TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 25 DE JANEIRO DE 2013:
«Não acreditamos que neste país a liberdade esteja reservada aos afortunados, ou seja um privilégio de alguns. Reconhecemos que, independentemente da forma como vivemos as nossas vidas, qualquer um de nós, em qualquer altura das nossas vidas, poderemos enfrentar uma situação de desemprego, doença súbita ou a perda de uma casa levada por uma tempestade. Os compromissos que fazemos uns com os outros em programas como o Medicare ou ou Medicaid e na Segurança Social não nos retiram iniciativa. Pelo contrário: fortalecem-nos. Não nos fazem uma nação de dependentes; eles libertam-nos para assumir os riscos que fazem este país grande».
Barack Obama, discurso inaugural do segundo mandato
Esta passagem do discurso inaugural de Barack Obama para o segundo mandato retrata fielmente o espírito com que o Presidente parte para a metade final dos oito anos que, é já certo, durarão a sua era na Casa Branca.
Sem medo de tornear a tradicional neutralidade ideológica dos discursos de posse, Obama aproveitou o momento favorável queo clima político neste momento lhe aponta e antecipou-se ao discurso do Estado da União, no próximo dia 12 de fevereiro, para enunciar, em plena cerimónia de inauguração, as principais prioridades da sua agenda para o segundo mandato.
A forma como endereçou a necessidade de preservar o Estado Social (brilhantemente demonstrada no excerto que inicia esta crónica) mostra que o Presidente acredita que os resultados eleitorais de 6 de novembro foram claros a relegitimá-lo na sua visão para a América.
A crítica à visão de Romney dos «47 por cento de dependentes», embora não esteja explícita neste discurso, ficou mais do que evidente na intepretação.
O modo como Obama desmontou a tese republicana de que os apoios sociais se tornam contraproducentes e diminuem a competitividade dos Estados Unidos dificilmente poderia ter sido defendida com mais eloquência.
Obama não só reforçou a necessidade de proteger os grandes programas federais para as áreas sociais como os enquadrou na lógica de oportunidade em que assenta o pensamento americano: «Os compromissos que fazemos uns com os outros em programas como o Medicare ou ou Medicaid e na Segurança Social não nos retiram iniciativa. Pelo contrário: fortalecem-nos. Não nos fazem uma nação de dependentes; eles libertam-nos para assumir os riscos que fazem este país grande».
A diferença para com a posição da Direita americana nos últimos anos não podia ser maior.
O discurso da passada segunda-feira consagrou a confirmação de um Barack Obama que, não sendo um «liberal» na pura tradição americana, é, afinal de contas, um democrata na linha tradicional de defesas dos programas sociais, apesar de algumas dúvidas que alguns setores progressistas tiveram sobre isso, durante o primeiro mandato do 44.º Presidente dos EUA.
Muitos destacaram, na comparação das fotos dos juramentos de 2009 e de 2013, que Barack Obama, em apenas quatro anos, tem sinais físicos de ter envelhecido dez: rugas, olheiras e muitos cabelos brancos.
Um primeiro mandato no limite da capacidade de trabalho, com vários momentos de tensão no máximo, terão levado a que jovem- Presidente-de-2009 se tornasse no Presidente-reeleito-com-ar-cansado de 2013.
Os sinais dados por Obama no discurso de arranque do segundo mandato fazem esperar um Presidente menos disposto a perder tempo com bloqueios estéreis e mais focado no legado que quer, verdadeiramente, deixar para a América: uma sociedade coesa, partilhada, com menos tensões.
E uma noção de que, nos Estados Unidos, todos têm direitos iguais e, por isso, todos devem ser protetores dos seus semelhantes («I am my brother's keeper»). Um regresso ao discurso da convenção de 2004, na tomada de posse de 2013.
O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
sábado, 26 de janeiro de 2013
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Histórias da Casa Branca: a América quer mesmo mudar
TEXTO PUBLICADO NO TV2I24, A 24 DE JANEIRO DE 2013:
David Brooks chamou-lhe «um dos melhores discursos de posse do último meio século americano». A inauguração do segundo mandato de Barack Obama foi, ao mesmo tempo, rica e surpreendente.
A tradição aponta para que os discursos de posse sejam generalistas e neutrais. A parte mais política costuma ser reservada para os discursos do Estado da União.
Com uma carga mais simbólica, as tomadas de posse costumam apelar aos valores fundadores do sistema e menos para a a parte ideológica.
Mas Barack Obama deu claro sinal de que não quer perder tempo. Legitimado pela reeleição, fez questão de se antecipar ao que vai dizer a 12 de fevereiro, no Estado da União.
Obama começou por destacar valores fundadores e apelar à união, ao repetir, nos primeiros minutos: «Somos um só povo, uma só nação». Mas já aí estava a remeter para uma ideia que dominou a reta final da reeleição. Obama envolveu os riscos que a América corre na força que aquele país continua a mostrar na hora da adversidade: «Somos América», insistiu.
O mais surpreendente viria a seguir. «A nossa jornada não está completa», lançou, como que a avisar para o registo que apareceria de seguida.
«Uma década de guerra terminou. A economia está a recuperar. As possibilidades da América são ilimitadas. Temos todas as condições para responder aos desafios que se nos deparam. O risco é, para os Estados Unidos, uma oportunidade para nos reinventarmos, para a inovação».
«Quando os tempos mudam, nós também temos que mudar», exortou o Presidente. A deixa ideal para enunciar prioridades para o segundo mandato: reforma da imigração mais compreensiva; criar condições para que os EUA sejam uma superpotência energética e caminham para a independência nessa área central; endereçar soluções que travem o risco das alterações climáticas; proteger a sustentabilidade de programas cruciais para milhões de americanos, como o Medicare e o Medicaid.
Obama fez história ao ser o primeiro Presidente a dizer a palavra «gay» num discurso de posse. No segundo mandato, estará menos preocupado em criar equilíbrios com o o outro lado e pretende assumir as suas posições ideológicas.
A base democrata adorou. Sentiu, finalmente, que Obama lhe disse: «Vocês elegeram-me. Sou o vosso Presidente».
Terá sido um Obama mais liberal, menos centrista? Não, necessariamente. Foi, certamente, um Obama a mostrar que pretende aproveitar a segunda fase dos oito anos da sua era na Casa Branca para avançar com temas que sempre considerou essenciais para a sua visão da América e do Mundo: a inclusão social; a tolerância para com a diferença; a noção de que «somos todos iguais, somos todos irmãos e temos a obrigação de nos ajudar e proteger».
Há quatro anos, Barack Obama tomava posse num clima de profunda emoção (era notável que um negro estivesse a prestar juramento como Presidente dos EUA), mas também num ambiente de medo (o sistema financeiro estava a dias de poder colapsar).
Quatro anos depois, a Economia continua com problemas, mas Barack Obama iniciou o caminho da «longa estrada da recuperação»: os custos de guerra estão a baixar, o desemprego está a descer há três anos seguidos.
Mesmo com um Congresso politicamente dividido, parece haver, finalmente, condições para que o Presidente consiga impor a sua agenda num clima de relativa normalidade.
O segredo do exceexcelente discurso da segunda posse de Obama foi juntar, em menos de 20 minutos, o respeito pelos equilíbrios do sistema com a clara assunção sobre de que lado está o Presidente.
Barack Obama tem, na prática, dois anos para para definir o sucesso do seu segundo mandato. A partir do outono de 2014, as atenções estarão focadas nas eleições intercalares e, obviamente, na sua sucessão na Casa Branca.
Chegou o tempo da concretização. E tudo indica que isso será bom.
David Brooks chamou-lhe «um dos melhores discursos de posse do último meio século americano». A inauguração do segundo mandato de Barack Obama foi, ao mesmo tempo, rica e surpreendente.
A tradição aponta para que os discursos de posse sejam generalistas e neutrais. A parte mais política costuma ser reservada para os discursos do Estado da União.
Com uma carga mais simbólica, as tomadas de posse costumam apelar aos valores fundadores do sistema e menos para a a parte ideológica.
Mas Barack Obama deu claro sinal de que não quer perder tempo. Legitimado pela reeleição, fez questão de se antecipar ao que vai dizer a 12 de fevereiro, no Estado da União.
Obama começou por destacar valores fundadores e apelar à união, ao repetir, nos primeiros minutos: «Somos um só povo, uma só nação». Mas já aí estava a remeter para uma ideia que dominou a reta final da reeleição. Obama envolveu os riscos que a América corre na força que aquele país continua a mostrar na hora da adversidade: «Somos América», insistiu.
O mais surpreendente viria a seguir. «A nossa jornada não está completa», lançou, como que a avisar para o registo que apareceria de seguida.
«Uma década de guerra terminou. A economia está a recuperar. As possibilidades da América são ilimitadas. Temos todas as condições para responder aos desafios que se nos deparam. O risco é, para os Estados Unidos, uma oportunidade para nos reinventarmos, para a inovação».
«Quando os tempos mudam, nós também temos que mudar», exortou o Presidente. A deixa ideal para enunciar prioridades para o segundo mandato: reforma da imigração mais compreensiva; criar condições para que os EUA sejam uma superpotência energética e caminham para a independência nessa área central; endereçar soluções que travem o risco das alterações climáticas; proteger a sustentabilidade de programas cruciais para milhões de americanos, como o Medicare e o Medicaid.
Obama fez história ao ser o primeiro Presidente a dizer a palavra «gay» num discurso de posse. No segundo mandato, estará menos preocupado em criar equilíbrios com o o outro lado e pretende assumir as suas posições ideológicas.
A base democrata adorou. Sentiu, finalmente, que Obama lhe disse: «Vocês elegeram-me. Sou o vosso Presidente».
Terá sido um Obama mais liberal, menos centrista? Não, necessariamente. Foi, certamente, um Obama a mostrar que pretende aproveitar a segunda fase dos oito anos da sua era na Casa Branca para avançar com temas que sempre considerou essenciais para a sua visão da América e do Mundo: a inclusão social; a tolerância para com a diferença; a noção de que «somos todos iguais, somos todos irmãos e temos a obrigação de nos ajudar e proteger».
Há quatro anos, Barack Obama tomava posse num clima de profunda emoção (era notável que um negro estivesse a prestar juramento como Presidente dos EUA), mas também num ambiente de medo (o sistema financeiro estava a dias de poder colapsar).
Quatro anos depois, a Economia continua com problemas, mas Barack Obama iniciou o caminho da «longa estrada da recuperação»: os custos de guerra estão a baixar, o desemprego está a descer há três anos seguidos.
