido Republicano, ou então marcará a confirmação do segundo mandato de Barack Obama.
Pela primeira vez no seu improvável percurso, o actual Presidente, quarto mais jovem de sempre a ocupar a Casa Branca por eleição, não estará no lugar do ‘outsider’ que desperta todas as simpatias. O estigma da culpa por estar associado a três anos de terríveis dificuldades para quem governa vai marcar um facto novo nos dados que, até 2008, pareciam estar destinados a favorecer a fortuna de Barack.
Obama não poderá ser, desta vez, o ‘underdog’ que, a partir de 2007, começou a ameaçar, de forma inesperada mas arrasadora, o super-favoritismo de Hillary Clinton.
Mas a narrativa segundo a qual Obama está condenado ao fracasso já esbarrou demasiadas vezes na realidade. É ainda cedo para saber se tal voltará a acontecer nas próximas eleições presidenciais, mas a verdade é que Barack ainda tem um ano para provar merece mais quatro. E, como bem lembrou o comentador de tendência conservadora Charles Krauthammer, «convém não subestimar as extraordinárias qualidades políticas do 44º Presidente dos EUA».
Sinais contraditórios
No calendário exigentíssimo da política americana, um ano não é assim tanto tempo. E vale a pena lembrar-nos como as coisas estavam em Novembro de 2007, quando faltava precisamente um ano para as anteriores eleições presidenciais: Hillary liderava as sondagens nacionais do Partido Democrata, com mais de dez pontos de vantagem sobre Obama, ainda que Barack já alimentasse algumas esperanças de vir a surpreender no ‘caucus’ do Iowa, que marcaria o arranque das primárias, a 3 de Janeiro.
No lado republicano, Rudy Giuliani aparecia à frente das sondagens nacionais. John McCain e Mitt Romney apareciam como eventuais desafiadores ao alegado favoritismo do ex-mayor de Nova Iorque. Em alguns estados do Sul, surgia bem colocado um ex-pastor baptista com ar bem-disposto e um discurso incrivelmente duro: Mike Huckabee.
Dois meses depois, no arranque das primárias, os supostos favoritos, Hillary e Giuliani, perdiam o primeiro combate para Obama e Huckabee.
É, por isso, muito arriscado ter certezas nesta altura. Mas os ‘forecasts’ apontam para que Obama tenha fortíssimas hipóteses de se reeleger desde que o seu adversário não se chame Mitt Romney.
Se o escolhido dos republicanos vier mesmo a ser o ex-governador do Massachussets, homem de negócios bem-sucedido e mórmon de religião por herança familiar, então aí o grau de incerteza será bem maior.
A evolução da taxa de desemprego nos EUA será outro barómetro do comportamento eleitoral: até hoje, nunca um Presidente americano conseguiu reeleger-se com uma taxa de desemprego acima dos 7,5 por cento. Ora, neste momento, esse indicador é de 9,1. No mínimo, preocupante, não será Barack?
A maratona ainda nem sequer vai a meio
Numa louca maratona que nem sequer chegou a meio, Obama já começou a repartir as suas atenções entre as prioridades da governação (agora claramente centradas no ataque ao desemprego, com a aposta, junto da opinião pública, nas virtudes do seu American Jobs Act) e a campanha para a reeleição, focada nos estados-chave do Midwest.
Nessas incursões pela ‘real America’, Barack tem insistido numa ideia forte: em apenas três anos na Casa Branca, já conseguiu cumprir perto de 60 por cento da missão a que se propôs junto dos americanos – mas precisa de mais cinco anos (o que falta cumprir, ao que se juntariam os quatro de um segundo mandato) para concretizar o mais difícil (e que estará no que o Presidente considera ser os 40 por cento restantes).
Apesar de tantos espinhos que andam aí pelo caminho, nestes tempos sombrios do declínio da globalização (pelo menos a que conhecemos até agora), se olharmos com atenção percebemos que o candidato que está em melhores condições de cortar a meta em primeiro lugar, de hoje a um ano, nesta louca maratona eleitoral americana, continua a chamar-se Barack Obama.
sábado, 29 de outubro de 2011
Histórias da Casa Branca: Herman Cain, o 'sabor do mês' dos republicanos
Herman Cain, 65 anos, ex-CEO da Godfather's Pizza, é o improvável 'frontrunner' da corrida à nomeação presidencial do GOP. Não é para levar a sério, mas mostra a total desorientação a que chegou o Partido Republicano, entre o radicalismo do Tea Party e as hesitações de Mitt Romney
Herman Cain é o ‘sabor do mês’ dos republicanos
Por Germano Almeida
Os problemas de popularidade da Administração Obama parecem facilitar o caminho às escolhas do Partido Republicano. Certo? Errado.
A pouco mais de dois meses do arranque das primárias, o rótulo de «esquizofrénica» começa a adequar-se cada vez mais à forma como tem evoluído a corrida à nomeação presidencial do GOP.
Exagero? Vejamos, então. No início, Mitt Romney parecia reunir enorme favoritismo: por ser o candidato mais moderado (e por isso mais capaz de discutir os votos do centro, dos independentes e dos eleitores democratas desiludidos com Obama), por ter muito dinheiro angariado para a campanha (vinha já com a embalagem da candidatura de 2008) e pelas credenciais apresentadas em estados importantes para a eleição geral.
Mas rapidamente se percebeu que Mitt não é bem-amado pela base conservadora, que prefere candidatos com um discurso mais radical e mais agressivo em relação a Obama e aos democratas.
Mitt Romney continua a ser o candidato mais bem colocado para derrotar Obama, mas a base conservadora do GOP, decididamente, não gosta dele
Abriu-se, por isso, o caminho para dois ‘caprichos’ da Direita americana (tantas vezes superficial e irresponsável): primeiro Michelle Bachmann, energizada pelo fenómeno do Tea Party, uma espécie de Sarah Palin do Midwest, a pregar contra o aborto e a insinuar «sinais de Deus» que teriam avisado contra os perigos da reeleição de Obama…
Os «quinze minutos de fama» da congressista do Minnesota ainda se prolongaram até ao fim do Verão, mas a nítida falta de preparação política desta ‘tea party darling’ foi-lhe custando uma descida gradual nas sondagens – até se diluir nos actuais três a seis por cento.
A noção de que o nomeado dificilmente sairia de um nome da Direita radical que já estivesse no terreno criou espaço ao avanço de Rick Perry. E os sinais, cada vez mais claros, de que Sarah Palin não ia mesmo passar das palavras à acção (limitando-se, assim, a comentar as presidenciais 2012 pela Fox, em vez de arriscar uma candidatura), levaram Perry a tentar a sua sorte.
O fortíssimo arranque do governador do Texas parecia lançá-lo para a condição de favorito: em poucos dias, saltou para o primeiro lugar das sondagens, com o seu estilo de ‘cowboy’ implacável para com a herança de Obama, que contrastava com as hesitações de Romney.
Mas os debates foram fatais para Perry. A sucessão de ‘gaffes’, imprecisões e frases comprometedoras fez assustar os eleitores republicanos – e Rick caiu de mais de 30 por cento para o terceiro lugar da corrida republicana.
Os restantes nomes serão apenas notas de rodapé, quando se fizer a história desta corrida republicana: Newt Gingrich avançou no ano errado, Rick Santorum está no filme errado, Ron Paul no partido errado (devia voltar aos libertários), Jon Hunstsman e Tim Pawlenty foram vítimas da radicalização do Tea Party, que infectou a dinâmica da corrida, nos primeiros meses (Pawlenty já desistiu, Hunstsman deve fazê-lo nas próximas semanas).
Herman quê?
E é nesta sucessão de imprevistos, falhanços e candidatos mal preparados que se explica esta surpresa completa: a actual liderança de Herman Cain.
Este empresário de 65 anos, antigo ‘chairman’ da Reserva Federal de Kansas City, é uma espécie de ‘sabor do mês’ nesta bizarra corrida à nomeação presidencial republicana.
