sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Raiva anti-Obama na Convenção Republicana


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 31 DE AGOSTO DE 2012:


Raiva anti-Obama na Convenção Republicana

Por Germano Almeida





«A Convenção de Tampa, na Florida, ajudou a fixar os temas fortes dos republicanos para a eleição presidencial de 6 de novembro: a América, com um segundo mandato de Obama, estaria em risco de perder o seu lugar dominante no Mundo; Mitt Romney e Paul Ryan têm soluções para evitar a escalada do monstruoso défice americano, agravado por esta administração democrata em «seis triliões de dólares».



Mesmo tendo nomeado o candidato menos comprometido com a ala dura do partido, os republicanos estão particularmente motivados a seguir uma linha agressiva e radical contra este Presidente – e preparam-se para assumir um dos duelos mais fraturados e ideológicos das últimas décadas na América.



Para o atual argumentário do Grand Old Party, o Presidente Obama é o grande culpado pela difícil situação económica que a América atravessa e, mais grave ainda, Barack tem permitido uma progressiva redução da importância e da autoridade dos EUA no Mundo.



À ‘change’ do candidato democrata Obama em 2008, os republicanos acrescentaram um ‘We can change it’ para 2012.



Os conservadores acusam o atual Presidente democrata de levar a América para o «endividamento insustentável» e prometem um regresso a uma América «do trabalho», do «empreendedorismo» e da «livre iniciativa», atirando Obama para uma visão «socialista» da economia.



Desde o radicalismo populista de Mike Huckabee, ao discurso terra-a-terra de Chris Christie e ‘real America’ de Bob McDonell, passando pela argumentação mais refinada -- mas especialmente ressentida -- de Tim Pawlenty, o tom dos discursos do GOP profundo, na Convenção Republicana que formalizou a nomeação presidencial de Mitt Romney, foi de crítica impiedosa à herança deste Presidente.



‘Big government’ vs liberdade individual

Obama é, para o discurso oficial republicano, o paladino do ‘big government’ – conceito que provoca aversão a qualquer republicano nos dias que correm.



A dicotomia que os republicanos acentuaram na convenção poderá definir-se assim: na mente do conservadorismo americano, Obama protagoniza o peso «excessivo» e «ilegítimo» do Governo; os republicanos respeitam a tradição, vinda da Constituição e dos Founding Fathers, do poder «do povo», concedido diretamente «por Deus», sem intermediação do poder federal.



Mesmo figuras respeitadas fora do campo republicano, e com uma história política e intelectual bem anterior a esta fase tão fraturada entre Obama ‘vs’ republicanos, como o senador John McCain, ou a ex-secretária de Estado, Condoleeza Rice, acabaram por transmitir este registo nos discursos que proferiram na convenção.



O que ficou dos três dias de discursos republicanos em Tampa foi a quase obsessão existente na Direita americana em deitar abaixo, logo que Mitt Romney consiga derrotar Obama nas urnas, todas as prioridades legislativas deste Presidente nos últimos três anos que tivessem a ver com intervenção federal que implicasse investimento público: ‘repeal ObamaCare’ foi, por isso, uma das frases mais proclamadas da Convenção...



Romney quis mostrar um sinal de união junto das novas estrelas do Partido Republicano – e pudemos ver a influência que nomes como Marco Rubio (jovem senador pela Florida), Nikki Haley (governadora da Carolina do Sul) ou Susana Martinez (a primeira mulher hispânica a governar um estado na América, no Novo México), já têm no GOP.



Mas o que Mitt não foi capaz foi de retirar do guião momentos como o de Rick Santorum a citar o exemplo da sua filha deficiente para acusar Obama e os democratas de permitir o aborto.



Paul Ryan é bom ou... mau sinal?

É justo reconhecer que a escolha de Paul Ryan para número dois conferiu alguma garantia de credibilidade política ao ticket de Mitt Romney.



Se nos lembrarmos dos desvarios lançados pelas estrelas do Tea Party nos últimos três anos, é um facto que Romney poderia ter enveredado por um caminho mais perigoso, se optasse por Michele Bachmann, Sarah Palin ou Mike Huckabee, por exemplo.



Muito bem preparado, trabalhador e, possivelmente, um dos mais inteligentes congressistas que neste momento servem em Washington, Ryan é uma lufada de ar fresco intelectual nesta corrida.



O problema é que, à luz de atacar a herança de Obama a todo o custo, os republicanos se permitiram passar ao lado da verdade em questões chave desta Convenção.



O discurso de aceitação de Paul Ryan, como nomeado para vice-presidente dos republicanos, foi talvez o melhor exemplo disso.



Do ponto de vista retórico, foi muito bem construído – um discurso que junta referências ao orçamento, a Led Zeppelin e uma garantia de que os republicanos vão ganhar a discussão sobre o Medicare com os democratas merece ser elogiado. Ryan teve o condão de energizar a base republicana num ticket que ainda coloca algumas reservas – e ajudou Romney a chegar a setores mais à direita do partido.



Só que o discurso de Ryan teve um... pequeno problema: no meio da torrente de críticas e acusações à herança de Obama, houve várias imprecisões e inverdades.



Romney em versão humanizada

Mitt Romney ainda não se conseguiu livrar de uma imagem robotizada, de candidato pouco mobilizador.



A sua mulher, Ann, terá protagonizado um dos melhores momento da Convenção de Tampa, ao proferir um discurso humanizado, que ajudou a mostrar um lado menos conhecido de Mitt.



No discurso de aceitação, Mitt Romney tentou apelar ao voto dos indecisos e fez um esforço para se descolar da imagem de ser um orador pouco convincente. Teve um desempenho sólido e focado na agenda republicana – mas não conseguiu lançar uma novidade capaz de agitar a campanha a seu favor.



Faltam 67 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»



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