O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Coisas do Sexta (VIII): o lançamento das primárias
Trabalho publicado a 28 de Dezembro de 2007 no jornal SEXTA, a cinco dias de começarem as primárias nos dois partidos, com os caucus do Iowa:
A louca corrida à sucessão de Bush
VIRAGEM Depois de vários meses de liderança clara de Hillary Clinton e Rudy Giuliani, Obama e Huckabee sobem em flecha e relançam as apostas de democratas e republicanos para as presidenciais de 2008
Falta menos de uma semana para o tiro de partida da mais louca corrida do Mundo. Na verdade, as eleições presidenciais norte-americanas já arrancaram há quase um ano, quando John Edwards anunciou, em Nova Orleães, a sua candidatura, um dia depois do Natal de 2006.
Desde aí, mais de duas dezenas de candidatos anunciaram a sua intenção de suceder a George W. Bush. Alguns deles, como Tom Vilsack, Sam Brownback ou Jim Gilmore, já ficaram pelo caminho.
Mas a primeira prova de fogo será já na próxima quinta-feira, 3 de Janeiro, no caucus do Iowa. Cinco dias depois, decorrerá a votação no New Hampshire.
Serão dois grandes testes à candidata que, nos últimos meses, reuniu enorme dose de favoritismo: Hillary Clinton. «Há pouco mais de um mês, ninguém discutia a vitória de Hillary. Mas a verdade é que ela não poderá perder o Iowa e o New Hampshire em simultâneo. Isso poderia mudar tudo a favor de Obama», observa E.J. Dionne, no New York Times.
David Brooks, também no New York Times, faz o confronto entre os dois favoritos: «Hillary tem sido muito melhor senadora do que Obama. Tem feito um trabalho sério e sabe conciliar os interesses dos dois partidos. Se esta fosse uma corrida para um lugar no Senado, seria fácil escolher Clinton. Mas estamos a tratar de uma corrida presidencial que requer outro tipo de qualidades. Na Casa Branca, o carácter e a capacidade de mobilização contam mais do que a experiência — e, nesses planos, Obama tem vantagem».
Barack Obama, o único senador negro do Capitólio, é, pois, a lufada de ar fresco desta corrida. É o candidato mais jovem e surge como o primeiro negro com hipóteses reais de ser eleito Presidente dos Estados Unidos. Tem um discurso virado para o futuro, apelativo para os jovens, aliando carisma e consistência: «Logo que o vi, senti que era uma das faces possíveis da América. A força dele reside no facto de não ser um descendente de um escravo do Sul. O pai era queniano. Isso muda tudo. Quer dizer que não reenvia aos americanos uma imagem culpabilizante, a imagem do país da segregação, do Ku Klux Klan, do esclavagismo. É um negro que joga na sedução», sintetiza Bernard Henry-Lévy, filósofo francês. «É um tipo fantástico. Tem um carisma e um magnetismo que nunca senti em ninguém», comentou George Clooney, uma das várias estrelas de Hollywood que apoiam o senador, pouco depois de o conhecer pessoalmente.
«Furacão» Huckabee
ameaça Giuliani
Do lado republicano, ainda não é possível apontar um favorito, nem mesmo um duelo como o de Hillary/Obama. Até ao final de 2006, desenhava-se um despique entre Rudy Giuliani, ex-mayor de Nova Iorque, e o senador John McCain, do Arizona.
Mas McCain foi caindo nas sondagens, muito por culpa do apoio à estratégia do Presidente Bush do reforço de tropas para o Iraque. Giuliani foi-se mantendo no primeiro lugar, mas deixando sempre a ideia que não era o homem mais desejado pelo seu eleitorado – demasiado citadino, demasiado «costa Leste».
A busca pelo «candidato dos conservadores» começou por dar esperanças a Mitt Romney, ex-governador do Massachussets, e, mais tarde, a Fred Thompson – mas nenhum deles conseguia ultrapassar Rudy nas sondagens nacionais.
