sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Histórias da Casa Branca: a parte do «forward» era para levar a sério

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 17 DE JANEIRO DE 2013:

Faltam cinco dias para que Barack Obama leia o segundo discurso de inauguração presidencial e vai-se reforçando a ideia de que os próximos quatro anos terão um Presidente dos Estados Unidos mais disposto a avançar.

Se é verdade que o ambiente que imperou quando da primeira tomada de posse era de quase pânico (estávamos na tempestade financeira e havia quem temesse o descalabro), o clima para o segundo mandato aponta perspetivas mais estimulantes.

Embora ainda marcada pela crise mundial, a economia americana tem um histórico de três anos seguidos de criação de emprego e alguns sinais de recuperação (a subida do preço das casas, depois da queda abruta de finais 2007/inícios de 2009). 

Como Bill Clinton destacou na Convenção de Charlotte, «Barack Obama ficará para a história como o Presidente que começou o seu consulado com uma economia fraca e a sofre uma depressão e recolocou a América na longa estrada da recuperação». 

Os sinais dados pelo Presidente apontam para que quatro temas tenham especial atenção no segundo mandato: justiça fiscal e redução da dívida; reforma da imigração; independência energética; alterações climáticas. 

Alguns destes grandes temas marcaram a discussão eleitoral entre Obama e Romney nas presidenciais de novembro.

Os resultados eleitorais mostraram que o Presidente e os democratas venceram a discussão política sobre a questão dos impostos (ficou claro que a maioria dos americanos acha mais justo que se alivie fiscalmente a classe média e os mais desfavorecidos e se taxe especialmente os mais ricos).

Mas os resultados de novembro mostraram, também, que não é assim tão claro o que a América pensa e sente em temas como o «gun control».

Por vezes, a política tem que ter um abanão da realidade. E foi justamente isso que aconteceu na questão do «gun control». 

Obama preferiu, habilmente, silenciar esse tema na peleja eleitoral, sabendo o peso que organizações como a NRA têm em estados eleitoralmente decisivos. 

Só que o massacre de Newtown, uma das maiores tragédias ocorridas em solo americano nos últimos anos, recolocou de forma dramática o tema da posse de armas na agenda política.

Logo a seguir resolver (pelo menos até março) o fantasma da «fiscal cliff», Obama lançou o «gun control» para a primeira linha das suas preocupações.

Aproveitou o trabalho prévio feito pelo seu vice-presidente Joe Biden (que ouviu sugestões dos mais diversos intervenientes neste problema, incluindo a NRA). 

Viu Andrew Cuomo (seu possível sucessor na Casa Branca em 2016) aprovar, no estado de Nova Iorque, um pacote legislativo especialmente apertado no acesso dos cidadãos às armas. E passou à acção.

Numa conferência de Imprensa muito bem concebida, e que produziu uma momento fotográfico que se arrisca a ficar como um dos melhores da era Obama (veja a foto abaixo), o Presidente anunciou o pacote de medidas mais restritivo das últimas décadas na América.

Percebendo que legislação avulsa dos estados não resolve a questão fundamental num tema como o acesso às armas, o Presidente apelou a uma «discussão mais alargada» deste problema. E apresentou o que o «Washington Post» considera terem sido «as mais abrangentes políticas de controlo de armas em várias gerações».

Obama propôs 23 medidas, entre as quais se destacam a proibição de comprar «armas de assalto» e carregadores com mais de dez munições. 

As propostas da Casa Branca vão ser apreciadas pelo Congresso. Talvez passem num Senado de maioria democrata, mas dificilmente serão aprovadas pela Câmara dos Representantes republicana. Mas a discussão está lançada. 

Obama escolheu «forward» para o seu slogan de campanha em 2012. E parece que é mesmo para levar a sério. 

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