O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Coisas do Sexta (II): «Golden Boy» na Casa Branca
Trabalho publicado no jornal Sexta de 7 de Novembro:
O «golden boy» já está
a caminho da Casa Branca
ELEIÇÕES Barack Obama culminou a sua improvável jornada com um triunfo histórico sobre John McCain. A América está rendida ao seu primeiro Presidente negro – falta saber quanto vai durar este estado de graça
A América voltou a provar que é a terra onde todos os sonhos são possíveis. Barack Hussein Obama, filho de um queniano e de uma americana branca, é o novo Presidente do país mais poderoso do planeta.
Bill Clinton costuma dizer que a corrida presidencial nos Estados Unidos é «a mais longa entrevista de emprego do Mundo e a decisão pertence a quem vota». Na última terça-feira, os eleitores americanos decidiram contratar, pela primeira vez, um negro.
A alusão a Clinton não é casual: Bill foi o último Presidente democrata e lançou, na década de 90, a América para oito anos de crescimento económico. Depois de dois mandatos de George W. Bush, a herança é tremenda: será Obama capaz de recolocar os EUA na rota da prosperidade?
Barack conquistou os americanos com um caldo de dotes retóricos invulgares, uma história de vida empolgante e uma enorme intuição para captar os anseios de uma América em crise de identidade.
Aquilo que o poderia comprometer (ser negro, ter um nome incrivelmente parecido com um muçulmano e ter só 47 anos) acabou por ser a chave do seu sucesso – ele foi a prova de que os americanos, nos momentos definidores, percebem o que é realmente importante. A questão é: será que Obama vai conseguir fugir ao fantasma da decepção?
ESBOÇOS DA NOVA ADMINISTRAÇÃO
As próximas semanas vão ser estranhas. As atenções estarão depositadas no Presidente eleito, mas Bush vai estar na Casa Branca até 20 de Janeiro de 2009.
Nos próximos 74 dias, Barack completará o seu núcleo duro. E já há nomes que se perfilam para a futura Administração Obama: para secretário de Estado, Colin Powell daria enorme solidez. Hillary Clinton, que teve comportamento exemplar após ter perdido as primárias, é outra escolha a ter em conta.
Para o Departamento do Tesouro, ministério que porá em prática o bailout plan, é provável a nomeação de Timothy Geithner, presidente da Reserva Federal de Nova Iorque.
A governadora do Kansas, Kathleen Sebelius, e o governador da Virgínia, Tim Kaine (que estiveram na shortlist para a vice-presidência) são possibilidades para a Educação e a Justiça.
Obama vai convidar pelo menos um republicano para um posto de alta responsabilidade. Os senadores Chuck Hagel e Dick Lugar são os principais candidatos.
TRANSIÇÃO PARA O REALISMO
No plano internacional, há três enormes focos de tensão: o Afeganistão, o Iraque e o Irão. E um dos trunfos que Barack poderá estar a guardar para concretizar a transição para o realismo será a continuidade de Robert Gates na Defesa.
Director da CIA durante a presidência de Bush pai, Gates é figura respeitada. Desde que rendeu Rumsfeld, a estratégia americana no Iraque passou a resultar.
O golden boy já está a caminho da Casa Branca. O sonho americano voltou a cumprir-se, mas, depois de uma inesquecível maratona eleitoral, as vitórias vão deixar de ser medidas pelos votos. A partir de agora, a dureza da realidade será o barómetro.
Será mesmo ele o salvador de uma América em queda? Talvez a resposta surja daqui a quatro anos, quando a voz soberana do povo voltar a fazer-se ouvir.
RESULTADOS FINAIS
COLÉGIO ELEITORAL
Obama/Biden 364 Grandes Eleitores
McCain/Palin 174 Grandes Eleitores
29 estados ganhos por Barack Obama
22 estados ganhos por John McCain
A ROTA QUE LEVOU OBAMA À CASA BRANCA
-- Segurou os 252 Grandes Eleitores ganhos por John Kerry, em 2004, e arrebatou nove estados aos republicanos: Florida, Ohio, Carolina do Norte, Virgínia, Indiana, Colorado, Iowa, Novo México e Nevada
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HOUVE REFERENDOS EM 33 ESTADOS
Vota-se para (quase) tudo na América
Quando pensamos em eleições nos Estados Unidos lembramo-nos logo do duelo presidencial. Mas o processo eleitoral é muito mais complicado do que escolher apenas entre um democrata e um republicano.
Na verdade, não se pode falar em apenas um acto eleitoral na América. Os estados têm o poder de formular os boletins de voto como entenderem e, este ano, 33 deles optaram por realizar referendos locais, sobre os mais diversos temas: desde questões morais como o aborto e a investigação com células estaminais, a temas como a droga, o casamento dos homossexuais, a adopção de crianças por casais gay ou o suicídio.
No Arizona, na Califórnia e na Florida, foram aprovadas propostas que visam impedir a aplicação de leis estaduais que legalizem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No Michigan, os eleitores aprovaram a legalização da marijuana para efeitos médicos (passou a ser o 13.º estado norte-americano a fazê-lo).