Com uma experiência política escassa e pouco tranquilizadora, Herman Cain destacou-se como radialista na Geórgia e como CEO da Godfather’s Pizza. Casado, com dois filhos, formado em Matemática, Herman Cain tem um percurso que em nada indicaria uma eventual nomeação presidencial republicana.
A verdade é que lidera, neste momento, as sondagens nacionais – e nalguns casos com um avanço significativo sobre Romney e Perry.
Como é que isto aconteceu? Basicamente, porque depois de Romney, Bachmann, Perry e Palin, os eleitores republicanos decidiram experimentar Cain como 'sabor do mês'.
É muito improvável que seja um 'frontrunner' para levar a sério (e convém não esquecer que, sendo Herman Cain afro-americano, um duelo com Obama implicaria um confronto presidencial absolutamente inédito entre dois negros). Mas enquanto dura mais este número no 'circo do GOP', Cain vai marcando pontos, no seu discurso terra-a-terra, muito virado para a Economia, apostando na sua proposta 9-9-9, baseada numa taxação equivalente para as empresas, rendimentos dos contribuintes e património.
Inesperada ajuda à reeleição
As curvas e contracurvas da corrida republicana têm sido uma inesperada ajuda às contas para a reeleição de Obama.
Quando muitos ainda continuam a insistir na narrativa de que «perante tantos problemas, Obama dificilmente conseguirá ser reeleito», eis que as sondagens mostram exactamente o contrário.
De acordo com o Real Clear Politics, a média das pesquisas feitas a nível nacional no último mês coloca Obama dez pontos à frente de Rick Perry (49-39), um ponto e meio à frente de Mitt Romney (45.7-44.2), nove pontos à frente de Herman Cain (49-40), 13 pontos acima de Newt Gingrich (50-37), seis pontos à frente de Ron Paul (47-41) e com 15 por cento de vantagem sobre Michelle Bachmann (52-37).
Também nos estados-chave, Obama tem conseguido uma importante recuperação, quando falta pouco mais de um ano para a grande eleição: lidera a corrida no Ohio, na Florida, na Pensilvânia e no Wisconsin – e até surge à frente de Mitt Romney no Arizona, o estado de John McCain e que tem votado consistentemente nos candidatos presidenciais republicanos.
A explicação residirá em duas grandes questões ainda não resolvidas pelo campo republicano. Por um lado, continua a não estar claro quem será o candidato com melhores condições para obter uma nomeação vencedora para a batalha final.
E há ainda o lado político desta corrida: com o Tea Party a deixar escapar o controlo da discussão pública sobre a crise, a redefinição do discurso dos principais candidatos está a parecer artificial – e não responde directamente às inquietações do americano médio (como vão aguentar os pequenos negócios e pagar os empréstimos com tantos cortes na despesa e com um Congresso conservador que insiste em recusar aumentos de impostos para os mais ricos?).
Com o avançar da corrida às presidenciais de Novembro 2012, a plataforma de Obama para a classe média pode recuperar os níveis de popularidade.
Os próximos meses vão ser interessantes na política americana.
sábado, 15 de outubro de 2011
Histórias da Casa Branca: Barack dá sinais de vida
Enfrentar um duplo combate (a crise económica e a paralisia política de Washington) é o 'mantra' do primeiro mandato de Barack Obama. Mas o Presidente ainda não se tornou num 'has been'. A reeleição está em aberto
Barack dá sinais de vida
Por Germano Almeida
Ainda não é a crónica de uma recuperação anunciada, mas é, certamente, a confirmação de que Barack Obama, afinal, ainda não passou à história.
A poucas semanas de se completar o terceiro aniversário da sua improvável eleição como 44º Presidente dos Estados Unidos da América, Obama mantém-se com o estigma de ser um Presidente marcado pela crise, pelo clima de paralisia política em Washington e por uma certa desilusão sentida em vários sectores que o apoiaram entusiasticamente na histórica caminhada para a Casa Branca.
No meio de tantos problemas, será interessante verificar dois dados recentes. O primeiro tem a ver com os níveis de aprovação. Comparado com outros governantes mundiais, Obama não tem números assim tão negativos.
Se olharmos para França, por exemplo, vemos que Sarkozy está em muito piores lençóis: não só não deverá conseguir a reeleição em 2012, como até corre o risco de não passar à segunda volta (neste momento, está atrás da filha de Le Pen).
O outro dado prende-se com a impressionante capacidade que Obama continua a revelar para angariar fundos de campanha: 70 milhões de dólares só no último trimestre, um valor que reforça a perspectiva da campanha Obama-2012 ser a primeira na história política dos EUA a passar a barreira dos mil milhões de dólares.
A grande questão para Obama, já toda a gente percebeu, tem a ver com a forma como a Economia americana se irá comportar nos próximos meses.
Os sinais não são nada animadores -- mas Barack coloca fortes trunfos no American Jobs Act, apresentado há um mês em sessão conjunta no Congresso.
No caso de o seu ambicioso plano de empregos não passar, por nova teimosia cega da maioria republicana, quem deve ficar mal politicamente é o campo conservador – e não o Presidente.
Enfrentar um duplo combate (a crise económica e a paralisia política de Washington) é o mantra de Obama. Mas o lado guerreiro do Presidente parece voltar a emergir. Barack já não será um ‘wannabe’ – mas ainda não é um ‘has been’.
Reeleição em aberto
No lado democrata, e apesar das tremendas dificuldades políticas por que passa a Administração Obama, ninguém contesta, de forma real, a nomeação do actual Presidente.
Mesmo com níveis de popularidade teimosamente a rondar os 40 por cento, Barack continua a dar sinais de pujança como candidato presidencial: lidera os duelos com os eventuais adversários republicanos nas mais recentes sondagens da NBC e da Time, revelando, de forma consistente, a capacidade de atrair um número de eventuais eleitores numa eleição presidencial superior à quantidade de americanos que aprovam a sua governação.
Pode parecer um contrasenso, mas a explicação residirá na base da contestação que, por estes dias, mancha a credibilidade de Washington: se é certo que Obama é um Presidente com um sério problema de popularidade, bem piores estão os níveis do Congresso (apenas 12 por cento de aprovação!), controlado pelos republicanos.
Os sinais de alerta gerados por movimentos como os Ocuppy Wall Street apontam, obviamente, para uma certa desilusão com Obama (uma boa parte daqueles manifestantes votaram, certamente, em Barack há três anos). Mas são, sobretudo, uma prova da falência do sistema de Wall Street, que, é bom recordar, dominou também o argumentário da campanha de Obama como candidato presidencial.
A Reforma Financeira patrocinada pela Presidente não conseguiu mudar o essencial, mas a DoddFrankBill, aprovada numa fase em que o Congresso ainda era controlado pelos democratas, foi, pelo menos, mais longe do que os candidatos republicanos que querem tomar o lugar de Obama defendem.
Sobre o que pensam os entusiastas do Tea Party, é melhor nem falar: quando os movimentos sociais de descontentamento apontam para uma maior regulação e reivindicam menos espaço dos poderosos da banca e finanças, percebemos que muito do que se andou a gritar na América nos últimos dois anos por quem se diz defender «a Constituição e os princípios dos EUA» está desfasado do que está, neste momento, verdadeiramente em jogo.
Talvez por isso, Obama se mantenha com fortes hipóteses de se reeleger daqui a um ano: mesmo sendo um Presidente com pouca margem, condenado a governar em tempos sombrios, uma boa fatia do eleitorado americano alterna entre o descontentamento ao Presidente com uma provável disposição de lhe dar uma segunda oportunidade.