Mesmo com um Congresso politicamente dividido, parece haver, finalmente, condições para que o Presidente consiga impor a sua agenda num clima de relativa normalidade.
O segredo do exceexcelente discurso da segunda posse de Obama foi juntar, em menos de 20 minutos, o respeito pelos equilíbrios do sistema com a clara assunção sobre de que lado está o Presidente.
Barack Obama tem, na prática, dois anos para para definir o sucesso do seu segundo mandato. A partir do outono de 2014, as atenções estarão focadas nas eleições intercalares e, obviamente, na sua sucessão na Casa Branca.
Chegou o tempo da concretização. E tudo indica que isso será bom.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Histórias da Casa Branca: a tarefa volta a ser gigantesca
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 21 DE JANEIRO DE 2013:
Barack Hussein Obama, 51 anos, nascido em Honolulu, Havai, filho de um queniano que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA e de uma antropóloga americana branca, do Kansas, será, a partir de hoje, o 17.º Presidente da história americana a tomar posse pela segunda vez, apenas o sétimo a iniciar segundo mandato no último século.
Perante 800 mil pessoas, o 44.º Presidente dos EUA começa, a partir de hoje, a segunda fase de um caminho que, ele próprio, traçou para oito anos.
Os primeiros quatro foram manchados pelo fantasma da Grande Depressão, da quase derrocada do sistema financeiro, do consequente impacto económico do pânico de 2007/2009, por um ambiente malsão em Washington, com um Partido Republicano demasiado contagiado pelo Tea Party, a ameaçar a tradição de consensos bipartidários na capital política americana.
Mas o período janeiro 2009/ janeiro 2013, que hoje termina, foi também valorizado por importantes vitórias do primeiro presidente negro da história da América: a travagem do pânico, o início da «longa estrada da recuperação», três anos seguidos de criação de emprego, aprovação da Reforma da Saúde tendencialmente universal, salvação da indústria automóvel do Michigan e do Ohio, eliminação de Bin Laden e de outros líderes da Al Qaeda, retirada do Iraque e do Afeganistão.
Alguns destes feitos políticos têm uma agenda associada que não é consensual e podem ser alvo de contestação subjetiva.
Na América, o Presidente é, em simultâneo, o representante do povo e um político com uma agenda ideológica, líder de um executivo que toma decisões discutíveis.
Essa junção mostra-se, muitas vezes, paradoxal. A forte contestação de que Barack Obama foi alvo junto da oposição republicana nestes últimos quatro anos não será saudável para a imagem pública do Presidente, que (à exceção dos dias seguintes à morte de Bin Laden, em que chegou a 60 por cento), nunca passou dos 53 por cento de aprovação.
É precisamente com esses níveis que Barack Obama arranca para a segunda fase da sua era. Terá chegado o momento de olhar para o legado.
Robert Samuelson, colunista do Washington Post, identifica a dificuldade da empreitada: «A questão do legado pode ser ainda mais difícil do que Barack Obama imagina. Neste início de segundo mandato, o Presidente tem uma agenda focada mas ainda não completamente clara: atingir a grande presidencial perante os americanos e perante os historiadores. E nisso é muito provável que ele possa falhar. Ele já é um presidente histórico, por ser o primeiro presidente afro-americano da história da América. Mas há uma grande diferença entre ser histórico e ser grande».
Os detalhes do plano Obama para os próximos quatro anos serão enunciados no discurso sobre o Estado da União, no próximo dia 12 de fevereiro.
O discurso de hoje, mais geral e menos politizado, deverá apontar para os valores fundadores da América, recuperando-os para a visão moderna que o Presidente projeta para esta segunda década do século XXI.
Barack Obama, o primeiro político americano que compreendeu que os EUA mudaram por completo a sua estrutura demográfica e, por arrasto, a sua mentalidade, falará, daqui a poucas horas, da sua forma de aprofundar esperança numa América diferente, diversa.
O registo do discurso de hoje favorece os pontos fortes de Obama: emoção, eloquência, dimensão histórica do momento.
Mas restam dúvidas sobre se o agora Presidente reeleito será capaz de atingir a tal «grandeza» que Samuelson enunciava. Se não aproveitar os últimos quatro anos para reduzir o fantasma da dívida e reforçar a liderança americana num Mundo cada vez mais influenciado pela China, os sucessos já conquistados podem ser esquecidos pelos livros de História. »
Barack Hussein Obama, 51 anos, nascido em Honolulu, Havai, filho de um queniano que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA e de uma antropóloga americana branca, do Kansas, será, a partir de hoje, o 17.º Presidente da história americana a tomar posse pela segunda vez, apenas o sétimo a iniciar segundo mandato no último século.
Perante 800 mil pessoas, o 44.º Presidente dos EUA começa, a partir de hoje, a segunda fase de um caminho que, ele próprio, traçou para oito anos.
Os primeiros quatro foram manchados pelo fantasma da Grande Depressão, da quase derrocada do sistema financeiro, do consequente impacto económico do pânico de 2007/2009, por um ambiente malsão em Washington, com um Partido Republicano demasiado contagiado pelo Tea Party, a ameaçar a tradição de consensos bipartidários na capital política americana.
Mas o período janeiro 2009/ janeiro 2013, que hoje termina, foi também valorizado por importantes vitórias do primeiro presidente negro da história da América: a travagem do pânico, o início da «longa estrada da recuperação», três anos seguidos de criação de emprego, aprovação da Reforma da Saúde tendencialmente universal, salvação da indústria automóvel do Michigan e do Ohio, eliminação de Bin Laden e de outros líderes da Al Qaeda, retirada do Iraque e do Afeganistão.
Alguns destes feitos políticos têm uma agenda associada que não é consensual e podem ser alvo de contestação subjetiva.
Na América, o Presidente é, em simultâneo, o representante do povo e um político com uma agenda ideológica, líder de um executivo que toma decisões discutíveis.
Essa junção mostra-se, muitas vezes, paradoxal. A forte contestação de que Barack Obama foi alvo junto da oposição republicana nestes últimos quatro anos não será saudável para a imagem pública do Presidente, que (à exceção dos dias seguintes à morte de Bin Laden, em que chegou a 60 por cento), nunca passou dos 53 por cento de aprovação.
É precisamente com esses níveis que Barack Obama arranca para a segunda fase da sua era. Terá chegado o momento de olhar para o legado.
Robert Samuelson, colunista do Washington Post, identifica a dificuldade da empreitada: «A questão do legado pode ser ainda mais difícil do que Barack Obama imagina. Neste início de segundo mandato, o Presidente tem uma agenda focada mas ainda não completamente clara: atingir a grande presidencial perante os americanos e perante os historiadores. E nisso é muito provável que ele possa falhar. Ele já é um presidente histórico, por ser o primeiro presidente afro-americano da história da América. Mas há uma grande diferença entre ser histórico e ser grande».
Os detalhes do plano Obama para os próximos quatro anos serão enunciados no discurso sobre o Estado da União, no próximo dia 12 de fevereiro.
O discurso de hoje, mais geral e menos politizado, deverá apontar para os valores fundadores da América, recuperando-os para a visão moderna que o Presidente projeta para esta segunda década do século XXI.
Barack Obama, o primeiro político americano que compreendeu que os EUA mudaram por completo a sua estrutura demográfica e, por arrasto, a sua mentalidade, falará, daqui a poucas horas, da sua forma de aprofundar esperança numa América diferente, diversa.
O registo do discurso de hoje favorece os pontos fortes de Obama: emoção, eloquência, dimensão histórica do momento.
Mas restam dúvidas sobre se o agora Presidente reeleito será capaz de atingir a tal «grandeza» que Samuelson enunciava. Se não aproveitar os últimos quatro anos para reduzir o fantasma da dívida e reforçar a liderança americana num Mundo cada vez mais influenciado pela China, os sucessos já conquistados podem ser esquecidos pelos livros de História. »
domingo, 20 de janeiro de 2013
Histórias da Casa Branca: um povo, um futuro
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 20 DE JANEIRO DE 2013:
Barack Obama presta esta tarde juramento para o segundo mandato, mas apenas numa cerimónia privada. As tomadas de posse costumam ser a 20 de janeiro, só que desta vez calhou a um domingo e o comité de organização 57.ª Inauguração Presidencial decidiu deslocar as cerimónias oficiais para dia 21, segunda-feira.
O segundo «inaugural speech» de Barack Obama será, por isso, amanhã. Mas a equipa que rodeia o Presidente já libertou um vídeo onde o Presidente avança algumas ideias que pretende transmitir no discurso de investidura.
A ideia forte será a de «um povo, um futuro». Barack Obama reforçará a tese, que foi repetindo durante o longo período eleitoral que marcou o ano de 2012, de que a visão «estamos todos nisto juntos» («we are all in this together»), focada pelos democratas na peleja contra Mitt Romney, foi a que prevaleceu sobre a tese «cada um por si», que os republicanos pareciam transmitir, naquele mantra de afastar qualquer tipo de subida de impostos, mesmo para os mais ricos ¿ e mesmo à custa de cortes nas despesas sociais mais básicas.
Obama começou o discurso de vitória na noite eleitoral de 6 de novembro passado observando que a sua reeleição era a prova de que «a América é um país uno, que prosperará ou cairá junto, como uma só nação, como um só povo».
Ao acrescentar, na investidura de segunda-feira, a noção de «um futuro», a seguir a essa ideia de «um só povo», o Presidente mostra que tem como prioridade das prioridades no seu segundo mandato um enfoque na reconciliação.
Mas, desta vez, não a tal «reconciliação impossível» com os republicanos do Congresso. «Reconciliação» da América enquanto povo que tem «muito mais em comum do que as diferenças que o separam», para repegar uma das ideias iniciais de Obama, quando era um jovem político a candidatar-se ao Senado, em 2004.
O que podemos, então, esperar do discurso de segunda-feira? Um Obama a puxar pelos melhores valores da América (união, trabalho, sacrifício); a apontar para o futuro (desafiando à inovação, apelando à excelência); a consolidar a sua visão de uma sociedade «de partilha», com um equilíbrio entre o que «todos devemos dar e o que todos devem ter direito».
Barack Obama gosta de recordar que, ao contrário do que muitos republicanos o acusam, ele não acredita que o Governo seja «a solução para todos os problemas». Mas também não acredita que o Governo seja «a fonte de todos os problemas».
