O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Coisas do Sexta (IX): faz hoje um ano que Hillary foi a «comeback girl» no New Hampshire
Trabalho publicado no jornal SEXTA em Janeiro de 2008:
As lágrimas de Hillary
DILEMA O senador negro fez história ao vencer o Iowa, mas Hillary recuperou do choque e ganhou à justa o New Hampshire. Barack agarrou palavras mágicas como «mudança» e «reconciliação», Clinton dá cartas na economia
A experiência de Hillary ou a mudança de Obama? Os americanos ainda não decidiram. A vitória arrasadora no Iowa fez de Barack Obama o homem do momento e parecia tê-lo lançado para a liderança da corrida dos democratas às presidenciais nos Estados Unidos.
Mas a senadora por Nova Iorque mostrou que os Clinton são peritos em regressos em grande estilo e venceu à justa o New Hampshire, evitando o efeito bola de neve que duas derrotas seguidas lhe poderiam custar.
O senador do Illinois sabia que era fundamental ganhar um dos dois estados de arranque. Conseguiu no Iowa uma vitória histórica, atendendo ao facto de aquele estado ter 95 por cento de brancos, mas não capitalizou no New Hampshire o efeito psicológico desse triunfo.
Hillary passou de «vencedora inevitável» a candidata sob ameaça. Em vésperas da votação no New Hampshire, quando as sondagens a colocavam dez pontos atrás de Obama, soltou uma lágrima em plena campanha: «Nunca a tinha visto perder o pé. Naquele momento, Hillary mostrou o seu lado humano», observa Bill Bennett, analista político. E esse momento emocional ter-lhe-á sido favorável. À última hora, sobretudo as mulheres mudaram o sentido de voto, de Obama para Hillary.
A corrida
já começou?
Do lado republicano, o New Hampshire lançou John McCain como a mais sólida alternativa, perante o início frustrante de Romney e Giuliani.
Mas Bill Schneider, comentador político na CNN, refreia as leituras que atribuem importância excessiva aos estados de arranque: «Olhemos para os números: Iowa e New Hampshire juntos são pouco mais de um por cento do eleitorado. Os votantes na Florida e na Califórnia, a esta hora, devem estar fulos com toda esta algazarra. Eles também querem ter uma palavra a dizer e não é seguro que se comportem da mesma forma».
Mudança, palavra mágica
«Mudança» é a palavra mágica. O Iowa, conferiu triunfos folgados a Obama e Huckabee, dois outsiders até há poucos meses.
Os quase 40 por cento que repetiu nas duas primeiras votações provaram que Obama é um candidato transversal: no Iowa, ganhou em todos os segmentos, mostrando-se especialmente forte nos jovens e na classe média. «Tudo isto é novo na América. Os cépticos chamavam-lhe ingénuo, mas já devem ter percebido que se enganaram», observa Bob Herbert, colunista do New York Times.
Hillary compensou o desastre no Iowa com um back to basics aos seus pontos fortes: um projecto sólido e abrangente para a Saúde e a Segurança Social, mensagem que lhe valeu o triunfo entre os que colocam a Economia como maior preocupação, e a reconquista do voto das mulheres, que no Iowa preferiram Obama.
Mas a senadora não pode falhar nos estados que garantem mais delegados: está obrigada a vencer na Califórnia, na Florida e em Nova Iorque. Até lá, convém que não permita a Obama a vitória na Carolina do Sul, estado com quase 30 por cento de negros e onde Barack lidera com relativo conforto.
Discurso
unificador
A forma como Obama consegue captar o eleitorado branco é crucial para se perceber o seu sucesso. Uma análise aritmética chega para concluir que a «elegibilidade» de Obama, primeiro candidato negro com hipóteses reais de ser eleito, só é possível com um grande apoio entre os brancos. E é essa a novidade que Obama comporta: ao contrário de líderes como Jesse Jackson ou Al Sharpton, que focalizavam baterias nas reivindicações dos afro-americanos, Obama não aparece com um discurso «zangado», muito menos agita ressentimentos em relação ao passado.
A sua mensagem apela ao «melhor que os americanos têm» e insiste que «o que nos une é muito mais importante daquilo que nos divide». «Não há uma América branca ou uma América negra, latina, africana ou asiática; não há estados democratas e estados republicanos – há os Estados Unidos da América», proclamou na Convenção Democrática de 2004.
A América anseia pela reconciliação e Obama, filho de pai queniano e mãe branca do Kansas, é o candidato em melhor posição para a corporizar.
Hillary está muito bem preparada, conseguiu reagir à derrota arrasadora no Iowa, só que mantém colado à pele o clima crispado entre democratas e republicanos que marcou os dois mandatos de Bill Clinton. «Ela bem pode dizer ‘mudança’ em cada três palavras que já não se consegue associar a essa ideia», nota Bill Bennet.
Nos confrontos com os republicanos, Obama surge com vantagens superiores às de Hillary, o que se explica com a rejeição que a senadora desperta junto da Direita americana, desde a «vasta conspiração dos republicanos» que denunciou, enquanto Primeira Dama.
O vento correrá a favor de Barack, o «abençoado» (significado do primeiro nome de Obama em suaili, dialecto queniano), ou de Hillary, a senadora experiente que promete o regresso aos anos do crescimento económico de Bill Clinton?
A dúvida persiste e, afinal de contas, a corrida a sério ainda nem sequer começou.
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AS MULHERES DERAM-LHE A VITÓRIA QUE PRECISAVA
Hillary, a «comeback girl»
Se Hillary não conseguisse a recuperação no New Hampshire, ficaria encostada às cordas: é que desde 1976, ano em que o Iowa e o New Hampshire se estabilizaram como os estados de arranque, só por uma vez um candidato chegar à Casa Branca sem vencer pelo menos um desses dois estados: Bill Clinton, claro, que em 1992 conseguiu reagir aos triunfos de Tom Harkin (Iowa) e Paul Tsongas (New Hampshire), numa recuperação espectacular que lhe valeu a alcunha de «comeback kid».
Dezasseis anos depois, a sua mulher, Hillary, bem poderá receber o rótulo de «comeback girl». A expressão foi-lhe concedida em plena noite eleitoral e dá conta da forma convincente como a senadora ganhou o voto feminino.
A história, com a tal excepção de Bill Clinton, tem mostrado que para vencer a Casa Branca é preciso ganhar pelo menos um dos dois estados de arranque: Carter ganhou os dois; Reagan perdeu o Iowa para Bush pai, mas a vitória no New Hampshire lançou-o para para oito anos na Casa Branca; Bush pai, perdeu o Iowa para Dole, mas venceu no New Hampshire; o filho, George W. Bush, perdeu o New Hampshire para McCain, mas conseguira, dias antes, ganhar o Iowa.
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RESULTADOS
IOWA
DEMOCRATAS
-- Barack Obama 38%
-- John Edwards 30%
-- Hillary Clinton 29%
REPUBLICANOS
-- Mike Huckabee 34%
-- Mitt Romney 25%
-- Fred Thompson 13%
-- John McCain 13%
-- Ron Paul 10%
-- Rudy Giuliani 3%
NEW HAMPSHIRE
DEMOCRATAS
-- Hillary 39%
-- Obama 37%
-- Edwards 17%
REPUBLICANOS
-- McCain 37%
-- Romney 32%
-- Huckabee 11%
-- Giuliani 9%
-- Paul 8%
-- Thompson 1
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