A pouco mais de um ano de eleição presidencial na América, a história do duelo de 2012 ainda está por escrever. Desengane-se quem pensa o contrário.
domingo, 18 de setembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Perry derrapa no teste presidencial
O discurso anti-Washington valeu a Rick Perry um arranque muito forte, mas o governador do Texas começa a dar mostras de não estar preparado para aguentar o embate de uma campanha presidencial
Perry derrapa no teste presidencial
Por Germano Almeida
Rick Perry ainda pode exibir o estatuto de ‘frontrunner’ das primárias republicanas, mas começam a surgir dúvidas sobre a capacidade do governador do Texas poder passar no teste presidencial.
O salto da política texana para a exigentíssima corrida à presidência dos Estados Unidos não é coisa pouca. E mesmo sendo Rick o governador há mais tempo em funções na América, a verdade é que as suas credenciais como governador popular no Texas podem não ser suficientes para que consiga aguentar o embate nacional.
O Texas é o segundo maior estado da América, em área geográfica (só atrás do Alasca). E é o segundo estado mais relevante na corrida presidencial (só atrás da Califórnia).
Neste início de campanha, Rick tem feito valer as suas credenciais na criação de emprego e os indicadores económicos no seu estado. Mas estará Perry preparado para se adaptar às regras do jogo presidencial?
«Esquema de Ponzi», Rick?
Os últimos dias mostraram que os temas económicos podem não ser assim tão favoráveis ao campo republicano na eleição de 2012.
O terceiro debate das primárias republicanas, que marcou a estreia de Rick Perry, pôs a nu algumas das fragilidades do governador do Texas. De forma inteligente, Mitt Romney até recordou que os bons indicadores económicos da governação de Perry têm muito mais a ver com o petróleo que o Texas tem -- e não tanto por eventuais méritos de Rick como governador.
Com um discurso perigosamente excessivo, Perry não conseguiu demarcar-se da comparação disparatada que havia feito sobre Segurança Social americanas ser equiparável a um «esquema de Ponzi» (algo que Mitt Romney habilmente recordou) e mostrou-se pouco interessado em apresentar soluções para viabilizar um sistema que, ao contrário do que acontece com o programa de Saúde de Obama, é muito popular na América -- 87 por cento dos eleitores defendem que a Segurança Social deve ser protegida, sendo que muitos deles são eleitores-tipo do Partido Republicano, representando as faixas etárias mais velhas.
Mais moderado, com melhor preparação do que Perry em todos os temas essenciais para uma corrida presidencial e definindo cada vez mais o seu posicionamento como o candidato mais capaz de disputar o centro com Obama, Mitt Romney (que apresentou o seu próprio plano económico, numa antecipação ao American Jobs Act de Obama) pode ter tido neste debate a oportunidade de recuperar terreno, depois do entusiasmo que Perry conseguiu arrancar junto da base conservadora, nas semanas que se seguiram ao anúncio da sua candidatura.
Mitt Romney: mesmo depois de perder a liderança da corrida para Rick Perry, o ex-governador do Massachussets continua a parecer o republinano mais bem preparado para defrontar Barack Obama na eleição geral
Por enquanto, as sondagens ainda dão Perry à frente da corrida republicana, mas Romney vai reduzindo a distância – e, sobretudo, o que dá para perceber é que, entre o leque dos candidatos que estão no terreno, a questão será mesmo entre Rick e Mitt.
Sondagem publicada pela CBS News e pelo New York Times, realizada entre 10 e 15 de Setembro (apanhando já os eventuais efeitos do terceiro debate republicano) dá Rick Perry com 23 pontos, com Mitt Romney nos 16. Michele Bachmann cai para os sete por cento, os mesmos de Newt Gingrich, tendo Ron Paul apenas cinco. Rick Santorum e Jon Huntsman, definitivamente fora do círculo de eventuais nomeados, quebram nos dois e um por cento, respectivamente.
Mas o governador do Texas ainda não passou pelas principais provas de fogo: o eleitorado que, por enquanto, lhe está a dar apoio, ainda não se apercebeu que Perry já foi democrata (até ao início dos anos 90) e que até apoiava Al Gore, nas primárias de 1988; ainda não avaliou o facto do Texas ser dos estados da América com piores indicadores em questões como a Educação ou o combate à pobreza; ainda não pensou bem na questão de que um combate presidencial não é uma mera eleição no Texas e exige um tipo de linguagem mais abrangente e menos primária.
O apagamento de Bachmann
Enquanto isso, Michele Bachmann, a estrela da primeira fase da corrida, vai-se afundando no seu radicalismo, e aparece a mais de dez pontos dos dois primeiros – algo que poderá inspirar Sarah Palin a avançar mesmo lá para Outubro, assumindo-se como a única esperança do Tea Party.
É a vantagem deste longo e estranho sistema de escolha de candidatos presidenciais na América: os fenómenos de moda, com o passar do tempo, desvanecem-se e a dureza da batalha faz com que prevaleça uma espécie de selecção natural, o que aumenta a probabilidade de a escolha final se revelar a mais adequada.
domingo, 11 de setembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Resiliência - Uma década depois do 11 de Setembro
Laura e George W. Bush, Michelle e Barack Obama: a unidade dos norte-americanos em torno do que significa o 11 de Setembro é a prova de que os EUA continuam a ser uma grande Nação. Apesar das divisões e apesar do fantasma do 'declínio'
Resiliência - Uma década depois do 11 de Setembro
Por Germano Almeida
«Dez anos mais tarde, deixámos muito claro que a América não se encolhe nem se esconde atrás dos muros da desconfiança. Os terroristas que nos atacaram não conseguiram destruir o carácter do nosso povo, a resiliência do nosso país e a eternidade dos nossos valores»
BARACK OBAMA, mensagem dedicada ao décimo aniversário do 11 de Setembro de 2001
Há precisamente dez anos, o Mundo entrava em estado de choque. A única superpotência, que até então vivia na ilusão de ser inatacável, revelava uma surpreendente vulnerabilidade.
Num atentado terrorista de dimensões inimagináveis, vimos o que nunca pensámos ser possível ver: o coração financeiro de Manhattan tornou-se num cenário apocalíptico, depois do embate de dois aviões comerciais, sequestrados por comandos terroristas da Al-Qaeda, que provocou, minutos depois, a derrocada das Torres Gémeas, ícones do poder financeiro de Nova Iorque.
Na mesma manhã, o Pentágono era atacado, com a queda de um terceiro avião desviado pelos terroristas. O Capitólio e, eventualmente, a Casa Branca eram os restantes alvos dos planos de Osama Bin Laden, um filho de um milionário saudita que tinha fugido para o Afeganistão e havia sido apontado, nos anos anteriores ao terror de 11 de Setembro de 2001, como o preparador de ataques a alvos americanos (camiões armadilhados explodiram diante das embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quénia, em Agosto de 1998, e uma lancha suicida lançou-se, em Outubro de 2000, contra o navio de guerra USS Cole, que estava ancorado no Iémen).
Mas o voo 93 da United Airlines, o quarto avião sequestrado pelos terroristas da Al Qaeda, viria a cair na Pensilvânia.
As duas faces da retaliação
Feridos no seu orgulho, depois de terem sido atacados de forma inimaginável, os Estados Unidos tinham que reagir. Não seria, sequer, admissível outro cenário.
A questão estava na forma, na sustentação e no enquadramento internacional.
As ligações de Bin Laden e da Al Qaeda ao Afeganistão tornaram a frente afegã no primeiro passo quase inevitável. Quatro semanas depois do 9/11, os EUA voltavam à guerra.
Foi o início de um longo e pesadíssimo caminho, que, uma década depois, ainda não acabou.
A argumentação em torno da guerra afegã tinha fundamentos sólidos, mas a guerra do Iraque foi uma trágica consequência do oportunismo dos ‘neocons’ que passaram a dominar ideologicamente o ex-Presidente Bush.
O resto da história é conhecido: anos e anos a acumular faraónicos gastos de guerra (mais de 4 biliões de dólares) e baixas civis (perto de 130 mil no somatório das frentes afegã e iraquiana).