Deste modo, o Presidente aproveita o balanço eleitoral da sua reeleição para reforçar, no segundo mandato, que é fundamental que, para que todos tenham «a sua oportunidade», os EUA continuem a garantir educação e continuam a apostar na inovação. «Se há um jovem que não tem a oportunidade de estudar ou de se tratar de uma doença, isso não afeta só os seus pais. Afeta-nos a todos, enquanto país e enquanto sociedade. Porque há um talento que poderia estar ao serviço de todos e que não é devidamente aproveitado», apontou Obama, no discurso de vitória na noite da reeleição.
É esta visão que deverá ser sublinhada na segunda tomada de posse. A América tem características que tornam virtualmente possível a criação de uma «unidade nacional» em todos os temas.
Mas Barack Obama nunca teve tantas condições para se afirmar como o motor dos grandes consensos em temas cruciais: consumou o fim de uma década de guerra; lançou as bases para uma recuperação demorada, mas sustentada, da economia americana; puxou a discussão do «gun control» para primeiro plano, como há duas décadas um Presidente americano não fazia.
Temas como a dívida excessiva, a independência energética, as alterações climáticas e a reforma da imigração também devem marcar o discurso de amanhã.
Barack Obama presta esta tarde juramento para o segundo mandato, mas apenas numa cerimónia privada. As tomadas de posse costumam ser a 20 de janeiro, só que desta vez calhou a um domingo e o comité de organização 57.ª Inauguração Presidencial decidiu deslocar as cerimónias oficiais para dia 21, segunda-feira.
O segundo «inaugural speech» de Barack Obama será, por isso, amanhã. Mas a equipa que rodeia o Presidente já libertou um vídeo onde o Presidente avança algumas ideias que pretende transmitir no discurso de investidura.
A ideia forte será a de «um povo, um futuro». Barack Obama reforçará a tese, que foi repetindo durante o longo período eleitoral que marcou o ano de 2012, de que a visão «estamos todos nisto juntos» («we are all in this together»), focada pelos democratas na peleja contra Mitt Romney, foi a que prevaleceu sobre a tese «cada um por si», que os republicanos pareciam transmitir, naquele mantra de afastar qualquer tipo de subida de impostos, mesmo para os mais ricos ¿ e mesmo à custa de cortes nas despesas sociais mais básicas.
Obama começou o discurso de vitória na noite eleitoral de 6 de novembro passado observando que a sua reeleição era a prova de que «a América é um país uno, que prosperará ou cairá junto, como uma só nação, como um só povo».
Ao acrescentar, na investidura de segunda-feira, a noção de «um futuro», a seguir a essa ideia de «um só povo», o Presidente mostra que tem como prioridade das prioridades no seu segundo mandato um enfoque na reconciliação.
Mas, desta vez, não a tal «reconciliação impossível» com os republicanos do Congresso. «Reconciliação» da América enquanto povo que tem «muito mais em comum do que as diferenças que o separam», para repegar uma das ideias iniciais de Obama, quando era um jovem político a candidatar-se ao Senado, em 2004.
O que podemos, então, esperar do discurso de segunda-feira? Um Obama a puxar pelos melhores valores da América (união, trabalho, sacrifício); a apontar para o futuro (desafiando à inovação, apelando à excelência); a consolidar a sua visão de uma sociedade «de partilha», com um equilíbrio entre o que «todos devemos dar e o que todos devem ter direito».
Barack Obama gosta de recordar que, ao contrário do que muitos republicanos o acusam, ele não acredita que o Governo seja «a solução para todos os problemas». Mas também não acredita que o Governo seja «a fonte de todos os problemas».
Deste modo, o Presidente aproveita o balanço eleitoral da sua reeleição para reforçar, no segundo mandato, que é fundamental que, para que todos tenham «a sua oportunidade», os EUA continuem a garantir educação e continuam a apostar na inovação. «Se há um jovem que não tem a oportunidade de estudar ou de se tratar de uma doença, isso não afeta só os seus pais. Afeta-nos a todos, enquanto país e enquanto sociedade. Porque há um talento que poderia estar ao serviço de todos e que não é devidamente aproveitado», apontou Obama, no discurso de vitória na noite da reeleição.
É esta visão que deverá ser sublinhada na segunda tomada de posse. A América tem características que tornam virtualmente possível a criação de uma «unidade nacional» em todos os temas.
Mas Barack Obama nunca teve tantas condições para se afirmar como o motor dos grandes consensos em temas cruciais: consumou o fim de uma década de guerra; lançou as bases para uma recuperação demorada, mas sustentada, da economia americana; puxou a discussão do «gun control» para primeiro plano, como há duas décadas um Presidente americano não fazia.
Temas como a dívida excessiva, a independência energética, as alterações climáticas e a reforma da imigração também devem marcar o discurso de amanhã.
Segundo mandato de Obama: os anos da concretização (opinião)
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, 19 DE JANEIRO DE 2013:
Barack Obama presta esta tarde juramento para o segundo mandato, mas apenas numa cerimónia privada. As tomadas de posse costumam ser a 20 de janeiro, só que desta vez calhou a um domingo e o comité de organização 57.ª Inauguração Presidencial decidiu deslocar as cerimónias oficiais para dia 21, segunda-feira.
O segundo «inaugural speech» de Barack Obama será, por isso, amanhã. Mas a equipa que rodeia o Presidente já libertou um vídeo onde o Presidente avança algumas ideias que pretende transmitir no discurso de investidura.
A ideia forte será a de «um povo, um futuro». Barack Obama reforçará a tese, que foi repetindo durante o longo período eleitoral que marcou o ano de 2012, de que a visão «estamos todos nisto juntos» («we are all in this together»), focada pelos democratas na peleja contra Mitt Romney, foi a que prevaleceu sobre a tese «cada um por si», que os republicanos pareciam transmitir, naquele mantra de afastar qualquer tipo de subida de impostos, mesmo para os mais ricos ¿ e mesmo à custa de cortes nas despesas sociais mais básicas.
Obama começou o discurso de vitória na noite eleitoral de 6 de novembro passado observando que a sua reeleição era a prova de que «a América é um país uno, que prosperará ou cairá junto, como uma só nação, como um só povo».
Ao acrescentar, na investidura de segunda-feira, a noção de «um futuro», a seguir a essa ideia de «um só povo», o Presidente mostra que tem como prioridade das prioridades no seu segundo mandato um enfoque na reconciliação.
Mas, desta vez, não a tal «reconciliação impossível» com os republicanos do Congresso. «Reconciliação» da América enquanto povo que tem «muito mais em comum do que as diferenças que o separam», para repegar uma das ideias iniciais de Obama, quando era um jovem político a candidatar-se ao Senado, em 2004.
O que podemos, então, esperar do discurso de segunda-feira? Um Obama a puxar pelos melhores valores da América (união, trabalho, sacrifício); a apontar para o futuro (desafiando à inovação, apelando à excelência); a consolidar a sua visão de uma sociedade «de partilha», com um equilíbrio entre o que «todos devemos dar e o que todos devem ter direito».
Barack Obama gosta de recordar que, ao contrário do que muitos republicanos o acusam, ele não acredita que o Governo seja «a solução para todos os problemas». Mas também não acredita que o Governo seja «a fonte de todos os problemas».
Deste modo, o Presidente aproveita o balanço eleitoral da sua reeleição para reforçar, no segundo mandato, que é fundamental que, para que todos tenham «a sua oportunidade», os EUA continuem a garantir educação e continuam a apostar na inovação. «Se há um jovem que não tem a oportunidade de estudar ou de se tratar de uma doença, isso não afeta só os seus pais. Afeta-nos a todos, enquanto país e enquanto sociedade. Porque há um talento que poderia estar ao serviço de todos e que não é devidamente aproveitado», apontou Obama, no discurso de vitória na noite da reeleição.
É esta visão que deverá ser sublinhada na segunda tomada de posse. A América tem características que tornam virtualmente possível a criação de uma «unidade nacional» em todos os temas.
Mas Barack Obama nunca teve tantas condições para se afirmar como o motor dos grandes consensos em temas cruciais: consumou o fim de uma década de guerra; lançou as bases para uma recuperação demorada, mas sustentada, da economia americana; puxou a discussão do «gun control» para primeiro plano, como há duas décadas um Presidente americano não fazia.
Temas como a dívida excessiva, a independência energética, as alterações climáticas e a reforma da imigração também devem marcar o discurso de amanhã.
Barack Obama presta esta tarde juramento para o segundo mandato, mas apenas numa cerimónia privada. As tomadas de posse costumam ser a 20 de janeiro, só que desta vez calhou a um domingo e o comité de organização 57.ª Inauguração Presidencial decidiu deslocar as cerimónias oficiais para dia 21, segunda-feira.
O segundo «inaugural speech» de Barack Obama será, por isso, amanhã. Mas a equipa que rodeia o Presidente já libertou um vídeo onde o Presidente avança algumas ideias que pretende transmitir no discurso de investidura.
A ideia forte será a de «um povo, um futuro». Barack Obama reforçará a tese, que foi repetindo durante o longo período eleitoral que marcou o ano de 2012, de que a visão «estamos todos nisto juntos» («we are all in this together»), focada pelos democratas na peleja contra Mitt Romney, foi a que prevaleceu sobre a tese «cada um por si», que os republicanos pareciam transmitir, naquele mantra de afastar qualquer tipo de subida de impostos, mesmo para os mais ricos ¿ e mesmo à custa de cortes nas despesas sociais mais básicas.
Obama começou o discurso de vitória na noite eleitoral de 6 de novembro passado observando que a sua reeleição era a prova de que «a América é um país uno, que prosperará ou cairá junto, como uma só nação, como um só povo».
Ao acrescentar, na investidura de segunda-feira, a noção de «um futuro», a seguir a essa ideia de «um só povo», o Presidente mostra que tem como prioridade das prioridades no seu segundo mandato um enfoque na reconciliação.
Mas, desta vez, não a tal «reconciliação impossível» com os republicanos do Congresso. «Reconciliação» da América enquanto povo que tem «muito mais em comum do que as diferenças que o separam», para repegar uma das ideias iniciais de Obama, quando era um jovem político a candidatar-se ao Senado, em 2004.
O que podemos, então, esperar do discurso de segunda-feira? Um Obama a puxar pelos melhores valores da América (união, trabalho, sacrifício); a apontar para o futuro (desafiando à inovação, apelando à excelência); a consolidar a sua visão de uma sociedade «de partilha», com um equilíbrio entre o que «todos devemos dar e o que todos devem ter direito».
