domingo, 15 de fevereiro de 2009

Thanks, Olympia


O Presidente Obama e os democratas no Congresso bem lhe podem estar gratos: Olympia Snowe, senadora republicana do Maine, que está quase a completar 62 anos, foi uma das chaves que resolveram esta difícil aprovação do Plano de Recuperação e Reinvestimento, megainvestimento federal de 787 mil milhões de dólares para relançar a Economia americana.

Olympia foi um dos três republicanos moderados que possibilitaram a aprovação do diploma, juntando-se a 57 dos 58 senadores democratas (Ted Kennedy não pôde participar na votação, por razões de saúde). A par de Susan Collins (também ela uma senadora republicana moderada eleita pelo mesmo estado, o Maine) e do senador Arlen Spector (republicano da Pensilvânia), Olympia Snowe desempenhou um papel que, das duas uma: ou fica para a história como tendo sido decisivo para garantir o mínimo de acordo bipartidário nesta fase inicial da era Obama (ainda que em doses menores do que se chegou a acreditar), ou, então, será mais tarde recordado como uma cedência dramaticamente errada que os republicanos jamais irão perdoar.

Enquanto ainda é cedo para se fazer o «julgamento da história», vale a pena olhar para o registo dialogante, bem ao jeito do que Obama pretende ver suceder nos próximos anos no Congresso, de Olympia Snowe.

Eleita, em 2006, pela Time como um dos dez melhores senadores do Capitólio (numa lista em que constavam pesos-pesados de Capitol Hill, como John McCain ou Ted Kennedy), Snowe tem um historial de «gamesolver» em votações que estiveram perto de emperrar no filibuster (minoria de bloqueio).

Desta vez, o 'stimulus package' em que Obama tanto apostou só não foi vítima desse instrumento de travagem do Senado graças ao voto desta senadora com 13 anos de experiência no Capitólio e já quase três décadas de Congresso (foi membro da Câmara dos Representantes durante 16 anos).

Filha de emigrantes gregos, representa um estado da Costa Leste e tem vindo a corporizar, nestes 29 anos como congressista, aquela velha ideia de que «um republicano da Nova Inglaterra é mais democrata do que um democrata do Texas...»

Foi um pouco isso que terá acontecido, novamente. Um telefonema do vice-presidente Joe Biden, amigo pessoal de Olympia há mais de 20 anos, terá sido o tiro certeiro que desbloqueou o impasse.

Esperemos que o esforço de Joe tenha valido a pena. Mas uma coisa parece já certa: o «longo consenso bipartidário em tempos de crise» do Presidente Obama não passará de um sonho que durou aqueles 80 dias entre a eleição e o pós tomada de posse. É que mesmo com o paradigma da «change» em marcha, «the show must go on» em Washington e não será agora que este espectáculo deixará de ter dois actores (democratas e republicanos ) que se definem pela oposição entre si.

Terá Obama a capacidade de escapar aos fantasmas dos anos crispados dos dois mandatos de Bill Clinton?

2 comentários:

CS disse...

Eu penso que o bi-partidarismo é algo que Obama, um tipo evolutivo como alguém lhe chamou já percebeu que não existe. Mais a mais com novas crises a caminho:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/implicacoes-da-crise-na-russia-um.html

Germano Almeida disse...

Enquanto o Presidente mantiver taxas de aprovação tão altas, talvez seja possível forçar os republicanos moderados a alguns acordos importantes.

Creio que muito dependerá do rumo que o GOP quiser tomar nos próximos anos. E já se percebeu que há muitos republicanos desconfortáveis com o apoio ao Presidente. Se a crispação chegará aos níveis dos anos Clinton, é algo que talvez as características mais moldáveis de Obama possam minimizar. Vamos ver.