terça-feira, 14 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca - Paul Ryan: muitas virtudes e alguns riscos


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 14 DE AGOSTO DE 2012:


Paul Ryan: muitas virtudes e alguns riscos

Por Germano Almeida



«Paul Davis Ryan, 42 anos, membro da Câmara dos Representantes eleito pelo estado do Wisconsin, líder do Comité de Orçamento do Congresso, foi a escolha de Mitt Romney para candidato a vice-presidente, no ticket republicano.



Não era a escolha mais óbvia (o senador Rob Portman, do Ohio, e o governador Tim Pawlenty, do Minnesota, reuniam maior favoritismo), mas foi uma boa aposta de Romney para lançar um novo fôlego a uma candidatura republicana que parecia estar a perder terreno em relação a Obama, nas últimas duas semanas.



Apontado como um dos melhores valores da nova geração de políticos republicanos, Paul Ryan chegou a ter condições para avançar, ele próprio, com uma candidatura à nomeação presidencial republicana – mas optou por não avançar já, talvez considerando ser demasiado novo para arriscar com tamanha empreitada.



Perante a maior probabilidade de vitória de Obama em 2012, Paul Ryan ter-se-á resguardado para 2016, a exemplo do governador da Nova Jérsia, Chris Christie, ou do ex-governador da Florida, Jeb Bush.



Apesar de só ter 42 anos, Ryan vai já no sétimo mandato no Congresso – passou toda a sua vida adulta em Washington, tendo iniciado esse caminho com apenas 25 anos, como assessor do senador Bob Kasten.



Ao escolhê-lo para número dois, Romney mostrou que não tem medo do risco de muitos acharem que Paul Ryan seria até mais apto para Presidente do que ele próprio.



Trunfos e contra-indicações

Os critérios seguidos por Romney para escolher Paul Ryan para seu número dois são relativamente fáceis de identificar.



Paul é jovem (é ainda mais novo do que era Obama em 2008 e tem menos 23 anos que Mitt); bem parecido (os peritos em imagem dizem que Romney e Ryan fazem uma dupla muito telegénica e isso na política americana tem grande importância); muito bom tecnicamente (mesmo os rivais democratas lhe reconhecem essa qualidade); pertence a um estado eleitoralmente competitivo, onde Obama arrasou há quatro anos, mas que tem dado sinais de poder oscilar para o campo republicano (o Wisconsin).



A juntar a tudo isto, o agora pretendente a vice-presidente dos EUA tem-se afirmado, nos últimos anos, como um dos ‘tea party darlings’.



É, por isso, bem visto pela mais à direita do Partido Republicano, embora tenha muito mais consistência e credibilidade política do que as figuras que foram dando a cara pelos movimentos radicais dos conservadores americanos (Sarah Palin, Michele Bachmann, Mike Huckabee, Donald Trump).



Como Mitt Romney nunca foi capaz de tocar o coração dos ultraconservadores, acolher Paul Ryan no seu ticket pode ajudar a mobilizar as bases republicanas, que estavam a começar a dar sinais de alguma reserva em relação à capacidade de Mitt vir a bater Obama a 6 de novembro.



Mas Paul Ryan não tem só vantagens. Como líder do Comité do Orçamento do Congresso, tem sido um dos campeões dos cortes na despesa.



Defende uma profunda alteração no Medicare (megaprograma de apoio a cuidados de saúde), que passaria pela distribuição de vouchers e poria em risco o acesso de milhões de americanos ao programa.



Logo após o anúncio da escolha de Paul Ryan (que voltaria a se rmarcado por uma ‘gaffe’ de Mitt Romney, ao anunciá-lo como... o «próximo Presidente dos EUA»), o campo de Obama foi pronto a reagir, lembrando que o congressista do Wisconsin votou a favor das políticas de Bush em matéria fiscal e acentuando a clivagem das duas candidaturas: Obama, Biden e os democratas defendem a classe média; Romney, Ryan e os republicanos advogam impostos baixos para os mais ricos, aparentemente para manter dinheiro do lado da economia (algo que se provou, nos últimos anos, não ser suficiente para criar emprego numa altura como esta).



Deste modo, e por contraditório que isso possa parecer, a escolha de Paul Ryan foi positiva para Romney e para Obama: Paul ajuda Mitt a reforçar a mensagem de conservadorismo fiscal e permite a Obama uma demarcação clara em relação a questões como a Reforma da Saúde ou a defesa da Segurança Social (que Ryan chegou a admitir privatizar).



Outro dado que pode ser perigoso para Romney é que Paul Ryan é católico. Um ticket republicano sem um único protestante (Mitt é mórmon), não é muito seguro numa América ainda maioritariamente WASP.



Tradicionalmente, os vice-presidentes não são decisivos nas eleições americanas. Mas a escolha de Paul Ryan ajudou a clarificar as águas nestas eleições.



Do lado republicano, ficámos a saber que a mensagem forte é mesmo a demarcação com as políticas de investimento federal defendidas pela Administração Obama nos últimos quatro anos.



Ryan é um dos principais advogados republicanos de bandeiras cruciais para o conservadorismo americano: liberdade de empreendedorismo, menos estado, mais iniciativa privada, cortes nas despesas mesmo em áreas sociais.



Barack já elogiou as qualidades de Paul Ryan, um «homem decente, de família e o líder ideológico dos republicanos no Congresso», mas fez questão de avisar que discorda «radicalmente» das suas posições políticas.



Confirma-se: a eleição de 2012 será das mais fraturadas da história recente da política americana.



Faltam 84 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.





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