Até que apareceu Mike Huckabee. Este pastor baptista nasceu em Hope (sim, a mesma terra-natal de Bill Clinton), foi governador do Arkansas (sim, o mesmo estado que Bill Clinton governou...) e emagreceu mais de 50 quilos quando decidiu concorrer à Casa Branca.
Desde meados de Novembro, tem sido um furacão: lidera no Iowa e na Carolina do Sul e disputa com Giuliani o primeiro lugar nas sondagens nacionais na corrida republicana. Reúne características invulgares: é simpático e passa uma imagem de moderação, apesar do discurso moralista e colado à Bíblia, o seu manual político.
Uma eleição inédita
Aconteça o que acontecer, o duelo de Novembro de 2008 será inédito. Pela primeira vez, será nomeada uma mulher (Hillary) ou um negro (Obama). Mesmo no lado republicano, há candidatos pouco convencionais: Giuliani é casado pela terceira vez; Romney é mórmon, religião ultra-minoritária que mantém preceitos obsoletos para o século XXI; McCain terá 72 anos à data da eleição, idade considerada «demasiado avançada para um Presidente» por grande parte do eleitorado; Huckabee é pastor baptista; Thompson é actor, mas basta ouvi-lo num comício ou num debate para se perceber que… nunca será Ronald Reagan.
Os ausentes
Numa corrida tão cara e imprevisível, há quem prefira nem ir a jogo. Al Gore e Newt Gingrich são os maiores ausentes, num lote onde também (não) entram a secretária de Estado Condoleezza Rice, John Kerry, o nomeado dos democratas em 2004, e Jeb Bush, irmão do ainda Presidente.
Gore pode bem merecer o prémio de «o candidato certo nos momentos errados». Em 2000, ganhou, por 500 mil votos, a contagem popular, mas perdeu para Bush os Grandes Eleitores por estados (sistema que dita o vencedor), num processo que, ainda hoje, gera dúvidas. Apesar de ter recebido muitos incentivos dos movimentos «Run, Al, Run!», nem a atribuição do Prémio Nobel da Paz o fez mudar de ideias.
Os dados estão lançados. Os eleitores do Iowa ditarão, na próxima quinta-feira, as primeiras tendências da mais louca corrida do Mundo. Afinal de contas, «it’s all about politics».
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Os perfis
dos candidatos
DEMOCRATAS
— Hillary Clinton, 60 anos, senadora por Nova Iorque e ex-Primeira Dama
Pontos fortes: a herança positiva dos «anos Clinton» na área económica e nas relações externas; o rótulo de «front-runner» que mantém desde o início; transmite credibilidade em temas-chave como Saúde e Segurança Social
Pontos fracos: a perda de fôlego nos estados de arranque; a polarização democratas «vs» republicanos durante os mandatos de Bill Clinton ainda lhe custa uma taxa de rejeição próxima dos 50 por cento; aprovou no Senado a intervenção no Iraque
— Barack Obama, 46 anos, senador pelo Illinois
Pontos fortes: a imagem de «mudança geracional» e de «reconciliação» que corporiza; o carisma e o magnetismo que transmite; as «super-estrelas» da TV e de Hollywood que o apoiam; opôs-se à guerra do Iraque desde o início
Pontos fracos: aparece muito atrás de Hillary nos estados que elegem mais delegados; não está a atingir em pleno o eleitorado negro; a sua proposta para a Segurança Social não é tão abrangente como a de Hillary; tem pouca experiência de cargos nacionais
— John Edwards, 54 anos, ex-senador pela Carolina do Norte, candidato a vice-presidente em 2004 e segundo classificado nas primárias de 2004
Pontos fortes: taxa de rejeição muito baixa; é o democrata que melhor penetra no eleitorado republicano; vem do Sul, onde, tradicionalmente, os democratas têm muitas dificuldades nas eleições presidenciais
Pontos fracos: não está a ser tão popular como foi na corrida de 2004; perante o duelo Hillary/Obama, e a ausência de Al Gore, não tem conseguido atrair o eleitorado mais preocupado com o ambiente e as alterações climáticas
e ainda...