Barack Obama gosta de recordar que, ao contrário do que muitos republicanos o acusam, ele não acredita que o Governo seja «a solução para todos os problemas». Mas também não acredita que o Governo seja «a fonte de todos os problemas».
Deste modo, o Presidente aproveita o balanço eleitoral da sua reeleição para reforçar, no segundo mandato, que é fundamental que, para que todos tenham «a sua oportunidade», os EUA continuem a garantir educação e continuam a apostar na inovação. «Se há um jovem que não tem a oportunidade de estudar ou de se tratar de uma doença, isso não afeta só os seus pais. Afeta-nos a todos, enquanto país e enquanto sociedade. Porque há um talento que poderia estar ao serviço de todos e que não é devidamente aproveitado», apontou Obama, no discurso de vitória na noite da reeleição.
É esta visão que deverá ser sublinhada na segunda tomada de posse. A América tem características que tornam virtualmente possível a criação de uma «unidade nacional» em todos os temas.
Mas Barack Obama nunca teve tantas condições para se afirmar como o motor dos grandes consensos em temas cruciais: consumou o fim de uma década de guerra; lançou as bases para uma recuperação demorada, mas sustentada, da economia americana; puxou a discussão do «gun control» para primeiro plano, como há duas décadas um Presidente americano não fazia.
Temas como a dívida excessiva, a independência energética, as alterações climáticas e a reforma da imigração também devem marcar o discurso de amanhã.
Histórias da Casa Branca: do entusiasmo ao legado
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 19 DE JANEIRO DE 2013:
«Criámos o enquadramento para uma contínua liderança americana, ao longo do século XXI. Penso nestes oito anos como um projeto em que, internamente, acomodámos todas as alterações demográficas, culturais e tecnológicas que ocorrem actualmente, e fomos capazes de as conjugar com algumas das velhas virtudes do trabalho duro, da disciplina e da responsabilidade - tudo de uma maneira que nos permite ter êxito e prosperar. Não apenas para alguns no topo, mas para muitos».
Barack Obama, entrevista à TIME a propósito de ter sido escolhido Personalidade do Ano 2012
Na antevéspera de Barack Obama prestar juramento como 17.º Presidente americano que conseguiu obter a reeleição, as perspectivas em torno do segundo mandato presidencial são melhores do que as que existiam há quatro anos.
A memória coletiva por vezes é traiçoeira. Da fantástica corrida de 2008, ficou o mobilizador «yes we can» e o dado histórico de que acabara de ser eleito o primeiro Presidente negro da história americana.
Mas a verdade é que a tomada de posse de há precisamente quatro anos teve, mais do que o lado da emoção de ver um político como Barack Obama prestar juramento, uma carga de medo pelo momento que se estava a viver.
Embora ainda não houvesse a total noção disso a 20 de janeiro de 2009, a América estava a dias de poder ver o seu sistema financeiro colapsar.
Quatro anos volvidos, o ambiente económico continua a ser preocupante ¿ mas não há comparação. Os EUA estão há três anos seguidos a criar emprego e o fantasma do desmoronamento dos mercados financeiros parece, pelo menos para já, afastados.
Obama identificou esta comparação na entrevista que concedeu à TIME no final de dezembro: «A vitória de 2012 pode ter sido mais compensadora que a de 2008 - porque 2008 foi tudo divertimento e excitação, pelo menos é assim que as pessoas recordam. Vivemos um tempo muito difícil. O povo americano sentiu-se frustrado com o ritmo da mudança, a economia continua periclitante, e este Presidente que elegemos é imperfeito, mas, apesar de tudo isso, é assim que queremos ser. E isso é bom.»
O primeiro mandato de Barack Obama talvez venha a ser recordado nos livros de História como o momento em que se evitou o descalabro e se deu início a uma longa, e por vezes frustrante, recuperação.
Já sem a obrigação de tentar a reeleição nas próximas presidenciais, Barack Obama pode focar-se, no segundo mandato, em avançar em áreas que foram sendo adiadas pela turbulência dos primeiros quatro anos.
«Eu sei que a vitória de 2008 teve sensações muito especiais, mas acho (acho sinceramente) que Obama tem melhores condições para concretizar a 'mudança' depois da reeleição», apontou Bill Clinton, durante a campanha eleitoral de novembro passado.
Os tempos políticos e mediáticos que correm não são muito dados a reflexões profundas ou memórias prolongadas.
Mas se fizermos um pequeno esforço de consulta, percebemos que Barack Obama, mesmo na campanha exultante de 2008 (na qual muitos lhe apontaram alguns exageros nas promessas de mudança) sempre falou numa «mudança lenta, que pode demorar anos, possivelmente mais de quatro, se calhar até mais do que oito».
Se a proposta transformadora de Obama precisa de oito anos para se concretizar, após a inauguração desta segunda-feira começará a segunda fase da agenda que o 44.º Presidente dos EUA tem vindo a defender desde 2004, quando se tornou figura de topo na alta política americana.
«Criámos o enquadramento para uma contínua liderança americana, ao longo do século XXI. Penso nestes oito anos como um projeto em que, internamente, acomodámos todas as alterações demográficas, culturais e tecnológicas que ocorrem actualmente, e fomos capazes de as conjugar com algumas das velhas virtudes do trabalho duro, da disciplina e da responsabilidade - tudo de uma maneira que nos permite ter êxito e prosperar. Não apenas para alguns no topo, mas para muitos».
Barack Obama, entrevista à TIME a propósito de ter sido escolhido Personalidade do Ano 2012
Na antevéspera de Barack Obama prestar juramento como 17.º Presidente americano que conseguiu obter a reeleição, as perspectivas em torno do segundo mandato presidencial são melhores do que as que existiam há quatro anos.
A memória coletiva por vezes é traiçoeira. Da fantástica corrida de 2008, ficou o mobilizador «yes we can» e o dado histórico de que acabara de ser eleito o primeiro Presidente negro da história americana.
Mas a verdade é que a tomada de posse de há precisamente quatro anos teve, mais do que o lado da emoção de ver um político como Barack Obama prestar juramento, uma carga de medo pelo momento que se estava a viver.
Embora ainda não houvesse a total noção disso a 20 de janeiro de 2009, a América estava a dias de poder ver o seu sistema financeiro colapsar.
Quatro anos volvidos, o ambiente económico continua a ser preocupante ¿ mas não há comparação. Os EUA estão há três anos seguidos a criar emprego e o fantasma do desmoronamento dos mercados financeiros parece, pelo menos para já, afastados.
Obama identificou esta comparação na entrevista que concedeu à TIME no final de dezembro: «A vitória de 2012 pode ter sido mais compensadora que a de 2008 - porque 2008 foi tudo divertimento e excitação, pelo menos é assim que as pessoas recordam. Vivemos um tempo muito difícil. O povo americano sentiu-se frustrado com o ritmo da mudança, a economia continua periclitante, e este Presidente que elegemos é imperfeito, mas, apesar de tudo isso, é assim que queremos ser. E isso é bom.»
O primeiro mandato de Barack Obama talvez venha a ser recordado nos livros de História como o momento em que se evitou o descalabro e se deu início a uma longa, e por vezes frustrante, recuperação.
Já sem a obrigação de tentar a reeleição nas próximas presidenciais, Barack Obama pode focar-se, no segundo mandato, em avançar em áreas que foram sendo adiadas pela turbulência dos primeiros quatro anos.
«Eu sei que a vitória de 2008 teve sensações muito especiais, mas acho (acho sinceramente) que Obama tem melhores condições para concretizar a 'mudança' depois da reeleição», apontou Bill Clinton, durante a campanha eleitoral de novembro passado.
Os tempos políticos e mediáticos que correm não são muito dados a reflexões profundas ou memórias prolongadas.
Mas se fizermos um pequeno esforço de consulta, percebemos que Barack Obama, mesmo na campanha exultante de 2008 (na qual muitos lhe apontaram alguns exageros nas promessas de mudança) sempre falou numa «mudança lenta, que pode demorar anos, possivelmente mais de quatro, se calhar até mais do que oito».
Se a proposta transformadora de Obama precisa de oito anos para se concretizar, após a inauguração desta segunda-feira começará a segunda fase da agenda que o 44.º Presidente dos EUA tem vindo a defender desde 2004, quando se tornou figura de topo na alta política americana.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Histórias da Casa Branca: vontade de compromisso
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 18 DE JANEIRO DE 2013:
A três dias da sua segunda inauguração como 44.º Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama para novo mandato com um apoio reforçado da opinião pública para se bater por um ambiente de maior compromisso em Washington.
De acordo com um estudo do Pew Research Center, o Presidente inicia o segundo mandato com uma Taxa de Aprovação de 52 por cento (semelhante, por isso, aos valores de votação que obteve na eleição de novembro passado) e, mais importante que isso, com uma perceção de favorabilidade de 59 por cento.
Quer isto dizer que, depois de fases no primeiro mandato em que a popularidade de Barack Obama ameaçava bater nos 40%, o Presidente conseguiu aproveitar a onda da reeleição para iniciar a segunda metade do seu ciclo de oito anos com nível bastante aceitáveis para uma América dividida ideologicamente ao meio, entre democratas e republicanos.
Num país tão grande e diverso como os EUA, os números podem enganar um pouco. Mesmo com estes dados tão favoráveis, continuam a existir milhões de americanos que não gostam ou, até, detestam o Presidente que irá tomar posse na próxima segunda-feira, em Washington.
Mas o que ressalta, nesta metade cronológica dos oito anos da era Obama, é que, após a reeleição, e já sem batalhas eleitorais em que Barack Obama vá participar pessoalmente, o Presidente poderá focar-se menos nas guerras políticas com os republicanos e mais na agenda que se comprometeu a cumprir, junto dos americanos.
Obama pode ter ainda muitos adversários e mesmo inimigos na América. Mas é, como Presidente, muito mais popular do que o Congresso de maioria republicana.
Vejamos os números: ainda de acordo com o estudo do Pew Research Center, John Boehner, «speaker» da Câmara dos Representantes, tem apenas 26% de opiniões favoráveis. E Mitch McConnel, líder da minoria republicana no Senado bate ainda mais baixo: apenas 21% de opiniões favoráveis.
Outro dado interessante para Obama, no estudo do Pew: 82% dos americanos (tenham votado em Obama ou Romney) afirmam acreditar que o Presidente luta genuinamente por aquilo que considera ser melhor para a América.
E, assim sendo, Barack Obama parece ter -- ainda que num mar de dificuldades composto por problemas como a «fiscal cliff» (cujo fantasma voltará a aparecer em março) ou o gigante da dívida ¿ condições reforçadas para se bater, nos próximos quatro anos, pela plataforma que defendeu nas eleições de novembro.
