sábado, 26 de janeiro de 2013

Histórias da Casa Branca: o Presidente marca a agenda

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 25 DE JANEIRO DE 2013:

«Não acreditamos que neste país a liberdade esteja reservada aos afortunados, ou seja um privilégio de alguns. Reconhecemos que, independentemente da forma como vivemos as nossas vidas, qualquer um de nós, em qualquer altura das nossas vidas, poderemos enfrentar uma situação de desemprego, doença súbita ou a perda de uma casa levada por uma tempestade. Os compromissos que fazemos uns com os outros em programas como o Medicare ou ou Medicaid e na Segurança Social não nos retiram iniciativa. Pelo contrário: fortalecem-nos. Não nos fazem uma nação de dependentes; eles libertam-nos para assumir os riscos que fazem este país grande». 
Barack Obama, discurso inaugural do segundo mandato 


Esta passagem do discurso inaugural de Barack Obama para o segundo mandato retrata fielmente o espírito com que o Presidente parte para a metade final dos oito anos que, é já certo, durarão a sua era na Casa Branca.

Sem medo de tornear a tradicional neutralidade ideológica dos discursos de posse, Obama aproveitou o momento favorável queo clima político neste momento lhe aponta e antecipou-se ao discurso do Estado da União, no próximo dia 12 de fevereiro, para enunciar, em plena cerimónia de inauguração, as principais prioridades da sua agenda para o segundo mandato. 

A forma como endereçou a necessidade de preservar o Estado Social (brilhantemente demonstrada no excerto que inicia esta crónica) mostra que o Presidente acredita que os resultados eleitorais de 6 de novembro foram claros a relegitimá-lo na sua visão para a América.

A crítica à visão de Romney dos «47 por cento de dependentes», embora não esteja explícita neste discurso, ficou mais do que evidente na intepretação.

O modo como Obama desmontou a tese republicana de que os apoios sociais se tornam contraproducentes e diminuem a competitividade dos Estados Unidos dificilmente poderia ter sido defendida com mais eloquência. 

Obama não só reforçou a necessidade de proteger os grandes programas federais para as áreas sociais como os enquadrou na lógica de oportunidade em que assenta o pensamento americano: «Os compromissos que fazemos uns com os outros em programas como o Medicare ou ou Medicaid e na Segurança Social não nos retiram iniciativa. Pelo contrário: fortalecem-nos. Não nos fazem uma nação de dependentes; eles libertam-nos para assumir os riscos que fazem este país grande».

A diferença para com a posição da Direita americana nos últimos anos não podia ser maior.

O discurso da passada segunda-feira consagrou a confirmação de um Barack Obama que, não sendo um «liberal» na pura tradição americana, é, afinal de contas, um democrata na linha tradicional de defesas dos programas sociais, apesar de algumas dúvidas que alguns setores progressistas tiveram sobre isso, durante o primeiro mandato do 44.º Presidente dos EUA. 

Muitos destacaram, na comparação das fotos dos juramentos de 2009 e de 2013, que Barack Obama, em apenas quatro anos, tem sinais físicos de ter envelhecido dez: rugas, olheiras e muitos cabelos brancos. 

Um primeiro mandato no limite da capacidade de trabalho, com vários momentos de tensão no máximo, terão levado a que jovem- Presidente-de-2009 se tornasse no Presidente-reeleito-com-ar-cansado de 2013.

Os sinais dados por Obama no discurso de arranque do segundo mandato fazem esperar um Presidente menos disposto a perder tempo com bloqueios estéreis e mais focado no legado que quer, verdadeiramente, deixar para a América: uma sociedade coesa, partilhada, com menos tensões. 

E uma noção de que, nos Estados Unidos, todos têm direitos iguais e, por isso, todos devem ser protetores dos seus semelhantes («I am my brother's keeper»). Um regresso ao discurso da convenção de 2004, na tomada de posse de 2013. 

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