— Joe Biden
— Bill Richardson
-- Dennis Kucinich
-- Chris Dodd
-- Mike Gravel
(sem hipóteses de nomeação)
REPUBLICANOS
— Rudy Giuliani, 63 anos, ex-mayor de Nova Iorque
Pontos fortes: a imagem de «Super Mayor» que passou a 11 de Setembro de 2001; os créditos em matéria de segurança e luta contra o crime que obteve na governação de Nova Iorque
Pontos fracos: não é um conservador típico e está casado pela terceira vez, o que faz com que a maioria dos eleitores do seu partido o olhem com desconfiança; a sua campanha tem sido um somar de trapalhadas e escândalos
— Mike Huckabee, 52 anos, ex-governador do Arkansas, pastor baptista
Pontos fortes: está muito bem colocado nos estados de arranque; passa uma imagem de moderação, apesar do discurso moralista; tem um humor inteligente e bem-disposto
Pontos fracos: nos maiores estados, é pouco conhecido; apesar do seu discurso passar nos republicanos, mostra números desanimadores em possíveis duelos com Hillary ou Obama
— Mitt Romney, 60 anos, ex-governador do Massachussets
Pontos fortes: é o republicano com mais dinheiro angariado; tem uma boa imagem; governou, com alta taxa de aprovação, um estado esmagadoramente democrata; está bem colocado no Iowa e no New Hampshire
Pontos fracos: é mórmon; mudou várias vezes de posição em temas como o aborto e o direito dos homossexuais
— John McCain, 71 anos, senador pelo Arizona, segundo classificado nas primárias de 2000
Pontos fortes: será o republicano mais sólido e bem preparado; tem uma carreira política longa e respeitada, o que o faz entrar bem nos eleitores independentes e democratas
Pontos fracos: está muito mal classificado nos estados de arranque; a sua campanha não tem conseguido angariar muito dinheiro; está refém do apoio à estratégia do Presidente Bush para o Iraque
-- Fred Thompson, 65 anos, ex-senador pelo Tennessee
Pontos fortes: tem uma voz bem colocada e, tal como Ronald Reagan, quer passar do grande ecrã para a Casa Branca com um discurso conservador
Pontos fracos: está mal preparado; tem-se revelado um «flop» nos debates; desde que declarou a candidatura, caiu a pique nas sondagens
e ainda...
— Ron Paul
— Tom Tancredo
— Duncan Hunter
-- Alan Keyes
(sem hipóteses de nomeação)
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ELEITORES DEMOCRATAS OSCILAM ENTRE O SEGURO E O OUSADO
Hillary tem a experiência
Obama oferece o sonho
Deverá ser esta a chave para resolver o enigma da corrida dos democratas. Hillary Clinton oferece a experiência de oito anos na Casa Branca -- quando foi a Primeira Dama mais interveniente da história americana -- e sete anos no Capitólio, como senadora eleita por Nova Iorque. A front-runner das primárias aposta na capitalização de simpatias angariadas pelos dois mandatos de Bill, um Presidente que terminou funções com uma taxa de aprovação de mais de 60 por cento (o dobro dos 30 e picos com que George W. Bush deverá abandonar o cargo...)
A outra face da moeda que os democratas têm para oferecer é o espírito de mudança corporizado em Barack Obama. Jovem, bem-parecido, inteligente, o senador do Illinois fará História se conseguir vencer esta dura batalha.
Além de poder vir a ser o primeiro presidente negro, será o quarto Presidente dos EUA mais novo à data da eleição -- terá 47 anos em Novembro de 2008, só mais velho que Theodore Roosevelt, 42, John Kennedy, 43, e Bill Clinton, 46.
Obama fala na «reconciliação» da América, depois de anos grande polarização entre os que apoiavam a estratégia do Presidente Bush e aqueles que, mês após mês, foram percebendo que a intervenção no Iraque foi um desastre para o prestígio dos Estados Unidos no exterior.