Por uma América com maior solidariedade fiscal, em que os 2% mais ricos aceitem pagar mais impostos para que os 98% restantes possam ser aliviados fiscalmente.
Por uma América caracterizada por uma «we are all in this together society» (estamos todos juntos nisto) e não por uma sociedade «winner takes all» (o vencedor fica com tudo) e «you are on your own» (estás por tua conta).
Os próximos dias têm tudo para ser consagração para o Presidente. Mas Barack Obama sabe que poderá ser sol de pouca dura.
A reação violenta da NRA à proposta com 23 medidas que apresentou publicamente para travar a escalada de homicídios com armas é um bom exemplo do que poderá estar para vir.
O «gun control» será um dos temas fortes a marcar o arranque do segundo mandato presidencial de Obama. E mostra que, nos um país como a América, a noção de «unidade» nacional se tora muito difícil de concretizar, quando há fraturas tão fortes como as que existem no tema do acesso às armas.
Stephanie Cutter, que foi diretora-adjunta da campanha de reeleição de Barack Obama, confirmou ontem a Ed Schultz na MSNBC, que «a rede que ajudou à reeleição de Obama já está activada para combater nos media as posições de quem continua a defender o livre de acesso a armas de assalto».
A três dias da sua segunda inauguração como 44.º Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama para novo mandato com um apoio reforçado da opinião pública para se bater por um ambiente de maior compromisso em Washington.
De acordo com um estudo do Pew Research Center, o Presidente inicia o segundo mandato com uma Taxa de Aprovação de 52 por cento (semelhante, por isso, aos valores de votação que obteve na eleição de novembro passado) e, mais importante que isso, com uma perceção de favorabilidade de 59 por cento.
Quer isto dizer que, depois de fases no primeiro mandato em que a popularidade de Barack Obama ameaçava bater nos 40%, o Presidente conseguiu aproveitar a onda da reeleição para iniciar a segunda metade do seu ciclo de oito anos com nível bastante aceitáveis para uma América dividida ideologicamente ao meio, entre democratas e republicanos.
Num país tão grande e diverso como os EUA, os números podem enganar um pouco. Mesmo com estes dados tão favoráveis, continuam a existir milhões de americanos que não gostam ou, até, detestam o Presidente que irá tomar posse na próxima segunda-feira, em Washington.
Mas o que ressalta, nesta metade cronológica dos oito anos da era Obama, é que, após a reeleição, e já sem batalhas eleitorais em que Barack Obama vá participar pessoalmente, o Presidente poderá focar-se menos nas guerras políticas com os republicanos e mais na agenda que se comprometeu a cumprir, junto dos americanos.
Obama pode ter ainda muitos adversários e mesmo inimigos na América. Mas é, como Presidente, muito mais popular do que o Congresso de maioria republicana.
Vejamos os números: ainda de acordo com o estudo do Pew Research Center, John Boehner, «speaker» da Câmara dos Representantes, tem apenas 26% de opiniões favoráveis. E Mitch McConnel, líder da minoria republicana no Senado bate ainda mais baixo: apenas 21% de opiniões favoráveis.
Outro dado interessante para Obama, no estudo do Pew: 82% dos americanos (tenham votado em Obama ou Romney) afirmam acreditar que o Presidente luta genuinamente por aquilo que considera ser melhor para a América.
E, assim sendo, Barack Obama parece ter -- ainda que num mar de dificuldades composto por problemas como a «fiscal cliff» (cujo fantasma voltará a aparecer em março) ou o gigante da dívida ¿ condições reforçadas para se bater, nos próximos quatro anos, pela plataforma que defendeu nas eleições de novembro.
Por uma América com maior solidariedade fiscal, em que os 2% mais ricos aceitem pagar mais impostos para que os 98% restantes possam ser aliviados fiscalmente.
Por uma América caracterizada por uma «we are all in this together society» (estamos todos juntos nisto) e não por uma sociedade «winner takes all» (o vencedor fica com tudo) e «you are on your own» (estás por tua conta).
Os próximos dias têm tudo para ser consagração para o Presidente. Mas Barack Obama sabe que poderá ser sol de pouca dura.
A reação violenta da NRA à proposta com 23 medidas que apresentou publicamente para travar a escalada de homicídios com armas é um bom exemplo do que poderá estar para vir.
O «gun control» será um dos temas fortes a marcar o arranque do segundo mandato presidencial de Obama. E mostra que, nos um país como a América, a noção de «unidade» nacional se tora muito difícil de concretizar, quando há fraturas tão fortes como as que existem no tema do acesso às armas.
Stephanie Cutter, que foi diretora-adjunta da campanha de reeleição de Barack Obama, confirmou ontem a Ed Schultz na MSNBC, que «a rede que ajudou à reeleição de Obama já está activada para combater nos media as posições de quem continua a defender o livre de acesso a armas de assalto».
Histórias da Casa Branca: a parte do «forward» era para levar a sério
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 17 DE JANEIRO DE 2013:
Faltam cinco dias para que Barack Obama leia o segundo discurso de inauguração presidencial e vai-se reforçando a ideia de que os próximos quatro anos terão um Presidente dos Estados Unidos mais disposto a avançar.
Se é verdade que o ambiente que imperou quando da primeira tomada de posse era de quase pânico (estávamos na tempestade financeira e havia quem temesse o descalabro), o clima para o segundo mandato aponta perspetivas mais estimulantes.
Embora ainda marcada pela crise mundial, a economia americana tem um histórico de três anos seguidos de criação de emprego e alguns sinais de recuperação (a subida do preço das casas, depois da queda abruta de finais 2007/inícios de 2009).
Como Bill Clinton destacou na Convenção de Charlotte, «Barack Obama ficará para a história como o Presidente que começou o seu consulado com uma economia fraca e a sofre uma depressão e recolocou a América na longa estrada da recuperação».
Os sinais dados pelo Presidente apontam para que quatro temas tenham especial atenção no segundo mandato: justiça fiscal e redução da dívida; reforma da imigração; independência energética; alterações climáticas.
Alguns destes grandes temas marcaram a discussão eleitoral entre Obama e Romney nas presidenciais de novembro.
Os resultados eleitorais mostraram que o Presidente e os democratas venceram a discussão política sobre a questão dos impostos (ficou claro que a maioria dos americanos acha mais justo que se alivie fiscalmente a classe média e os mais desfavorecidos e se taxe especialmente os mais ricos).
Mas os resultados de novembro mostraram, também, que não é assim tão claro o que a América pensa e sente em temas como o «gun control».
Por vezes, a política tem que ter um abanão da realidade. E foi justamente isso que aconteceu na questão do «gun control».
Obama preferiu, habilmente, silenciar esse tema na peleja eleitoral, sabendo o peso que organizações como a NRA têm em estados eleitoralmente decisivos.
Só que o massacre de Newtown, uma das maiores tragédias ocorridas em solo americano nos últimos anos, recolocou de forma dramática o tema da posse de armas na agenda política.
Logo a seguir resolver (pelo menos até março) o fantasma da «fiscal cliff», Obama lançou o «gun control» para a primeira linha das suas preocupações.
Aproveitou o trabalho prévio feito pelo seu vice-presidente Joe Biden (que ouviu sugestões dos mais diversos intervenientes neste problema, incluindo a NRA).
Viu Andrew Cuomo (seu possível sucessor na Casa Branca em 2016) aprovar, no estado de Nova Iorque, um pacote legislativo especialmente apertado no acesso dos cidadãos às armas. E passou à acção.
Numa conferência de Imprensa muito bem concebida, e que produziu uma momento fotográfico que se arrisca a ficar como um dos melhores da era Obama (veja a foto abaixo), o Presidente anunciou o pacote de medidas mais restritivo das últimas décadas na América.
Percebendo que legislação avulsa dos estados não resolve a questão fundamental num tema como o acesso às armas, o Presidente apelou a uma «discussão mais alargada» deste problema. E apresentou o que o «Washington Post» considera terem sido «as mais abrangentes políticas de controlo de armas em várias gerações».
Obama propôs 23 medidas, entre as quais se destacam a proibição de comprar «armas de assalto» e carregadores com mais de dez munições.
As propostas da Casa Branca vão ser apreciadas pelo Congresso. Talvez passem num Senado de maioria democrata, mas dificilmente serão aprovadas pela Câmara dos Representantes republicana. Mas a discussão está lançada.
Obama escolheu «forward» para o seu slogan de campanha em 2012. E parece que é mesmo para levar a sério.
Faltam cinco dias para que Barack Obama leia o segundo discurso de inauguração presidencial e vai-se reforçando a ideia de que os próximos quatro anos terão um Presidente dos Estados Unidos mais disposto a avançar.
Se é verdade que o ambiente que imperou quando da primeira tomada de posse era de quase pânico (estávamos na tempestade financeira e havia quem temesse o descalabro), o clima para o segundo mandato aponta perspetivas mais estimulantes.
Embora ainda marcada pela crise mundial, a economia americana tem um histórico de três anos seguidos de criação de emprego e alguns sinais de recuperação (a subida do preço das casas, depois da queda abruta de finais 2007/inícios de 2009).
Como Bill Clinton destacou na Convenção de Charlotte, «Barack Obama ficará para a história como o Presidente que começou o seu consulado com uma economia fraca e a sofre uma depressão e recolocou a América na longa estrada da recuperação».
Os sinais dados pelo Presidente apontam para que quatro temas tenham especial atenção no segundo mandato: justiça fiscal e redução da dívida; reforma da imigração; independência energética; alterações climáticas.
Alguns destes grandes temas marcaram a discussão eleitoral entre Obama e Romney nas presidenciais de novembro.
Os resultados eleitorais mostraram que o Presidente e os democratas venceram a discussão política sobre a questão dos impostos (ficou claro que a maioria dos americanos acha mais justo que se alivie fiscalmente a classe média e os mais desfavorecidos e se taxe especialmente os mais ricos).
Mas os resultados de novembro mostraram, também, que não é assim tão claro o que a América pensa e sente em temas como o «gun control».
Por vezes, a política tem que ter um abanão da realidade. E foi justamente isso que aconteceu na questão do «gun control».
Obama preferiu, habilmente, silenciar esse tema na peleja eleitoral, sabendo o peso que organizações como a NRA têm em estados eleitoralmente decisivos.
Só que o massacre de Newtown, uma das maiores tragédias ocorridas em solo americano nos últimos anos, recolocou de forma dramática o tema da posse de armas na agenda política.