O desgaste político das guerras terá, aliás, sido o princípio do fim para George W. Bush e os republicanos, abrindo caminho a uma mudança inesperada.
Barack Obama foi eleito como o «herói anti-guerra», mas ainda antes de tomar a Casa Branca avisara: «A guerra do Iraque foi estúpida, a guerra no Afeganistão é necessária».
Bin Laden, entretanto ultrapassado como ícone do terrorismo perante a pulverização da Al Qaeda em ramificações pouco ortodoxas, foi mesmo eliminado: não por Bush, mas por Obama.
Como bem notou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Miliband, «Bin Laden foi notícia, mas não fez história».
Obama, que no Cairo fez discurso inspirador em sinal de clara aproximação ao mundo muçulmano, assistiu à Primavera Árabe e concluiu: «Uma nova geração está a mostrar que o futuro pertence àqueles que querem construir e não destruir».
A reconstrução
«Deixar o Ground Zero em ruínas teria sido impossível neste país. Ruínas não é connosco»
ERIKA DOSS, historiadora de arte, autora do livro «Memorial Mania»
A América, que no plano político continua profundamente dividida, continua a ser um caso à parte em momentos como este.
A forma absolutamente extraordinária como os nova-iorquinos conseguiram recuperar do trauma só se explica pela noção de orgulho que sentem pela «cidade que nunca dorme», para muitos aquela que é mesmo «the best city in the world», a ‘melhor cidade do Mundo’.
Rudy Giuliani -- que estava de saída da presidência da Câmara de Nova Iorque quando, subitamente, se deu no centro do momento mais crítico da História recente americana -- costumava dizer, quando ainda era mayor de NYC que tinha «o melhor emprego do Mundo» porque trabalhava para a cidade que amava e ainda lhe pagavam para isso.
Nas memórias, ainda muito dolorosas, dos dez anos do 11 de Setembro, falou-se de coragem, inquietação e medo. E sobreveio, acima de tudo, a resiliência dos norte-americanos. Nos momentos de extrema dificuldade, lá estão eles a provar que continuam a ser um grande povo.
Talvez seja essa a maior lição do dia infame que aconteceu há uma década.
sábado, 10 de setembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Obama levanta a voz ao Congresso
Afinal, Obama não desistiu da sua faceta de lutador e desafiou o Congresso a aprovar o seu plano de criação de emprego e de relançamento da Economia. A apresentação do American Jobs Act marcou uma intervenção muito incisiva de Obama, que não se cansou de repetir: «You should pass this bill. Right away»
Obama levanta a voz ao Congresso
Por Germano Almeida
«O propósito do American Jobs Act é simples: pôr mais pessoas a trabalhar e mais dinheiro no bolso de quem já tem trabalho. Criará mais empregos para os operários de construção civil, mais empregos para os professores, mais empregos para os veteranos e mais empregos para os desempregados de longa duração. Permitirá uma redução fiscal para as companhias que dêem empregos a quem estava desempregado e cortará impostos da classe média e dos pequenos empresários. Dará confiança a quem investe na economia. Devem aprovar este plano de empregos imediatamente»
BARACK OBAMA, excerto do discurso de apresentação do American Jobs Act, na sessão conjunta do Congresso
Quem, depois das cedências feitas pelo Presidente ao Tea Party no acordo para o aumento do tecto da dívida, considerou que Barack Obama tinha desistido de ser um lutador político nas questões essenciais, tem mesmo que que assistir ao brilhante discurso feito na noite de 8 de Setembro, na sessão conjunta do Congresso, na apresentação do American Jobs Act.
É verdade que Obama demorou semanas (demasiadas?) a reagir à frustração justificada de vários sectores que o apoiam, depois do desastroso acordo que, à última hora, salvou a América do ‘default’.
Mas também é verdade que o Presidente já tinha prometido encontrar vias de compensar a impossibilidade de incluir aumentos de receita por via do agravamento impostos para os mais ricos.
O artigo de Warren Buffet, que acabou por gerar uma discussão internacional sobre a necessidade de os mais ricos participarem na solução da crise das dívidas dos países ocidentais, foi o primeiro sinal de reacção de quem se recusava a aceitar a chantagem do Tea Party.
O American Jobs Act -- plano de criação de empregos e relançamento da Economia que Barack Obama apresentou em sessão conjunta do Congresso (membros da Administração Obama, senadores e deputados da House) – é uma resposta clara e eloquente a quem achava que este Presidente já tinha «capitulado» na sua agenda política para o primeiro mandato.
Barack volta a calçar as luvas
Dirigindo-se ao Congresso de forma directa e incisiva, com uma retórica ao nível dos seus melhores discursos, mas num estilo mais agressivo do que é habitual no Presidente dos EUA, Barack Obama repetiu, por várias vezes, uma frase que retira qualquer interpretação que aponte para «indecisão» ou «fraqueza»: «You should pass this bill. Right away…» (‘devem aprovar este plano. Imediatamente’)
Obama pôde defender o seu plano com esta agressividade, porque sustentou este American Jobs Act em pressupostos que muito dificilmente podem ser contestados por democratas ou republicanos, num 'mix' de cortes fiscais às pequenas empresas (redução em 50% dos 'pay roll taxes', equivalente à Taxa Social Única) com forte investimento público.
Num gigantesco plano de incentivo ao emprego, no valor de 447 mil milhões de dólares (mais de 300 mil milhões de euros), Obama lança soluções para criar, num prazo curto, empregos através da reparação de pontes, estradas e grandes obras públicas, num recurso a uma via ‘keynesiana’ que reforça a ideia de comparação com o tempo de Roosevelt.
Num enfoque no seu principal campo social de apoio (a classe média), Barack prevê, neste American Jobs Act, a criação de milhares de empregos para professores e cortes de impostos para pequenos empresários, como incentivo à reanimação da Economia.
A chave para se perceber a razão de que será difícil para os republicanos vetarem tem a ver a sustentação deste megaplano. «Tudo o que está aqui previsto se paga sem implicar qualquer aumento do défice. Não deve haver controvérsia em torno deste plano», reforçou o Presidente, recordando que as reduções fiscais nele contidas são as mesmas que haviam sido defendidas por 50 congressistas republicanos.
Afinal, ainda há Obama
«O Presidente Kennedy disse uma vez que ‘os nossos problemas são feitos pelo Homem – e por isso podem ser resolvidos pelo Homem'. E o Homem pode ser tão grande como ele quiser. Estes são anos difíceis para o nosso país. Mas nós somos Americanos. Somos mais duros do que os tempos em que vivemos e somos maiores do que os nossos políticos têm sido. Então, abracemos este momento. Vamos ao trabalho e mostremos ao Mundo, mais uma vez, porque é que os Estados Unidos da América continuam a ser a maior Nação à face da Terra»
BARACK OBAMA, excerto do discurso de apresentação do American Jobs Act, na sessão conjunta do Congresso
Se há um plano que possa representar o paradigma do que é a acção política de Obama é este American Jobs Act: nele, Barack aponta o caminho para a recuperação económica, focando-se naquilo que sempre considerou ser o «motor da América» (a classe média, quem trabalha e quem gera emprego), mas sempre com uma preocupação bipartidária, na forma como recupera ideias de democratas e republicanos.
«Este plano está feito para poder ser apoiado por um republicano do Texas e por um democrata do Massachussets», sublinhou Obama, no seu estilo agregador, ao citar os opostos (o Texas é dos estados mais conservadores, o Massuchussets talvez o mais liberal).
A juntar a tudo isto, Obama também olha, neste plano, para os veteranos de guerra, mostrando o seu lado de Presidente que percebe as questões profundas da América, com uma frase poderosa: «Quem combateu pelos EUA não merece ter que combater por um emprego quando regressa a casa. Isso não é a América».
Insistindo num discurso muito crítico sobre «as tácticas políticas de Washington», Obama reforçou que «quem está a sofrer com a crise económica não quer saber dessas tácticas. O que espera de nós são soluções».