Quando ficou claro que a corrida pela nomeação democrata seria um duelo entre uma mulher e um negro, Hillary e Obama subiram o tom das críticas. A ex-Primeira Dama acena com o perigo da inexperiência de Obama, alegando que Barack só tem dois anos no Senado.
O primeiro candidato negro com hipóteses de ser eleito retalia, considerando que uma vitória de Hillary seria um regresso ao passado. «Os americanos não gostam de dinastias. Seria negativo que duas famílias, Bush e Clinton, dominassem a Casa Branca por 28 anos seguidos», acusou Obama, num comício em Des Moines, Iowa.
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SERÁ O EMPURRÃO PARA A VITÓRIA DE OBAMA?
O «efeito Oprah» está
a baralhar as contas
Até ao princípio de Dezembro, quase ninguém acreditava que a vantagem de Hillary poderia vir a ficar ameaçada. A senadora liderava todas as sondagens no plano nacional e aparecia à frente em todos os estados. Obama destacava-se como o segundo classificado da corrida democrata, mas com um atraso que, na maior parte das pesquisas, ultrapassava os 20 pontos.
Só que numa corrida tão longa como esta podem sempre surgir imprevistos que, em pouco tempo, alterem os dados do jogo. E Obama avançou com um trunfo muito forte: Oprah Winfrey, a figura mais popular da televisão norte-americana, é uma acérrima apoiante do senador negro e aceitou dar a cara pela candidatura de Barack. Já o tinha feito meses antes, num jantar onde angariou mais de um milhão de dólares para a campanha de Obama, mas passou também a aparecer em comícios.
As consequências foram imediatas: em poucos dias, Obama encurtou distâncias nas sondagens nacionais e passou para a frente no Iowa, apresentando números muito próximos dos de Hillary no New Hampshire e na Carolina do Sul, os dois estados que se seguem.
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SETE MULHERES E… UM EX-PRESIDENTE
Bill ou Michele,
Judith ou Janet?
A política americana é um dos maiores espectáculos do Mundo e para se ter sucesso há que recorrer à imagem das mulheres. Elas estão no terreno e têm uma agenda própria. Quer dizer, nesta original corrida há sete elas e… um ele. Bill Clinton, é claro, que poderá entrar para a história como o primeiro Primeiro Marido dos Estados Unidos. Hillary hesitou nos primeiros meses, mas não resistiu em chamar Bill para a primeira linha.
Obama tem em Michelle um dos seus trunfos. Esta advogada de 43 anos, bonita e com opinião própria, tem-se preocupado em mostrar o lado humano de Barack e até já gracejou com o facto de o senador negro ressonar de forma particularmente sonora. Elisabeth Anania foi tema da campanha do marido, John Edwards, ao anunciar que o cancro da mama que lhe foi detectado em 2004 reincidiu.
Do lado republicano, Judith, 53 anos, é a terceira mulher de Giuliani. Janet, 52, é a dedicada esposa de Mike Huckabee. Ann, mulher de Romney, sofre de esclerose múltipla e deu cinco filhos ao ex-governador do Massachussets, um trunfo para quem, como Mitt, quer cativar o eleitorado conservador.
Jeri Kahn, vistosa e fotogénica, é a mulher de Fred Thompson e o facto de ser 24 anos mais nova que o marido tem alimentado a fama que Fred tem de ser mulherengo.
John McCain é casado, em segundas núpcias, com Cindy Hansley, uma executiva de 53 anos.
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A SUA CORRIDA COMEÇA MAIS TARDE
As sete vidas
de John McCain
Nesta atípica corrida republicana, convém não pôr já de lado as fichas de John McCain. O mais velho dos candidatos com hipóteses de nomeação é um corredor de fundo, daqueles que não se importam de perder terreno nos primeiros quilómetros, desde que estejam em boas condições na fase decisiva.
Com números decepcionantes no Iowa e no New Hampshire, McCain já sabe que os primeiros estados são para perder. Mas o velho leão, que serviu no Vietname e ocupa um lugar no Senado há 20 anos, não desistirá do combate e surge com números bem mais animadores em vários estados que irão a votos na Super Terça-feira.
