domingo, 20 de janeiro de 2013

Segundo mandato de Obama: os anos da concretização (opinião)

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, 19 DE JANEIRO DE 2013: 

Barack Obama presta esta tarde juramento para o segundo mandato, mas apenas numa cerimónia privada. As tomadas de posse costumam ser a 20 de janeiro, só que desta vez calhou a um domingo e o comité de organização 57.ª Inauguração Presidencial decidiu deslocar as cerimónias oficiais para dia 21, segunda-feira.

O segundo «inaugural speech» de Barack Obama será, por isso, amanhã. Mas a equipa que rodeia o Presidente já libertou um vídeo onde o Presidente avança algumas ideias que pretende transmitir no discurso de investidura.

A ideia forte será a de «um povo, um futuro». Barack Obama reforçará a tese, que foi repetindo durante o longo período eleitoral que marcou o ano de 2012, de que a visão «estamos todos nisto juntos» («we are all in this together»), focada pelos democratas na peleja contra Mitt Romney, foi a que prevaleceu sobre a tese «cada um por si», que os republicanos pareciam transmitir, naquele mantra de afastar qualquer tipo de subida de impostos, mesmo para os mais ricos ¿ e mesmo à custa de cortes nas despesas sociais mais básicas.

Obama começou o discurso de vitória na noite eleitoral de 6 de novembro passado observando que a sua reeleição era a prova de que «a América é um país uno, que prosperará ou cairá junto, como uma só nação, como um só povo». 

Ao acrescentar, na investidura de segunda-feira, a noção de «um futuro», a seguir a essa ideia de «um só povo», o Presidente mostra que tem como prioridade das prioridades no seu segundo mandato um enfoque na reconciliação. 

Mas, desta vez, não a tal «reconciliação impossível» com os republicanos do Congresso. «Reconciliação» da América enquanto povo que tem «muito mais em comum do que as diferenças que o separam», para repegar uma das ideias iniciais de Obama, quando era um jovem político a candidatar-se ao Senado, em 2004. 

O que podemos, então, esperar do discurso de segunda-feira? Um Obama a puxar pelos melhores valores da América (união, trabalho, sacrifício); a apontar para o futuro (desafiando à inovação, apelando à excelência); a consolidar a sua visão de uma sociedade «de partilha», com um equilíbrio entre o que «todos devemos dar e o que todos devem ter direito».

Barack Obama gosta de recordar que, ao contrário do que muitos republicanos o acusam, ele não acredita que o Governo seja «a solução para todos os problemas». Mas também não acredita que o Governo seja «a fonte de todos os problemas».

Deste modo, o Presidente aproveita o balanço eleitoral da sua reeleição para reforçar, no segundo mandato, que é fundamental que, para que todos tenham «a sua oportunidade», os EUA continuem a garantir educação e continuam a apostar na inovação. «Se há um jovem que não tem a oportunidade de estudar ou de se tratar de uma doença, isso não afeta só os seus pais. Afeta-nos a todos, enquanto país e enquanto sociedade. Porque há um talento que poderia estar ao serviço de todos e que não é devidamente aproveitado», apontou Obama, no discurso de vitória na noite da reeleição. 

É esta visão que deverá ser sublinhada na segunda tomada de posse. A América tem características que tornam virtualmente possível a criação de uma «unidade nacional» em todos os temas. 

Mas Barack Obama nunca teve tantas condições para se afirmar como o motor dos grandes consensos em temas cruciais: consumou o fim de uma década de guerra; lançou as bases para uma recuperação demorada, mas sustentada, da economia americana; puxou a discussão do «gun control» para primeiro plano, como há duas décadas um Presidente americano não fazia.

Temas como a dívida excessiva, a independência energética, as alterações climáticas e a reforma da imigração também devem marcar o discurso de amanhã.

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