E recuperou um certo discurso proteccionista, que chegou a adoptar em fases cruciais da campanha presidencial, ao referir que «não há razões para a América não fazer melhor que a China». «Do mesmo modo que importamos Kias e Hyundais, quero ver tipos na Coreia do Sul a comprar Fords e Chevys e Chryslers»., apontou o Presidente.
O lado que Obama mostra, e que tantas vezes gera desconforto na sua base natural de apoio, de perceber o outro campo voltou a ser utilizado quando Barack falou da necessidade de «reformar o Medicare e o Medicaid para tornar estes programas viáveis, mesmo que isso não agrade a muitos congressistas democratas».
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Histórias da Casa Branca: A marca de Obama na frente externa
Os tempos não estão para sorrisos para Barack Obama, mas na frente externa o Presidente tem tomado as decisões certas: resolver as guerras e focar a atenção para a Economia
A marca de Obama na frente externa
Por Germano Almeida
«Se olharmos só para o plano interno, na melhor das hipóteses, Obama será um Presidente que conseguiu uma lenta e demorada recuperação económica, num período de incrível dificuldade. Mas a política externa pode ser uma história completamente diferente. Nessa frente, Obama não só poderá ser um bom Presidente, mas poderá mesmo ser recordado como um grande Presidente»
Michael Tomasky, colunista no New York Review of Books e na American Prospect
Cada Presidente americano tem, no seu legado, uma dupla realidade para avaliar: a política interna e a frente externa.
É sabido que, quase sempre, o que decide as eleições presidenciais na América tem a ver com a primeira vertente – e, sobretudo, com o estado da Economia americana no momento de cada eleição.
Assim se explica que Bush pai tenha falhado a reeleição, em 1992, meses depois de ter ganho a primeira Guerra do Golfo para um jovem governador que tinha dirigido com bons resultados económicos um pequeno estado do Sul – Bill Clinton.
Os três primeiros anos de Barack Obama na Casa Branca têm sido marcados por uma grande disparidade nessas duas frentes: se, no plano doméstico, os problemas têm sido imensos (e poderão prolongar-se por mais alguns anos, no caso de a sua reeleição ser contrabalançado por uma maioria republicana no Congresso), a verdade é que, na frente externa, a marca Obama tem sido muito mais fácil de ficar gravada.
Visto muito mais como um «candidato do Mundo para Presidente ideal da América» do que como um Presidente consensual no seu próprio país (ideia que a pareceu ser possível quando da eleição, mas que se desvaneceu em poucos meses após a sua chegada à Casa Branca), Barack Obama tem conseguido apontar o caminho certo em várias frentes da política externa.
O Nobel
Na mentalidade da ‘real America’, ser popular no resto do Mundo não significa um crédito acrescido para a política interna. Essa aparente contradição ficou bem notória em Outubro de 2009, quando a inesperada atribuição do Prémio Nobel da Paz ao então recém-Presidente Obama deixou incrédula uma boa parte da América.
Para muitos, a escolha da Academia norueguesa foi precipitada – e baseou-se mais num «wishful thinking» do que num julgamento de feitos ainda não conseguidos.
Dois anos depois, o que se percebe é que o grande problema de Obama tem sido o momento económico de quase pânico que se vive no mundo Ocidental: perante os receios de novas recessões, como olhar para as questões internacionais, se a preocupação imediata é ter ou não ter emprego?
As guerras
Historicamente, o descontentamento com a guerra do Afeganistão e do Iraque ajudou à eleição de Obama. Mas, uma vez na Casa Branca, Barack passou a ter dois enormes problemas para resolver.
Quase três anos depois, há pelo menos a noção de ‘accountability’: Obama prometeu iniciar uma retirada faseada das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão. Pode contestar-se a actual situação no terreno, em ambos os casos, mas a verdade é que o Presidente cumpriu essas duas promessas.
E, nesses dois momentos, recordou que «é tempo de a América focar-se no essencial, que é a recuperação económica», permitindo que iraquianos e afegãos «construam o seu próprio futuro».
O nuclear
Defensor, desde o discurso de Praga, de um Mundo sem armas nucleares, Obama passou à prática essa visão com a assinatura do novo Tratado START, com a Rússia, assinado na capital checa, precisamente um ano depois desse discurso.
A ratificação, por larga margem, com o apoio de vários senadores republicanos foi uma excepção bipartidária no clima de crispação que se tem vivido em Washington.
A Primavera Árabe
O discurso do Cairo, feito numa fase inicial da sua Presidência, quando o vento soprava de feição para a ‘Obamania’, foi visto por muitos como a inspiração inicial para o que estava para acontecer, meses depois, no Mundo árabe.
Entendamo-nos: seria abusivo afirmar que a revolta de tunisinos, egípcios, sírios ou líbios teve como principal catalisador as palavras do Presidente americano na capital do Egipto.
A recente declaração do embaixador dos EUA em Portugal, Allan Katz, de que a Primavera Árabe aconteceu por ter sido exactamente uma década depois do 11 de Setembro dá conta de como é perigoso fazer esse tipo de extrapolações em área tão imprevisível.
Mas a nova etapa aberta nas relações internacionais – e sobretudo na forma como os EUA olhavam para o mundo muçulmano, em geral, e para os países árabes, em particular – alargou horizontes a populações que tinham tido, nos anos pós-11 de Setembro, durante a era Bush, uma posição de base anti-americana.
Com o poder na América a lançar-lhes um claro sinal de distensão, o foco do descontentamento no mundo árabe passou a estar nos problemas económicos e na falta de liberdade impostos por ditadores como Ben Ali, Mubarak ou Kadhafi (apesar das diferenças entre eles e de proximidades recentes de Washington com todos…)
O aventureirismo das «acções preventivas» da Doutrina Bush, fundadas na teoria do ‘neocons’, terminou na fase final da anterior administração, mas teve na eleição da Barack Obama o seu ponto de viragem.
O regresso ao realismo, em muitos pontos mais próximo com Bush pai do que com Bill Clinton, consumou-se com a sintonia do Presidente com a ‘surge’ de David Petraeus para o Afeganistão.
Findo o período do unilateralismo, os EUA de Obama marcaram o «regresso da América» como principal ponto de referência no equilíbrio geopolítico.
A Líbia
O exemplo da Líbia é paradigmático do realismo de Obama na política externa. Não caindo no erro de Bush pai na Somália, ou de Clinton na Jugoslávia, Obama retardou ao limite a luz verde da intervenção militar contra Kadhafi – e plasmou, com requinte, esse difícil equilíbrio no discurso de explicação da intervenção militar americana em Tripoli: a partir do momento em que a fúria de Kadhaffi se virou contra o seu próprio povo, passou a ser legítimo usar a força.
O terrorismo
Nem todos os indicadores de opinião são negativos para Obama. Aquele que é mais positivo tem mesmo a ver com a forma o Presidente tem lidado com a ameaça terrorista: de acordo com sondagem Gallup, 62 por cento dos americanos aprovam, só 32 por cento reprovam.
O sucesso da Operação Geronimo, que redundou na eliminação de Bin Laden, terá ajudado a melhorar uma tendência que, ao longo deste mandato presidencial, tem sido sempre positiva.
A frente externa não costuma decidir eleições presidenciais na América. Mas é a prova de que nem tudo tem sido frustrante na herança do primeiro mandato presidencial de Obama.
sábado, 3 de setembro de 2011
Histórias da Casa Branca: Consegue provar que Obama tem sido um mau Presidente?
A tese dominante é a de que a Presidência Obama está a falhar no fundamental, mas talvez não seja possível demonstrar como fazer melhor num quadro político e económico carregado de adversidades
Consegue provar que Obama
tem sido um mau Presidente?
Por Germano Almeida
«Não sei o que Deus terá ainda de fazer para chamar a atenção dos políticos. Já tivemos um tremor de terra e um furacão»
Michele Bachmann, congressista do Minnesota, candidata à nomeação presidencial republicana, num comício do Tea Party na Florida
Já toda a gente sabe que os tempos têm sido muito difíceis para a Administração Obama.