Logo a seguir resolver (pelo menos até março) o fantasma da «fiscal cliff», Obama lançou o «gun control» para a primeira linha das suas preocupações.
Aproveitou o trabalho prévio feito pelo seu vice-presidente Joe Biden (que ouviu sugestões dos mais diversos intervenientes neste problema, incluindo a NRA).
Viu Andrew Cuomo (seu possível sucessor na Casa Branca em 2016) aprovar, no estado de Nova Iorque, um pacote legislativo especialmente apertado no acesso dos cidadãos às armas. E passou à acção.
Numa conferência de Imprensa muito bem concebida, e que produziu uma momento fotográfico que se arrisca a ficar como um dos melhores da era Obama (veja a foto abaixo), o Presidente anunciou o pacote de medidas mais restritivo das últimas décadas na América.
Percebendo que legislação avulsa dos estados não resolve a questão fundamental num tema como o acesso às armas, o Presidente apelou a uma «discussão mais alargada» deste problema. E apresentou o que o «Washington Post» considera terem sido «as mais abrangentes políticas de controlo de armas em várias gerações».
Obama propôs 23 medidas, entre as quais se destacam a proibição de comprar «armas de assalto» e carregadores com mais de dez munições.
As propostas da Casa Branca vão ser apreciadas pelo Congresso. Talvez passem num Senado de maioria democrata, mas dificilmente serão aprovadas pela Câmara dos Representantes republicana. Mas a discussão está lançada.
Obama escolheu «forward» para o seu slogan de campanha em 2012. E parece que é mesmo para levar a sério.
Histórias da Casa Branca: o triunfo do senso comum
TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 16 DE JANEIRO DE 2013:
Barack Obama está a poucos dias de iniciar um segundo mandato e dá mostras de não querer repetir alguns erros cometidos nos primeiros quatro anos.
A noção de que é possível «convencer o outro lado da barricada», mesmo quando as posições iniciais eram radicalmente diferentes, deixou de prevalecer.
Essa foi uma das ideias chave da primeira eleição de Obama, mas claramente foi relegada na narrativa da segunda vitória presidencial, em 2012.
A forma como o Presidente preparou a sua Administração, para o segundo mandato, dá conta desta mudança de prioridades.
Há quatro anos, Barack Obama mostrou querer interpretar a herança de Lincoln, ao fazer a sua versão do «team of rivals»: escolheu um vice-presidente (Joe Biden) e uma secretária de Estado (Hillary Clinton) que o haviam defrontado nas primárias; nomeou várias pessoas para a sua administração que tinham apoiado Hillary e não Obama no processo de escolha presidencial do Partido Democrata; e apontou três republicanos para lugares importantes do seu governo (sendo que um deles, Bob Gates, era até o secretário da Defesa na Administração Bush).
Quatro anos depois, passou a prevalecer o conceito da confiança e da proximidade. Obama deu prioridade a pessoas que lhe são mais próximas e que lhe dão mais garantias de uma menor dispersão na forma como irá conduzir a segunda administração: Jack Lew para seu chefe de gabinete, John Kerry para chefe da diplomacia (figura que o apoia desde o início das primárias de 2008, e amigo pessoal, ao contrário do que sucedia com Hillary), Chuck Hagel na Defesa (um republicano «old school», que não alinha nos desvios radicais do actual conservadorismo e que era uma das pessoas mais próximas de Obama no Senado, com posições muito idênticas em relação ao que os EUA deveriam fazer no Iraque e no Afeganistão).
John Brennan, futuro diretor da CIA, teve um papel crucial no aconselhamento ao Presidente nos momentos mais tenso do primeiro mandato no que se refere a Segurança Nacional, sobretudo na operação especial que levou à eliminação de Bin Laden.
As escolhas de Hagel e Brennan provam, também, que desta vez Obama não está a dar muita importância ao que o outro lado vai pensar. Os republicanos no Congresso detestam o antigo senador do Nebraska (consideram-no uma espécie de traidor político). Só que o Presidente começa, cada vez mais, a achar que quando o senso comum está à vista de todos, não vale muito a pena evitar guerras políticas no Capitólio.
A carga de proximidade pessoal nos postos chave da segunda administração Obama só não é ainda maior porque Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU no primeiro mandato, não resistiu às pressões dos republicanos sobre as suas ligações ao «bengasigate» e não quis ser nomeada secretária de Estado.
Mas esta foi uma opção pessoal da embaixadora. Pelo Presidente, Rice era mesmo a próxima chefe da diplomacia - e é possível que Obama acabe por apontá-la Conselheira de Segurança Nacional.
Com grandes batalhas nas próximas semanas e meses (outra vez o teto da dívida; como garantir um acordo mais durável para lá de março em relação à «fiscal cliff»; a reforma da imigração), a estratégia de Obama começou a ficar claro nas últimas semanas: encostar os republicanos à parede da realidade, com uma linguagem prática, terra a terra.
O que Obama disse esta semana sobre os republicanos e o teto da dívida exemplifica esta estratégia: «Eles têm duas escolhas», apontou o Presidente: «Podem agir de forma responsável e pagar as contas da América ou podem agir de forma irresponsável e atirar a América para uma nova crise económica».
Barack Obama está a poucos dias de iniciar um segundo mandato e dá mostras de não querer repetir alguns erros cometidos nos primeiros quatro anos.
A noção de que é possível «convencer o outro lado da barricada», mesmo quando as posições iniciais eram radicalmente diferentes, deixou de prevalecer.
Essa foi uma das ideias chave da primeira eleição de Obama, mas claramente foi relegada na narrativa da segunda vitória presidencial, em 2012.
A forma como o Presidente preparou a sua Administração, para o segundo mandato, dá conta desta mudança de prioridades.
Há quatro anos, Barack Obama mostrou querer interpretar a herança de Lincoln, ao fazer a sua versão do «team of rivals»: escolheu um vice-presidente (Joe Biden) e uma secretária de Estado (Hillary Clinton) que o haviam defrontado nas primárias; nomeou várias pessoas para a sua administração que tinham apoiado Hillary e não Obama no processo de escolha presidencial do Partido Democrata; e apontou três republicanos para lugares importantes do seu governo (sendo que um deles, Bob Gates, era até o secretário da Defesa na Administração Bush).
Quatro anos depois, passou a prevalecer o conceito da confiança e da proximidade. Obama deu prioridade a pessoas que lhe são mais próximas e que lhe dão mais garantias de uma menor dispersão na forma como irá conduzir a segunda administração: Jack Lew para seu chefe de gabinete, John Kerry para chefe da diplomacia (figura que o apoia desde o início das primárias de 2008, e amigo pessoal, ao contrário do que sucedia com Hillary), Chuck Hagel na Defesa (um republicano «old school», que não alinha nos desvios radicais do actual conservadorismo e que era uma das pessoas mais próximas de Obama no Senado, com posições muito idênticas em relação ao que os EUA deveriam fazer no Iraque e no Afeganistão).
John Brennan, futuro diretor da CIA, teve um papel crucial no aconselhamento ao Presidente nos momentos mais tenso do primeiro mandato no que se refere a Segurança Nacional, sobretudo na operação especial que levou à eliminação de Bin Laden.
As escolhas de Hagel e Brennan provam, também, que desta vez Obama não está a dar muita importância ao que o outro lado vai pensar. Os republicanos no Congresso detestam o antigo senador do Nebraska (consideram-no uma espécie de traidor político). Só que o Presidente começa, cada vez mais, a achar que quando o senso comum está à vista de todos, não vale muito a pena evitar guerras políticas no Capitólio.
A carga de proximidade pessoal nos postos chave da segunda administração Obama só não é ainda maior porque Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU no primeiro mandato, não resistiu às pressões dos republicanos sobre as suas ligações ao «bengasigate» e não quis ser nomeada secretária de Estado.
Mas esta foi uma opção pessoal da embaixadora. Pelo Presidente, Rice era mesmo a próxima chefe da diplomacia - e é possível que Obama acabe por apontá-la Conselheira de Segurança Nacional.
Com grandes batalhas nas próximas semanas e meses (outra vez o teto da dívida; como garantir um acordo mais durável para lá de março em relação à «fiscal cliff»; a reforma da imigração), a estratégia de Obama começou a ficar claro nas últimas semanas: encostar os republicanos à parede da realidade, com uma linguagem prática, terra a terra.
O que Obama disse esta semana sobre os republicanos e o teto da dívida exemplifica esta estratégia: «Eles têm duas escolhas», apontou o Presidente: «Podem agir de forma responsável e pagar as contas da América ou podem agir de forma irresponsável e atirar a América para uma nova crise económica».
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Histórias da Casa Branca: o charme já não chega, Barack?
TEXTO PUBLICADO NO SITE DA TVI24.PT, A 15 DE JANEIRO DE 2013:
Será possível que o charme de Barack Obama convença, finalmente, os republicanos a quatro anos de cooperação?
Possível, é, mas continua a parecer muito difícil. O grande problema, acha Obama, é que os republicanos andam «demasiado preocupados com o que vão dizer a Fox News e o Tea Party para poderem ser persuadidos por mim».
A ideia, pelo registo, podia ter sido feita numa daquelas entrevistas que os Presidentes dos EUA dão a revistas de sociedade, fora do circuito político. Mas não: foi exposta por Barack Obama na última conferência de Imprensa do seu primeiro mandato.
Entre muitos assuntos relacionados com a preparação da sua nova Administração, aquele que terá sido o que dominou as preocupações do Presidente teve a ver com a questão que manchou parte dos seus primeiros quatro anos na Casa Branca: como resolver a atitude paralisante da oposição republicana?
Contra boa parte das previsões que foram sendo feitas nos últimos dois anos, Obama acabou por obter um triunfo convincente sobre Romney. E o Presidente deu mostras de se sentir duplamente legitimado para poder executar a sua agenda.
A grande questão, continua a achar Barack, tem a ver com a total falta de vontade do outro lado. Nalguns casos, nem será falta de vontade.
O Presidente não torneou a suspeita e verbalizou: «A razão pela qual, em muitos casos, o Congresso vota como vota, ou fala como fala sobre as posições que tomam nas diferentes negociações não tem a ver comigo, tem a ver com constrangimentos que os congressistas republicanos sentem em função das políticas que lhes impõem».
