quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Pode Romney escapar aos radicais?



TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 28 DE AGOSTO DE 2012:


«Mitt Romney obteve a nomeação presidencial por ser o menos radical dos candidatos que se apresentaram às primárias do Partido Republicano para a eleição de 2012.




A pouco mais de dois meses do duelo com Barack Obama, a grande dúvida que permanece no campo republicano é mesmo esta: será que o nomeado do GOP (Grand Old Party) vai ser capaz de evitar o contágio dos radicais, que dominaram o discurso político da Direita americana nos últimos quatro anos?



Se dúvidas houvesse sobre o excessivo peso da ala dura no ideário republicano para 2012, basta prestar um pouco de atenção à narrativa que dominará a Convenção que formalizará a escolha de Mitt Romney para a candidatura à presidência dos Estados Unidos.



O paradoxo republicano para estas eleições ficará bem visível nos próximos dias: o conclave que hoje terá início na Florida nomeará aquele que -- a par de Jon Huntsman (ex-governador do Utah e embaixador na China até abril passado, curiosamente indicado por Barack Obama) – era o pretendente menos envolvido com o Tea Party.



Mas a verdade é que a força das ideias extremistas foi tão grande nas mentes e nos corações dos conservadores americanos desde a eleição de Barack Obama que a narrativa prevalecente é particularmente dura.



Depois de novembro de 2008, foi muito difícil ser-se republicano moderado nos EUA. A ‘Obamania’, especialmente atrativa no eleitorado independente e, nalguns estados, até nos republicanos centrisas, tinha, aparentemente, deslocado o eixo ideológico do GOP para a Direita.



O contágio do Tea Party nas escolhas do Partido Republicano para os candidatos ao Congresso, em novembro de 2010, e mesmo nos apoios aos candidatos presidenciais para 2012 reforçou esta tendência.



A forma como Mitt Romney foi adaptando o seu discurso, durante as primárias, tirou todas as dúvidas: para conseguir convencer as bases do seu partido de que era mesmo o melhor candidato para derrotar Obama, o ex-governador do Massachussets teve que endurecer posições em temas como o aborto, a Reforma da Saúde e até na frente externa.



Mesmo depois de Romney ter ficado com a clara certeza de que iria ser o nomeado, a verdade é que Mitt nunca se conseguiu livrar o do peso dos radicais. Para conseguir obter níveis de financiamento para a sua campanha capazes de combater a elevada capacidade de Obama nesse capítulo, Romney foi construindo o caso da sua suposta «conversão» a uma visão da política, da sociedade e do Mundo mais próxima com os ultraconservadores -- e menos enquadrável naquilo que Mitt foi sendo como governador ou como candidato ao senado por um dos estados mais liberais dos EUA, o Massachussets.



Os perigos do ‘flip flop’

É claro que este ‘flip flop’ político tem os seus riscos. Se é certo que a política é «a arte do possível» e que, nesse plano, ninguém nos EUA pode considerar-se totalmente imune a «adaptações» (basta que nos lembremos da evolução do Presidente Obama em relação ao direito dos homossexuais de acederem ao casamento civil: era contra nas eleições de 2008 e agora passou a ser a favor...), a verdade é que o caso de Mitt Romney mostra uma excessiva tendência para a mudança de opiniões ao sabor das circunstâncias.



Os casos das últimas semanas puseram a nu os riscos desta estratégia. As declarações disparatadas do congressista Todd Akin (candidato republicano ao Senado pelo Missouri) sobre a violação e a alegada «capacidade do corpo feminino em evitar a gravidez nos casos de violações verdadeiras» são um sinal claro do nível de radicalismo de uma boa parte dos republicanos, neste momento.



É justo ressalvar que tanto Mitt Romney como o seu número dois, Payl Ryan, se demarcarem destas posições – tendo mesmo solicitado a Todd Akin que se retirasse da corrida (coisa que ele ainda não fez).



Mas um olhar para as ideias fortes do programa republicano a analisar na Convenção Tampa mostra-nos uma visão que se enquadra nos disparates ditos por Todd Akin: aborto sempre proibido, mesmo em casos de violação, deficiência profunda do feto ou risco de vida para a mulher; casamento é só entre um homem e uma mulher; endurecimento de posições sobre a imigração.



Apesar de Romney e Ryan não terem, no geral, posições tão radicais sobre estes temas, Bob McDonnell, governador da Virgínia e responsável pela redação do documento, deixou bem clara; «Ele reflete o coração e a alma do Partido Republicano».



Obama já alertou para o facto de «o governador Romney estar a apresentar ideias muito extremistas, que afrontam os direitos das mulheres». As sondagens mostram que os republicanos estão atrás dos democratas no eleitorado feminino – e esse dado pode ser determinante em estados chave para a eleição.



Faltam 70 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

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