Os números do desemprego, do défice e, sobretudo, os receios crescentes de que pode estar a vir aí uma ‘double dip recession’, com contornos ainda mais graves do que a tempestade financeira de 2008/2009, fazem com que pareça existir uma conjugação de factores a apontar para uma sentença de que esta será uma Presidência falhada. Certo? Errado.
Quem ouvir a argumentação zangada dos candidatos à nomeação presidencial republicana ficará com a ideia de que Barack Obama tem sido um péssimo Presidente.
E se atentarmos a frases como a que está em destaque na abertura deste texto, proferida por Michele Bachmann (a radical congressista do Minnesota insinua que o tremor de terra na Virgínia e o furacão Irene terão sido… sinais de Deus a penalizar Obama), então percebemos que os ataques ao Presidente dos EUA há muito que já passaram a esfera da racionalidade política.
Michele Bachmann: quando o discurso político dos principais candidatos republicanos cai no domínio da irracionalidade, resta a Obama acreditar que os americanos vão continuar a preferir o seu estilo conciliador
Neste clima de gritaria republicana contra Obama, pode não ser fácil analisar os dados com clareza.
Mas é precisamente por isso que vale a pena olhar com atenção para esta pergunta: há provas que sustentem a tese de que Obama tem sido um mau Presidente? Seria possível fazer melhor neste quadro de extraordinárias dificuldades políticas e económicas?
Para lá da gritaria
Pode ser um exercício quase contranatura nestes tempos de sentenças imediatas, sobretudo quando, na América, vemos agora um batalhão de candidatos à nomeação republicana a rotular Obama dos mais diversos defeitos.
Só que, em política, muitas vezes o que parece não é. Jonathan Alter, colunista da Newsweek e autor do livro ‘The Promise - President Obama, Year One’, aponta, em artigo com o sugestivo título: ‘You Think Obama’s been a bad President? Prove it!’: «Não estou interessado em ouvir ataques ‘ad hominem’ a Obama ou nas generalizações sobre o ‘desapontamento’ que muita gente diz sentir. Quero saber, trabalhando sobre uma base substantiva, porque é que Obama merece estar empatado com Perry e Romney e só uns pontos à frente de Ron Paul e Michele Bachmann, de acordo com sondagem recente da Gallup. Será que o facto de o desemprego se manter a nove por cento faz, por si só, condenar um Presidente, seja ele quem for e faça ele o que faça?»
Alter desafia-nos, por isso, a ver as coisas para lá do que parecem à superfície. E recorda: «Como toda a gente, também eu tenho a minha lista de erros a apontar a Obama, desde ter falhado numa posição mais forte sobre os bancos em 2009 até ter recusado a revogação das Bush Tax Cuts quando os democratas ainda controlavam o Congresso. Talvez não devesse criar expectativas quando falou no «Verão da recuperação» e no discurso «Winning the Future», enquanto a economia não começasse a dar sinais de retoma. Mas será que estas falhas de cálculo são suficientes para que ele não deva ser reeleito?»
No artigo, Alter expõe muito bem a contradição em que tem vivido a Presidência Obama: pelas mesmas decisões, tem recebido críticas à esquerda e à direita – por motivações opostas.
Os estímulos económicos de 2009, a Reforma da Saúde, a Reforma Financeira ou os acordos estabelecidos com os republicanos para o aumento do tecto da dívida são alguns dos exemplos mais visíveis do ‘equilibrismo político’ em que tem oscilado a Presidência Obama.
O estilo conciliador, que o levou a obter uma enorme maioria presidencial a 4 de Novembro de 2008, parece agora virar-se contra Obama. O seu mantra tem sido o de ouvir os dois lados, pôr-se na pele do adversários, absorver diferenças e traçar equilíbrios políticos.
Só que o mantra dominante está mais perto do discurso populista dos republicanos.
Mais xadrez, menos poker
Na campanha de 2008 e no primeiro ano e meio de Presidência, Obama fez valer as suas qualidades de jogador de xadrez: juntou paciência, estratégia e arrojo para resolver dilemas como o ObamaCare ou a Dodd-Frank Bill.
Mas depois de perder o controlo político do Congresso, tudo se complicou. Em crises como a da negociação do aumento do tecto da dívida, o Presidente tentou jogar poker com um Congresso que lhe é incrivelmente hostil. E saiu-se mal.
Ficou célebre a revelação do congressista republicano Eric Cantor, uma das estrelas do Tea Party, ao revelar que, numa das reuniões tensas em que acabou por sair intempestivamente, Obama lançou: ‘Eric, don’t call my bluff…’
Não é um desabafo típico do Barack-que-nunca-perde-o-controlo-da-situação. Mas representa bem o clima de polarização a que se chegou na política americana.
A eleição de Obama não alterou, por si só, uma sensibilidade ideológica dominante na América e que aponta para culpar o poder federal. A quebra de consensos em Washington fez aumentar ainda mais o desagrado do americano comum pela falta de capacidade do poder central em resolver a crise económica – e isso tem reflexos tremendos na popularidade do Presidente, por muito que seja ele o que mais tem feito por evitar este clima.
É relativamente fácil elencar a montanha de dificuldades políticas que atravessa Obama. Mas já é mais difícil demonstrar que era possível fazer melhor.
O dilema justifica continuação nos próximos dois textos.
domingo, 28 de agosto de 2011
Histórias da Casa Branca: Perry sobe, Romney treme
Rick Perry: a entrada em cena do governador do Texas causou um autêntico furacão na corrida à nomeação republicana. Mas subsistem muitas dúvidas quanto à capacidade deste 'cowboy' com créditos de conservadorismo fiscal poder derrotar Obama
Perry sobe, Romney treme
Por Germano Almeida
E, subitamente, o campo republicano encheu-se de pretendentes à nomeação presidencial.
A queda na Taxa de Aprovação do Presidente Obama (em Agosto, baixou, pela primeira vez, dos 40 por cento) faz aumentar a perspectiva de eleição para quem vier a vencer a corrida no partido do elefante.
Já por aqui tínhamos avisado, bem antes da entrada em cena de Rick Perry, que a narrativa segunda a qual Mitt Romney era o nomeado natural do Partido Republicano estava a parecer simples demais.
Apesar dos trunfos com que partiu o ex-governador do Massachussets (a experiência em 2008, o dinheiro já arrecadado), a verdade é que Romney não entusiasma por aí além a base conservadora.
Essa base, que sempre teve um grande peso no ‘Grand Old Party’, está agora energizada com o contágio do Tea Party.
Até há poucas semanas, quem se aproveitou dessa estranha tendência foi Michele Bachmann. O discurso incrivelmente crítico sobre a Presidência Obama, que tem sustentado a estratégia da congressista do Minnesota, já lhe valeu o título de «rainha da raiva».
Os frutos políticos estavam a ser enormes: em período de forte contestação a Obama (por força da crise económica), a congressista surgiu como a estrela da fase de arranque das primárias, perante a falta de capacidade de mobilização de Romney, Tim Pawlenty (que até já desistiu) e Jon Huntsman, os candidatos mais moderados.
Rick já é o ‘frontrunner’
Rick Perry, quase tão extremista como Bachmann, mas com um currículo e uma consistência política infinitamente maiores, apareceu como um furacão: em poucos dias, varreu a vantagem de Romney, diminuiu o efeito Bachmann, captou preferências de quem esperava por candidatos alternativos como Chris Christie.
Tudo somado, o governador do Texas aparece agora como frontrunner da corrida republicana. Perry surge à frente de Romney por diferenças de cinco a dez pontos e ameaça reduzir Michele Bachmann a um epifenómeno (se olharmos para os números nacionais), apenas com hipóteses de disputar o Iowa (o seu estado natal) e alguns estados do Sul.
