sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Histórias da Casa Branca: o triunfo do senso comum

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 16 DE JANEIRO DE 2013:

Barack Obama está a poucos dias de iniciar um segundo mandato e dá mostras de não querer repetir alguns erros cometidos nos primeiros quatro anos.

A noção de que é possível «convencer o outro lado da barricada», mesmo quando as posições iniciais eram radicalmente diferentes, deixou de prevalecer. 

Essa foi uma das ideias chave da primeira eleição de Obama, mas claramente foi relegada na narrativa da segunda vitória presidencial, em 2012.

A forma como o Presidente preparou a sua Administração, para o segundo mandato, dá conta desta mudança de prioridades.

Há quatro anos, Barack Obama mostrou querer interpretar a herança de Lincoln, ao fazer a sua versão do «team of rivals»: escolheu um vice-presidente (Joe Biden) e uma secretária de Estado (Hillary Clinton) que o haviam defrontado nas primárias; nomeou várias pessoas para a sua administração que tinham apoiado Hillary e não Obama no processo de escolha presidencial do Partido Democrata; e apontou três republicanos para lugares importantes do seu governo (sendo que um deles, Bob Gates, era até o secretário da Defesa na Administração Bush).

Quatro anos depois, passou a prevalecer o conceito da confiança e da proximidade. Obama deu prioridade a pessoas que lhe são mais próximas e que lhe dão mais garantias de uma menor dispersão na forma como irá conduzir a segunda administração: Jack Lew para seu chefe de gabinete, John Kerry para chefe da diplomacia (figura que o apoia desde o início das primárias de 2008, e amigo pessoal, ao contrário do que sucedia com Hillary), Chuck Hagel na Defesa (um republicano «old school», que não alinha nos desvios radicais do actual conservadorismo e que era uma das pessoas mais próximas de Obama no Senado, com posições muito idênticas em relação ao que os EUA deveriam fazer no Iraque e no Afeganistão). 

John Brennan, futuro diretor da CIA, teve um papel crucial no aconselhamento ao Presidente nos momentos mais tenso do primeiro mandato no que se refere a Segurança Nacional, sobretudo na operação especial que levou à eliminação de Bin Laden. 

As escolhas de Hagel e Brennan provam, também, que desta vez Obama não está a dar muita importância ao que o outro lado vai pensar. Os republicanos no Congresso detestam o antigo senador do Nebraska (consideram-no uma espécie de traidor político). Só que o Presidente começa, cada vez mais, a achar que quando o senso comum está à vista de todos, não vale muito a pena evitar guerras políticas no Capitólio.

A carga de proximidade pessoal nos postos chave da segunda administração Obama só não é ainda maior porque Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU no primeiro mandato, não resistiu às pressões dos republicanos sobre as suas ligações ao «bengasigate» e não quis ser nomeada secretária de Estado. 

Mas esta foi uma opção pessoal da embaixadora. Pelo Presidente, Rice era mesmo a próxima chefe da diplomacia - e é possível que Obama acabe por apontá-la Conselheira de Segurança Nacional. 

Com grandes batalhas nas próximas semanas e meses (outra vez o teto da dívida; como garantir um acordo mais durável para lá de março em relação à «fiscal cliff»; a reforma da imigração), a estratégia de Obama começou a ficar claro nas últimas semanas: encostar os republicanos à parede da realidade, com uma linguagem prática, terra a terra.

O que Obama disse esta semana sobre os republicanos e o teto da dívida exemplifica esta estratégia: «Eles têm duas escolhas», apontou o Presidente: «Podem agir de forma responsável e pagar as contas da América ou podem agir de forma irresponsável e atirar a América para uma nova crise económica». 

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