Obama foi mais longe: «Eles estão preocupados como o seu distrito, com o que se passa na zona onde foram eleitos. Acho que muitos republicanos, nesta fase, pelo que veem da energia que foi posta nalguns media em mostrar os republicanos que me demonizam e às minhas políticas, se sentem inibidos a cooperar comigo, ou até a socializar comigo. Vejam o que se passou na Florida com Charlie Crist».
A referência a Crist teve a ver com o abraço que, em público, o antigo governador republicano da Florida deu ao Presidente - e que lhe terá custado a nomeação do seu próprio partido para uma corrida ao senado em 2010. «Acho que casos como este fazem vários republicanos pensar: 'bem, é melhor ter cuidado com aparições em público com o Presidente, posso vir a ter problemas com os tipos do partido'...»
Mesmo nestes tempos de maniqueísmo político em Washington, é bom não esquecer que Obama foi o candidato das boas intenções bipartidárias em 2008. Ele não terá perdido por completo essas esperanças, mas o que passou a dominar foi o seu lado pragmático.
As negociações sobre o teto da dívida, no verão de 2011, foram outro marco na forma como o Presidente vê a possibilidade de compromisso com a oposição.
Obama ainda foi jogar golfe com o líder dos republicanos no Congresso, John Boehner. Mas uma coisa é conviver em ambiente informal com o adversário, outra é convencê-lo a deixar cair os seus dogmas: «Há um certo tipo de republicanos que vai beber limonada comigo e me aperta a mão amigavelmente. Mas depois junta-se a um ataque público selvagem contra mim», confessa o Presidente.
Esta ideia reforça a tese de que, em momentos como as negociações do verão de 2011 ou nesta crise da «fiscal cliff», Obama sentiu vontade sincera de Boehner («um bom tipo, gosto dele») em cooperar. Mas sentiu, sobretudo, que um congressista do Ohio, da «real America» se deixou chantagear pelo ódio que uma parte radical do Partido Republicano, desde o início, exalou contra Obama.
E isto resolve-se a jogar golfe e beber uns «whiskies»? Nos anos 80, entre o republicano Ronald Reagan, na Casa Branca, e o democrata Tip O'Neill, no Capitólio, ainda foi possível.
Três décadas depois, com uma aberração política chamada Tea Party a baralhar o jogo em DC, é bem mais complicado.
Será possível que o charme de Barack Obama convença, finalmente, os republicanos a quatro anos de cooperação?
Possível, é, mas continua a parecer muito difícil. O grande problema, acha Obama, é que os republicanos andam «demasiado preocupados com o que vão dizer a Fox News e o Tea Party para poderem ser persuadidos por mim».
A ideia, pelo registo, podia ter sido feita numa daquelas entrevistas que os Presidentes dos EUA dão a revistas de sociedade, fora do circuito político. Mas não: foi exposta por Barack Obama na última conferência de Imprensa do seu primeiro mandato.
Entre muitos assuntos relacionados com a preparação da sua nova Administração, aquele que terá sido o que dominou as preocupações do Presidente teve a ver com a questão que manchou parte dos seus primeiros quatro anos na Casa Branca: como resolver a atitude paralisante da oposição republicana?
Contra boa parte das previsões que foram sendo feitas nos últimos dois anos, Obama acabou por obter um triunfo convincente sobre Romney. E o Presidente deu mostras de se sentir duplamente legitimado para poder executar a sua agenda.
A grande questão, continua a achar Barack, tem a ver com a total falta de vontade do outro lado. Nalguns casos, nem será falta de vontade.
O Presidente não torneou a suspeita e verbalizou: «A razão pela qual, em muitos casos, o Congresso vota como vota, ou fala como fala sobre as posições que tomam nas diferentes negociações não tem a ver comigo, tem a ver com constrangimentos que os congressistas republicanos sentem em função das políticas que lhes impõem».
Obama foi mais longe: «Eles estão preocupados como o seu distrito, com o que se passa na zona onde foram eleitos. Acho que muitos republicanos, nesta fase, pelo que veem da energia que foi posta nalguns media em mostrar os republicanos que me demonizam e às minhas políticas, se sentem inibidos a cooperar comigo, ou até a socializar comigo. Vejam o que se passou na Florida com Charlie Crist».
A referência a Crist teve a ver com o abraço que, em público, o antigo governador republicano da Florida deu ao Presidente - e que lhe terá custado a nomeação do seu próprio partido para uma corrida ao senado em 2010. «Acho que casos como este fazem vários republicanos pensar: 'bem, é melhor ter cuidado com aparições em público com o Presidente, posso vir a ter problemas com os tipos do partido'...»
Mesmo nestes tempos de maniqueísmo político em Washington, é bom não esquecer que Obama foi o candidato das boas intenções bipartidárias em 2008. Ele não terá perdido por completo essas esperanças, mas o que passou a dominar foi o seu lado pragmático.
As negociações sobre o teto da dívida, no verão de 2011, foram outro marco na forma como o Presidente vê a possibilidade de compromisso com a oposição.
Obama ainda foi jogar golfe com o líder dos republicanos no Congresso, John Boehner. Mas uma coisa é conviver em ambiente informal com o adversário, outra é convencê-lo a deixar cair os seus dogmas: «Há um certo tipo de republicanos que vai beber limonada comigo e me aperta a mão amigavelmente. Mas depois junta-se a um ataque público selvagem contra mim», confessa o Presidente.
Esta ideia reforça a tese de que, em momentos como as negociações do verão de 2011 ou nesta crise da «fiscal cliff», Obama sentiu vontade sincera de Boehner («um bom tipo, gosto dele») em cooperar. Mas sentiu, sobretudo, que um congressista do Ohio, da «real America» se deixou chantagear pelo ódio que uma parte radical do Partido Republicano, desde o início, exalou contra Obama.
E isto resolve-se a jogar golfe e beber uns «whiskies»? Nos anos 80, entre o republicano Ronald Reagan, na Casa Branca, e o democrata Tip O'Neill, no Capitólio, ainda foi possível.
Três décadas depois, com uma aberração política chamada Tea Party a baralhar o jogo em DC, é bem mais complicado.
Histórias da Casa Branca: E depois de Barack e Hillary?
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 14 DE JANEIRO DE 2013:
Há uma contradição curiosa nas perspetivas para os próximos anos dos dois partidos que formam o sistema político na América.
As eleições de novembro de 2012 mostraram, de forma clara, que os democratas estão a aproveitar muito melhor as profundas alterações demográficas que se têm verificado na América nos últimos anos.
A «coligação Obama», que elegeu Barack em 2008 e foi fundamental para reeleger o Presidente em 2012 (em período económico que não auguraria uma reeleição), compôs-se de mulheres, jovens, negros, latinos, asiáticos, «gays» e ainda de um segmento esquecido mesmo pelos analistas, mas que se mostrou muito importante na nova maioria presidencial da América: os 20% de americanos que dizem não ter religião.
Em contraste, o Partido Republicano acentua, nos mais recentes ciclos eleitorais, uma incapacidade de perceber que os Estados Unidos estão a mudar.
Os ridículos 21 por cento que Mitt Romney obteve junto do eleitorado latino, nas presidenciais de novembro, são a prova de que a Direita americana não percebeu como é que Obama foi capaz de repetir os triunfos em estados como o Colorado, o Nevada ou mesmo a Florida.
Quer isto dizer que os democratas ganharam aos republicanos, em definitivo, a guerra cultural da América?
Mais devagar. Uma análise sobre as possibilidades de cada campo mostra-nos que os dois partidos não são assim tão distintos na sua composição.
Alguns analistas acentuam mesmo a expressão «coligação Obama», para explicar que o mérito foi do candidato e Presidente, não tanto da agenda dos democratas.
O jogo das antecipações para eventuais pretendentes presidenciais em 2016 ajuda-nos a perceber o que está em causa.
Na verdade, os democratas não mostram ter qualquer alternativa firmada ao caso muito especial de Hillary Clinton.
Os nomes que se preparam para atacar as primárias, numa eventual não-candidatura de Hillary, integram-se todos num clássico «white-male» que os democratas pareciam ter quebrado com o duelo Obama/Hillary de 2008: o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo; o governador do Maryland, Martin O¿Malley; o governador do Montana, Brian Schweitzer; o vice-presidente Joe Biden.
Se Hillary não avançar, onde estão as mulheres (tão importantes na tal «coligação Obama») no primeiro palco dos democratas?
Há quem ponha algumas fichas na senadora Kirsten Gillibrand, de Nova Iorque, ou mesmo na senadora Jeanne Shaheen, do New Hampshire ou ainda em Elizabeth Warren (figura importante na primeira administração Obama e recentemente eleita senadora pelo Massachussets, que poderia assumir parte da herança política e ideológica da era Obama).
O facto, porém, é que estes nomes - merecendo atenção em relação ao que vão ser os próximos anos da política americana - não parecem suficientemente fortes para sustentarem uma nomeação presidencial daqui a menos de quatro anos.
Será que os triunfos eleitorais de Obama (com a «reserva» Hillary Clinton a prometer novas vitórias) fizeram adormecer a necessidade de renovação e dispersão de alternativas do Partido Democrata?
No campo oposto, os republicanos deram mostras de produzirem, de forma um pouco mais sustentada, alternativas firmes que apontam para uma maior diversidade.
Marco Rubio, senador pela Florida de ascendência cubana, será talvez a principal aposta republicana para as primárias de 2016.
E há também Brian Sandoval (governador do Nevada, de ascendência mexicana) e Ted Cruz (senador júnior do Texas, de família cubana).
Mulheres republicanas com peso nacional? Kelly Ayotte (senadora pelo New Hampshire), Susana Martinez (governadora do Novo México) ou Nikki Haley (governadora da Carolina do Sul).
Democratas mais diversos que os republicanos? Ao nível das cúpulas, neste momento parece que não.
Há uma contradição curiosa nas perspetivas para os próximos anos dos dois partidos que formam o sistema político na América.
As eleições de novembro de 2012 mostraram, de forma clara, que os democratas estão a aproveitar muito melhor as profundas alterações demográficas que se têm verificado na América nos últimos anos.
A «coligação Obama», que elegeu Barack em 2008 e foi fundamental para reeleger o Presidente em 2012 (em período económico que não auguraria uma reeleição), compôs-se de mulheres, jovens, negros, latinos, asiáticos, «gays» e ainda de um segmento esquecido mesmo pelos analistas, mas que se mostrou muito importante na nova maioria presidencial da América: os 20% de americanos que dizem não ter religião.
Em contraste, o Partido Republicano acentua, nos mais recentes ciclos eleitorais, uma incapacidade de perceber que os Estados Unidos estão a mudar.