Evangélico, populista, conservador fiscal com estilo 'cowboy' a fazer lembrar George W. Bush, Rick está a conseguir juntar os apoios que tem no ‘establisment’ republicano (sobretudo junto de outros governadores) com a ala mais conservadora.
Ainda não retirou a Bachmann o título de ‘tea party darling’, mas está claramente a tirar o ‘momentum’ político à radical congressista do Minnesota.
E algumas sondagens continuam a dar bons resultados a outros dois nomes que ainda nem sequer garantiram que vão avançar: Sarah Palin e Rudy Giuliani. A ex-governadora do Alasca está no terreno e dá sinais de querer entrar em jogo (talvez em Setembro ou Outubro).
Rudy está mais afastado, mas os números dos duelos com Obama podem fazê-lo entrar em cena mais tarde – as sondagens dizem que o antigo mayor de Nova Iorque será, a par de Mitt Romney, o candidato que mais benefícios poderá tirar do descontentamento do eleitorado independente, que apoiou Obama em massa em 2008.
Paul Ryan à espreita
Com ou sem Sarah Palin e Rudy Giuliani na corrida, a questão mantém-se: será que este leque de candidatos satisfaz todas as correntes do GOP? Por estranho que possa parecer (afinal de contas, já são muitas opções), uma boa parte dos eleitores republicanos continua à espera de soluções mais estimulantes.
Paul Ryan, 41 anos, é o líder do Comité do Orçamento do Congresso e tem sido pressionado a avançar pelos sectores que consideram fraco o actual leque de candidatos
A tese de que Mitt Romney é pouco mobilizador já abriu caminho à entrada fulgurante de Rick Perry – e pode permitir que Paul Ryan, líder do Comité do Orçamento do Congresso, entre na corrida.
Aos 41 anos, o congressista republicano do Wisconsin é apontado como uma das futuras estrelas do GOP: tem um discurso claro, ideias poderosas em tempos de corte na despesa e não cai na demagogia fácil do argumentário até agora apresentado por Perry, Michele Bachmann, Ron Paul, Herman Cain ou, nalguns temas, até mesmo de Mitt Romney.
Não é muito provável que o faça, mas se Paul Ryan entrar na corrida, pode provocar uma reviravolta ainda maior do que a que provocou Perry nos últimos dias.
Nikki Haley a vice-presidente?
A cerca de um ano de sabermos quem será o nomeado presidencial do Partido Republicano, já há movimentações em relação a possíveis vice-presidentes.
Os rumores apontam para cinco nomes:
- Marco Rubio, jovem senador da Florida que muitos apontam como o candidato presidencial do GOP para 2016 em caso de reeleição de Obama;
- Chris Christie, governador da Nova Jérsia (que não vai entrar na corrida à nomeação, apesar de vários apelos que tem recebido para tal);
- o governador da Virgínia, Bob McDonell;
- Susana Martinez, governadora do Novo México;
- ou então (num cenário de ainda maior influência do Tea Party) Nikki Halley, a jovem governadora da Carolina do Sul, de ascendência indiana.
Esta quinta opção, ainda que seja a menos falada, pode ganhar força com a dinâmica da própria corrida.
Nikki Haley: a jovem governadora da Carolina do Sul pode entrar mais tarde como solução para vice-presidente, apoiada pelo Tea Party
Sendo natural que o nomeado presidencial seja um nome não directamente ligado ao Tea Party, a regra da compensação (típica na escolha dos vice-presidentes) poderá garantir à ala radical a influência no nome do número dois do ticket republicano.
Em período de polarização do discurso na política americana, não era de admirar.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Histórias da Casa Branca: Obama contra-ataca e volta ao Midwest
Depois de semanas sob intenso fogo republicano, em que tentou ao limite ser o Presidente que consegue os «compromissos impossíveis», Barack Obama voltou a calçar as luvas de boxe e partiu para o terreno, já a pensar na batalha de 2012
Obama contra-ataca e volta ao Midwest
Por Germano Almeida
A corrida às presidenciais 2012 está definitivamente lançada e, depois de um fim-de-semana intenso no campo republicano -- que ditou o abandono de Tim Pawlenty e a confirmação de Rick Perry como forte pretendente à nomeação -- foi o próprio Obama a antecipar a sua entrada em campanha.
O caso não é para menos: Barack foi alvo de um autêntico massacre político em várias frentes, nas últimas semanas.
E perante o sentimento das bases do Partido Democrata, eixo político natural de Obama, de que será preciso «mais agressividade» na resposta aos ataques do campo oposto, o Presidente parece ter assumido as vestes do «lutador de boxe» (que já utilizara em momentos-chave do seu passado político, embora essa seja a faceta que menos gosta de mostrar), esquecendo, nesta fase, a sua já lendária «contenção».
O tempo não está, de facto, para o estilo ‘No Drama Obama’. A queda do rating da dívida americana para AA+ na Standard’s & Poor teve uma carga simbólica que os republicanos aproveitaram ao limite -– e nem o facto de esse inédito «downgrade» não ter sido acompanhado pelas restantes agências de referência parece ter amenizado o impacto da perda.
«Tea Party downgrade»?
O senador John Kerry, nomeado presidencial democrata em 2004, e David Axelrod, conselheiro-chefe da campanha de reeleição de Obama, rotularam a queda da notação americana de «Tea Party downgrade», atribuindo as culpas ao radicalismo da ala direita do Congresso.
Obama, em entrevista a Wolf Blitzer na CNN, foi mais longe e culpou John Boehner, speaker do Congresso, de se «ter preocupado mais com os interesses políticos e menos com as necessidades dos americanos», por não ter aceite uma solução que evitava cortes tão profundos na despesa e permitiria a arrecadação de receitas por via do aumento de impostos dos mais ricos.
Warren Buffet: ‘I beg you to raise my taxes!»
Esta visão pode parecer a mais sensata – e até tem defensores junto de quem iria ser penalizado. Basta consultar o interessantíssimo artigo de Warren Buffet (terceiro homem mais rico do Mundo, com fortuna avaliada em 80 biliões de dólares), assinado no New York Times «I beg you to raise my taxes!» (‘imploro que aumente os meus impostos!’) «Enquanto os pobres e a classe média lutam e morrem por todos nós no Afeganistão, e enquanto a maioria dos americanos lutam por se manterem à tona, nós, os milionários, continuamos a beneficiar de cortes de impostos. Parem de mimar os mega-ricos», exorta o multimilionário, que apoiou a candidatura presidencial de Obama e agora ficou desiludido com as cedências do Presidente às pressões do Tea Party.
Buffet identifica a contradição de haver, em Washington, uma maioria de congressistas que continuam a proteger os ricos, mesmo quando a economia real está na iminência de voltar a entrar em recessão.
O problema é que, nos dias que correm, as visões de Barack Obama, John Kerry ou Warren Buffet não são as que dominam nos corredores de Washington.
No estranho sistema político americano, em que o regime de «checks and balances» é levado ao extremo, o Presidente fica com muito poucos instrumentos para combater uma maioria conservadora no Congresso. Tem sido essa a sina de Obama nos últimos meses – mas Barack voltou à luta e não parece estar na disposição de assistir impávido a uma «capitulação» que muitos já decretavam na sua Presidência.
À reconquista do Midwest
Com a conversa em Washington a ser cada vez mais dominada pela hostilidade republicana, Obama decidiu contra-atacar junto da «Main Street» -- e partiu para o terreno.
O plano de resposta à ofensiva republicana começou nos últimos dias, com o ‘Obama Bus Tour’ – uma digressão de autocarro que o Presidente iniciou por três estados-chave do Midwest que venceu em 2008 e que poderão estar em perigo em 2012: Iowa, Minnesota e Illinois.