Coerente com os seus princípios, McCain está a pagar a factura de ter apoiado a estratégia de reforço de tropas no Iraque. «Prefiro perder uma eleição em nome de uma guerra em que o meu país está envolvido», explicou o senador, em entrevista à CNN.
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QUAL DOS TRÊS É O MAIS CONSERVADOR?
Romney e Thompson,
os dois «anti-Huckabee»
A volatilidade do eleitorado conservador tem a ver com esta contradição: até a maioria dos republicanos critica o segundo mandato de Bush, mas o código genético dos votantes que deram oito anos ao texano na Casa Branca mantém-se bem vincado em palavras mágicas como «família», «religião» e o conceito de «a América primeiro».
A junção destes valores continua a garantir milhões de votos e os candidatos sabem isso de cor. Há uma franja importante dos eleitores do GOP (Grand Old Party, o Partido Republicano) que confessa a sua desilusão com a deriva neocon de W. Bush e pretende um back to basics à cartilha que fez de Reagan a referência de uma certa visão da América.
E qual será o candidato mais próximo do Reaganismo? Numa primeira fase, parecia que iria ser Mitt Romney. O ex-governador do Massachussets nunca conseguiu a liderança nacional, mas teve grandes vantagens no Iowa e no New Hampshire.
Depois do Verão, Fred Thompson, que participou como actor na série Law & Order, conseguiu reunir o núcleo duro dos herdeiros de Bush, lançando a imagem de um cowboy durão sem contemplações para com os terroristas.
Só que a entrada em campanha foi um choque demasiado pesado para o ex-senador do Tennessee. E foi então que emergiu Mike Huckabee. Nos debates já realizados, Romney e Thompson muito mostraram-se menos preparados do que o ex-governador do Arkansas na arte de falar ao coração dos conservadores americanos.
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VÁRIOS SISTEMAS NA MESMA ELEIÇÃO
Estranha democracia
A democracia mais poderosa do Mundo está longe de ter um sistema claro de votação para as presidenciais.
Basta ver a regra que define o vencedor: o Presidente dos EUA não é eleito pela maioria do voto popular, mas pelo somatório dos Grandes Eleitores, representantes eleitos por cada estado. Quem somar pelo menos 268 vence a corrida, mesmo que não tenha tido mais votos.
Pode não parecer provável, mas aconteceu mesmo, em 2000: Al Gore venceu a contagem popular, com 500 mil votos mais do que Bush, mas o texano arrecadou mais Grandes Eleitores.
Há quatro anos, quase sucedeu o contrário: Bush venceu claramente o voto popular, com mais três milhões do que Kerry, mas o democrata esteve a meros 120 mil votos de ser eleito: bastava que tivesse ganho no Ohio.
Toda esta confusão resulta de uma das premissas ditadas pelos «Founding Fathers». Na altura, tais conceitos faziam sentido: não se vivia num mundo comunicacional, onde a mensagem pode chegar a todos.
Mesmo o processo de nomeação dos dois partidos é variável: como não há uma lei federal, cada estado escolhe entre duas fórmulas: os caucus ou as primárias.
O Iowa mantém o caucus, modelo que remonta a 1796: reúnem-se assembleias de apoiantes de cada candidato. Democratas, republicanos e independentes juntam-se à decisão, ouvindo os argumentos dos apoiantes declarados e optam pelos preferidos dos dois partidos. Cada grupo de discussão chega a uma decisão e os vencedores decorrem dos resultados em cada assembleia.
É um exemplo de democracia de proximidade que, no Iowa, se mantém vivo: só os democratas já juntaram, para estas eleições, quase duas mil assembleias de decisão.
A partir de 1901, surgiu na Florida o modelo de votação secreta e unipessoal. A esta fórmula, mais moderna, designa-se o termo «primárias», à qual aderiram a maioria dos estados. O New Hampshire é o primeiro, em cada eleição presidencial, a receber esse modelo.
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