Os ridículos 21 por cento que Mitt Romney obteve junto do eleitorado latino, nas presidenciais de novembro, são a prova de que a Direita americana não percebeu como é que Obama foi capaz de repetir os triunfos em estados como o Colorado, o Nevada ou mesmo a Florida.
Quer isto dizer que os democratas ganharam aos republicanos, em definitivo, a guerra cultural da América?
Mais devagar. Uma análise sobre as possibilidades de cada campo mostra-nos que os dois partidos não são assim tão distintos na sua composição.
Alguns analistas acentuam mesmo a expressão «coligação Obama», para explicar que o mérito foi do candidato e Presidente, não tanto da agenda dos democratas.
O jogo das antecipações para eventuais pretendentes presidenciais em 2016 ajuda-nos a perceber o que está em causa.
Na verdade, os democratas não mostram ter qualquer alternativa firmada ao caso muito especial de Hillary Clinton.
Os nomes que se preparam para atacar as primárias, numa eventual não-candidatura de Hillary, integram-se todos num clássico «white-male» que os democratas pareciam ter quebrado com o duelo Obama/Hillary de 2008: o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo; o governador do Maryland, Martin O¿Malley; o governador do Montana, Brian Schweitzer; o vice-presidente Joe Biden.
Se Hillary não avançar, onde estão as mulheres (tão importantes na tal «coligação Obama») no primeiro palco dos democratas?
Há quem ponha algumas fichas na senadora Kirsten Gillibrand, de Nova Iorque, ou mesmo na senadora Jeanne Shaheen, do New Hampshire ou ainda em Elizabeth Warren (figura importante na primeira administração Obama e recentemente eleita senadora pelo Massachussets, que poderia assumir parte da herança política e ideológica da era Obama).
O facto, porém, é que estes nomes - merecendo atenção em relação ao que vão ser os próximos anos da política americana - não parecem suficientemente fortes para sustentarem uma nomeação presidencial daqui a menos de quatro anos.
Será que os triunfos eleitorais de Obama (com a «reserva» Hillary Clinton a prometer novas vitórias) fizeram adormecer a necessidade de renovação e dispersão de alternativas do Partido Democrata?
No campo oposto, os republicanos deram mostras de produzirem, de forma um pouco mais sustentada, alternativas firmes que apontam para uma maior diversidade.
Marco Rubio, senador pela Florida de ascendência cubana, será talvez a principal aposta republicana para as primárias de 2016.
E há também Brian Sandoval (governador do Nevada, de ascendência mexicana) e Ted Cruz (senador júnior do Texas, de família cubana).
Mulheres republicanas com peso nacional? Kelly Ayotte (senadora pelo New Hampshire), Susana Martinez (governadora do Novo México) ou Nikki Haley (governadora da Carolina do Sul).
Democratas mais diversos que os republicanos? Ao nível das cúpulas, neste momento parece que não.
Histórias da Casa Branca: A saúde de Hillary é assunto político
TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 12 DE JANEIRO DE 2013:
Será possível que o charme de Barack Obama convença, finalmente, os republicanos a quatro anos de cooperação?
Possível, é, mas continua a parecer muito difícil. O grande problema, acha Obama, é que os republicanos andam «demasiado preocupados com o que vão dizer a Fox News e o Tea Party para poderem ser persuadidos por mim».
A ideia, pelo registo, podia ter sido feita numa daquelas entrevistas que os Presidentes dos EUA dão a revistas de sociedade, fora do circuito político. Mas não: foi exposta por Barack Obama na última conferência de Imprensa do seu primeiro mandato.
Entre muitos assuntos relacionados com a preparação da sua nova Administração, aquele que terá sido o que dominou as preocupações do Presidente teve a ver com a questão que manchou parte dos seus primeiros quatro anos na Casa Branca: como resolver a atitude paralisante da oposição republicana?
Contra boa parte das previsões que foram sendo feitas nos últimos dois anos, Obama acabou por obter um triunfo convincente sobre Romney. E o Presidente deu mostras de se sentir duplamente legitimado para poder executar a sua agenda.
A grande questão, continua a achar Barack, tem a ver com a total falta de vontade do outro lado. Nalguns casos, nem será falta de vontade.
O Presidente não torneou a suspeita e verbalizou: «A razão pela qual, em muitos casos, o Congresso vota como vota, ou fala como fala sobre as posições que tomam nas diferentes negociações não tem a ver comigo, tem a ver com constrangimentos que os congressistas republicanos sentem em função das políticas que lhes impõem».
Obama foi mais longe: «Eles estão preocupados como o seu distrito, com o que se passa na zona onde foram eleitos. Acho que muitos republicanos, nesta fase, pelo que veem da energia que foi posta nalguns media em mostrar os republicanos que me demonizam e às minhas políticas, se sentem inibidos a cooperar comigo, ou até a socializar comigo. Vejam o que se passou na Florida com Charlie Crist».
A referência a Crist teve a ver com o abraço que, em público, o antigo governador republicano da Florida deu ao Presidente - e que lhe terá custado a nomeação do seu próprio partido para uma corrida ao senado em 2010. «Acho que casos como este fazem vários republicanos pensar: 'bem, é melhor ter cuidado com aparições em público com o Presidente, posso vir a ter problemas com os tipos do partido'...»
Mesmo nestes tempos de maniqueísmo político em Washington, é bom não esquecer que Obama foi o candidato das boas intenções bipartidárias em 2008. Ele não terá perdido por completo essas esperanças, mas o que passou a dominar foi o seu lado pragmático.
As negociações sobre o teto da dívida, no verão de 2011, foram outro marco na forma como o Presidente vê a possibilidade de compromisso com a oposição.
Obama ainda foi jogar golfe com o líder dos republicanos no Congresso, John Boehner. Mas uma coisa é conviver em ambiente informal com o adversário, outra é convencê-lo a deixar cair os seus dogmas: «Há um certo tipo de republicanos que vai beber limonada comigo e me aperta a mão amigavelmente. Mas depois junta-se a um ataque público selvagem contra mim», confessa o Presidente.
Esta ideia reforça a tese de que, em momentos como as negociações do verão de 2011 ou nesta crise da «fiscal cliff», Obama sentiu vontade sincera de Boehner («um bom tipo, gosto dele») em cooperar. Mas sentiu, sobretudo, que um congressista do Ohio, da «real America» se deixou chantagear pelo ódio que uma parte radical do Partido Republicano, desde o início, exalou contra Obama.
E isto resolve-se a jogar golfe e beber uns «whiskies»? Nos anos 80, entre o republicano Ronald Reagan, na Casa Branca, e o democrata Tip O'Neill, no Capitólio, ainda foi possível.
Três décadas depois, com uma aberração política chamada Tea Party a baralhar o jogo em DC, é bem mais complicado.
Será possível que o charme de Barack Obama convença, finalmente, os republicanos a quatro anos de cooperação?
Possível, é, mas continua a parecer muito difícil. O grande problema, acha Obama, é que os republicanos andam «demasiado preocupados com o que vão dizer a Fox News e o Tea Party para poderem ser persuadidos por mim».
A ideia, pelo registo, podia ter sido feita numa daquelas entrevistas que os Presidentes dos EUA dão a revistas de sociedade, fora do circuito político. Mas não: foi exposta por Barack Obama na última conferência de Imprensa do seu primeiro mandato.
Entre muitos assuntos relacionados com a preparação da sua nova Administração, aquele que terá sido o que dominou as preocupações do Presidente teve a ver com a questão que manchou parte dos seus primeiros quatro anos na Casa Branca: como resolver a atitude paralisante da oposição republicana?
Contra boa parte das previsões que foram sendo feitas nos últimos dois anos, Obama acabou por obter um triunfo convincente sobre Romney. E o Presidente deu mostras de se sentir duplamente legitimado para poder executar a sua agenda.
A grande questão, continua a achar Barack, tem a ver com a total falta de vontade do outro lado. Nalguns casos, nem será falta de vontade.
O Presidente não torneou a suspeita e verbalizou: «A razão pela qual, em muitos casos, o Congresso vota como vota, ou fala como fala sobre as posições que tomam nas diferentes negociações não tem a ver comigo, tem a ver com constrangimentos que os congressistas republicanos sentem em função das políticas que lhes impõem».
Obama foi mais longe: «Eles estão preocupados como o seu distrito, com o que se passa na zona onde foram eleitos. Acho que muitos republicanos, nesta fase, pelo que veem da energia que foi posta nalguns media em mostrar os republicanos que me demonizam e às minhas políticas, se sentem inibidos a cooperar comigo, ou até a socializar comigo. Vejam o que se passou na Florida com Charlie Crist».
A referência a Crist teve a ver com o abraço que, em público, o antigo governador republicano da Florida deu ao Presidente - e que lhe terá custado a nomeação do seu próprio partido para uma corrida ao senado em 2010. «Acho que casos como este fazem vários republicanos pensar: 'bem, é melhor ter cuidado com aparições em público com o Presidente, posso vir a ter problemas com os tipos do partido'...»
Mesmo nestes tempos de maniqueísmo político em Washington, é bom não esquecer que Obama foi o candidato das boas intenções bipartidárias em 2008. Ele não terá perdido por completo essas esperanças, mas o que passou a dominar foi o seu lado pragmático.
As negociações sobre o teto da dívida, no verão de 2011, foram outro marco na forma como o Presidente vê a possibilidade de compromisso com a oposição.
Obama ainda foi jogar golfe com o líder dos republicanos no Congresso, John Boehner. Mas uma coisa é conviver em ambiente informal com o adversário, outra é convencê-lo a deixar cair os seus dogmas: «Há um certo tipo de republicanos que vai beber limonada comigo e me aperta a mão amigavelmente. Mas depois junta-se a um ataque público selvagem contra mim», confessa o Presidente.
Esta ideia reforça a tese de que, em momentos como as negociações do verão de 2011 ou nesta crise da «fiscal cliff», Obama sentiu vontade sincera de Boehner («um bom tipo, gosto dele») em cooperar. Mas sentiu, sobretudo, que um congressista do Ohio, da «real America» se deixou chantagear pelo ódio que uma parte radical do Partido Republicano, desde o início, exalou contra Obama.
E isto resolve-se a jogar golfe e beber uns «whiskies»? Nos anos 80, entre o republicano Ronald Reagan, na Casa Branca, e o democrata Tip O'Neill, no Capitólio, ainda foi possível.
Três décadas depois, com uma aberração política chamada Tea Party a baralhar o jogo em DC, é bem mais complicado.
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