Os habitantes do Massachussets disseram sim a uma proposta que reduz substancialmente as penas para pessoas condenadas por posse de marijuana.
No estado de Washington, foi votada uma proposta que permite a doentes terminais, a quem tenha sido dado um prognóstico de seis meses ou menos de vida, o acesso a medicação letal, desde que prescrita por um médico.
Uma proposta para tornar legal a contratação de um imigrante clandestino foi rejeitada pelos eleitores do Arizona. A investigação de células estaminais recebeu o sim dos eleitores do Michigan.
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CANDIDATOS DE TODAS AS CORES
Não ouviu falar neles, pois não?
Quase não se ouviu falar neles, mas houve mais 11 candidatos à Casa Branca. O mais conhecido era Ralph Nader, advogado de 74 anos. Bob Barr concorreu pelo Partido Libertário. E até havia mulher negra: Cynthia McKinney, do Partido Ecologista.
Havia ainda dois pastores evangelistas (o constitucionalista Chuck Baldwin e o proibicionista Gene Amondson), um empresário do boxe (Charles Jay, personalista), um jornalista (Roger Calero, socialista trabalhista), activistas de esquerda (Gloria LaRiva e Brian Moore), um gestor reformista (Ted Weill) e um negro dissidente do Partido Republicano (Alan Keyes).
A forma como o sistema político está organizado leva a uma bipolarização que torna os terceiros candidatos praticamente invisíveis. A corrida de 2008 acentuou esta tendência e as consequências estão à vista: Obama e McCain somaram perto de 99 por cento dos votos.
Mas nem sempre foi assim: há oito anos, os 2,7 por cento de Ralph Nader terão comprometido a eleição a Al Gore. Em 1992, os 19 por cento de Ross Perot fracturaram o voto conservador, abrindo caminho à eleição de Bill Clinton.
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DEMOCRATA QUEBRA BARREIRA
Maioria absoluta
32 anos depois
Barack Obama foi o primeiro democrata a obter a maioria absoluta do voto popular nos últimos 32 anos. Bill Clinton foi eleito duas vezes sem nunca ter ultrapassado a fasquia dos 50 por cento e Jimmy Cárter apenas atingiu 50,1%, em 1976.
O histórico triunfo de Obama baseou-se numa coligação de votações esmagadoras em segmentos que, até agora, ainda não se tinham juntado: 96 por cento dos negros, 68 por cento dos latinos, 66 por cento dos jovens, 56 por cento das mulheres. McCain venceu no eleitorado branco tradicional, mas por uma curta diferença: 54/46.
O novo Presidente vai governar com uma sólida maioria democrata no Congresso. Na última terça-feira, os eleitores elegeram os 435 membros da Câmara dos Representantes e um terço dos senadores. O Partido Democrata reforçou a vantagem na câmara baixa, e, sobretudo, no Senado (que passou agora a ter 57 democratas).
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A participação nas
últimas dez eleições
2008 – 148 milhões
Obama 52.5%-McCain 46%
2004 – 122 milhões
Bush 50.7%-Kerry 48.3%
2000 – 105 milhões
Bush 47.9-Gore 48.4%*
* (o republicano teve mais votos no Colégio Eleitoral)
1996 – 96 milhões
Clinton 49.2%-Dole 40.7%
1992 – 104 milhões
Clinton 43%-Bush 37.7%-Perot 18.9%
1988 – 91 milhões
Bush 53.4%-Dukakis 45.6%
1984 – 93 milhões
Reagan 58.8%-Mondale 40.6%
1980 – 87 milhões
Reagan 50.7%-Carter 41%
1976 – 82 milhões
Carter 50.1%-Ford 48%
1972 – 78 milhões
Nixon 60.7%-McGovern 37.5%
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5 comentários:
Pode-se adquirir aqui no Porto esse jornal? Ou é obrigatório comprar a execrável Bola ou o Público do JMF?
Às sextas-feiras, pode arranjá-lo gratuitamente, nos Continentes ou na rua, sobretudo nas zonas de maios trânsito, em horas de ponta (às vezes não é fácil arranjar, confesso...)
Seja como for, se continuar a consultar este humilde blogue, poderá ter acesso aos trabalhos qui fui publicando sobre as eleições americanas.
Ainda bem, porque tenho assinatura no Continente do Dolce Vita às 5ªf e raramente saio do meu mundo, as Antas.
Olá Germano,
Antes de mais parabéns pelo teu trabalho sobre as eleições nos Estados Unidos no Sexta.
Jamais o farias, por isso permite-me dizer que recebeste largos e fantásticos elogios, que, inteiramente, mereces.
Já deves conhecer, mas dá uma vista de olhos: http://www.peteyandpetunia.com/VoteHere/VoteHere.htm
Abraço amigo,
np
Obrigado, amigo.
Não conhecia o «flash» que me mandaste, é divertidíssimo.
Um abraço e bem-vindo a este blog. Espero os teus comentários e sugestões.
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