Esta escolha seguiu um roteiro criterioso: o Iowa marcou, simbolicamente, o início da ‘Obamania’, com o triunfo nas primárias de Janeiro de 2008. O Minnesota, tradicionalmente democrata, é um terreno muito afectado com a crise económica -– e pode vir a ser um dos ‘battleground states’ da eleição geral (sobretudo se o nomeado republicano for Romney).
O Illinois é o berço político de Obama. Uma derrota de Barack em Novembro de 2012 naquele estado seria simplesmente fatal.
Foi no Midwest que a ‘Obamania’ levou Barack a conquistar uma enorme vitória em Novembro de 2008 – e pode ser no Midwest que a principal batalha será travada na eleição de 2012.
«Obama fights back», titula a imprensa norte-americana, depois de semanas de autêntico massacre conservador sobre o Presidente.
Já toda a gente percebeu que o momento não é fácil para Barack Obama. Mas se olharmos ao pormenor para os factos, vemos que o cenário continua a ser razoavelmente favorável para as pretensões de reeleição do Presidente.
Mesmo depois dos 39 por cento de aprovação sinalizados pelo Gallup no passado dia 15 de Agosto, a verdade é que a média do mandato continua a centrar nos 45 por cento – valores equivalentes aos de outros Presidentes ‘first term’. E num contexto económico com dificuldades só comparáveis, nas últimas sete décadas, às que teve Franklin Roosevelt (com uma depressão económica profunda e guerras para resolver).
Debbie Schultz, congressista da Flórida, líder do Comité Nacional do Partido Democrata, coloca as coisas em perspectiva: «Ao contrário da narrativa que domina o momento, Obama não é um Presidente fragilizado. O que a tendência geral mostra é que tem um apoio muito sólido numa altura de dificuldades sem precedentes. E estou certa que esse apoio vai levá-lo à reeleição».
Nova versão: ‘it’s Obama… Cares’
No regresso ao terreno, Barack jogou alguns trunfos que sustentam um «comeback» político, depois de semanas de desgaste a negociar com quem não estava disposto a ceder um milímetro.
Para minimizar o impacto do ‘last minute deal’ que evitou o incumprimento, Obama prometeu um pacote de estímulo económico para Setembro, o mês em que se iniciará a dura batalha do Orçamento.
Iowa, Minnesota e Illinois: Obama está de regresso ao coração do Midwest, para recuperar terreno em estados que lhe deram vantagens confortáveis em 2008. E com três palavras mágicas para recentrar a mensagem: 'jobs, jobs, jobs'
É o regresso do ‘jobs, jobs, jobs’, numa altura em que, do lado republicano, a frase mágica para a nomeação republicana parece ser «eu sei criar empregos».
Outro mantra dos candidatos do GOP é prometer que, uma vez na Casa Branca, vão revogar a Reforma da Saúde aprovada por Obama. Entre o sarcasmo e a desdramatização, Barack já reagiu: «Eles prometem acabar com o ObamaCare, mas o que eles ainda não perceberam é que o termo correcto é… Obama Cares!»
Será que os americanos vão achar isso a 6 de Novembro de 2012, Barack?
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Histórias da Casa Branca: Tim Pawlenty, a primeira baixa da «guerra» Tea Party ‘vs’ GOP tradicional
A desistência de Tim Pawlenty é mais um sinal de alarme para quem defende uma solução moderada no Partido Republicano e prova que o radicalismo do Tea Party está a levar a melhor
Tim Pawlenty, a primeira baixa da «guerra» Tea Party ‘vs’ GOP tradicional
Por Germano Almeida
Já havia fortes sinais que apontavam para que as primárias do Partido Republicano para as presidenciais 2012 iriam ser marcadas por um perigoso contágio do Tea Party no discurso tradicional do GOP (‘Grand Old Party’).
Neste domingo, surgiu a primeira grande confirmação: Tim Pawlenty, governador do Minnesota durante oito anos, desistiu da sua candidatura, anunciando o abandono da corrida à nomeação presidencial republicana, após um frustrante terceiro lugar na Iowa Straw Poll (uma espécie de simulacro do ‘caucus’ que se realizará naquele estado do Midwest, em Fevereiro, e que terminou com a vitória de Michele Bachmann e com o segundo lugar de Ron Paul).
Num contexto de relativa normalidade política, Tim reunia fortes condições para ser um bom candidato à nomeação: governou com bons resultados um estado tradicionalmente democrata; tem, precisamente, a mesma idade de Barack Obama (50 anos); reúne credenciais e um percurso político que o coloca na faixa mais moderada do Partido Republicano – aquela que, numa eleição presidencial, mais hipóteses tem de disputar o eleitorado independente e mesmo os sectores democratas que possam estar descontentes com o primeiro mandato de Obama.
Há três anos, John McCain terá chegado a pensar em Pawlenty para seu vice-presidente no ‘ticket’ presidencial republicano. Tim constou de uma ‘shortlist’ que incluía outros nomes fortes do GOP, como Charlie Christ ou Mitt Romney.
Mas a escolha de John recaiu em Sarah Palin. Foi o início de uma escalada da Direita radical americana, mais tarde alimentada pela eleição de Obama para a Casa Branca e pelo agravar da crise económica.
Dois pontos para Michele Bachmann
A desistência de Pawlenty teve muito a ver com o que aconteceu nos últimos dias. Primeiro foi o debate de sexta à noite no Iowa, marcado pelo duelo de argumentos entre Michele Bachmann e Tim Pawlenty. Bachmann jogou com a cartilha do Tea Party, Tim apelou aos méritos da sua governação moderada no Minnesota.
Os resultados do Iowa Straw Poll, dois dias depois, voltaram a mostrar que os ventos sopram de feição para o discurso mais radical da congressista e não para o apelo centrista de Tim.
«Precisávamos de um novo fôlego para continuar e darmos passos em frente, mas isso não aconteceu e por isso estou a anunciar aqui que termino a minha candidatura presidencial», explicou, frustrado, Pawlenty à ABC, depois de saber que tinha ficado atrás de Michelle Bachmann e de Ron Paul no teste do Iowa.
Bachmann, uma das ‘Tea Party darlings’, tem sido a estrela surpresa destas primárias. Mas, como recordou Tim no debate do Iowa, não tem currículo para sonhar com a nomeação presidencial: nunca, na história política da América, um congressista conseguiu chegar à Casa Branca.
O facto de Michele ter conseguido fazer de Pawlenty a primeira baixa na ‘guerra’ ideológica entre o Tea Party e a linha tradicional do GOP é a maior prova de que o radicalismo está mesmo a empurrar para a extrema-direita o ‘velho’ Partido Republicano.
Duelo Romney/Perry ganha força
Com Tim Pawlenty fora de combate, e perante a total incapacidade de Jon Huntsman (ex-governador do Utah e embaixador dos EUA na China até Abril passado) descolar de insignificantes dois ou três por cento nas preferências dos republicanos, começa a ganhar força a teoria de que a nomeação presidencial do Partido Republicano para 2012 vai mesmo ser disputada entre Mitt Romney e Rick Perry.
Mitt Romney e Rick Perry: com a queda de Tim Pawlenty e as insignificantes percentagens de Jon Huntsman e Newt Gingrich, é cada vez mais claro que o adversário de Obama para 2012 sairá deste duelo
Depois de dois meses a preparar na sombra o arranque da sua campanha, Rick entrou oficialmente na corrida e parece reunir bons trunfos para fazer a ponte entre o GOP tradicional (onde tem fortes apoios, sobretudo junto dos governadores republicanos) e os movimentos ligados ao Tea Party – com quem tem alguns pontos de contacto, apesar de o governador do Texas não ter um discurso tão extremista como Bachmann, Palin ou Ron Paul.
Rick Perry não vai jogar muitas cartas no ‘caucus’ do Iowa. Michele Bachmann, que é natural do Iowa, passou a ser a principal favorita no estado de arranque, mas a força de Romney e Perry nos estados com mais delegados deverá prevalecer. A menos que o furacão do Tea Party se mostre ainda mais devorador nos próximos meses...
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