quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Já não é Messias, mas ainda pode ser vencedor


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 21 DE AGOSTO DE 2012:


Já não é Messias, mas ainda pode ser vencedor


Por Germano Almeida




«O vento e as ondas estão sempre do lado dos melhores marinheiros»

Edward Gibbon, historiador e político inglês do século XVIII



«Os tempos não estão para grandes sonhos. Depois do verão, existe um risco real de a Europa vir a conhecer ainda mais perturbações económicas e, por arrasto, as ondas da crise possam afetar a recuperação da Economia americana.



As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para 6 de novembro. São pouco mais de dois meses e meio e isso parece pouco.



Mas até lá muito pode ainda acontecer: uma saída da Grécia do euro; um eventual resgate de Espanha e Itália que poderá provocar a derrocada de todo o projeto europeu; um possível ataque de Israel a interesses militares do Irão; o agravar da guerra na Síria, com presença crescente de potências regionais como a Turquia, o Irão e até mesmo a Rússia.



Há, por isso, vários cisnes negros que ameaçam a criação de uma situação internacional imprevisível – e de consequências eventualmente nocivas para os indicadores económicos dos EUA até novembro.



Todos estes fatores parecem jogar contra a reeleição de Barack Obama. Com um desemprego de 8.3%, acima do que supostamente tem sido a barreira que um Presidente em funções aguenta eleitoralmente (há sete décadas que ninguém consegue segundo mandato na Casa Branca com uma taxa de desemprego acima dos 7.5%)



Só que uma eleição presidencial na América mexe com muito mais coisas do que isto. O fator humano é muito importante. E as qualidades políticas também. Nesses planos, Barack Obama tem-se mostrado muito superior a Mitt Romney – e as apostas estão, claramente, do lado do Presidente. As ‘intrade odds’ dão entre 55 a 70 por cento de probabilidades de vitória de Obama a 6 de novembro. E as sondagens (tanto a nível nacional como no plano estadual) mostram o candidato democrata à frente do pretendente republicano.



Mais tempo para a concretização
Barack Hussein Obama II, 51 anos, é o 44.º Presidente dos Estados Unidos da América. Filho de um queniano (Barack Obama I), que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA, e de uma antropóloga americana branca do Kansas (Ann Dunham), nasceu e cresceu no Havai e é produto da diversidade americana.



Passou parte da adolescência na Indonésia, estudou em Nova Iorque e em Harvard. Foi o primeiro negro a dirigir a Harvard Law Review. Teve uma carreira política quase cem por cento vencedora (a única exceção, antes de chegar à Casa Branca) foi a perda da corrida ao Congresso para Bobby Rush, em 2000.



Habituado a quebrar fronteiras e preconceitos, foi várias vezes «o primeiro». Passou no Senado como um relâmpago, já com a Casa Branca no horizonte. E habituou-se a ter um discurso de fasquia elevada, a apelar ao sonho.



Em 2008, no declínio do desastre Bush, essa era a receita indicada. 2012 tem, no entanto, uma narrativa bem diferente.



O que esta disputa presidencial tem mostrado é que, apesar da crise, os americanos continuam a gostar Obama. Continuam a conferir-lhe bons níveis de simpatia e uma taxa de rejeição relativamente baixa, para quem é Presidente há quatro anos.



Se, em 2008, Barack prometia a «mudança» e a «reconciliação», em 2012 pede mais tempo para a concretização. «Yes we can but... but we need more time», disse Obama a Jon Stewart, no Daily Show.



As vitórias conseguidas no primeiro mandato são históricas e falam por si: primeiro Presidente em sete décadas a conseguir aprovar no Congresso a Reforma da Saúde, posteriormente confirmada no Supremo Tribunal; Osama Bin Laden eliminado; ratificação do novo Tratado START, com a Rússia; saída do Iraque e do Afeganistão; lançamento do programa «Race To the Top» e criação de empréstimos para o pagamento de cursos universitários na área da Educação; criação de 4,5 milhões de empregos nos últimos 29 meses.



Seriam feitos suficientes para justificar uma reeleição tranquila, não fosse Obama ter apanhado quatro anos terríveis, com uma Economia que insiste em não arrancar, um ambiente político em Washington muito hostil e divisivo e uma indefinição internacional assustadora.



Já ninguém acredita que Barack Obama seja o Messias. Mas o mais provável é que continue a ser o ás de trunfo da política americana. E, por isso, se sagre vencedor a 6 de novembro.



Faltam 77 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos»

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